PERIGOSA
(Dangerous, 1935, 79 min)
Direção: Alfred E. Green
Roteiro: Laird Doyle
Indicação: Melhor Atriz
Nominadas
em 1936:
Bette Davis: “Perigosa” || Claudette Colbert: “Mundos Íntimos” ||
Elisabeth Bergner: Escape Me Never ||
Katharine Hepburn: “A Mulher Que Soube Amar” || Merle Oberon: The Dark Angel || Miriam Hopkins:
“Vaidade e Beleza”
Como uma atriz tão talentosa, que encantou
públicos, que fez os homens mais durões se emocionarem, que arrebatou a crítica
e o público pode ter encontrado seu ocaso de modo tão doloroso, bêbada e sem
quaisquer perspectivas? Bom, é nessas circunstâncias em que se encontra Joyce
Heath, personagem de Bette Davis em “Perigosa” (1935), filme pelo qual Davis
recebeu sua primeira nominação formal (sua primeira, no ano anterior, havia
sido write-in) e pelo qual recebeu o
seu primeiro prêmio de Melhor Atriz. Ironia da vida, mas Davis e Heath, sua
personagem, assim como Davis e Mildred Rogers, outra personagem sua, têm muito
em comum: se a atriz e Rogers, garçonete desbocada, tinham personalidades
parecidas em alguns pontos, a atriz e Heath tem trajetórias semelhantes, mas
penso que algo colega comentará isso quando for hora de comentar as indicações
de Davis posteriores a 1950.
O fato é que Joyce Heath perambula de bar
em bar, bebe muito, às vezes não tem dinheiro para pagar o que consumiu e é
expulsa. Os homens mais cultos, quando a veem e indagam se ela é ou não aquela
famosa atriz que conquistou todo um público, ela nega, dizendo não saber de
quem falam quando dizem seu próprio nome. Sua vida recobra o fôlego quando ela,
ao acaso, caída sob o efeito do álcool, conhece Don Bellows (Franchot Tone),
admirador seu que a leva para sua casa, onde ela passa a noite. Quando a vemos
meio sóbria no dia seguinte e ávida por um drinque, chegando ao ponto de
agredir a governante, destruir o bar de Don e corta seu braço com os cacos,
concluímos que o título se refere ao seu comportamento sob o vício da bebida.
Mais tarde, já reabilitada e sob a tutela de Don, cujo relacionamento com sua
noiva foi rompido a fim de que ele ficasse com Joyce, descobrimos que ela é perigosa, apenas – isso não depende de
estar ou não alcoolizada; depende apenas do quanto ela quer alguma coisa.
Joyce Heath é a personagem de que Bette Davis
precisava para mostrar à crítica que o seu breakthrough
com “Escravos do Desejo” (1934) não havia sido apenas sorte. Com competência e
total entrega, Davis transforma sua Joyce Heath numa criatura
interessantíssima: disposta a ter aquilo que quer, ela é capaz de uma total
transformação, intercambiando a personalidade gentil e amorosa com o desprezo e
a raiva. A Academia lhe deu o Oscar desta vez, mas Bette Davis nunca se
convenceu: aquele prêmio era, na verdade, consolação pela não nominação no ano
anterior, um pedido simpático de desculpas que a Academia lhe oferecia. Davis
nunca mentiu sobre isso, dizia em entrevistas que nunca se deu os créditos pela
vitória do prêmio. Quer tenha sido como retificação, quer tenha julgado mesmo
excelente a performance de Davis em “Perigosa” (1935), o fato é que a atriz
traz aqui um bom desempenho que, se não é digno de Oscar, é pelo menos digno de
muitos elogios.
por
Luís Adriano de Lima
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