O ano de 2008 ficou
marcado tanto pelas suas nominações quanto pelas suas vitórias, além de uma
greve de roteiristas que quase impediu de acontecer a cerimônia de acontecer.
Em 9 de fevereiro de 2008, o anúncio dos nominados foi feito, havendo algum
furor quanto às indicações: surpreendentemente as 20 vagas de atuação (que,
teoricamente, podem ser preenchidas por uma interpretação por filme – o que
nunca aconteceu até hoje!) foram ocupadas por atores advindos de 18 títulos
diferentes, um recorde que não foi quebrado até hoje. Apenas “Conduta de Risco”
(2007), dirigido por Tony Gilroy em seu primeiro trabalho como diretor, rendeu
nominações a mais de um intérprete – nesse caso, foram três: George Clooney,
Tilda Swinton e Tom Wilkinson. Ainda quanto às nominações, outra surpresa – na
lista dos indicados na categoria Melhor Roteiro Original, havia três mulheres –
Diablo Cody, Tamara Jenkins e Nancy Oliver – caracterizando-se como outro
recorde. Isso para não citar Sarah Polley, indicada na categoria Melhor Roteiro
Adaptado, totalizando então 4 mulheres dentre as 10 vagas que constituem o
grande grupo Melhor Roteiro.
De um modo geral, assim
como havia acontecido nos dois últimos anos (2006-2007), os filmes nominados na
categoria principal não foram filmes que se tornaram sucessos de bilheteria nem
filmes que haviam sido produzidos com grandes verbas – enquanto a maioria das
produções chegam ao valor de U$90 milhões de orçamento, “Juno” (2007), por
exemplo, foi realizado com cerca de U$2,5 milhões. Em 24 de feverio de 2008,
data da premiação, os irmãos Coen venceram na categoria Melhor Diretor, algo
muito raro, já que a única dupla a vencer nessa categoria até então havia sido
Robert Wise e Jerome Robins em 1962 pelo filme “Amor, Sublime Amor” (1961).
Além disso, as quatro nominações em quatro diferentes categorias – Melhor
Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição – fizeram com
que os Coen repetissem o que Warren Beatty havia conseguido duas vezes (em 1979
e em 1982), à exceção de que Beatty concorrera em ambas as vezes como Melhor
Ator em vez de editor.
Day-Lewis, Swinton, Cotillard e Bardem: a Academia mostrando-se globalizada. |
Ainda hoje, se as
categorias de atuação parecem ter premiado os intérpretes mais adequados, sem
muitas discussões sobre os méritos de Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard,
Javier Bardem e Tilda Swinton, o mesmo não acontece quanto à categoria
principal: há os ávidos defensores do neo-western
“Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), dos irmãos Coen; há aqueles que defendem
com unhas e dentes a primazia de “Sangue Negro” (2007), de Paul Thomas
Anderson; e, por fim, há os que se entregam tórridos a “Desejo e Reparação”
(2007), de Joe Wright. Talvez seja essa a maior pergunta que tentaremos
responder esse mês, já que reside na categoria principal os maiores alvos de
desafeto.
Retomando os vencendores
das categorias de atuação, vale comentar o segundo acontecimento quase inédito
dessa edição: nenhum deles é
norte-americano – Day-Lewis é anglo-irlandês, Swinton é inglesa, Cotillard é
francesa e Bardem é espanhol. Isso havia acontecido apenas em 1965 com as vitórias
de Rex Harrison, Julie Andrews, Peter Ustnov e Lila Kedrova,. Ainda sobre as
atuações, Hal Holbrook, nominado Melhor Ator Coadjuvante aos 82 anos e 399 dias
de vida, tornou-se o ator mais velho já indicado nessa categoria e nem mesmo
Christopher Plummer, vencendor na mesma categoria em 2012 pelo filme “Toda
Forma de Amor” (2011), é mais velho do que ele à época de sua premiação
(Plummer tinha 82 anos e 79 dias quando venceu); Ruby Dee, por sua vez, foi
nominada como coadjuvante aos 85 anos, tornando a segunda mais velha, depois
apenas de Gloria Stuart, que concorreu por “Titanic” (1997). Ellen Page, por
outro lado, nominada aos 20 anos e 335
dias como Melhor Atriz, tornou-se a terceira mais jovem da história do Oscar
naquela categoria, depois apenas de Keisha Castle-Hughes, que concorreu em 2004
aos 13 anos, e Isabelle Adjani, que concorreu em 1976 aos 20 anos e 235 dias.
Para finalizar a apresentação sobre essas categorias, vale comentar o feito
duplo de Cate Blanchet: com sua indicação na categoria Melhor Atriz pelo título
“Elizabeth: A Era de Ouro” (2007), tornou-se o quinto intérprete a receber duas
nominações interpretando mesmo personagem em filmes diferentes – já havia
interpretado a rainha no título “Elizabeth” (1998), pelo qual concorreu na
mesma categoria e vale comentar que ela foi e atualmente é a única mulher a
conseguir isso –, e, com sua indicação também na categoria Melhor Atriz
Coadjuvante pela obra “Não Estou Lá” (2007), tornou-se a décima primeira dentre
os 880 intérpretes já nominados a conquistar dupla nominação nas categorias de
atuação.
Apesar de alguns títulos
cujo enredo se desenvolve sobre assuntos leves ou sob perspectivas mais amenas,
diz-se de um modo geral que o ano de 2008 foi marcado por temas escuros, como
inveja (“Desejo e Reparação”), ambição (“Onde os Fracos Não Têm Vez”), doenças
(“Longe Dela” e “O Escafandro e a Borboleta”, ambos de 2007), dominação
(“Sangue Negro”), vingança (“Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”)
e crime (“Conduta de Risco”, “Senhores do Crime” e “O Gânsgter”, todos de
2007). Paralelo às indicações sombrias da noite, havia ainda o fato igualmente
sombrio de que os roteiristas haviam declarado greve algum tempo antes da
cerimônia, o que potencialmente impediria que ela acontecesse. Apesar de ter
havido uma ou outra piada sobre o assunto durante a noite de premiações, todos
estavam bastante aliviados de que a situação no Sindicato dos Roteiristas tenha
possibilitado o evento de acontecer.
A cerimônia de 2008 marcou
também outros fatos interessantes: a vitória de “Onde os Fracos Não Têm Vez”
marcou o quarto ano consecutivo em
que vencia um filme ambientado em tempos contemporâneos, o que jamais havia
acontecido, uma vez que normalmente as vitórias se intercalam entre um filme
que se passa nos dias de hoje e um filme que se passa em outras épocas. Além
disso, apesar de os filmes dos irmãos Coen e de Paul Thomas Anderson terem
recebido 8 nominações cada um, nenhuma obra fílmica de caráter não-documentário
recebeu mais do que quatro prêmios, o que também havia acontecido no ano
anterior.
Glen Hansard e Markéta Irglová, no episódio infortuno da noite. |
Nosso mês começa com uma
série de perguntas, seja a do público, como aquela discussão mencionada no
terceiro parágrafo, seja a da crítica, que reclamou a falta de Ryan Gosling e
Emile Hirsch como Melhor Ator respectivamente por “A Garota Ideal” (2007) e “Na
Natureza Selvagem” (2007), cuja direção de Sean Penn foi também muito elogiada
e, segundo alguns, injustamente ignorada. Vamos discutir o assunto junto com a
participação de vocês e do companheiro Bruno Barrenha, convidado do mês, tanto aqui no blog quanto na nossa página do facebook, a
fim de chegarmos a algumas respostas.
por Luís Adriano de Lima
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