Desumanização, vazio existencial, luta pela
justiça e pela dignidade, otimismo, deficiência, ambição devastadora e
autodestruição são alguns temas que nos foram apresentados ao longo da década
de 1990, a qual foi indubitavelmente variada nos seus projetos cinematográficos
e representativa no que tange às discussões sociais relevantes, como é o caso
da homossexualidade (“Traídos pelo Desejo”, 1992; “Filadélfia”, 1993; “Deuses e
Monstros”, 1998), da fragmentação do ser (“Na Corda Bamba”, 1996; “Gênio
Indomável, 1997; “Temporada de Caça”, 1998), da violência e do seu efeito no
indivíduo (“Cabo do Medo”, 1991; “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, 1994; “A
Outra História Americana”, 1998) além de biografias de personalidades polêmicas
na cultura norte-americana (“O Reverso da Fortuna”, 1990; “Chaplin”, 1992;
“Tina”, 1993; “Nixon”, 1995; “O Povo contra Larry Flint”, 1996). Ao longo de
maio nos ateremos aos intérpretes que foram premiados de 1991 a 2000 na
categoria Melhor Ator e que, eventualmente, trouxeram os temas citados acima em
seus desempenhos premiados.
Vejamos abaixo uma tabela simplificada que
nos permite ver algumas informações básicas sobre os premiados, em ordem
cronológica, entre os anos de 1991 e 2000:
Ator
|
Idade
|
País
|
Filme
|
Indicações
|
|
Pré
|
Pós
|
||||
Jeremy Irons
|
42
|
ENG
|
O Reverso da Fortuna
|
0
|
0
|
Anthony Hopkins
|
54
|
WAL
|
O Silêncio dos Inocentes
|
0
|
3
|
Al Pacino¹
|
52
|
USA
|
Perfume de Mulher
|
6
|
0
|
Tom Hanks
|
37
|
USA
|
Filadélfia
|
1
|
3
|
Tom Hanks²
|
38
|
USA
|
Forrest
Gump – O Contador de Histórias
|
2
|
2
|
Nicolas Cage
|
32
|
USA
|
Despedida em Las Vegas
|
0
|
1
|
Geoffrey Rush
|
45
|
AUS
|
Shine – Brilhante
|
0
|
3
|
Jack Nicholson
|
60
|
USA
|
Melhor É Impossível
|
10
|
1
|
Roberto Benigni
|
46
|
ITA
|
A Vida É Bela
|
0
|
0
|
Kevin Spacey
|
40
|
USA
|
Beleza Americana
|
1
|
0
|
¹
Pacino
recebeu dupla nominação em 1993, sendo as suas sétima e oitava nominações.
²
Hanks se tornou o quinto e até hoje último intérprete a receber prêmios em
anos consecutivos.
|
Com base no que vimos acima, já podemos
tirar algumas conclusões interessantes, sendo a primeira o fato de que foram 9
os atores premiados em vez de 10, uma vez que Hanks ganhou duas vezes na mesma
década. Também podemos citar o fato de que metade dos premiados (Irons,
Hopkins, Cage, Rush e Benigni) venceram justamente na primeira vez em que
concorreram e, desses cinco first-timers,
apenas dois (Irons e Benigni) não receberam indicações posteriores, fazendo que
com que a data de suas vitórias marque a única vez em que concorreram no Oscar.
Além disso, quanto aos estrangeiros, que somam 4 na lista, apenas Roberto
Benigni sagrou-se vencedor por uma interpretação em língua não-inglesa, já que
Irons (inglês), Hopkins (galês) e Rush (australiano) compuseram performances no
bom idioma anglo-saxão que a Academia tanto aprecia. Vale lembrar que,
anteriormente à vitória de Benigni, apenas Sophia Loren havia conquistado a
estatueta por um desempenho em língua estrangeira ao inglês num filme produzido
por um país não-anglófono – fez isso em 1962, vencendo como protagonista pelo
título “Duas Mulheres” (1960). Posterior a Benigni, somente Marion Cotillard em
2008 conseguiu o mesmo no seu desempenho em francês pela obra “Piaf – Um Hino
ao Amor” (2007). Ademais, duas curiosidades se destacam: as vitórias
consecutivas de Tom Hanks – precedido por Luise Rainer (1937, 1938), Spencer
Tracy (1938, 1939), Katharine Hepburn (1968, 1969) e Jason Robards (1976, 1977)
– e o fato de que para dois vencedores (Pacino e Spacey) a estatueta de Melhor
Ator representou a última vez até hoje em que concorreram ao Oscar.
Um suburbano americano da classe média-alta
em confronto com o rumo que sua vida levou; um escritor nova-iorquino que sofre
de transtorno obessivo-compulsivo e dificuldades de relacionamento interpessoal;
um rapaz da zona rural com deficiência que eventualmente participa dos eventos
mais relevantes da história dos Estados Unidos; um italiano judeu vivendo sempre
através de uma perspectiva otimista os conflitos de uma Itália nazi-fascista;
um advogado homossexual portador do HIV cuja carreira é ameaça devido à
discriminação; um roteirista desempregado e alcoólatra que decide beber até
morrer; um socialite acusado de tentativa de assassinato pelo coma inexplicado
de sua esposa rica; um ex-oficial cego e alcoólatra que parte em viagem para
Nova York acompanhado de um estudante; um pianista de talento cuja carreira é
abalada por causa de colapsos nervosos; e, por fim, um psiquiatra canibal
extremamente inteligente e bem articulado a quem uma jovem agente do FBI
precisa recorrer a fim de conseguir compreender a mente de um assassino.
São esses os dez personagens que renderam o
Oscar de Melhor Ator aos 9 atores que foram agraciados ao longo da década de
1990. Vamos agora, na ordem de vitória, conhecer um pouco da história de cada
um desses intérpretes.
A data de 25 de março de 1991 marcou a
vitória de Jeremy Irons, ator
inglês que deu vida ao polêmico Claus von Bülow, acusado em 1982 de tentativa
de assassinato por injeção de insulina na sua esposa, Sunny von Bülow
(interpretada no filme por Glenn Close). Irons estreou como ator em seriados
televisivos na década de 1970, sendo The
Rivals of Sherlock Holmes (1971-1973) o seu primeiro papel creditado. Por
quase dez anos, o ator esteve apenas na TV; no cinema, seu primeiro trabalho
aconteceu no filme “Nijinsky – Uma História Real” (1980), de Herbert Ross, mas
foi somente com “A Mulher do Tenente Francês” (1981), de Karel Reisz, que o ator
conseguiu destaque, apesar de, na época, a atenção maior ter sido direcionada a
Meryl Streep, sua colega de elenco (ele, no entanto, conseguiu uma indicação no
BAFTA). Ao longo dessa década, trabalhou em filmes para a TV, em teatro e em
cinema. Dentre os títulos cinematográficos de grande repercussão, esteve em “A
Missão” (1986), de Roland Joffé, e “Gêmeos – Mórbida Semelhança” (1988), de
David Cronenberg, a quem ele inclusive agradeceu no seu discurso no Oscar. Na
TV, dentre outros, integrou o elenco da minissérie “Memórias de Brideshead”
(1981), pela qual concorreu ao BAFTA, ao Emmy e ao Globo de Ouro de Melhor Ator.
Sua primeira parceria com Glenn Close aconteceu na Boradway em 1984 na peça The Real Thing, pela qual ambos foram
premiados com o Tony Award. A década de 1990 começou intensa para o ator, que
recebeu sua primeira e única indicação ao Oscar num projeto ao qual se reuniu
mais uma vez com Close, com quem trabalhou mais uma vez em 1993, no título “A
Casa dos Espíritos”, do qual Streep também fez parte. A partir da sua vitória
no Oscar, o ator continuou seu trabalho no cinema, tendo participado dos
títulos “Beleza Roubada” (1996), de Bertolucci, e “Lolita”, de Adrian Lyne,
remake do original de Stanley Kubrick, além de ter emprestado sua voz ao vilão
Scar de “O Rei Leão” (1994); retomou o teatro a partir de 2000 e continuou seus
trabalhos na TV, destacando-se a minissérie “Elizabeth I” (2005), pelo qual
ganhou um Emmy, tornando-se, portanto, um dos nove atores a conquistar a Triple Crown of Acting: Tony (em 1984),
Oscar (em 1991) e Emmy (em 2006).
O segundo vencedor, Anthony Hopkins, premiado na noite de 30 de março de 1992, é
aquele que provavelmente tenha composto o personagem mais marcante – Dr.
Hannibal “Canibal” Lecter. O personagem apresentado pela primeira em “O
Silêncio dos Inocentes” (1991) assombrou muita gente e, tão bem interpretado,
deu a oportunidade a Hopkins de interpretá-lo mais duas vezes, nos títulos
“Hannibal” (2001) e “Dragão Vermelho” (2002), esse anterior e aquele posterior
cronologicamente em relação ao filme pelo qual o ator foi premiado. A história
do ator galês começa no teatro na década de 1960, quando se insteressou pela
dramaturgia depois de conhecer o compatriota Richard Burton, tendo sido
inclusive tutoriado por Laurence Olivier. Nos palcos, atuou ao lado de outros
grandes nomes do cinema, como Judi Dench e Shirley MacLaine. Começou na TV em
1965, no cinema em 1967, mas foi no ano seguinte, pelo filme “O Leão no
Inverno” (1968), que o ator teve destaque, ainda que fosse somente na décad
subsequente que o ator seria conhecido pelos seus trabalhos como ator
cinematográfico. A década de 1970 foi praticamente toda dedicada à televisão,
destacando-se o telefilme The Lindbergh
Kidnapping Case (1976), que lhe rendeu um prêmio no Emmy como Melhor Ator. A
partir da década de 1980, houve uma gradual inserção no universo
cinematográfico, sem, porém, abadonar a TV, sendo essa sua principal dedicação.
Sobre 1981, vale destacá-lo: o ator estava em alto devido ao seu trabalho no
filme “O Homem Elefante” (1980); no telefilme The Bunker (1981), pelo qual venceu seu segundo Emmy interpretando
Adolf Hittler, e no filme “Amantes em Família” (1980), que lhe rendeu sua
primeira e única indicação no Framboesa de Ouro. Dessa década, destacam-se dois
filmes: “Amor e Vingança” (1985) e “Nunca Te Vi, Sempre Te Amei” (1987), no
qual contracenou com Anne Bancroft e Judi Dench, conquistando algumas
indicações em premiações. Com a chegada dos anos 90, o ator passa a se dedicar
quase exclusivamente ao cinema, deixando a TV de lado. Já em 1991, seu primeiro
grande personagem: Hannibal Lecter. Menos de 20 minutos em cena e o ator fatura
um Oscar, o único de sua carreira. Pode-se destacar essa década como a melhor
da carreira cinematográfica do ator, que trabalhou com Francis Ford Coppola em
“Drácula de Bram Stoker” (1992); com James Ivory em “Retorno a Howards End”
(1992), “Vestígios do Dia” (1993), sendo por esse nominado novamente, e “Os
Amores de Picasso” (1996); com Richard Attenborough em “Chapilin” (1992) e em
“Terra das Sombras” (1993); com Oliver Stone em “Nixon” (1995), recebendo sua
terceira nominação; com Steven Spielberg em “Amistad” (1997), recebendo sua
quarta e última nominação e trazendo com ela a singularidade de ser o único
ator indicado mais de uma vez interpretando presidentes dos Estados Unidos. Em
1996, dirigiu o filme “Outono de Paixões” e em 1998 se reuniu com Martin Brest
no filme “Encontro Marcado”. A década de 2000 veio com filmes pouco
representativos, com o ator enveredando para os filmes de suspense e thriller,
como é o caso de “Revelações” (2003) e “Um Crime de Mestre” (2007), culminando
no filme de terror “O Ritual” (2011). “Hitchcock” (2012) – cinebiografia dos
bastidores do “Psicose” (1960), no qual Hopkins interpreta Alfred Hitchcock –
surgiu com rumores de uma possível quinta indicação, a qual não aconteceu,
fazendo com que a participação do ator no Oscar se limite aos anos 90.
O terceiro premiado foi Al Pacino, ator já veterano e
detentor de interpretações poderosas que sempre falharam em lhe render o
prêmio, seja na categoria principal ou na categoria coadjuvante. A atuação
premiada do ator veio justamente por um filme remake de um italiano homônimo de 1974 que concorreu também ao
Oscar (na categoria Melhor Roteiro Original). Assim como os Irons e Hopkins,
parte da carreira de Pacino foi dedicada ao teatro. Sua estreia como ator foi
em 1967 na peça Awake and Sing! nos
circuitos fora da Broadway, onde ele fez seu debute em 1969 – mesmo ano em que
o ator começou no cinema – com a peça Does
a Tiger Wear a Necktie?, que lhe rendeu o Tony de Melhor Ator. Pelo seu
terceiro filme – “O Poderoso Chefão” (1972), de Francis Ford Coppola –, o ator
recebeu uma indicação ao Oscar na cetgoria Melhor Ator Coadjuvante, a qual veio
de modo conflituoso, com o ator alegando não ser essa a categoria adequada, já
que seu personagem tem mais tempo em cena que o de Marlon Brando, nominado e
vencedor na categoria principal. Por “Serpico” (1973), de Sidney Lumet, recebeu
sua segunda nominação, desta vez na categoria principal. Reencontrou-se com
Coppola em “O Poderoso Chefão II” (1974), marcando sua terceira nominação, o
que também fez com que ele se tornasse o terceiro de cinco intérpretes a
receber duas nominações interpretando o mesmo
personagem. Mais uma vez sobre a direção de Lumet, recebeu sua quarta nominação
por “Um Dia de Cão” (1975). As quatro indicações consecutivas colocam o ator em
empate com Marlon Brando como os intérpretes masculinas mais nominados em anos
seguidos. No ano de lançamento de “Um Momento, Uma Vida” (1977), parceria com
Sidney Pollack que fez com que ele fosse nominado ao Globo de Ouro de Ator
Dramático, Pacino também estreava novamente na Broadway com a peça The Basic Training of Pavlo Hummel, que,
depois de 117 apresentações, lhe rendeu outro Tony como Melhor Ator. Sem filmes
lançados em 1978, seu próximo trabalho seria “Justiça para Todos” (1979), de
Norman Jewison, garantiu ao ator posição entre os atores nominados em 1980,
mesmo ano em que é dirigido por William Friedkin na obra “Parceiros da Noite”,
que recentemente ganhou nova atenção midiática devido ao projeto de James
Franco e Travis Matthews de “restaurar” os minutos polêmicos que foram cortados
sob censura na versão final e acabaram perdidos para sempre. Sob a direção de
Brian De Palma no filme “Scarface” (1983), Pacino compõe aquele que é um dos
seus personagens mais famosos: o mafioso Tony Montana. Finalizando a década de
1980, período no qual o ator participou de 7 filmes e 3 peças teatrais, vem
novamente o personagem mafioso: tanto no filme “Dick Tracy” (1990), pelo qual
recebeu sua sexta nominação, quanto na terceira e última parte da trilogia
iniciada por Coppola dezoito anos antes, “O Poderoso Chefão III” (1990). Dois
filmes lançados em 1992 – “O Sucesso a Qualquer Preço” e “Perfume de Mulher” – garantem
a ele prestígio duplo na cerimônia que aconteceu em 29 de março de 1993, tendo
sido nominado em ambas as categorias masculinas de atuação. Retornou ao teatro
esporadicamente a partir dos anos 90, nunca mais foi nominado ao Oscar, mas
concorreu duas vezes ao Emmy – em 2004, por Angels
in America (2003) e em 2010 por You
Don’t Know Jack (2010) –, vencendo em ambas as oportunidades, o que insere
no clube ao qual Jemery Irons pertence: o de atores que venceram o Tony, o
Oscar e o Emmy.
O quarto ator vencedor da década de 1990,
tendo vencido em 21 de março de 1994, teve a oportunidade de repetir o feito
pouco mais de um ano depois, em 27 de março de 1995. Tom Hanks venceu pelas suas interpretações como Andrew
Beckett e Forrest Gump, respectivamente nos filmes “Filadélfia” (1993), de
Jonathan Demme, e “Forrest Gump – O Contador de Histórias” (1994), de Robert
Zemeckis. Hanks começou nos teatros, onde, por um tempo, aprendeu funções
básicas quanto aos procedimentos dramatúrgicos. Sua incursão no cinema começa
em 1984 com o filme “Splash – Uma Sereia em Minha Vida”, filme exibido
repetidas nas sessões vespertinas de canais abertos no Brasil. Antes disso,
havia participado de algumas séries e filmes televisivos. Sua primeira fase no
cinema, que abrange desde sua estreia até o primeiro terço da década de 90,
consiste sobretudo em filmes cômicos de pouco sucesso de crítica, apesar do
grande alcance popular. Dessa fase, destaca-se o título “Quero Ser Grande”
(1988), de Penny Marshal, que rendeu ao ator a sua primeira indicação ao Oscar.
Sua fase seguinte começa justamente em 1993 com a obra que lhe rendeu sua
segunda indicação e primeiro prêmio. Vale lembrar que ela não se caracteriza
pelo afastamento dos filmes de comédia, mas justamente pela comunhão entre o
humor e a crítica, presentes, por exemplo, nos seus trabalhos seguintes, como o
título pelo qual Hanks recebeu sua terceira indicação e segundo Oscar; “The
Wonders – O Sonho Não Acabou” (1996), dirigido por ele mesmo; “Mens@gem para
Você” (1998), nova parceira tanto com Nora Ephron, a diretora, quanto com Meg
Ryan, atriz co-protagonista – ele já havia trabalhado com as duas em “Sintonia
do Amor” (1993). Sua primeira parceria com Steven Spielberg - “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) – lhe
rendeu sua quarta nominação como Melhor Ator; os outros dois filmes que fizeram
juntos – “Prenda-me Se For Capaz” (2002) e “O Terminal” (2004) –, apesar de não
lhe indicarem, fez com que ele recebesse alguns elogios.
Finalizando a década
de 1990, dois filmes estrelados por Hanks lhe garantem destaque: “À Espera de
um Milagre” (1999), de Frank Darabont, e “Náufrago” (2000), novamente sob a
tutela de Zemeckis e, novamente, com mais indicação ao Oscar, sendo a sua
última até hoje. De 2000 para frente, destacam-se poucos títulos: “Estrada para
a Perdição” (2002), parceria com Sam Mendes; “Jogos do Poder” (2007), de Mike
Nichols; “O Código Da Vince” (2006) e “Anjos & Demônios” (2009), ambos de
Ron Howard, que popularizaram Hanks como Robert Langdom, famoso personagem dos
livros de Dan Brown.
Em 25 de março de 1996, Jessica Lange,
vencedora do Oscar em 1995 pelo filme “Céu Azul” (1994), anunciou o nome do
vencedor da 68ª edição dos prêmios da Academia: Nicolas Cage. Seu nome verdadeiro não esconde sua origem:
Nicolas Kim Coppola, o ator é sobrinho de Francis Ford Coppola, de quem ele
tentou se dissociar no começo de sua carreira a fim de que não pensassem que
sua inserção no cinema se devia à fama do tio já consegrada à época de sua
estreia em 1982 no filme “Picardias Estudantis”. Apesar do desligamento em
relação aos seus nomes, Cage teve sua carreira em grande parte alavancada por
parceiras com o tio, ainda que em papeis pequenos: o “O selvagem da
Motocicleta” (1983), “Cotton Club” (1984) e “Peggy Sue, Seu Passado a Espera”
(1986). No entanto, já em 1984 teve a oportunidade de protagonizar um filme –
“Asas da Liberdade”, de Alan Parker. Foi no ano de 1987 que o ator teve maior
destaque em relação às suas atuações, participando dos filmes “Arizona Nunca
Mais”, de Joel Coen, relembrado ainda hoje como uma de suas melhores
performances, e “Feitiço da Lua”, contracenando como par romântico de Cher e
recebendo uma indicação ao Globo de Ouro como Melhor Ator em Comédia. Em 1990,
outro filme de destaque: “Coração Selvagem”, de David Lynch, numa parceria
elogiada com Laura Dern. Por “Lua de Mel a Três” (1992), comédia romântica cujo
cenário é Las Vegas, recebeu outra indicação ao Globo de Ouro. Foi dirigido por
outro Coppola – desta vez, seu irmão, Christopher, no filme “Engano Mortal”
(1993). A partir de meados da década de 90, começa uma transição de filmes
cômicos para filmes dramáticos, como “Despedida em Las Vegas” (1995), e de ação,
como “O Beijo da Morte” (1995), “A Rocha” (1996), “Com Air – A Rota de Fuga”
(1997) e “A Outra Face” (1997). Apesar do seu envolvimento com alguns filmes
dramáticos, como aquele pelo qual foi nominado e venceu, e alguns filmes
românticos icônicos, como é o caso de “Cidade dos Anjos” (1998), a carreira do
ator é, sobretudo, lembrada pelas suas participações em filmes de ação e
filmes-bomba, dos quais se destacam alguns recentes – “O Vidente” (2007),
“Presságio” (2009), “Caça às Bruxas” (2011), “O Pacto” (2011) e “Reféns”
(2011). Apesar das suas escolhas duvidosas a partir do novo milênio, o ator emplacou
uns títulos com boas críticas: “Adaptação” (2002), pelo qual recebeu nova indicação
ao Oscar, “O Senhor das Armas” (2005), cujo roteiro impressiona mais que sua
interpretação, e “Kick-Ass – Quebrando Tudo” (2010).
Em 24 de março de 1997, o australiano Geoffrey Rush venceu seu Oscar
pela sua participação na cinebiografia de David Helfgott, pianista cuja vida
foi marcada por momentos de ascensão e de declínio. O ator começou sua carreira
aos 20 anos, em 1971, estrelando em peças teatrais, destacando posteriormente,
a partir da década de 1980, em títulos shakesperianos. Nos anos 1970, esteve na
França, onde estudou teatro, e foi para os Estados Unidos, onde inclusive
participou de uma peça com Mel Gibson. Apesar de sua vasta carreira no teatro,
gênero no qual ainda atua, tendo recentemente ingressado numa turnê com a peça The Importance of Being Ernest, de Oscar
Wilde, o ator estreou no cinema aos 30 anos, em 1981, no filme australiano Hoodwink. Nos anos subsequentes,
apareceu em alguns papeis pequenos, tanto em filmes como em séries, tanto na
Austrália quanto na Inglaterra. Entre 1981 e 1996, ano em que ganhou destaque
internacional interpretando o protagonista de “Shine – Brilhante” (1996), o
ator participou de 9 títulos. A partir do reconhecimento internacional, Rush
participou de outros títulos notórios, sendo então observado pela AMPAS, tendo
concorrido num total de 4 vezes, e pela BAFTA, tendo concorrido 5 vezes e
vencido dois prêmios. Seu Oscar estava recém-conquistado quando Rush se
envolveu com dois títulos marcantes – “Shakespeare Apaixonado” (1998), de John
Madden, e “Elizabeth” (1998), de Shekar Kapur –, ambos registrando o mesmo
período histórico: a corte elisabetana, tendo sido nominado aos prêmios da
Academia pelo primeiro e ao BAFTA pelos dois filmes, vencendo como coadjuvante
pelo filme de Kapur. E estavam as suas indicações ainda frescas quando foi
novamente nominado por ambas as Academias pela cinebiografia “Contos Proibidos
do Marquês de Sade” (2000), de Philip Kaufman. Nessa época, investiu em filmes
de terror, como a bomba “A Casa da Colina” (1999); também em filmes de comédia,
como “Quase Super-Heróis” (1999), mas não se afastou das apreciadas
cinebiografias, tendo integrado o elenco de “Frida” (2002), de “A Vida e Morte
de Peter Sellers” (2004), pelo qual venceu um Emmy, “Munique” (2005), a
participação em “Elizabeth: A Era de Ouro” (2007) e, por fim, ainda nas
biografias, “O Discurso do Rei” (2010), que lhe rendeu sua quarta e até hoje
última nominação ao Oscar, ao BAFTA, Globo de Ouro e Sindicato dos Atores. Não
se pode ignorar Capitão Hector Barbossa, seu famoso personagem na série Piratas
do Caribe, talvez suas participações mais populares. Não se pode também deixar
de comentar seus feitos: tornou-se o 19º intérprete a conquistar a Triple Crown of Acting – venceu o Oscar,
o Emmy e o Tony, o qual conquistou em 2009 pela peça Exit the King.
Jack
Nicholson
tornou-se o quarto intérprete a conquistar três estatuetas. Foi antecedido por
Walter Brennan, Katharine Hepburn, Ingrid Bergman e sucedido por Meryl Streep e
Daniel Day-Lewis. Mas o ano de 1998 marcou, além do seu terceiro prêmio, a sua
11ª indicação, o que o tornou, saindo do empate com Laurence Olivier, o
intérprete masculino mais indicado na história da Academia. Até 2013, uma
década e meia após o seu último prêmio e com uma indicação, sua 12ª, que veio
em 2003, Nicholson continua sendo o ator com o maior número de nominações em
atuação. O ator começou trabalhando atrás das câmeras, mas assim que teve uma
oportunidade foi para as telas, tendo sido The
Cry Baby Killer (1958) o seu primeiro filme. Nos seus primeiros anos,
participou de filmes de terror, como “Sombras do Terror” (1963), westerns, como “A Vingança do
Pistoleiro” (1965), thrillers, como
“Os Demônios do Volante” (1967), além de algumas participações em seriados e
filmes para TV. Foi em 1969, com o lançamento de “Sem Destino”, Nicholson
tornou-se um ator atrativo, para o qual todos olhavam – tanto outros diretores quanto
a Academia, que lhe indicou pela primeira vez ao Oscar em 1970 na categoria
Melhor Ator Coadjuvante. Foi indicado outras 11 vezes, em ambas as categorias
masculinas de atuação, vecendo por “Um Estranho no Ninho” (1976) e “Melhor É
Impossível” (1997) como Melhor Ator e por “Laços de Ternura” (1983) como Melhor
Ator Coadjuvante. Atualmente, seus papeis de destaque estão mais escassos, mas
a admiração do público pelo ator continua, em especial devido a seus
personagens bastante marcantes, como é o caso de J.J. Gittes, de “Chinatown”
(1974), de Jack Torrance, de “O Iluminado” (1980) e de Frank Costello, de “Os
Infiltrados” (2006).
Um marco aconteceu em 1999: Roberto Benigni venceu o prêmio
de Melhor Ator, tornando-se o segundo intérprete – precedido apenas por Sophia
Loren em “Duas Mulheres” (1960) – a vencer um prêmio por uma atuação em língua
não-inglesa num filme produzido por um país não-anglófono.; além disso, o ator
tornou-se o segundo intérprete a ter digirido a si mesmo numa performance vencedora
– antes dele, apenas Laurence Olivier por “Hamlet” (1947) havia conseguido o
mesmo. Mas o fato que é Roberto Benigni – sendo “A Vida É Bela” (1997) o seu
filme mais conhecido – dedicou-se à obra também em homenagem a seu pai, que
passou dois anos num campo de concentração. Sua trajetória começa na TV
italiana na década de 1970, quando interpretava papéis cômicos, tendo ficado a
comédia o gênero favorito por anos. Se no mundo é conhecido, sobretudo, pelo
cinema que faz, na Itália é também conhecido pela sua participação política
bastante efetiva: chegou a insultar o Papa João Paulo II e, em felicidade com a
renúncia do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, interrompeu os créditos de
abertura de um programa no qual seria entrevistado gritando que “Berlusconi
renunciou”. Depois de sua vitória em 1999, sumiu do cenário cinematográfico,
tendo feito apenas cinco filmes depois, sendo o seu mais recente uma parceria
com Woody Allen em “Para Roma, com Amor” (2012).
Se 1999 havia garantido um marco, 2000
marcou outro: tornou Kevin Spacey
o quinto intérprete a conquistar 100% de vitória em mais de uma nominação. Foi
nominado anteriormente como Melhor Ator Coadjuvante por “Os Suspeitos” (1995),
vencendo, e novamente em 2000, como Melhor Ator por “Beleza Americana” (1999),
vencendo mais uma vez. Antes dele, conquistaram o mesmo feito as atrizes Luise
Rainer (1937-1938), Vivien Leigh (1940-1952), Helen Hayes (1930-1971) e Sally
Field (1980-1985), cuja última indicação sem vitória em 2013 a tirou dessa
lista seleta. Adicionam-se a esse grupo Hilary Swank (2000-2005) e Christoph
Waltz (2010-2013). Tendo estreado no teatro em 1981 com a peça Henry VI – part I, o ator dedicou-se até
meados da década de 1980 ao teatro; foi para a TV em 1986, quando começou a se
destacar e atrair mais olhares para si. Participou do seriado L.A. Law (19886-1994) e da minissérie The Murder of Mary Paghan (1988), mas,
bem verdade, só caiu no gosto do público em 1995 com o seu personagem Verbal
Kint, que lhe acabou rendendo uma duvidosa nominação como Melhor Ator
Coadjuvante. Uniu-se em 2000 com Helen Hunt, vencedora do Oscar de Melhor Atriz
de 1998, e com Haley Joel-Osment, nominado Melhor Ator Coadjuvante em 1999, no
filme “A Corrente do Bem”, sendo esse um dos seus filmes mais lembrados, além
daqueles pelos quais ganhou o Oscar. Somados a essa lista, estão os filmes “Seven
– Os Sete Crimes Capitais” (1995), “A Vida de David Gale” (2003) e “Margin Call
– O Dia Antes do Fim” (2011), uma de suas obras mais recentes.
Assim, completamos a lista e biografia dos
nove vencedores do Oscar de Melhor Ator na década de 1990, podemos dar início,
a partir do próximo post, da análise do desempenho de cada um nos filmes pelos
quais foram premiados.
por Luís Adriano de Lima
2 comentários:
Muito legal essa postagem relembrando a carreira dos atores e também da festa do Oscar. Espero que venham outras postagens do tipo.
Opa, que bom que o blog voltou, hein??? Estou no aguardo dos textos desse especial.
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