quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Abertura - Melhor Ator da Década de 1990



Desumanização, vazio existencial, luta pela justiça e pela dignidade, otimismo, deficiência, ambição devastadora e autodestruição são alguns temas que nos foram apresentados ao longo da década de 1990, a qual foi indubitavelmente variada nos seus projetos cinematográficos e representativa no que tange às discussões sociais relevantes, como é o caso da homossexualidade (“Traídos pelo Desejo”, 1992; “Filadélfia”, 1993; “Deuses e Monstros”, 1998), da fragmentação do ser (“Na Corda Bamba”, 1996; “Gênio Indomável, 1997; “Temporada de Caça”, 1998), da violência e do seu efeito no indivíduo (“Cabo do Medo”, 1991; “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, 1994; “A Outra História Americana”, 1998) além de biografias de personalidades polêmicas na cultura norte-americana (“O Reverso da Fortuna”, 1990; “Chaplin”, 1992; “Tina”, 1993; “Nixon”, 1995; “O Povo contra Larry Flint”, 1996). Ao longo de maio nos ateremos aos intérpretes que foram premiados de 1991 a 2000 na categoria Melhor Ator e que, eventualmente, trouxeram os temas citados acima em seus desempenhos premiados.

Vejamos abaixo uma tabela simplificada que nos permite ver algumas informações básicas sobre os premiados, em ordem cronológica, entre os anos de 1991 e 2000:

Ator
Idade
País
Filme
Indicações
Pré
Pós
Jeremy Irons
42
ENG
O Reverso da Fortuna
0
0
Anthony Hopkins
54
WAL
O Silêncio dos Inocentes
0
3
Al Pacino¹
52
USA
Perfume de Mulher
6
0
Tom Hanks
37
USA
Filadélfia
1
3
Tom Hanks²
38
USA
Forrest Gump – O Contador de Histórias
2
2
Nicolas Cage
32
USA
Despedida em Las Vegas
0
1
Geoffrey Rush
45
AUS
Shine – Brilhante
0
3
Jack Nicholson
60
USA
Melhor É Impossível
10
1
Roberto Benigni
46
ITA
A Vida É Bela
0
0
Kevin Spacey
40
USA
Beleza Americana
1
0
¹ Pacino recebeu dupla nominação em 1993, sendo as suas sétima e oitava nominações.
² Hanks se tornou o quinto e até hoje último intérprete a receber prêmios em anos consecutivos.
 

Com base no que vimos acima, já podemos tirar algumas conclusões interessantes, sendo a primeira o fato de que foram 9 os atores premiados em vez de 10, uma vez que Hanks ganhou duas vezes na mesma década. Também podemos citar o fato de que metade dos premiados (Irons, Hopkins, Cage, Rush e Benigni) venceram justamente na primeira vez em que concorreram e, desses cinco first-timers, apenas dois (Irons e Benigni) não receberam indicações posteriores, fazendo que com que a data de suas vitórias marque a única vez em que concorreram no Oscar. Além disso, quanto aos estrangeiros, que somam 4 na lista, apenas Roberto Benigni sagrou-se vencedor por uma interpretação em língua não-inglesa, já que Irons (inglês), Hopkins (galês) e Rush (australiano) compuseram performances no bom idioma anglo-saxão que a Academia tanto aprecia. Vale lembrar que, anteriormente à vitória de Benigni, apenas Sophia Loren havia conquistado a estatueta por um desempenho em língua estrangeira ao inglês num filme produzido por um país não-anglófono – fez isso em 1962, vencendo como protagonista pelo título “Duas Mulheres” (1960). Posterior a Benigni, somente Marion Cotillard em 2008 conseguiu o mesmo no seu desempenho em francês pela obra “Piaf – Um Hino ao Amor” (2007). Ademais, duas curiosidades se destacam: as vitórias consecutivas de Tom Hanks – precedido por Luise Rainer (1937, 1938), Spencer Tracy (1938, 1939), Katharine Hepburn (1968, 1969) e Jason Robards (1976, 1977) – e o fato de que para dois vencedores (Pacino e Spacey) a estatueta de Melhor Ator representou a última vez até hoje em que concorreram ao Oscar.


Um suburbano americano da classe média-alta em confronto com o rumo que sua vida levou; um escritor nova-iorquino que sofre de transtorno obessivo-compulsivo e dificuldades de relacionamento interpessoal; um rapaz da zona rural com deficiência que eventualmente participa dos eventos mais relevantes da história dos Estados Unidos; um italiano judeu vivendo sempre através de uma perspectiva otimista os conflitos de uma Itália nazi-fascista; um advogado homossexual portador do HIV cuja carreira é ameaça devido à discriminação; um roteirista desempregado e alcoólatra que decide beber até morrer; um socialite acusado de tentativa de assassinato pelo coma inexplicado de sua esposa rica; um ex-oficial cego e alcoólatra que parte em viagem para Nova York acompanhado de um estudante; um pianista de talento cuja carreira é abalada por causa de colapsos nervosos; e, por fim, um psiquiatra canibal extremamente inteligente e bem articulado a quem uma jovem agente do FBI precisa recorrer a fim de conseguir compreender a mente de um assassino.

São esses os dez personagens que renderam o Oscar de Melhor Ator aos 9 atores que foram agraciados ao longo da década de 1990. Vamos agora, na ordem de vitória, conhecer um pouco da história de cada um desses intérpretes.

A data de 25 de março de 1991 marcou a vitória de Jeremy Irons, ator inglês que deu vida ao polêmico Claus von Bülow, acusado em 1982 de tentativa de assassinato por injeção de insulina na sua esposa, Sunny von Bülow (interpretada no filme por Glenn Close). Irons estreou como ator em seriados televisivos na década de 1970, sendo The Rivals of Sherlock Holmes (1971-1973) o seu primeiro papel creditado. Por quase dez anos, o ator esteve apenas na TV; no cinema, seu primeiro trabalho aconteceu no filme “Nijinsky – Uma História Real” (1980), de Herbert Ross, mas foi somente com “A Mulher do Tenente Francês” (1981), de Karel Reisz, que o ator conseguiu destaque, apesar de, na época, a atenção maior ter sido direcionada a Meryl Streep, sua colega de elenco (ele, no entanto, conseguiu uma indicação no BAFTA). Ao longo dessa década, trabalhou em filmes para a TV, em teatro e em cinema. Dentre os títulos cinematográficos de grande repercussão, esteve em “A Missão” (1986), de Roland Joffé, e “Gêmeos – Mórbida Semelhança” (1988), de David Cronenberg, a quem ele inclusive agradeceu no seu discurso no Oscar. Na TV, dentre outros, integrou o elenco da minissérie “Memórias de Brideshead” (1981), pela qual concorreu ao BAFTA, ao Emmy e ao Globo de Ouro de Melhor Ator. Sua primeira parceria com Glenn Close aconteceu na Boradway em 1984 na peça The Real Thing, pela qual ambos foram premiados com o Tony Award. A década de 1990 começou intensa para o ator, que recebeu sua primeira e única indicação ao Oscar num projeto ao qual se reuniu mais uma vez com Close, com quem trabalhou mais uma vez em 1993, no título “A Casa dos Espíritos”, do qual Streep também fez parte. A partir da sua vitória no Oscar, o ator continuou seu trabalho no cinema, tendo participado dos títulos “Beleza Roubada” (1996), de Bertolucci, e “Lolita”, de Adrian Lyne, remake do original de Stanley Kubrick, além de ter emprestado sua voz ao vilão Scar de “O Rei Leão” (1994); retomou o teatro a partir de 2000 e continuou seus trabalhos na TV, destacando-se a minissérie “Elizabeth I” (2005), pelo qual ganhou um Emmy, tornando-se, portanto, um dos nove atores a conquistar a Triple Crown of Acting: Tony (em 1984), Oscar (em 1991) e Emmy (em 2006).

O segundo vencedor, Anthony Hopkins, premiado na noite de 30 de março de 1992, é aquele que provavelmente tenha composto o personagem mais marcante – Dr. Hannibal “Canibal” Lecter. O personagem apresentado pela primeira em “O Silêncio dos Inocentes” (1991) assombrou muita gente e, tão bem interpretado, deu a oportunidade a Hopkins de interpretá-lo mais duas vezes, nos títulos “Hannibal” (2001) e “Dragão Vermelho” (2002), esse anterior e aquele posterior cronologicamente em relação ao filme pelo qual o ator foi premiado. A história do ator galês começa no teatro na década de 1960, quando se insteressou pela dramaturgia depois de conhecer o compatriota Richard Burton, tendo sido inclusive tutoriado por Laurence Olivier. Nos palcos, atuou ao lado de outros grandes nomes do cinema, como Judi Dench e Shirley MacLaine. Começou na TV em 1965, no cinema em 1967, mas foi no ano seguinte, pelo filme “O Leão no Inverno” (1968), que o ator teve destaque, ainda que fosse somente na décad subsequente que o ator seria conhecido pelos seus trabalhos como ator cinematográfico. A década de 1970 foi praticamente toda dedicada à televisão, destacando-se o telefilme The Lindbergh Kidnapping Case (1976), que lhe rendeu um prêmio no Emmy como Melhor Ator. A partir da década de 1980, houve uma gradual inserção no universo cinematográfico, sem, porém, abadonar a TV, sendo essa sua principal dedicação. Sobre 1981, vale destacá-lo: o ator estava em alto devido ao seu trabalho no filme “O Homem Elefante” (1980); no telefilme The Bunker (1981), pelo qual venceu seu segundo Emmy interpretando Adolf Hittler, e no filme “Amantes em Família” (1980), que lhe rendeu sua primeira e única indicação no Framboesa de Ouro. Dessa década, destacam-se dois filmes: “Amor e Vingança” (1985) e “Nunca Te Vi, Sempre Te Amei” (1987), no qual contracenou com Anne Bancroft e Judi Dench, conquistando algumas indicações em premiações. Com a chegada dos anos 90, o ator passa a se dedicar quase exclusivamente ao cinema, deixando a TV de lado. Já em 1991, seu primeiro grande personagem: Hannibal Lecter. Menos de 20 minutos em cena e o ator fatura um Oscar, o único de sua carreira. Pode-se destacar essa década como a melhor da carreira cinematográfica do ator, que trabalhou com Francis Ford Coppola em “Drácula de Bram Stoker” (1992); com James Ivory em “Retorno a Howards End” (1992), “Vestígios do Dia” (1993), sendo por esse nominado novamente, e “Os Amores de Picasso” (1996); com Richard Attenborough em “Chapilin” (1992) e em “Terra das Sombras” (1993); com Oliver Stone em “Nixon” (1995), recebendo sua terceira nominação; com Steven Spielberg em “Amistad” (1997), recebendo sua quarta e última nominação e trazendo com ela a singularidade de ser o único ator indicado mais de uma vez interpretando presidentes dos Estados Unidos. Em 1996, dirigiu o filme “Outono de Paixões” e em 1998 se reuniu com Martin Brest no filme “Encontro Marcado”. A década de 2000 veio com filmes pouco representativos, com o ator enveredando para os filmes de suspense e thriller, como é o caso de “Revelações” (2003) e “Um Crime de Mestre” (2007), culminando no filme de terror “O Ritual” (2011). “Hitchcock” (2012) – cinebiografia dos bastidores do “Psicose” (1960), no qual Hopkins interpreta Alfred Hitchcock – surgiu com rumores de uma possível quinta indicação, a qual não aconteceu, fazendo com que a participação do ator no Oscar se limite aos anos 90.

O terceiro premiado foi Al Pacino, ator já veterano e detentor de interpretações poderosas que sempre falharam em lhe render o prêmio, seja na categoria principal ou na categoria coadjuvante. A atuação premiada do ator veio justamente por um filme remake de um italiano homônimo de 1974 que concorreu também ao Oscar (na categoria Melhor Roteiro Original). Assim como os Irons e Hopkins, parte da carreira de Pacino foi dedicada ao teatro. Sua estreia como ator foi em 1967 na peça Awake and Sing! nos circuitos fora da Broadway, onde ele fez seu debute em 1969 – mesmo ano em que o ator começou no cinema – com a peça Does a Tiger Wear a Necktie?, que lhe rendeu o Tony de Melhor Ator. Pelo seu terceiro filme – “O Poderoso Chefão” (1972), de Francis Ford Coppola –, o ator recebeu uma indicação ao Oscar na cetgoria Melhor Ator Coadjuvante, a qual veio de modo conflituoso, com o ator alegando não ser essa a categoria adequada, já que seu personagem tem mais tempo em cena que o de Marlon Brando, nominado e vencedor na categoria principal. Por “Serpico” (1973), de Sidney Lumet, recebeu sua segunda nominação, desta vez na categoria principal. Reencontrou-se com Coppola em “O Poderoso Chefão II” (1974), marcando sua terceira nominação, o que também fez com que ele se tornasse o terceiro de cinco intérpretes a receber duas nominações interpretando o mesmo personagem. Mais uma vez sobre a direção de Lumet, recebeu sua quarta nominação por “Um Dia de Cão” (1975). As quatro indicações consecutivas colocam o ator em empate com Marlon Brando como os intérpretes masculinas mais nominados em anos seguidos. No ano de lançamento de “Um Momento, Uma Vida” (1977), parceria com Sidney Pollack que fez com que ele fosse nominado ao Globo de Ouro de Ator Dramático, Pacino também estreava novamente na Broadway com a peça The Basic Training of Pavlo Hummel, que, depois de 117 apresentações, lhe rendeu outro Tony como Melhor Ator. Sem filmes lançados em 1978, seu próximo trabalho seria “Justiça para Todos” (1979), de Norman Jewison, garantiu ao ator posição entre os atores nominados em 1980, mesmo ano em que é dirigido por William Friedkin na obra “Parceiros da Noite”, que recentemente ganhou nova atenção midiática devido ao projeto de James Franco e Travis Matthews de “restaurar” os minutos polêmicos que foram cortados sob censura na versão final e acabaram perdidos para sempre. Sob a direção de Brian De Palma no filme “Scarface” (1983), Pacino compõe aquele que é um dos seus personagens mais famosos: o mafioso Tony Montana. Finalizando a década de 1980, período no qual o ator participou de 7 filmes e 3 peças teatrais, vem novamente o personagem mafioso: tanto no filme “Dick Tracy” (1990), pelo qual recebeu sua sexta nominação, quanto na terceira e última parte da trilogia iniciada por Coppola dezoito anos antes, “O Poderoso Chefão III” (1990). Dois filmes lançados em 1992 – “O Sucesso a Qualquer Preço” e “Perfume de Mulher” – garantem a ele prestígio duplo na cerimônia que aconteceu em 29 de março de 1993, tendo sido nominado em ambas as categorias masculinas de atuação. Retornou ao teatro esporadicamente a partir dos anos 90, nunca mais foi nominado ao Oscar, mas concorreu duas vezes ao Emmy – em 2004, por Angels in America (2003) e em 2010 por You Don’t Know Jack (2010) –, vencendo em ambas as oportunidades, o que insere no clube ao qual Jemery Irons pertence: o de atores que venceram o Tony, o Oscar e o Emmy.

O quarto ator vencedor da década de 1990, tendo vencido em 21 de março de 1994, teve a oportunidade de repetir o feito pouco mais de um ano depois, em 27 de março de 1995. Tom Hanks venceu pelas suas interpretações como Andrew Beckett e Forrest Gump, respectivamente nos filmes “Filadélfia” (1993), de Jonathan Demme, e “Forrest Gump – O Contador de Histórias” (1994), de Robert Zemeckis. Hanks começou nos teatros, onde, por um tempo, aprendeu funções básicas quanto aos procedimentos dramatúrgicos. Sua incursão no cinema começa em 1984 com o filme “Splash – Uma Sereia em Minha Vida”, filme exibido repetidas nas sessões vespertinas de canais abertos no Brasil. Antes disso, havia participado de algumas séries e filmes televisivos. Sua primeira fase no cinema, que abrange desde sua estreia até o primeiro terço da década de 90, consiste sobretudo em filmes cômicos de pouco sucesso de crítica, apesar do grande alcance popular. Dessa fase, destaca-se o título “Quero Ser Grande” (1988), de Penny Marshal, que rendeu ao ator a sua primeira indicação ao Oscar. Sua fase seguinte começa justamente em 1993 com a obra que lhe rendeu sua segunda indicação e primeiro prêmio. Vale lembrar que ela não se caracteriza pelo afastamento dos filmes de comédia, mas justamente pela comunhão entre o humor e a crítica, presentes, por exemplo, nos seus trabalhos seguintes, como o título pelo qual Hanks recebeu sua terceira indicação e segundo Oscar; “The Wonders – O Sonho Não Acabou” (1996), dirigido por ele mesmo; “Mens@gem para Você” (1998), nova parceira tanto com Nora Ephron, a diretora, quanto com Meg Ryan, atriz co-protagonista – ele já havia trabalhado com as duas em “Sintonia do Amor” (1993). Sua primeira parceria com Steven Spielberg  - “O Resgate do Soldado Ryan” (1998) – lhe rendeu sua quarta nominação como Melhor Ator; os outros dois filmes que fizeram juntos – “Prenda-me Se For Capaz” (2002) e “O Terminal” (2004) –, apesar de não lhe indicarem, fez com que ele recebesse alguns elogios. 
Finalizando a década de 1990, dois filmes estrelados por Hanks lhe garantem destaque: “À Espera de um Milagre” (1999), de Frank Darabont, e “Náufrago” (2000), novamente sob a tutela de Zemeckis e, novamente, com mais indicação ao Oscar, sendo a sua última até hoje. De 2000 para frente, destacam-se poucos títulos: “Estrada para a Perdição” (2002), parceria com Sam Mendes; “Jogos do Poder” (2007), de Mike Nichols; “O Código Da Vince” (2006) e “Anjos & Demônios” (2009), ambos de Ron Howard, que popularizaram Hanks como Robert Langdom, famoso personagem dos livros de Dan Brown.

Em 25 de março de 1996, Jessica Lange, vencedora do Oscar em 1995 pelo filme “Céu Azul” (1994), anunciou o nome do vencedor da 68ª edição dos prêmios da Academia: Nicolas Cage. Seu nome verdadeiro não esconde sua origem: Nicolas Kim Coppola, o ator é sobrinho de Francis Ford Coppola, de quem ele tentou se dissociar no começo de sua carreira a fim de que não pensassem que sua inserção no cinema se devia à fama do tio já consegrada à época de sua estreia em 1982 no filme “Picardias Estudantis”. Apesar do desligamento em relação aos seus nomes, Cage teve sua carreira em grande parte alavancada por parceiras com o tio, ainda que em papeis pequenos: o “O selvagem da Motocicleta” (1983), “Cotton Club” (1984) e “Peggy Sue, Seu Passado a Espera” (1986). No entanto, já em 1984 teve a oportunidade de protagonizar um filme – “Asas da Liberdade”, de Alan Parker. Foi no ano de 1987 que o ator teve maior destaque em relação às suas atuações, participando dos filmes “Arizona Nunca Mais”, de Joel Coen, relembrado ainda hoje como uma de suas melhores performances, e “Feitiço da Lua”, contracenando como par romântico de Cher e recebendo uma indicação ao Globo de Ouro como Melhor Ator em Comédia. Em 1990, outro filme de destaque: “Coração Selvagem”, de David Lynch, numa parceria elogiada com Laura Dern. Por “Lua de Mel a Três” (1992), comédia romântica cujo cenário é Las Vegas, recebeu outra indicação ao Globo de Ouro. Foi dirigido por outro Coppola – desta vez, seu irmão, Christopher, no filme “Engano Mortal” (1993). A partir de meados da década de 90, começa uma transição de filmes cômicos para filmes dramáticos, como “Despedida em Las Vegas” (1995), e de ação, como “O Beijo da Morte” (1995), “A Rocha” (1996), “Com Air – A Rota de Fuga” (1997) e “A Outra Face” (1997). Apesar do seu envolvimento com alguns filmes dramáticos, como aquele pelo qual foi nominado e venceu, e alguns filmes românticos icônicos, como é o caso de “Cidade dos Anjos” (1998), a carreira do ator é, sobretudo, lembrada pelas suas participações em filmes de ação e filmes-bomba, dos quais se destacam alguns recentes – “O Vidente” (2007), “Presságio” (2009), “Caça às Bruxas” (2011), “O Pacto” (2011) e “Reféns” (2011). Apesar das suas escolhas duvidosas a partir do novo milênio, o ator emplacou uns títulos com boas críticas: “Adaptação” (2002), pelo qual recebeu nova indicação ao Oscar, “O Senhor das Armas” (2005), cujo roteiro impressiona mais que sua interpretação, e “Kick-Ass – Quebrando Tudo” (2010).

Em 24 de março de 1997, o australiano Geoffrey Rush venceu seu Oscar pela sua participação na cinebiografia de David Helfgott, pianista cuja vida foi marcada por momentos de ascensão e de declínio. O ator começou sua carreira aos 20 anos, em 1971, estrelando em peças teatrais, destacando posteriormente, a partir da década de 1980, em títulos shakesperianos. Nos anos 1970, esteve na França, onde estudou teatro, e foi para os Estados Unidos, onde inclusive participou de uma peça com Mel Gibson. Apesar de sua vasta carreira no teatro, gênero no qual ainda atua, tendo recentemente ingressado numa turnê com a peça The Importance of Being Ernest, de Oscar Wilde, o ator estreou no cinema aos 30 anos, em 1981, no filme australiano Hoodwink. Nos anos subsequentes, apareceu em alguns papeis pequenos, tanto em filmes como em séries, tanto na Austrália quanto na Inglaterra. Entre 1981 e 1996, ano em que ganhou destaque internacional interpretando o protagonista de “Shine – Brilhante” (1996), o ator participou de 9 títulos. A partir do reconhecimento internacional, Rush participou de outros títulos notórios, sendo então observado pela AMPAS, tendo concorrido num total de 4 vezes, e pela BAFTA, tendo concorrido 5 vezes e vencido dois prêmios. Seu Oscar estava recém-conquistado quando Rush se envolveu com dois títulos marcantes – “Shakespeare Apaixonado” (1998), de John Madden, e “Elizabeth” (1998), de Shekar Kapur –, ambos registrando o mesmo período histórico: a corte elisabetana, tendo sido nominado aos prêmios da Academia pelo primeiro e ao BAFTA pelos dois filmes, vencendo como coadjuvante pelo filme de Kapur. E estavam as suas indicações ainda frescas quando foi novamente nominado por ambas as Academias pela cinebiografia “Contos Proibidos do Marquês de Sade” (2000), de Philip Kaufman. Nessa época, investiu em filmes de terror, como a bomba “A Casa da Colina” (1999); também em filmes de comédia, como “Quase Super-Heróis” (1999), mas não se afastou das apreciadas cinebiografias, tendo integrado o elenco de “Frida” (2002), de “A Vida e Morte de Peter Sellers” (2004), pelo qual venceu um Emmy, “Munique” (2005), a participação em “Elizabeth: A Era de Ouro” (2007) e, por fim, ainda nas biografias, “O Discurso do Rei” (2010), que lhe rendeu sua quarta e até hoje última nominação ao Oscar, ao BAFTA, Globo de Ouro e Sindicato dos Atores. Não se pode ignorar Capitão Hector Barbossa, seu famoso personagem na série Piratas do Caribe, talvez suas participações mais populares. Não se pode também deixar de comentar seus feitos: tornou-se o 19º intérprete a conquistar a Triple Crown of Acting – venceu o Oscar, o Emmy e o Tony, o qual conquistou em 2009 pela peça Exit the King.

Jack Nicholson tornou-se o quarto intérprete a conquistar três estatuetas. Foi antecedido por Walter Brennan, Katharine Hepburn, Ingrid Bergman e sucedido por Meryl Streep e Daniel Day-Lewis. Mas o ano de 1998 marcou, além do seu terceiro prêmio, a sua 11ª indicação, o que o tornou, saindo do empate com Laurence Olivier, o intérprete masculino mais indicado na história da Academia. Até 2013, uma década e meia após o seu último prêmio e com uma indicação, sua 12ª, que veio em 2003, Nicholson continua sendo o ator com o maior número de nominações em atuação. O ator começou trabalhando atrás das câmeras, mas assim que teve uma oportunidade foi para as telas, tendo sido The Cry Baby Killer (1958) o seu primeiro filme. Nos seus primeiros anos, participou de filmes de terror, como “Sombras do Terror” (1963), westerns, como “A Vingança do Pistoleiro” (1965), thrillers, como “Os Demônios do Volante” (1967), além de algumas participações em seriados e filmes para TV. Foi em 1969, com o lançamento de “Sem Destino”, Nicholson tornou-se um ator atrativo, para o qual todos olhavam – tanto outros diretores quanto a Academia, que lhe indicou pela primeira vez ao Oscar em 1970 na categoria Melhor Ator Coadjuvante. Foi indicado outras 11 vezes, em ambas as categorias masculinas de atuação, vecendo por “Um Estranho no Ninho” (1976) e “Melhor É Impossível” (1997) como Melhor Ator e por “Laços de Ternura” (1983) como Melhor Ator Coadjuvante. Atualmente, seus papeis de destaque estão mais escassos, mas a admiração do público pelo ator continua, em especial devido a seus personagens bastante marcantes, como é o caso de J.J. Gittes, de “Chinatown” (1974), de Jack Torrance, de “O Iluminado” (1980) e de Frank Costello, de “Os Infiltrados” (2006).

Um marco aconteceu em 1999: Roberto Benigni venceu o prêmio de Melhor Ator, tornando-se o segundo intérprete – precedido apenas por Sophia Loren em “Duas Mulheres” (1960) – a vencer um prêmio por uma atuação em língua não-inglesa num filme produzido por um país não-anglófono.; além disso, o ator tornou-se o segundo intérprete a ter digirido a si mesmo numa performance vencedora – antes dele, apenas Laurence Olivier por “Hamlet” (1947) havia conseguido o mesmo. Mas o fato que é Roberto Benigni – sendo “A Vida É Bela” (1997) o seu filme mais conhecido – dedicou-se à obra também em homenagem a seu pai, que passou dois anos num campo de concentração. Sua trajetória começa na TV italiana na década de 1970, quando interpretava papéis cômicos, tendo ficado a comédia o gênero favorito por anos. Se no mundo é conhecido, sobretudo, pelo cinema que faz, na Itália é também conhecido pela sua participação política bastante efetiva: chegou a insultar o Papa João Paulo II e, em felicidade com a renúncia do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, interrompeu os créditos de abertura de um programa no qual seria entrevistado gritando que “Berlusconi renunciou”. Depois de sua vitória em 1999, sumiu do cenário cinematográfico, tendo feito apenas cinco filmes depois, sendo o seu mais recente uma parceria com Woody Allen em “Para Roma, com Amor” (2012).

Se 1999 havia garantido um marco, 2000 marcou outro: tornou Kevin Spacey o quinto intérprete a conquistar 100% de vitória em mais de uma nominação. Foi nominado anteriormente como Melhor Ator Coadjuvante por “Os Suspeitos” (1995), vencendo, e novamente em 2000, como Melhor Ator por “Beleza Americana” (1999), vencendo mais uma vez. Antes dele, conquistaram o mesmo feito as atrizes Luise Rainer (1937-1938), Vivien Leigh (1940-1952), Helen Hayes (1930-1971) e Sally Field (1980-1985), cuja última indicação sem vitória em 2013 a tirou dessa lista seleta. Adicionam-se a esse grupo Hilary Swank (2000-2005) e Christoph Waltz (2010-2013). Tendo estreado no teatro em 1981 com a peça Henry VI – part I, o ator dedicou-se até meados da década de 1980 ao teatro; foi para a TV em 1986, quando começou a se destacar e atrair mais olhares para si. Participou do seriado L.A. Law (19886-1994) e da minissérie The Murder of Mary Paghan (1988), mas, bem verdade, só caiu no gosto do público em 1995 com o seu personagem Verbal Kint, que lhe acabou rendendo uma duvidosa nominação como Melhor Ator Coadjuvante. Uniu-se em 2000 com Helen Hunt, vencedora do Oscar de Melhor Atriz de 1998, e com Haley Joel-Osment, nominado Melhor Ator Coadjuvante em 1999, no filme “A Corrente do Bem”, sendo esse um dos seus filmes mais lembrados, além daqueles pelos quais ganhou o Oscar. Somados a essa lista, estão os filmes “Seven – Os Sete Crimes Capitais” (1995), “A Vida de David Gale” (2003) e “Margin Call – O Dia Antes do Fim” (2011), uma de suas obras mais recentes.

Assim, completamos a lista e biografia dos nove vencedores do Oscar de Melhor Ator na década de 1990, podemos dar início, a partir do próximo post, da análise do desempenho de cada um nos filmes pelos quais foram premiados.

por Luís Adriano de Lima
  

2 comentários:

Guilherme Z. disse...

Muito legal essa postagem relembrando a carreira dos atores e também da festa do Oscar. Espero que venham outras postagens do tipo.

Kamila disse...

Opa, que bom que o blog voltou, hein??? Estou no aguardo dos textos desse especial.