sábado, 9 de fevereiro de 2013

Bette Davis: "Jezebel" (1938)


JEZEBEL (Jezebel, 1938, 104 min)
Direção: William Wyler
Roteiro: Abem Finkel, Clements Ripley e John Huston, adaptado da peça de Owen Davis.
Indicações: 1. Melhor Filme | 2. Melhor Atriz | 3. Melhor Atriz Coadjuvante | 4. Melhor Fotografia | 5. Melhor Trilha Sonora


Nominadas em 1939: Bette Davis: Jezebel || Fay Bainter: White Banners || Margaret Sullavan: Three Comrades || Norma Shearer: Maria Antonieta || Wendy Hiller: Pigmalião

“Jezebel” (1938) é o primeiro filme de uma respeitável parceria entre a atriz Bette Davis e o diretor William Wyller, que, mais tarde, se alongou com "A Carta" em 1940 e "Pérfida", de 1941 - Davis foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz nas três vezes, mas só venceu justamente por “Jezebel”, configurando seu segundo e último Oscar da carreira. Depois de mais de setenta anos, “Jezebel” ainda se segura no posto de "clássico" da cinematografia mundial. Exaustivamente comparado a "...E o Vento Levou", de Victor Fleming, que seria lançado no ano seguinte, 1939, o filme de Wyler tenta transparecer algo mais sutil aos olhos do espectador do que é, na verdade, a obra de Fleming, que usa mais de um acontecimento histórico para pontuar um romance imortal. Em “Jezebel”, o drama de amar é a principal arma do roteiro.

Bette Davis empresta sua impetuosidade a Julie Marsden, senhorita habitante do sul dos EUA em 1852, mais precisamente New Orleans - precedente à Guerra de Secessão, a região ainda era escravagista, conservadora em seus machismos e preconceitos. Num primeiro instante, Julie demonstra força de sobra ao espectador, parece querer contestar velhos hábitos enraizados na cultura regional, como, por exemplo, quando chega a festa de seu noivado com roupa de montaria e que, segundo ela, não haveria um traje mais apropriado para o momento. E aqui entramos no dúbio reflexo que Julie consegue expulsar de si. Miss Marsden é o que se diz ser uma belle do sul: Bonita, rica, com posição social invejada por outras mulheres e desejada discretamente por outros homens. O que Julie tem de força, também tem de egocentrismo. Usa de sua posição para fazer charme, ser lembrada e não mais esquecida.

O drama da personagem de Davis começa quando, pra se vingar do noivo, que não esteve com ela na prova final do vestido de um importante baile da cidade, resolve comparecer ao tal baile num escandaloso vestido vermelho, que naquele meio e naquela época era difundido como impróprio, sendo o vestido branco ideal para as moças virgens. Pres (Henry Fonda), o noivo de Julie, logo toma um susto e por não conseguir manter uma postura forte com relação a noiva, acaba permitindo seu devaneio modista. Quando chega ao baile, em brilhante cena filmada pela inconfundível câmera inovadora de Wyler, Julie passa por momentos de dura repreensão, que sob os olhares contrariados dos convidados, é levada, contra a sua vontade, a uma valsa mortífera e solitária, agora ministrada pelo vingativo Pres, que usa da oportunidade para pôr rédeas na petulância da futura mulher. Saldo final: ainda no alto de sua arrogância, Julie volta para casa inspirada com seu feito, como se seu desejo de enfrentar a sociedade tivesse sido finalmente selado, sem que de alguma forma a envergonhada deveria ser ela. Só que a belle não contava com o adeus de um renovado Pres, que, cansado de penar na mão de Julie, encerra o noivado e decide voltar para o norte do país.

Um ano se passa e Julie, ainda corroída com a separação, está trancada dentro de casa, evitando visitas e outros tantos prazeres dentro das suas possibilidades. A chama da esperança da impossível mulher volta a reacender quando um surto de febre amarela começa a se espalhar pelo centro-sul dos EUA, que junto com a doença promete também o retorno de Pres a New Orleans. Sabendo da volta do homem amado, Julie, então, resolve preparar uma festa. Entretanto, a belle não esperava encontrar Pres e sua nova mulher, Amy, agora finalmente casado. O instante em que a personagem de Bette Davis tem a chance de reconquistar seu homem se confunde também com o momento em que a soberba volta a tomar conta de sua personalidade, evidenciando uma mulher toscamente mimada, capaz de tudo para reavivar o amor de Pres, mas ainda muito imatura na cadência desse sentimento que a trona tão cega.
 
Bette Davis faz miséria na pele da destemida e estranha heroína de Jezebel. Cenas inteiras sustentadas por olhares contundentes e cheios de significado. Nesse ponto, a atriz já demonstra ir contra os preceitos de atuação da época: os discursos apaixonados encarando o horizonte não têm espaço no trabalho de Davis, que prefere encarar, enfrentar os medos e as angústias da personagem, destilando seu veneno seja em quem for, sobrando até para a única pessoa que a suporta, a própria tia, interpretada por Fay Bainter, vencedora na categoria de coadjuvante e que, por outro filme, também concorreu na categoria principal, perdendo justamente para Davis e sua Julie Marsden.

O paralelo feito entre Jezebel, malévola figura bíblica, e Julie flui naturalmente na tela graças ao roteiro libertador -  e ao emprenho de Bette Davis. A mudança de caráter da personagem do final rende uma das mais belas cenas da carreira da atriz, que desolada pela negação do amor de Pres, parte para assistir a morte do ex-noivo e, assim, lucrar com novos sentimentos edificantes que possam suplantar a temida Jezebel, aproximando-a de uma mulher como Amy, cheia de bondade, carinho e a atenção.

por Gustavo Pavan

4 comentários:

Iza disse...

Bette Davis é digna, ícone e estrela. Simplesmente uma de minhas atrizes prediletas. Sou fã de sua atuação em Jezebel - na minha escala, só perde para outra atuação dela, Margo Channing em A Malvada. Não me canso de assistir Jezebel.
Abraços,

Iza

vintageiz.blogspot.com

Alan Raspante disse...

Ah! Sempre tive curiosidade em ver esse filme. É praticamente uma necessidade básico. Preciso ver, realmente.

Luís disse...

Nossa, eu realmente não sou assim tão fã dessa obra. Gosto do seu desempenho, mas o filme como um todo não me anima, o que talvez me impeça de realmente aproveitar o máximo de Davis aqui.

Serginho Tavares disse...

fujam da versão colorizada deste filme. aliás de qualquer versão colorizada de qualquer filme!