terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Pelle, o Conquistador



PELLE, O CONQUISTADOR (Pelle Erobreren, 1987, 157 min)
Produção: Dinamarca | Suécia
Direção: Bille August
Roteiro: Bille August, baseado no romance de Martin Andersen Nexø
Elenco: Pelle Hvenegaard, Max Von Sydow, Erik Paaske, Björn Granath, Astrid Villaume, Troels Asmussen.

Bruto, grosseiro, por vezes irracional, mas também dotado de singeleza, sinceridade e poesia, assim é “Pelle, O Conquistador” (1987), co-produção Dinamarca/Suécia, capitaneada pelo cineasta dinamarquês Bille August. Vencedora do prêmio principal no Festival de Cannes (1988) e Globo de Ouro (1988), Pelle Erobreren (título original) também arrebatou a Academia e saiu consagrada com a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 1989. No entanto, se naquele final de década de 80, o filme chocou ao mostrar a realidade do cotidiano do trabalho semi-escravo nos países escandinavos do século XIX, hoje em dia, com produções mais realistas em voga, a obra de August pode parecer menos impressionante. Embora alguns também acusem de ser um filme que “envelheceu mal”, acredito que as características negativas citadas não são suficientes para diminuir esse louvável trabalho.

A trama acompanha os passos do trabalhador Lasse Karlson (Max Von Sydow) e seu filho, o jovem Pelle (Pelle Hvnegaard). Egressos da Suécia, eles desembarcam na Dinamarca em busca de uma vida melhor, mas acabam se deparando com uma realidade muito pior do que tinham. A idade elevada de Lasse faz com que os melhores trabalhos fujam de suas mãos e assim, pai e filho, acabam parando em uma brutal fazenda de gado. Responsáveis pela alimentação do rebanho bovino, são obrigados a morar em meio aos animais, numa situação desprovida de qualquer higiene. Aqui, é importante ressaltar o trabalho de direção de arte, imprescindível para nos fazer acreditar na desumanidade da história. Digo isso, porque a caracterização é crua, com todo o filme realizado in loco. Então, temos locações asquerosas, com atores imundos misturados a excrementos de animais e constantes moscas que não se detêm a figurar na maioria das cenas.

A narrativa vai nos levar pelo cotidiano pesado de Lasse e Pelle, traçando também aspectos da vida rural daquela sociedade. Ainda que o talentoso ator sueco Max Von Sydow tenha sido indicado para categoria de Melhor Ator no Oscar, o verdadeiro protagonista da trama é o pequeno Pelle, tanto que a história surge pelos seus olhos. A sensação é que a indicação de Sydow, mesmo em um bom momento, é dessas artimanhas sempre presentes nessa que é considerada a premiação mais importante da temporada do Cinema. Considerações extra-filme a parte,          “Pelle, O Conquistador” também tem outros personagens importantes, como o casal dono da fazenda, Senhor e Senhora Kongstrup (respectivamente, Axel Strobye e Astrid Villaume), o violento capataz interpretado por Erik Paaske e, por fim, um dos trabalhadores e sopro de rebeldia contra aquele sistema escravocrata, o desafiador Erik (Bjorn Granath).

Além de tratar das utopias do protagonista e co-protagonista, sempre sonhando com uma vida mais digna, o filme não deixa de lidar com outras temáticas importantes, trazendo assim um tom épico para a obra. Uma delas é o viés do relacionamento pai/filho mostrado por diversos ângulos, seja primeiramente pela visão terna de Pelle e Lasse, posteriormente, enfocando o desfecho do caso de um nobre que engravida uma jovem camponesa ou ainda fazendo digressão sobre as conseqüências da ausência dela, como no caso do casal Kongstrup. A outra temática importante, e deveras emocionante, é da amizade, mostrada no relacionamento fraternal entre Pelle e um filho bastardo do Senhor Kongstrup (olha o tema paternidade novamente), o deformado Rud (Troels Asmussen) e a divisão da utopia de um futuro melhor com o já citado Erik.

Para compor a sensação de crueza, desprovida de qualquer beleza evidente, o diretor Bille August, acertadamente, opta por usar de sons diegéticos aliados a uma fotografia rude da paisagem congelada dinamarquesa. Assim, o filme apresenta pouca trilha sonora, salvo quando sugere ao espectador os momentos em que deve se comover. Entretanto, essa opção de manipular os sentimentos do público em algumas seqüências, torna-se o problema mais evidente de “Pelle, O Conquistador”. O tom puramente sentimentalóide de algumas cenas, curiosamente contrastando com outras tomadas em que à emoção surge naturalmente, incomodam mais até do que o formato episódico que o filme assume do seu meio para o fim. Enfim, ainda que a obra tenha suas imperfeições, deve-se ressaltar a jornada de paixão e dor criada com dedicação por August, em que, acima de tudo, o triunfo do espírito humano é o que mais importa.

INDICAÇÕES:
1. Melhor Filme em Língua Estrangeira: Dinamarca – venceu
2. Melhor Ator: Max Von Sydow

por Celo Silva

Um comentário:

Anônimo disse...

Vi, este filme em DVD, é um desses filmes que guardamos, e que de vez em quando dá saldade, e vemos de novo.