UM
PEIXE CHAMADO WANDA (A Fish Called Wanda,
1988, 108 min)
Produção: Estados Unidos | Reino
Unido
Direção: Charles Crichton
Roteiro: John Cleese e
Charles Crichton
Elenco: John Cleese, Kevin
Kline, Jamie Lee Curtis, Michael Palin, Maria Aitken, Tom Georgeson.
“Um
Peixe Chamado Wanda” (1988) sagrou-se como uma das grandes e gratas surpresas
daquele ano. Despretensioso em seus meios e fins, a obra simplesmente deixou de
calcular um ponto de chegada ou, até mesmo, de ver todos seus idealizadores
sendo glorificados pelo feito. O buraco era mais embaixo: naquela região do
estômago que costuma dar uma fisgada quando perdemos o ar de tanto rir.
Atenção para a receita. Escolha um diretor
veterano, de preferência que ande meio esquecido pela Indústria do Cinema. Que
tal Charles Crichton? A seguir, junte uma bela colher de sopa (daquelas bem
fundas) do bom e amargo humor inglês. Pensou em Monty Phyton? Se pensou, que
tal John Cleese e Michael Palin, líderes do extinto e hilário grupo? Após
dar-lhes papel e caneta, siga somando alguns temperos frescos e com sabores
inigualáveis. Quem sabe uma mocinha de filmes de terror? Talvez, Jamie Lee
Curtis? Pra terminar, coloque todos os ingredientes em banho-maria e, ao final,
acrescente uma joia bem brilhante, altamente performática: Kevin Kline.
Todo mundo já sabe que filme caro não é
sinônimo de filme bom. Todo mundo também já está calejado de saber que elenco
estelar não interfere na qualidade do produto final. Com “Um Peixe Chamado
Wanda” não é diferente. Produção barata e encabeçada por um elenco pouco
conhecido (talvez, por isso, não tenha recebido mais indicações nas categorias
de atuação), está aí mais uma das provas de que nada é mais valioso que alguns
bons atores, uma direção concisa e uma surpreendente ideia.
Na costumeira Inglaterra certinha, onde
homens garbosos inclinam sua pasta de negócios pelas ruas e mulheres desfilam
sua elegância refinada por lojas e restaurantes, um grupo de desmiolados
resolve fazer fortuna da maneira mais fácil: roubando. A sexy e controladora
Wanda, personagem de Jamie Lee Curtis, seu amante George (Tom Georgeson), seu
segundo amante, o americano Otto (Kevin Kline) e Ken, o hilariante assaltante
gago, interpretado por Michael Palin, resolvem assaltar uma joalheria e, após a
bem-sucedida infração, levam milhões em diamantes. Algum tempo depois, George,
líder do bando, é detido pela polícia, porém, para não sofrer nenhum tipo de
trapaceio ele acaba por esconder os diamantes dos outros integrantes da
“quadrilha”.
Detendo de humor ácido e muito inteligente,
Crichton coloca seus pupilos pra jogar uma partida surreal de “polícia-ladrão”,
abrem-se as portas para a manipulação, o exagero, o sarcasmo, o inusitado. A
brincadeira melhora ainda mais quando entra em cena o advogado de George,
Artie, papel de John Cleese, que supostamente está ali pra defender os
interesses de seu cliente, mas acaba sendo sugado pelo jogo de intrigas que a
trama se torna.
O estudo das personagens também é bastante
possível quando partimos da perspectiva da análise que o filme visa fazer. Se
de um lado temos Artie, um “gentleman”
inglês, supervalorizado por uma trajetória, do outro temos o transloucado Otto,
espelho da psicopatia, do exagero e da síndrome do “rei na barriga” tão
difundidos na construção de personagens norte-americanos, principalmente quando
visados à crítica. Em contrapartida, nos deparamos com Ken, gago, amante dos
animais e apaixonado pelo seu aquário, em que o peixe mais bonito recebe o nome
de Wanda, nota-se a leve ingenuidade (que não existe) do personagem e da
metáfora que ousa dar nome ao filme.
Kevin Kline foi o único ator da produção a
receber indicação ao Oscar e, por força de seu brilhante desempenho, acabou
derrotando atores como Alec Guiness e Martin Landau, levando a estatueta para
casa. O filme também foi reconhecido com as indicações de Melhor Direção e
Melhor Roteiro Original. Por fim, vale lembrar que qualquer indicação ou uma
possível vitória dentro de alguma categoria, seria, de fato, com muito
merecimento. O roteiro é sagaz, criativo e enxuto em seu todo. Os atores
desfilam em estado de graça diante dos olhos do espectador, confabulando para a
existência de um dos melhores filmes daquele ano.
INDICAÇÕES
(1 vitória):
1. Melhor Diretor: Charles Crichton
2. Melhor Ator Coadjuvante: Kevin Kline – venceu
3. Melhor Roteiro Original: Charles
Crichton e John Cleese
por
Gustavo Pavan
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