quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Opinião 5


Momento polêmico da noite: Marin Scorsese e Robert De Niro premiam Elia Kazan, diretor que, apesar da qualidade dos seus filmes, causou muita polêmica ao delatar seus colegas de indústria ao Comitê de Causas Não-Americanas, resultando na destruição parcial ou total de muitos profissionais. Vale ressaltar que Kazan, à época dos acontecimentos (década de 1950), afirmou ter apenas revelado nomes que já eram de conhecimento público.

A 71º Edição dos Academy Awards foi mais uma consagração do cinema norte-americano, mas, desta vez, com uma pitada da internacionalização que também salpicava a economia e a política no final dos anos 90.

Se por um lado temos “Shakespeare Apaixonado” (1998) – que inclusive premiou Gwyneth Paltrow, uma americana por interpretar uma britânica – levando as maiores honrarias para casa e ao seu lado "O Resgate do Soldado Ryan" (1998) tomando para si a segunda leva de premiações – que incluíram mais prêmios técnicos, fazendo jus a esse caráter tecnicista de Spielberg –, do lado oposto temos a presença latina de Itália e Brasil na premiação. "A Vida é Bela" (1997) e "Central do Brasil" (1998) levaram indicações não somente na categoria específica de Melhor Filme em Língua Estrangeira, mas também mostraram ao mundo pontos especiais que figuravam nesses longas. Enquanto o filme brasileiro deu a Fernanda Montenegro a primeira e única indicação do país verde-amarelo em categorias de atuação, o filme de Roberto Benigni também concorreu nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original, só citando as mais importantes. Não tão distante assim temos a australiana Cate Blanchett mostrando todo o seu potencial artístico no ótimo "Elizabeth" (1998) na qual interpretava a rainha Elizabeth I.

Saindo dessa polarização entre o cinema norte-americano e o não-hollywoodiano, podemos dizer que o cinema hollywoodiano em 1999 também foi foco da retratação de guerras e conflitos. Nesse sentido podemos citar, além de "O Resgate de Soldado Ryan", a volta de Terrence Malick com o seu bom "Além da Linha Vermelha" (1998). Talvez forçando um pouco a idéia de guerra, "A Outra História Americana" (1998)  e “A Vida é Bela” nos mostra como um conflito que acabou há tanto tempo ainda pode nos chocar pela dureza dos ideais pregados durante o nazismo.

Por fim, mesmo tentando enxergar a premiação com diversas lentes, a que mais nos salta os olhos – e que mais comumente é discutida – é o merecimento de “Shakespeare Apaixonado” nos Oscar de 1999. Entendo que, na situação mundial da época  em que os conflitos que se solidificariam  na Guerra do Iraque estavam começando e com os problemas de níveis globais, tudo que a Academia queria pregar era o amor, puro e simples.  Talvez a estratégia não tenha dado certo, e pode ser que, como resultado, tenhamos ficado com uma das maiores marmeladas da história do Oscar. 

por Renan do Prado Alves

Um comentário:

Hugo disse...

O prêmio para Elia Kazan foi merecido pela carreira, mas a sua participação ao entregar nomes de colegas que seriam comunistas foi no mínimo falta de caráter

Abraço