O
IMPOSSÍVEL (Lo Impossible, 2012, 114
min)
Produção:
Espanha
Direção: Juan Antonio
Bayona
Roteiro: Sergio G. Sanchez,
baseado no romance autobiográfico de Maria Belón
Elenco:
Naomi
Watts, Ewan McGregor, Tom Holland, Samuel Joslin, Oaklee Pendergast, Marta
Etura.
Existem filmes nos quais o protagonista é
uma pessoa. Noutros filmes, o protagonista é uma situação. “Barry Lyndon”
(1975), por exemplo, é um filme sobre a ambição
de um homem; “Wall Street – Poder e Cobiça” (1987), por sua vez, é um filme sobre
um homem ambicioso. “2012” (2009) é
um filme criado para ressaltar o heroísmo de seus personagens centrais; já “O Impossível” (2012), objeto-foco
dessa resenha, é uma obra sobre o quão dilacerador e terrível um determinado
acontecimento pode ser.
Naomi Watts pode ter recebido uma indicação
como Melhor Atriz esse ano por sua interpretação como Maria, a mãe de uma
família que se vê apartada depois que o tsunami invade furioso a costa
tailandesa, mas ela definitivamente não é a protagonista dessa história. Nem
nenhum membro de sua família, apesar de o foco narrativo mostrar em momentos
intercalados como cada familiar lidou com a situação nos momentos imediatamente
posteriores à tragédia. O verdadeiro protagonista dessa narrativa é o desespero
de não saber o que houve com os outros e a dor, seja ela física ou psicológica,
de não saber se há como prosseguir.
Juan Antonio Bayona não espera muito para
nos mostrar aquilo pelo que tanto ansiamos e, no começo da extensa cena que nos
apresenta o trágico evento ocorrido em 2004, já nos sentimos angustiados e
perturbados pelo que estamos vendo. No começo, é apenas aquela sensação tensa e
crescente de que Maria e seu filho, Lucas, os dois únicos membros a quem se tem
imediato acesso, são os únicos sobreviventes e, ainda assim, não o serão por
muito tempo, haja vista a situação problemática na qual se encontram. Depois de
invadir a costa, derrubar árvores, arrebentar os bangalôs do hotel no qual a
família estava hospedada e arrastar todos que estavam na área de lazer, a
natureza não se interrompe e continua a destruir tudo o que está na frente
daquelas correntezas assustadoras – e Maria e Lucas seguem o trajeto que lhes
parece de destino, sendo arremessados contra árvore, chocando-se com troncos,
machucando-se, sofrendo com os atritos de seus corpos com tudo aquilo que está
sob a água e que eles não veem. O diretor nos apresenta todo esse primeiro ato
com eficiência, preparando o espectador ao final desse primeiro momento para um
pouco mais de calmaria.
Ainda que não haja mais onda, o desespero
continua – eu disse: ele é, não tenho dúvidas, o protagonista desse filme.
Ainda eficiente, Bayona, diretor que já nos havia apresentado um excelente
filme – “O Orfanato” (2007) – dá início ao seu segundo e mais dilacerador ato,
cujo principal foco é nos fazer sofrer juntamente com a personagem de Naomi
Watts, que se encontra na pior situação possível, com todo o corpo arrebentado,
por dentro e por fora (isso só veremos mais tarde), mas que continua sua
jornada numa tentativa dupla de encontrar sua família e encontrar para si mesmo
algum conforto. Impossível. Se eu não soubesse que o filme é baseado numa
história real, eu decerto acharia que o roteirista, sabendo quem seria a atriz
principal e nutrindo por ela algum rancor, usou a personagem para lhe causar
sofrimento, porque tanta desgraça parece mesmo impossível. Como disse lá em
cima, o filme não se foca na personagem Maria, mas percorre toda a família, nos
apresentando todas os caminhos percorridos pelos personagens para encontrarem
uns aos outros. Nessa primeira parte do filme, conhecemos os terrores que
assombram Maria e Lucas – mãe e filho – antes de o filme sair de sua verve mais
trágica e adentar o melodrama.
Particularmente, eu não acho que o problema
do filme esteja na direção. Acho, inclusive, que Bayona fez o possível para que
o espectador não estranhasse os dois momentos bastante distintos do filme.
Penso que o problema do filme – ainda que o espectador possa perfeitamente
acompanhar a narrativa e, mais do que isso, se emocionar com o que vê (eu mesmo
chorei demais) – seja o roteiro, que passa do foco brutal na dor física de
Maria para uma história de encontros e desencontros no qual predomina uma
sensação bastante diferente daquilo a que vínhamos vendo desde o começo. Talvez
– assumindo que a culpa seja também de Bayona – sua falha tenha sido aceitar
dirigir um filme cujo roteiro notadamente distingue dois momentos sem
coloca-los numa continuação sutil, tornando-os sequenciais. Mas repito: isso de
modo algum é um problema que impede o espectador de assistir ao filme.
Citando um colega cinéfilo blogueiro,
Gustavo Pavan, esse filme “já esgotaria toda a cota de
sofrimento que um artista deve representar na carreira” e eu não posso deixar
de concordar, porque Naomi Watts foi verdadeiramente entregue à dor física mais
do que ao desespero de não saber o que aconteceu ao resto de sua família. Vê-la
em cena é torturante, tanto pra sua personagem quanto para nós e foi para mim
mais incômodo do que ver inúmeras outras cenas que envolvam dor, como, por
exemplo, uma cena brutal de tortura em “Ichi, o Assassino” (2001), filme de
TakashiMiike que não poupa o espectador de brutalidades diversas. Naomi Watts
não poderia estar mais perfeita – cada grito seu é uma dor em nós, que nos esquecemos
totalmente de que ela é uma atriz e vemos apenas uma mulher nunca situação
extremamente injusta que lhe põe à prova toda a sua resistência. Também nas
palavras do colega Gustavo, “Watts, indicada
ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel, come o pão que o diabo amassou e diante de
tanto sofrimento posso entender a decisão da Academia, que entrega uma nomeação
sem maiores justificativas”.
Ainda que, a meu
ver, a dor transmitida por Naomi Watts seja o elemento verdadeiro
impressionante do filme, a obra “O Impossível” conta com uma série de outros
fatores que ajudam a aumentar a sua qualidade cinematográfica. O som é
fantástico, aliando trilha sonora a exposição de “sons ambientes”, transmitindo
ao espectador tudo aquilo de que ele precisa para se sentir inserido na trama.
Então, a maquiagem, muito eficiente também, auxiliando ainda mais para a nossa
crença de que Maria não viverá – talvez, nem mesmo Naomi – e, vivendo, depois
de tanto estrago, decerto terá uma sobrevida. Como auxílio, há ainda um elenco
de apoio bastante capaz, incluindo Ewan McGregor, que entrega uma cena bastante
emocional e sincera, e Tom Holland, o ator-mirim intérprete de Lucas, que
acabou injustamente esquecido nas temporadas de premiação. Para mim, “O
Impossível” é o filme exemplar no quesito não-o-leve-tão-a-sério: vê-lo apenas,
aberto às emoções que podem surgir ao longo da exibição, sem olhos minuciosos
que procuram defeitos. Como disse, eles existem, mas não impedem de modo algum
o espectador de assistir a uma boa história e emocionar-se. Não posso terminar
sem desejar melhoras a Naomi Watts – não creio que ela não se machucou ao longo
dessa produção.
INDICAÇÃO:
- Melhor Atriz:
Naomi Watts
por Luís Adriano de
Lima
5 comentários:
"O Impossível" foi um dos meus filmes favoritos da última temporada do Oscar. Adorei a forma como o diretor decidiu conduzir a sua história, por meio do fio da bondade e da solidariedade humana em meio a uma situação devastadora. O filme me comoveu de forma sincera e isso é mérito também das excelentes atuações do elenco, com destaque para Naomi Watts e o menino Tom Holland.
Melhor filmer pra min q ja asistir na vida
Um dos melhores filmes
Esse filme e lindo, sempre que eu assisto eu choro.
Eu já assisti esse filme duas vezes é emocionante e muito triste chorei .me coloco no lugar daquelas pessoas .e veramente um horror o ocorrido .
Postar um comentário