INDICADOS:
- Bradley Cooper por “O Lado Bom da Vida”
(2012)
- Daniel Day-Lewis por “Lincoln” (2012)
- Denzel Washington por “O Voo” (2012)
- Hugh Jackman por “Os Miseráveis” (2012)
- Joaquin Phoenix por “O Mestre” (2012)
Assim como na categoria Melhor Atriz,
apenas dois dos cinco indicados chegaram ao Oscar pela primeira vez. Pode-se
dizer que essa categoria definitivamente foi marcada pela presença de atores
maduros profissionalmente cujas carreiras estão consolidadas. Talvez o mais
interessante seja observar a variedade presente na categoria no que tange às
características dos personagens interpretados pelos atores nominados: um
ex-professor de História tentando se reabilitar socialmente a fim de
reconquistar sua esposa, encontrando, porém, um contraponto numa mulher tão
complicada quanto ele (Cooper); um homem perseguido durante a Revolução
Francesa que eventualmente enriquece (Jackman); um seguidor fiel e problemático
do fundador da Cientologia (Phoenix); um piloto de avião cuja capacidade é
posta em prova mesmo depois de ele ter salvado um avião de um desastre iminente
(Washington); e, por fim, um dos mais conhecidos e importantes presidentes dos
Estados Unidos (Day-Lewis). Ademais, essa é a categoria de atuação que apresenta
o maior número de não-americanos nominados, sendo 46,4 anos a média de idade
dos atores.
Comecemos por Bradley Cooper, que
aos 37 anos é o mais jovem na categoria. A trajetória do ator se divide
praticamente em trabalhos para a TV e para o cinema, dos quais podemos destacar
a série televisiva “Alias – Codinome: Perigo” (2001-2006), da qual ele
participou ao longo das seis temporadas e na qual o ator interpretou Will
Tippin, melhor amigo de Sidney Bristow, personagem de Jennifer Garner. Além
disso, destacando seus filmes mais conhecidos, pode-se citar “Idas e Vindas do
Amor” (2010) e “Se Beber, Não Case!” (2009) e sua continuação, “Se Beber, Não
Case! Parte II” (2011), títulos que definitivamente colocaram Bradley Cooper no
gosto do público. Associado então aos filmes cômicos, coube ao ator a vaga para
dar vida a Pat Solitano Jr., protagonista da tragicomédia romântica “O Lado Bom
da Vida” (2012), que acabou por lhe render sua primeira nominação ao Oscar.
O outro estreante da noite, Hugh Jackman,
já tinha conquistado fãs muito antes – tendo iniciado com participações em
séries de TV em meados da década de 90, o ator começou o novo milênio
fazendo-se notório como Wolwerine na adaptação dos quadrinhos “X-Men: O Filme”
(2000), que rendeu duas continuações (2003, 2006), um spin-off (2009), um reboot
(2011) e um filme a ser lançado em 2013. Além disso, o ator já havia
interpretado Van Helsing em 2004, já havia trabalhado sob a direção de Darren
Aronofsky em “A Fonte da Vida” (2006), de Christopher Nolan em “O Grande
Truque” (2006) e Baz Luhrmann em “Austrália” (2009). Mas é bobagem pensar que o
ator tinha prestígio apenas entre o público do cinema, afinal sua carreira
também se estende às peças teatrais musicais, área na qual já foi até premiado
com o Tony – troféu máximo do teatro –, e também às apresentações como host, tendo sido responsável três vezes
por comandar a premiação do Tony (por uma delas, venceu o Emmy pelo seu
trabalho) e, em 2009, ficou sob seu encargo a tarefa de comandar o Oscar, o que
lhe rendeu muito elogios. Iniciante em indicações – que se deu ao interpretar
Jean Valjean em “Os Miseráveis”, adaptação do romance de Victor Hugo –, o ator
não era de modo algum iniciante em reconhecimento, seja por público ou crítica.
Indicado
|
Idade
|
País
|
Indicações
pré-2013
|
Vitórias pré-2013
|
Lead
|
Supporting
|
Bradley Cooper
|
37
|
USA
|
0
|
0
|
0
|
Daniel Day-Lewis¹
|
55
|
ENG
|
5
|
0
|
2
|
D. Washington²
|
58
|
USA
|
3
|
2
|
2
|
Hugh Jackman
|
44
|
AUS
|
0
|
0
|
0
|
Joaquin Phoenix
|
38
|
PRC
|
1
|
1
|
0
|
¹ Daniel Day-Lewis era um de 9 atores que
ganharam dois Oscars de Melhor Ator.
² Denzel Washington é um de 6 atores que
ganharam em ambas as categorias masculinas de atuação.
|
Joaquin Phoenix surge com uma
interpretação que definitivamente fez com que os cinéfilos se encantassem. Já
nominados duas vezes anteriormente – a primeira como Melhor Ator Coadjuvante
por “Gladiador” (2000) e a segunda como Melhor Ator por “Johnny e June” (2005)
–, a parceria em “O Mestre” (2012) com Paul Thomas Anderson, outro querido dos
cinéfilos, rendeu-lhe sua terceira nominação. Curiosamente, Daniel Day-Lewis,
contra quem Phoenix competiu não apenas no Oscar, mas também em outras grandes
premiações, disse numa oportunidade que a melhor interpretação masculina do ano
pertencia a Phoenix. A Academia não concordou e coube ao ator, pois, apenas a
indicação pelo seu trabalho como Freddie Quell, um homem que eventualmente
conhece Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) e “A Causa”, tornando-se
seguidor tanto do homem quanto de sua religião.
Os dois últimos nominados estão noutro
patamar. Cooper e Jackman jamais haviam sido nominados e Phoenix já concorrera,
sem, porém, vencer. Esses dois últimos se diferem justamente por já ter vencido
– e, curiosamente, duas vezes. São
também os mais velhos dentre os nominados nessa categoria. Além disso, com a
indicação de um (Washington) e com a vitória do outro (Day-Lewis), ambos
fizeram história no Oscar.
Denzel Washington dispensa apresentações já
que o ator é bastante popular no cinema, já tendo apresentado títulos que são
sucessos de bilheteria e de crítica. Sua história no Oscar começa em 1988,
quando foi indicado pela primeira vez na categoria de coadjuvante por “Um Grito
de Liberdade” (1987), categoria na qual concorreria novamente em 1990, desta
vez vencendo, por “Tempo de Glória” (1989). Suas indicações seguintes viriam
todas na categoria principal pelos filmes “Malcolm X” (1992), “Hurricane: O
Furacão” (1999) e “Dia de Treinamento” (2001) – vencendo novamente na última
vez. Com 5 indicações até então, ele era – juntamente com Jack Lemmon, Kevin
Spacey, Jack Nicholson, Gene Hackman e Robert De Niro – um dos pouco atores a
ter vencido em ambas as categorias. Com sua indicação em 2013, somando 6
nominações, ele se tornou o ator afro-americano que mais competiu em categorias
de atuação, saindo do empate no qual estava com Morgan Freeman (indicado em
1988, 1990, 1995, 2005 e 2010).
Daniel Day-Lewis não deve ser um
nome tão popular quanto o de Washington. Apesar de a crítica e os cinéfilos
apreciarem bastante o trabalho de Day-Lewis, o ator não é exatamente muito
popular, sobretudo por ser bastante seleto na sua escolha. Uma amostra disso é
a quantidade de filmes que faz. Considerando da década de 2000 em diante, o
ator participou de apenas 5 títulos, tendo sido nominado por três deles. Venceu
por “Meu Pé Esquerdo” (1989), na primeira vez em que concorreu; concorreu mais
tarde outras duas vezes, por “Em Nome do Pai” (1993) e “Gangues de Nova York”
(2002); na quarta oportunidade, venceu outra vez, por “Sangue Negro” (2007). E,
tornando-se singular na história do Oscar, por seu desempenho como Abraham
Lincoln no filme “Lincoln” (2012), tornou-se o primeiro e hoje único ator a ter
três prêmios na categoria principal de atuação masculina.
INDICADAS:
- Emmanuelle Riva por “Amor” (2012)
-
Jennifer Lawrence por “O Lado Bom da Vida” (2012)
- Jessica Chastain por “A Hora Mais Escura”
(2012)
- Naomi Watts por “O Impossível” (2012)
- Quvenzhané Wallis por “Indomável
Sonhadora” (2012)
A categoria Melhor Atriz tinha duas atrizes
novatas e três veteranas. Em relação às novatas – Wallis e Riva –, elas
configuram momentos históricos na categoria: tratam-se, respectivamente, da
atriz mais jovem e da atriz mais velha já indicadas; são também a mais nova e a
mais velha dentre os 20 indicados. Em relação às atrizes veteranas, todas
trazem no seu histórico apenas uma indicação anterior, sendo, portanto,
relativamente “novas” no Oscar. Com faixa etária média de 39,2 anos, é também a
categoria mais “jovem” das quatro de atuação. Nenhuma das atrizes indicadas
venceu o prêmio anteriormente, sendo, pois, o prêmio inédito a qualquer uma que
vencesse. As personagens são diversas: uma jovem viúva que perdeu o emprego por
manter relações com todos e que eventualmente encontra um rapaz tão
desequilibrado quanto ela (Lawrence); uma agente da CIA que dedicou os últimos
onze anos de sua vida a procurar o Osama Bin Laden (Chastain); uma senhora
afetada por uma doença que gradualmente vai morrendo (Riva); uma garota cuja
realidade para ser assombrada pela necessidade de abandonar o local onde mora
(Wallis); e uma mãe cujas férias são terrivelmente afetadas pelo tsunami que
arrasou a costa tailandesa em 2004 (Watts). Ainda acerca da categoria como um
todo, pode-se dizer que parte da surpresa ficou por conta da não-nominação de
Marion Cotillard (por “Ferrugem e Osso”, 2012), que vinha sendo indicada em
todos os prêmios relevantes como Globo de Ouro, SAG e BAFTA.
Indicada
|
Idade
|
País
|
Indicações
pré-2013
|
Vitórias
pré-2013
|
Lead
|
Supporting
|
Emmanuelle
Riva
|
86
|
FRA
|
0
|
0
|
0
|
J.
Lawrence
|
22
|
USA
|
1
|
0
|
0
|
Jessica
Chastain
|
35
|
USA
|
0
|
1
|
0
|
Naomi
Watts
|
44
|
ENG
|
1
|
0
|
0
|
Q.
Wallis
|
9
|
USA
|
0
|
0
|
0
|
Curiosamente, duas das indicadas têm duas
características em comum: a perda do protagonismo conforme a obra pela qual
foram nominadas se desenvolve e isso se deve justamente às situações nas quais
as suas personagens estão inseridas, e também o fato de não serem norte-americanas.
Emmanuelle Riva é uma octogenária,
musicista aposentada, cuja saúde fica abalada depois de um derrame;
gradualmente, a mulher fica entravada na cama enquanto seu marido precisa lidar
com a difícil situação na qual se encontra. Dado o roteiro, como se vê, a
partir de um momento, a personagem de Riva esmaece, cabendo o foco ao seu
marido. A atriz francesa jamais havia sido nominada, apesar do seu longevo
trabalho como intérprete – para se ter noção, a atriz está ativa há mais de
cinqüenta anos, sendo alguns dos seus filmes mais conhecidos “Hiroshima, Meu
Amor” (1959), Léon Morin, prêtre (1961),
La Passion de Bernadette (1989) e “A
Liberdade É Azul” (1993). Aos 85 anos, fez história ao seu tornar a atriz mais
velha já indicada na categoria Melhor Atriz, superando os 80 anos que Jessica
Tandy tinha à época de sua nominação e vitória por “Conduzindo Miss Daisy”
(1989).
A segunda atriz em situação semelhante à de
Riva é Naomi Watts, que havia sido indicada anteriormente na mesma
categoria em 2004 pelo seu desempenho em “21 Gramas” (2003). Como Maria
Bennett, a atriz dá vida a uma personagem que presencia os tsunamis de 2004 e
que é literalmente arrastada, ferida, cortada. Com tanta dor no primeiro terço
do filme – momento em que o foco narrativo está nela –, a personagem some um
pouco depois de modo que a câmera foque o resto de sua família. Além desse
detalhe em relação à sua personagem, Watts é, como Riva, a estrangeira da
categoria. Se Riva é uma atriz que precisa de apresentações para o público
geral, Watts as dispensa, afinal, todos conhecem seus trabalhos, em especial os
títulos “Cidade dos Sonhos” (2001), o remake
“O Chamado” (2002), a comédia de David O. Russel “Huckabees – A Vida É uma
Comédia” (2004) e a obra ultraviolenta de Michael Haneke “Violência Gratuita”
(2007). Como curiosidade, vale apontar que Watts já trabalhou com dois diretores
cujos trabalhos em 2012 renderam indicações a duas de suas concorrentes
(Lawrence e Riva).
Quvenzhané Wallis foi a grande
surpresa na lista. Especialmente pelo fato de que ela tem apenas 9 anos,
tornando-se a atriz mais jovem a ser indicada, posto antes ocupado por Keisha
Castle-Hughes, nominada em 2004 (competiu com Naomi Watts) por “Encantadora de
Baleias” (2003). Não é apenas a mais jovem, mas é também uma das poucas
intérpretes afro-americanas nominadas na categoria (apenas a décima em 85 anos
de premiação). A indicação de Wallis, no entanto, é muito mais ousada, já que
esse filme se trata, na verdade, do primeiro trabalho como atriz da garota. Mas
a coisa vai além: apesar de o filme ter sido liberado em 2012, ele foi rodado
em 2009 – Wallis completou 6 anos durante as filmagens. Retomando: a atriz foi
nominada aos 9 anos, tornando-se a mais jovem da história, por uma obra
realizada quando ela tinha 6 anos!
As duas últimas são aquelas em quem recaíam
as expectativas. Empataram no Globo de Ouro quando recebeu cada uma o prêmio na
respectiva categoria – uma como Melhor Atriz em Drama e a outra como Melhor
Atriz em Comédia e/ou Musical.
Jennifer Lawrence teve sempre um advento
engraçado para acompanhar suas vistorias: o vestido rasgado no Globo de Ouro e
o tropeço desafortunado no Oscar. Ela, que em 2010 se tornou a segunda atriz
mais jovem nominada (sendo Castle-Hughes, à época, a primeira) devido à sua
indicação por “Inverno da Alma” (2009), acabou se tornando em 2013 a segunda
atriz mais jovem a receber o prêmio, ficando apenas atrás de Marlee Matlin por
“Filhos do Silêncio” (1986). Seus filmes mais famosos, além daquele pelo qual
foi anteriormente nominada, são “X-Men: Primeira Classe” (2011) e “Jogos
Vorazes” (2012), sendo que a carreira jovem da atriz é bastante marcada por
filmes independentes.
A última nominada é aquela cujo nome o
público do cinema não conhecia em 2009, mas que se fez notar em 2010, ano em
que participou de 3 filmes, e obrigou todos a verem-na em 2011, estando no
elenco de 6 títulos lançados comercialmente. Jessica Chastain vem
recebendo boas críticas e conquistando admiradores e isso talvez se deva ao
ritmo veloz com que trabalha. “No Limite da Mentira” (2010), “O Abrigo” (2011)
e “A Árvore da Vida” (2011) são possivelmente seus trabalhos mais chamativos,
mas foi por “História Cruzadas” (2011) que a atriz recebeu sua primeira
nominação, que ocorreu na categoria de coadjuvante. Pelo seu trabalho com
Kathryn Bigelow, agora aficionada pela Inteligência americana e suas histórias
marcantes, Chastain recebeu sua segunda indicação por “A Hora Mais Escura”
(2012) interpretando uma mulher cuja vida foi dedicada a uma busca que, em dado
momento, parecia não mostrar frutos. Apesar de não ter vencido o Oscar, um dos
melhores discursos já realizados numa cerimônia, nesse caso o Globo de Ouro, é
seu.
por
Luís Adriano de Lima