sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Bette Davis: "Perigosa" (1936)



PERIGOSA (Dangerous, 1935, 79 min)
Direção: Alfred E. Green
Roteiro: Laird Doyle
Indicação: Melhor Atriz


Nominadas em 1936: Bette Davis: “Perigosa” || Claudette Colbert: “Mundos Íntimos” || Elisabeth Bergner: Escape Me Never || Katharine Hepburn: “A Mulher Que Soube Amar” || Merle Oberon: The Dark Angel || Miriam Hopkins: “Vaidade e Beleza”

Como uma atriz tão talentosa, que encantou públicos, que fez os homens mais durões se emocionarem, que arrebatou a crítica e o público pode ter encontrado seu ocaso de modo tão doloroso, bêbada e sem quaisquer perspectivas? Bom, é nessas circunstâncias em que se encontra Joyce Heath, personagem de Bette Davis em “Perigosa” (1935), filme pelo qual Davis recebeu sua primeira nominação formal (sua primeira, no ano anterior, havia sido write-in) e pelo qual recebeu o seu primeiro prêmio de Melhor Atriz. Ironia da vida, mas Davis e Heath, sua personagem, assim como Davis e Mildred Rogers, outra personagem sua, têm muito em comum: se a atriz e Rogers, garçonete desbocada, tinham personalidades parecidas em alguns pontos, a atriz e Heath tem trajetórias semelhantes, mas penso que algo colega comentará isso quando for hora de comentar as indicações de Davis posteriores a 1950.

O fato é que Joyce Heath perambula de bar em bar, bebe muito, às vezes não tem dinheiro para pagar o que consumiu e é expulsa. Os homens mais cultos, quando a veem e indagam se ela é ou não aquela famosa atriz que conquistou todo um público, ela nega, dizendo não saber de quem falam quando dizem seu próprio nome. Sua vida recobra o fôlego quando ela, ao acaso, caída sob o efeito do álcool, conhece Don Bellows (Franchot Tone), admirador seu que a leva para sua casa, onde ela passa a noite. Quando a vemos meio sóbria no dia seguinte e ávida por um drinque, chegando ao ponto de agredir a governante, destruir o bar de Don e corta seu braço com os cacos, concluímos que o título se refere ao seu comportamento sob o vício da bebida. Mais tarde, já reabilitada e sob a tutela de Don, cujo relacionamento com sua noiva foi rompido a fim de que ele ficasse com Joyce, descobrimos que ela é perigosa, apenas – isso não depende de estar ou não alcoolizada; depende apenas do quanto ela quer alguma coisa.

Joyce Heath é a personagem de que Bette Davis precisava para mostrar à crítica que o seu breakthrough com “Escravos do Desejo” (1934) não havia sido apenas sorte. Com competência e total entrega, Davis transforma sua Joyce Heath numa criatura interessantíssima: disposta a ter aquilo que quer, ela é capaz de uma total transformação, intercambiando a personalidade gentil e amorosa com o desprezo e a raiva. A Academia lhe deu o Oscar desta vez, mas Bette Davis nunca se convenceu: aquele prêmio era, na verdade, consolação pela não nominação no ano anterior, um pedido simpático de desculpas que a Academia lhe oferecia. Davis nunca mentiu sobre isso, dizia em entrevistas que nunca se deu os créditos pela vitória do prêmio. Quer tenha sido como retificação, quer tenha julgado mesmo excelente a performance de Davis em “Perigosa” (1935), o fato é que a atriz traz aqui um bom desempenho que, se não é digno de Oscar, é pelo menos digno de muitos elogios.

por Luís Adriano de Lima

Nenhum comentário: