A FAMÍLIA SAVAGE (The Savages, 2007, 114 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Tamara Jenkins
Roteiro: Tamara Jenkins
Elenco: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip
Bosco, Peter Friedman, David Zayas, Gbenga Akinnagbe, Cara Saymour, Rosemary
Murphy, Tonye Patano.
Como normalmente ocorre a um recém-nascido, “A Família Savage” (2007)
começa a engatinhar não especificamente em seus primeiros minutos de projeção,
mas sim após alguns atos que nos explicam melhor o que acontece naquele lar
onde vivem Leonard Savage (Philip Bosco) e sua mulher, Doris Metzger (Rosemary
Murphy). Entretanto, não em vão, as cenas iniciais servem para nos apresentar e
nos familiarizar ao estilo de vida dos mesmos, no Arizona, numa escolha bastante
pertinente da diretora Tamara Jenkins, que distribui o seu cartão-de-visita com
uma sequência em câmera lenta de idosos praticando algum tipo de atividade
(dança, ginástica, bocha etc.), e, em distinção disso, ao adentrar na casa do
casal, observa-se um cenário completamente desanimador, no qual o senhor Savage
é um velho rancoroso e sua companheira, uma senhora a sofrer com doenças.
A quilômetros dali, em Nova Iorque, o telefone de Wendy Savage (Laura
Linney) toca para avisa-la de que seu pai está enlouquecendo, e então ela deixa
o irmão, Jon (Philip Seymour Hoffmann), também sabendo da crise. Por meio de
detalhes sutis, a diretora vai deixando transparecer a história da família,
sujeitando seus espectadores ao drama do abandono sofrido pelos filhos que
vivem separadamente e são pessoas comuns, que lutam por um lugar ao sol – o que
os difere de serem como “filhos exemplares”, contudo, é a distância, tanto um
do outro quanto de seus pais, dos quais nem sequer sabem o paradeiro.
Para tentar entender melhor toda a situação, os irmãos usam um jogo de
palavras que durante todo o filme se torna pertinente em imagens: Wendy
metaforiza a “crise” pela qual passam dizendo “estar na cor laranja” (o uso é
como um grau de problematização), mas Jon é mais otimista, já que classifica
apenas como um “alerta”, isto é, relacionando a uma cor mais fraca, no caso, o
“amarelo”. Na cena posterior, a direção de arte faz uso das mesmas cores em uma
bela oportunidade, já que se torna a transição do “alerta” para a “crise”,
agora concretizada – um salão-de-beleza com as funcionárias vestidas em roupas
amarelas abriga a dona Metzger que, após ter sua unha pintada de vermelho, cai
dura, morta.
Interessante lembrar que, antes mesmo dessa cena, ainda na casa do sr.
Savage e da mulher, a força e domínio do amarelo era muito superior a qualquer
outro tipo de cor na paleta da fotografia. Futuramente, no hospital, o azul do
ambiente em geral se assemelha ao das camisas dos irmãos e da propaganda que
passa na televisão naquele momento, mas ainda assim existe a urina do velho
para quebrar com tudo que podia estar melhorando; ainda no mesmo local,
percebe-se o grau acadêmico de Jon, um “doutor”, mas não o tipo de doutor que
precisa seu pai (seria essa uma metáfora para o fracasso do mesmo fora de sua
profissão?).
A relação entre os cônjuges também é outro elemento a se atentar. Jon
separou-se recentemente de sua mulher com quem viveu por três anos e parece não
ligar, Wendy relaciona-se com um homem que não lhe dá mais prazer, e o pai de
ambos acabou de se tornar viúvo. É como se uma praga tivesse pousado sobre a
família. E, quando parecia ser impossível decair mais ainda, Leonard perde sua
morada.
Assim, cheio de conexões propositais para com o emprego das cores, “A
Família Savage” demonstra ser um filme muito bem pensado, com diversas
outras informações a serem descobertas. O drama exacerbado, a porção e a
avalanche de coisas ruins que pairam pelos personagens, além de suas aparentes
(des)preocupações fazem com que o resultado da experiência seja um tanto quanto
positivo. Quero dizer, não no sentido emocional.
INDICAÇÕES:
1. Melhor Atriz: Laura Linney
2. Melhor Roteiro Original: Tamara Jenkins
por Bruno Barrenha
Para mim, esse filme se sustenta nas duas grandes atuações de Phillip Seymour Hoffman e Laura Linney, dois dos grandes atores que temos atualmente.
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