ARGO (Argo,
2012, 120 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio,
baseado no livro The Master of Disguise:
My Secret Life in CIA (2000), de Tony Mendez, e no artigo The Great Escape (2007), de Joshuah
Bearman
Elenco: Ben Affleck, Bryan
Craston, Alan Arkin, John Goodman, Victor Garber, Tate Donovan, Clea DuVall,
Scoot McNairy, Rory Crochrane, Christopher Denham, Kerry Bishé, Kyle Chandler.
Não se abaixa a
cabeça para grandes histórias, não se ignoram grandes feitos de heroísmo
genuíno, bravura inabalável e disposição pioneira. Não nos esqueceremos dos
grandes filmes, dos inesquecíveis diretores, dos inquestionáveis atores.
Edificação, comprometimento, inovação, colaboração, interpretação. Afinal, o que
faz de um filme um verdadeiro grande filme? Responsabilidade, coerência,
emoção, produção, talento, julgamento. Afinal, me diz, o que faz de um filme um
verdadeiro grande filme? Desculpem-me a arrogância, se isso puder parecer, mas
será que “Argo” (2012) é realmente a
obra-prima que muitos estão pintando por aí?
Ben Affleck já
comeu o pão que o diabo amassou ao longo de sua carreira. Após um início
glorioso, influência de seu Oscar de roteiro por “Gênio Indomável” (1997),
Affleck andou bem perdido pelos becos e vielas do Cinema. Pisou em cacos na
carreira de ator, se prevenindo de filmes mais pensantes e sensitivos, mas,
ainda sim, permanecia vivo na mente do público. Como não lembrar do horror
descabido que foi "Demolidor - O Homem Sem Medo" (2003)? Não dá. A
carreira de Ben Affleck começou a dar um salto quando, em 2007, filmou o bom
"Medo da Verdade", revelando-se um diretor infinitamente mais
sensível em relação ao ator mediano que sempre foi. Depois disso, trabalhou no
ótimo "Atração Perigosa" (2011) para chegar finalmente em 2012 e
lançar o filme que definiria sua jovem caminhada.
“Argo”, acima de
tudo, é uma injeção de cupcakes ao espírito nacionalista americano –
vide a constrangedora participação de Michelle Obama na premiação do Oscar –
que hora ou outra mistifica cada vez mais o "ser" americano no mundo
de hoje, abraçando uma causa cívica que, provavelmente, sem querer acaba
enaltecendo o modo de vida e a coragem no momento das realizações que só uma
pátria e um único povo parecem ter.
Sem apelar para
o extremismo – nisso Affleck se mostra bastante inteligente na condução da
trama – e nem deixar o clímax cair, o roteiro vencedor do Oscar, do talentoso
Chris Terrio, revisita um fato histórico, de 1979, que marcou a história de
Hollywood e do governo americano, que se juntaram numa invenção gigantesca para
resgatar seis refugiados no Irã, que se encontrava em plena revolução contra o
sistema político nacional e a intromissão tão característica dos
norte-americanos. Tony Mendez (Affleck, péssimo), agente da CIA, é o grande
mentor do plano de fuga dos refugiados e, conforme o combinado, finge-se de
diretor de Cinema, procurando locações em terras iranianas. O plano estabelecia
a cada um dos refugiados um papel nessa fantasiosa produção, tornando quase impossível
o descobrimento por parte dos rebeldes, que supostamente acreditariam na farsa.
O filme de
Affleck começa muito bem. A narração rápida do começo causa tensão e promete um
filme fervoroso, pronto para dar o sangue fictício a história de Tony Mendez.
Logo depois, em fantástica habilidade técnica, o filme corta para as cenas de
revolução nas ruas de Teerã, capital do Irã, em que os rebeldes ensandecidos,
numa língua assustadora, ameaçam invadir a Embaixada dos EUA. O som é incrível,
a montagem também beira a perfeição e a trilha sonora se traduz impecável, até
que Affleck, o ator, entra em cena.
Apoiado em
câmeras estranhas, pouco inspiradas, Affleck começa a filmar a decomposição de
todo o roteiro, os truques para colocar o plano em prática, a chegada ao Irã e
finalmente a saída do país, com todos os seis refugiados salvos. Algumas das
cenas se mostram primárias, os clichês mais bestas são vistos de olhos
fechados, como a cena em que o personagem de Affleck fica olhando, com olhos
marejados, a felicidade dos "reféns libertados", enquanto esses
retribuem com olhar de agradecimento e veneração. Muito infantil. Affleck ainda
conta com um Alan Arkin chato e um John Goodman "paquitão"
transitando pelo seu filme. De forma geral, o elenco é bastante chato e os
personagens montados demais; os diálogos são longos e pouco explicativos e,
durante todo o tempo piadas hollywoodianas sem a menor graça vão sendo jogadas
ao espectador, exemplo disso é a premissa "argofuckyourself",
repetida mais vezes que o necessário por inúmeros personagens. Só pra não
deixar passar, Argo é o nome do
roteiro do filme-fake. Embora
tenhamos um início promissor, o resultado final acaba por se revelar uma
verdadeira besteira, totalmente esquecível como a maioria das questões
levantadas pelo filme. Se você não for norte-americano, metade dessa história
já não deveria ser tão fascinante assim.
Ben Affleck
amadureceu? Sim, de forma espantosa. Mas daí até lhe responder com o Oscar de
Melhor Filme é um tremendo exagero ufanista, que só não percebeu quem não
quis. E ainda teve gente exigindo Oscar de direção, quiçá... de atuação.
INDICAÇÕES (3 vitórias):
1. Melhor Filme:
Ben Affleck, George Clooney e Grant Heslov – venceu
2. Melhor Ator
Coadjuvante: Alan Arkin
3. Melhor
Roteiro Adaptado: Chris Terrio – venceu
4. Melhor
Edição: William Goldenberg – venceu
5. Melhor Edição
de Som: Erik Aadahl e Ethan Van der Ryn
6. Melhor
Mixagem de Som: Gregg Rudloff, John T. Reitz e José Antonio Garcia
7. Melhor Trilha
Sonora: Alexandre Desplat
por
Gustavo Pavan
2 comentários:
Para mim, o maior mérito de "Argo" é enfocar o trabalho do resgate dos reféns e se eximir de comentar a situação política do Irã naquela época. Isso e o tom documental acertado da direção de Ben Affleck (no trabalho que marca a sua consagração como diretor) são as maiores qualidades de "Argo". Apesar disso, para mim, existiam filmes melhores na última seleção do Oscar.
O trabalho do elenco é muito bom nesse filme. Muitos poucos filmes juntam a tantos talentos como A lei da noite fez. Parece fantástico que em um filme se pode ver excelentes atores compartindo seus diferentes estilos de atuação. É umo dos melhores do Ben Affleck filmes acho que é uma oportunidade excelente para ver novamente e desfrutar do melhor de Hollywood. Pessoalmente eu irei ver por causo dele que é um ator comprometido.
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