INDICADOS:
- Federico Fellini, por "Amarcord"
- Milos Forman, por "Um Estranho no Ninho"
- Robert Altman, por "Nashville"
- Sidney Lumet, por "Um Dia de Cão"
- Stanley Kubrick, por "Barry Lyndon"
O ano de 1976 apresentou trabalhos de bons diretores na
sua lista de indicados nas várias categorias dos Academy Awards. Tanto filmes de realizadores americanos quanto
filmes de realizadores estrangeiros estiveram presentes nas diversas
categorias, como, só pra citar, “A História de Adèle H.” (1975), de François
Truffaut, e “Amarcord” (1973), de Federico Fellini. A categoria de Melhor
Diretor – objeto de análise nesse texto – conteve 5 diretores de três
nacionalidades diferentes e premiou Milos Forman, responsável pelo filme “Um
Estranho no Ninho” (1975), que, não apenas era estrangeiro – nascido na então
Tchecoslováquia, atual República Tcheca –, como era também o único candidato
nominado pela primeira vez.
Quase houve uma correspondência na lista dos indicados em
Melhor Diretor e Melhor Filme. Salvo Steven Spielberg, todos os outros
diretores cujos títulos foram indicados na categoria principal também receberam
indicações como Melhor Diretor. Assim, a lista foi composta por Sidney Lumet,
Robert Altman, Milos Forman e Stanley Kubrick, respectivamente responsáveis
pelas obras “Um Dia de Cão”, “Nashville”, “Um Estranho no Ninho” e “Barry
Lyndon”, todos de 1975, e, no lugar de Spielberg, diretor de “Tubarão” (1975),
entrou Federico Fellini, por “Amarcord”. A tabela apresenta um panorama do
histórico de indicações dos nominados considerando todas as vezes que eles
foram nominados, as vezes que foram nominados como Melhor Diretor e a
quantidade de prêmios recebidos (independentemente da categoria) antes de 1976
e, por fim, o total de indicações e de prêmios ao longo de suas carreiras,
considerando apenas as situações competitivas.
Nominado
|
Pré-1976
|
Carreira
|
|||
Indicações
|
Diretor
|
Vitórias
|
Indicações
|
Vitórias
|
|
Federico Fellini
|
9
|
3
|
0
|
12
|
0
|
Milos Forman
|
0
|
0
|
0
|
3
|
2
|
Robert Altman
|
1
|
1
|
0
|
7
|
0
|
Sidney Lumet
|
1
|
1
|
0
|
5
|
0
|
Stanley Kubrick
|
9
|
3
|
1¹
|
13
|
1
|
Começando então pelo diretor italiano, ele já havia sido
indicado 9 vezes, sendo a primeira em 1947 pelo roteiro do filme “Roma, Cidade
Aberta” (1945) e a última vez (em relação a esse ano discutido) em 1971, quando
concorreu como Melhor Diretor por “Satyricon de Fellini” (1969). Como notaram,
os filmes não-americanos, apesar de lançados num determinado ano, podem não
chegar nesse mesmo ano nos Estados Unidos, fazendo com que só possam se tornar
elegíveis para o ano seguinte ao seu lançamento no país. Justamente por isso
que “Roma, Cidade Aberta” e “Satyricon de Fellini”, lançados na Itália em 1945
e 1969 e nos Estados Unidos em 1946 e 1970, somente concorreram em 1947 e 1971,
respectivamente. Quanto a “Amarcord”²,
a coisa foi um pouco mais curiosa, pois o filme demorou mais de um ano para
chegar ao outro continente. Lançado em 1973, chegou aos Estados Unidos em 1975,
portanto sua indicação aconteceu três anos depois do lançamento original do
filme, o que é algo incomum, embora não singular. Na 48ª edição do Oscar,
Fellini conquistou duas indicações, tanto como Melhor Diretor quanto como
roteirista na categoria Melhor Roteiro Original. Cronologicamente, foram as
suas indicações décima e décima primeira, havendo ainda a última da sua
carreira no ano seguinte, quando concorreria por “Casanova de Fellini” (1976).
Stanley Kubrick também era outro veterano em indicações.
Havia sido nominado 9 vezes: em 1965, como roteirista, diretor e produtor de
“Dr. Fantástico” (1964); em 1969, como roteirista, diretor e responsável pelos
efeitos especiais de “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968); e em 1972,
novamente como roteirista, diretor e produtor de “Laranja Mecânica” (1971).
Mais uma vez, Kubrick recebe outras três nominações pela produção, direção e
roteiro de “Barry Lyndon”, o épico de 3 horas que relata a vida do
personagem-título. Tanto Sidney Lumet quanto Robert Altman haviam sido
indicados apenas uma vez anteriormente, respectivamente em 1958 e em 1971 pelos
filmes “12 Homens e Uma Sentença” (1957) e “M.A.S.H.” (1970). Os dois têm um
percurso parecido na história do Oscar, pois são diretores que produziram
títulos muito elogiados, mas que nunca receberam prêmios competitivos. Os dois,
aliás – Lumet em 2005, Altman em 2006 –, receberam um Oscar Honorário pelas
suas carreiras que, numa paráfrase do discurso da Academia, repetidas vezes
reinventaram a arte e inspiraram tanto o público quanto outros realizadores.
Fechando a lista de indicados, o vencedor: Milos Forman. É,
só pra constar, o único dos indicados que ainda está vivo, hoje com 80 anos.
Também é o único cujo histórico de vida inclui pais mortos pelo regime nazista
e uma situação de quase apatridarismo devido às confusões acontecidas durante a
Primavera de Praga, evento político de extrema tensão na Tchecoslováquia,
momento no qual Formam se encontrava em Paris. A vitória por “Um Estranho no
Ninho” foi a primeira; na década seguinte, em 1985, veio a segunda vitória, por
“Amadeus” (1984); na década de 1990, a última indicação, desta vez sem prêmio,
por “O Povo contra Larry Flint” (1996). Considerando os contratempos pelos
quais já passou e tudo o que produziu, apesar das dificuldades, Forman talvez
seja um bom exemplo do filme que ele mesmo dirigiu: ele é, de certo modo, um
homem contra o sistema, assim como o protagonista interpretado por Jack
Nicholson no grande vencedor da 48ª edição.
¹ Kubrick venceu em 1969 na
categoria Melhores Efeitos Visuais por “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.
² “Amarcord” venceu o prêmio de
Melhor Filme em Língua Estrangeira em 1975.
INDICADOS:
- "Barry Lyndon", de Stanley Kubrick
- "Um Dia de Cão", de Sidney Lumet
- "Um Estranho no Ninho", de Milos Forman
- "Nashville", de Robert Altman
- "Tubarão", de Steven Spielberg
Os filmes indicados na categoria de Melhor Filme abordam
diversos temas, desde um épico de três horas retratando uma figura heróica do
século XVIII até um dos primeiros filmes classificados como blockbuster. Apesar da variedade, o que
verdadeiramente torna marcante a categoria é a vitória de “Um Estranho no
Ninho” (1975), filme produzido por Michael Douglas e Saul Zaentz, dirigido por
Milos Forman, adaptado por Lawrence Hauben e Bo Goldman, estrelado por Jack
Nicholson e Louise Fletcher e, num acontecimento quase inédito, vencedor dos
cinco prêmios mais cobiçados da premiação: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor
Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado.
O filme vencedor na categoria – no original, One Flew Over The Cuckoo’s Nest, título
que alude a uma música infantil – advém de um livro de Ken Kesey cujos direitos
autorais foram adquiridos por Kirk Douglas muito tempo antes de Michael
Douglas, seu filho, finalmente levar a produção à concretude. Jack Nicholson e
Louise Fletcher interpretam os personagens centrais da obra, mas, antes deles,
nomes como o de Marlon Brando e Anne Bancroft haviam sido considerados para os
papéis de Randle McMurphy e Enfermeira Ratched (quase uma brincadeira com hated). Indicado em 9 categorias, era o
filme com o maior número de nominações e era também o único título da categoria
principal a ser dirigido por um diretor estrangeiro (i.e., nascido fora dos Estados Unidos), o que parece acentuar a
ironia de um filme cuja história aborda um homem que notadamente não se adapta
ao sistema e luta contra ele. As vitórias do filme são ainda mais
impressionantes porque apenas um único filme havia, 41 anos antes, conquistado
tais prêmios e, vale comentar, apenas um filme depois desse – 16 anos depois –
conseguiu os chamados major awards.
“Barry Lyndon” (1975) retrata o aventureiro Barry Lyndon, que
experimenta desde um duelo com o pretendente da mulher que ele ama até o
serviço militar, tanto em auxílio ao exército britânico como em auxílio ao
exército prussiano. O épico se estende por três horas, tendo conquistado 7
indicações, das quais 4 resultaram em prêmios – por ironia, as 3 categorias que
falharam em conquistar prêmios são justamente aquelas pelas quais Stanley
Kubrik concorreu (como diretor, produtor e roteirista). Depois de quase vinte
anos desde que um filme seu concorreu na categoria principal, Sidney Lumet
apresenta outro trabalho interessante: “Um Dia de Cão” (1975). Dos filmes
indicados, é o único a relatar um acontecimento real, acontecido quatro anos
antes da cerimônia, quando dois rapazes, Sonny e Sal, invadiram um banco e
executaram um assalto que deveria durar quinze minutos, mas, por um infeliz
contratempo, durou 14 horas, resultando na morte de Sal e na prisão de Sonny,
que não tratou mal nenhum dos reféns, tomou medidas preventivas para assegurar
o bem-estar deles e, no fim, alegou ter cometido o crime para conseguir
dinheiro para a cirurgia de mudança de sexo do ex-namorado transexual.
Os dois últimos filmes são “Nashville” e “Tubarão”, ambos
de 1975. Enquanto o primeiro é uma paródia bem humorada apresentada ao longo de
duas horas e meia sobre a relação interpessoal de vários personagens conectados
à carreira musical na cidade de Nashville, capital de Tennessee, o segundo foi
o grande hit do verão de 75, tendo
sido um dos filmes com maior bilheteria do ano, além de ter sido extremamente
elogiado pela sua trilha sonora, que ficou imortalizada, e pela sua edição, que
foi um dos aspectos que mais atribuíram suspense à trama. “Nashville”, dirigido
por Robert Altman, possui cerca de 24 personagens centrais, dos quais duas
atrizes se destacaram a ponto de receberem indicações, integrando as 5
nominações que a produção recebeu. Quanto a “Tubarão”, pode-se dizer que foi o
que melhor teve aproveitamento na relação nominações/vitórias: das 4 indicações
em que concorreu a obra, venceu 3 prêmios. Curiosamente, é o único dos filmes
que não rendeu indicação ao seu respectivo diretor, que, na categoria de Melhor
Diretor, foi substituído por Federico Fellini, responsável por “Amarcord”,
lançado na Itália em 1973, mas exibido nos Estados Unidos apenas em 1975.
Filme
|
Diretor
|
Indicações
|
Vitórias
|
Barry Lyndon
|
Stanley Kubrick
|
7
|
4
|
Um Dia de Cão
|
Sidney Lumet
|
6
|
1
|
Um Estranho no Ninho
|
Milos Forman
|
9
|
5
|
Nashville
|
Robert Altman
|
5¹
|
1
|
Tubarão
|
Steven Spielberg ²
|
4
|
3
|
¹ Duas indicações de “Nashville” aconteceram na mesma
categoria – Melhor Atriz Coadjuvante – fazendo com que o filme tivesse 5
indicações em 4 categorias diferentes.
² Steven Spielberg é o único diretor que ficou fora da
categoria Melhor Diretor.
|
A tabela acima mostra a relação de indicações e vitórias
dos filmes e permite que comparemos as obras indicadas. Pode-se dizer, não
apenas com base na tabela acima, mas com base em análises de outras cerimônias,
que os filmes indicados em 1976 conseguiram se dividir bem nas categorias e nas
premiações. Basta ver que não há filme que destoe consideravelmente dos outros
no número de indicações, nem há filme indicado na categoria principal que não
tenha recebido prêmios. Como efeito de comparação, cito dois anos
interessantes: 1995 e 1999. No primeiro, tanto “Forrest Gump – O Contador de
História” quanto “Quatro Casamentos e um Funeral” foram nominados como Melhor
Filme, mas este recebeu – pasmem – apenas 2 indicações¹
enquanto aquele recebeu 13, tendo recebido também o prêmio máximo. Já no ano de
1999, “A Vida É Bela” (1997) e “Além da Linha Vermelha” receberam 7 indicações,
que resultaram em 3 vitórias para o primeiro filme e nenhuma vitória para o
segundo. Os dois exemplos explicitam as diferenças que não aconteceram no ano de 1976 em relação aos títulos que
integraram a categoria de Melhor Filme. Todas as fitas, em pelo menos uma
categoria, receberam reconhecimento por um dos seus aspectos e todas, à época
dos seus lançamentos, foram bastante elogiadas, tanto pelo público quanto pela
crítica, sendo essa, pois, uma edição que contém os mais variados gêneros –
comédia, thriller, épico e dois dramas
– e os mais aclamados títulos de diretores considerados, ou então ou mais
tarde, como grandes nomes do cinema.
por Luís Adriano de
Lima
¹ Ao
longo dos 66 anos nos quais a lista de Melhor Filme era composta por 5 títulos,
era muito incomum que uma obra recebesse apenas duas indicações, sendo uma
delas Melhor Filme (o pressuposto era que os indicados na categoria principal
obtivessem também indicações em outras categorias, justificando, assim, a
denominação como “melhor filme”. Em aproximadamente seis décadas e meia – de
1944 a 2009 –, isso aconteceu apenas duas vezes, com os filmes “Momento de
Decisão” (1951) e “Quatro Casamentos e um Funeral” (1994).
Um comentário:
um ano interessante este com grandes filmes e grandes diretores!
Postar um comentário