Frequentemente ouvimos falar que o cinema e o tempo são
cruéis com as atrizes. Elas tendem a ter carreiras mais curtas que os homens e
envelhecem mais em frente às telas. O Oscar, como o prêmio máximo da indústria
cinematográfica mundial, ao longo dos anos teve a função de eternizar estrelas
e seus desempenhos. Nesta década, os desempenhos consagrados representaram, em
alguns casos, os ápices das carreiras destas grandes atrizes. E para pelo menos
uma das vencedoras, representou a coroação de uma trajetória longa e bem
sucedida.
A veterana Helen Mirren já tinha uma carreira longa e
estabelecida na TV e no cinema quando interpretou Elizabeth II em “A Rainha” –
um desempenho esplendoroso que significou a proverbial “cereja no bolo” no seu trabalho
como atriz. As demais vencedoras foram premiadas enquanto ainda jovens. E
também é possível dizer que nos casos de Julia Roberts e Nicole Kidman, ambas
venceram enquanto estavam no auge de suas carreiras. Afinal, elas eram as
maiores estrelas do mundo quando ganharam seus respectivos Oscars. Halle Berry,
Reese Witherspoon, Sandra Bullock, Kate Winslet e Charlize Theron também já
eram veteranas quando foram premiadas.
Uma tendência se nota: essas mulheres lindas, para
desaparecerem mais facilmente dentro de seus papéis, tiveram de se “enfeiar”.
Foi o caso nos desempenhos de Charlize Theron, Nicole Kidman e Halle Berry. Na
nossa sociedade que valoriza a beleza física e coloca as estrelas de cinema num
pedestal, esse processo de “desglamourização” das atrizes muitas vezes é vista
com ironia. Porém nem todos prestam atenção nas qualidades desses três
desempenhos. São realmente grandes trabalhos nos quais as atrizes, cientes dos
papéis que têm em mãos, se mostram dispostas a deixar a vaidade em segundo
plano para mergulhar em seus personagens.
Pelo menos dois desses desempenhos são frequentemente
questionados: o de Julia Roberts (muitos argumentam que sua vitória foi injusta
frente ao desempenho de Ellen Burstyn em “Réquiem para um Sonho”, de 2000), e o
de Sandra Bullock por “Um Sonho Possível” (2009). No caso de Julia, não
considero sua vitória como despropositada, ela realmente está ótima em “Erin
Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000)” e sua presença é a alma do filme,
que certamente fracassaria com uma atriz menos carismática no papel. Já no caso
de Sandra, sua vitória é questionada devido ao fato da atriz ser frequentemente
vista em comédias leves e bobinhas. Na época de “Um Sonho Possível”, porém,
Sandra Bullock era a atriz que mais atraía público ao cinema nos Estados
Unidos, e isso sem dúvida conta para a Academia. O filme como um todo é
bastante questionável, mas é inegável o seu sucesso e este se deve em grande
parte à presença de Sandra. Ela também não teve concorrentes de peso em um ano
fraco, o que também ajuda a explicar a sua vitória.
Os mais magníficos desempenhos desta década pertencem à
Marion Cotillard, Hilary Swank (a única que já havia vencido anteriormente) e
de Kate Winslet, além do de Helen Mirren, é claro. As atuações de Winslet e
Cotillard superam as limitações dos filmes das quais participam e os elevam a
obras dignas de atenção. E a de Swank comprovou que esta fantástica atriz se
beneficia dos papéis fortes e altamente dramáticos, e que aparentemente
projetos leves não são o melhor uso do seu talento.
Como a maioria dessas atrizes ganhou o Oscar ainda
relativamente cedo em suas carreiras, é possível que consigam repetir a dose.
Contudo, à medida que envelhecem, os bons papéis para as atrizes ficam cada vez
mais raros. Estas felizardas, contudo, já tem seu lugar assegurado na história
do cinema.
por Ivanildo Pereira
Um comentário:
A tendência da "desglamurização" das estrelas de cinema foi a tônica da década passada, em termos de atuação feminina. O que me deixa em dúvidas se o que chama a atenção é a transformação física da atriz ou a qualidade da sua atuação. Felizmente, esse não é os casos de Charlize Theron e Nicole Kidman, ambas em atuações sensacionais em seus respectivos filmes, totalmente merecedoras dos Oscars que conquistaram.
Para mim, os desempenhos mais magníficos da década passada são os de: Helen Mirren, Marion Cotillard, Charlize Theron e Nicole Kidman.
Gosto muito também de Hilary Swank, em "Menina de Ouro".
Postar um comentário