ACUSADOS
(The Accused, 1989, 111 min)
Produção: Estados Unidos |
Canadá
Direção: Jonathan Kaplan
Roteiro: Tom Topor
Elenco: Jodie Foster,
Kelly McGillis, Gary Chalk, Scott Paulin, Tom O’Brien, Carmen Argenziano, Ann
Hearn, Leo Rossi, Bernie Coulson, Peter Van Norden, Steve Antin, Woody Brown,
Kim Kondrashoff, Terry David Mulligan.
Jodie Foster, acima de tudo. Algumas coisas
são assim, se definem pura e simplesmente por um motivo, te caçam e te atingem
pura e simplesmente por um único motivo. “Acusados”
(1988) é Jodie Foster, acima de tudo, talvez como “Monster – Desejo Assassino” (2003) seja Charlize Theron, acima de
tudo. Não é o mesmo que dizer que o filme não tenha qualidade, é apenas dizer
que a agulha no palheiro foi encontrada ou que a “vaca” realmente tossiu ou,
ainda, que um raio com nome e sobrenome te partiu ao meio. Jodie Foster: a
agulha, a “vaca” e o raio.
Sarah Tobias (Foster) é uma garota de
classe baixa, típica interiorana norte-americana que bebe, fuma, beija quando
está com vontade de beijar, dança quando tem vontade de dançar. A vida já é
muito dura pra ficar se privando de algumas vontades. Por outro lado, Sarah
leva uma vida totalmente independente, o que de certa forma a torna
extremamente sexualizada aos olhos de outrem.
O drama de Sarah começa quando, numa noite
em um bar, é levada aos fundos do estabelecimento e é brutalmente estuprada por
outros três homens (cena que só é esplanada nos minutos finais do filme,
contribuindo para uma montagem também louvável). Ao mesmo tempo em que Sarah é
violentada, os outros homens que estão no bar assistem a cena de forma passiva,
hora incentivando os agressores, hora ignorando o episódio. Após ser levada ao
hospital, Sarah dispõe da ajuda da advogada Kathryn Murphy (Kelly McGillis,
ótima), que inicia um processo judicial contra os agressores.
Basicamente, o esqueleto do trabalho de
Jonathan Kaplan é esse. O que acontece depois é toda uma situação de colocação
dos princípios desses seres em relação à sociedade que os rodeia. Por exemplo: Nos
Estados Unidos, a vítima de estupro não é vista a princípio como uma vítima e,
sim, como um suspeito de seu próprio caso. O ambiente, a conduta, o tipo de
roupa, o tipo de corte de cabelo, todos esses fatores coexistem como indícios
de um ato ser considerado crime ou não. O que Kaplan realmente oferece é esse
olhar mais direto sobre as morais difundidas pela sociedade. Nesse caso, um
esmiuçar tênue ao modo machista de se pensar, ou melhor, de se aplicar leis. Ou
seja, Sarah não se vê confrontada apenas pelos seus medos, seus agressores e
seus traumas, mas também, pelo sistema penal, que configura um pesadelo ainda
maior em sua dura caminhada.
Se Sarah instigou tal ato ou não isso não
deveria ficar a cargo da justiça deflorar, se ela consumiu álcool antes, se ela
beijou um dos caras antes, isso não importa. Está caracterizado o estupro: um
indivíduo forçando o outro a manter relação sexual. Até que a obra vai perder
um pouco do seu maior trunfo: o mergulho profundo na cabeça de Sarah. Essa
vertente de explorar o psicológico da vítima é, sem dúvida, a sensação do
filme, é o que o espectador consome com fúria. Mas, lá pelos altos, o filme se
força a crescer como um drama de tribunal, influenciando muito no ritmo que,
até então, tinha conquistado, pra só se recuperar nos instantes finais. O
filme, que foi inspirado num fato real, ainda se mantém firme principalmente
por contemplar o realismo em suas cenas, todas habitadas numa crueza absurda.
Filmes que problematizam a questão
judiciária não precisam necessariamente se tornar um filme de tribunal, ainda
mais quando não têm cacife pra isso. Embora o roteiro se garanta, a direção se
mantenha firme e o elenco brilhe, fica aquela sensação de “queria ter visto
mais um pouco disso e não tanto disso”. Entretanto, o filme vale. Vale cada
segundo da interpretação soberba (e premiada com o Oscar de Melhor Atriz) de
Jodie Foster.
INDICAÇÃO:
- Melhor Atriz: Jodie Foster – venceu
por
Gustavo Pavan
Um comentário:
eu discordo que o filme tenha se perdido no âmbito de tribunal.
acho que eles conseguiram deixar claro afinal o que queriam desde o principio e acho que foi mais um filme que merecia mais indicações e prêmios aquele ano.
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