Alguns anos sempre me remetem à abertura
que a Academia tinha aos filmes cômicos, inclusive indicando-os na categoria
Melhor Filme. Isso usualmente acontecia na década de 1980, quando a produção de
comédias, devido à sua boa qualidade, fazia com que elas não ficassem muito
abaixo dos dramas. Assim, títulos aparentemente mais descontraídos e
bem-humorados – “Feitiço da Lua” (1987) e “Uma Secretária de Futuro” (1988),
por exemplo – chegam à categoria principal, arrebatando a crítica e o público
com suas narrativas.
Comecei falando dos filmes cômicos
justamente porque a 61ª edição do Oscar, que ocorreu no ano de 1989, apresentou
inúmeros títulos bons que eram do gênero comédia. Particularmente, um deles foi
um dos meus quais queridos na infância e ainda hoje mantêm o viço e jovialidade
da época em que eu, criança ainda, o via: “Quero Ser Grande” (1988). O título
não chegou à indicação máxima, mas para uma obra cômica e despretensiosa dirigida
por uma mulher, as duas nominações conquistadas são por si só uma vitória. Não
só grandes dramas produzem cenas icônicas – “Quero Ser Grande” nos apresenta
uma que desde seu lançamento ficou marcada em nossa memória: aquela na qual Tom
Hanks e Robert Logia tocam com os pés o teclado no chão. Diferentemente desse
filme dirigido por Penny Marshal, outros títulos cômicos não envelheceram bem. “Sorte
no Amor”, penso, não deve ter sido um grande filme nem em 1988, quando estreou;
vê-lo hoje, no entanto, não afeta tanto a qualidade, deve ser o mesmo filme de antes,
com altos e baixos.
“Uma Secretária de Futuro” (1988), de Mike
Nichols, têm ainda seu charme, mas creio ter sido muito diferente vê-lo à época
do seu lançamento. Nem por isso, no entanto, o filme se tornou chato. Mesmo “envelhecido”,
o filme é assombrosamente melhor que muita comédia atual. Melanie Griffith e
Sigourney Weaver justamente nominadas assim como Mike Nichols na categoria
Melhor Diretor, talvez a única falha tenha sido a nominação de Joan Cusack, que
roubou a indicação de inúmeros outros
nomes, como Christine Lahti por “O Peso de um Passado” (1988), Barbara Hershey
por “A Última Tentação de Cristo” (1988) ou até mesmo a apenas satisfatória
Mercedes Ruhel por “De Caso com a Máfia” (1988). Aliás, aproveitando que o
assunto é Joan Cusack, vale comentar que suas duas únicas indicações parecem
injustificadas – tanto essa em 1989 quanto a que receberia, também por uma
comédia, em 1998 pelo filme “Será Que Ele É?” (1997).
O que há de elogiável nessa edição com
certeza é a categoria Melhor Atriz. Das cinco indicadas, apenas Melanie Griffith
está boa – todas as outras estão ótimas! Meryl Streep, indicada por “Um Grito
no Escuro” (1988), tem a seu favor uma interpretação segura, apesar de o filme,
bastante chato, não lhe permitir impulsionar mais carisma ao espectador. Jodie
Foster, co-protagonista de “Acusados” (1988), entrega um momento profundo em
cena, com bons momentos e, apesar de minha preferida ser Glenn Close por “Ligações
Perigosas” (1988), não vejo nenhum demérito na vitória de Foster. Fechando a
categoria, tem Sigourney Weaver num filme cujo roteiro mostra o trabalho de
Dian Fossey em vez de mostrar a pessoa Dian Fossey – nem por isso Weaver perde
o rumo; sua interpretação é fantástica, às vezes introspectiva, às vezes,
ferina. Ano equiparável a esse, nessa categoria, somente aquele apresentado em
1996, quando as nominadas estavam todas impecáveis em seus desempenhos e, fosse
possível, não hesitaria em conceder a todas o prêmio. Se a categoria das
atrizes principais era a mais forte, a correspondente masculina era decerto a
menos interessante, contando com um ator em desempenho que não quer dizer nada –
Edward James Olmos por “O Preço do Desafio” –, um ator apenas satisfatório que
é, aliás, coadjuvante – Max von Sydow por “Pelle, o Conquistador” (1987) – e um
ator caricato – curiosamente, o vencedor Dustin Hoffman por “Rain Man” (1988).
Curiosamente, John Malkovich foi deixado de fora da lista de nominados, o que é
uma ofensa.
Algo curioso em relação a esse ano: não
concordo com nenhum vencedor. Considero “Rain Man” bastante cartilhado e pouco
emocional, apesar do tema que se propõe a discutir (a aproximação de dois
irmãos praticamente desconhecido um do outro apesar das dificuldades naturais
existentes) – e por isso acho que todas as categorias vencidas por esse filme
são categorias que premiaram o vencedor errado; considero todos os outros
filmes, de um modo geral, interessantes. River Phoenix poderia ter sido
indicado e até vencido na categoria principal, já que é o protagonista do filme
pelo qual foi nominado, mas, uma vez indicado na categoria Melhor Ator
Coadjuvante, eu lhe concederia o prêmio em vez de dá-lo a Kevin Kline, mesmo que
o segundo estivesse muito expressivo e competente em “Um Peixe Chamado Wanda”
(1988). Quanto às categorias Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, não
hesitaria em consagrar a dupla de “Ligações Perigosas”, Glenn Close e Michelle
Pfeiffer. Aliás, já na sua 5ª indicação, não havia melhor momento para premiar
Close, atriz cuja estreia no cinema se deu em 1982 e em apenas seis anos a
atriz já havia conquistado o respeito do público, que a viu incendiada em “Atração
Fatal” (1987), e da crítica, que viu em “Ligações Perigosas” o ápice de sua
carreira. Roger Erbert inclusive disse que a atriz e Malkovich interpretaram
seus personagens com perfeição e duvido que haja quem possa discordar disso.
O melhor diretor da noite era Stephen
Frears, não nominado. O melhor ator da noite era John Malkovich, não nominado
também. E o melhor filme era justamente “Ligações Perigosas”, dirigido pelo
primeiro e estrelado pelo segundo. “O Turista Acidental” (1988), chatíssimo,
poderia ter sido substituído por algum outro título mais interessante, como,
por exemplo, “Duro de Matar” (1988), cujo enredo e desenvolvimento é muito mais
interessante que a obra que rendeu a Geena Davis, apenas satisfatória, uma
estatueta. Para mim, o melhor filme era “Ligações Perigosas”; o melhor diretor
(considerando os nominados), Alan Parker; o melhor ator, Gene Hackman; a melhor
atriz, Glenn Close; o melhor ator coadjuvante, River Phoenix; a melhor atriz
coadjuvante, Michelle Pfeiffer; quanto aos roteiros: o original, “Quero Ser
Grande”, e o adaptado, “Ligações Perigosas”. Como veem, 1989 para mim foi o ano
em que a trama de traições e desejos deveria ter se sagrado como a obra máxima.
Fosse outro filme que não “Rain Man” a vencer nas categorias que venceu, eu
entenderia; sendo ele, porém, não vejo isso senão como roubo.
por Luís
Adriano de Lima
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