PELLE, O
CONQUISTADOR (Pelle Erobreren, 1987,
157 min)
Produção: Dinamarca | Suécia
Direção: Bille August
Roteiro: Bille August, baseado no romance
de Martin Andersen Nexø
Elenco: Pelle Hvenegaard, Max Von Sydow,
Erik Paaske, Björn Granath, Astrid Villaume, Troels Asmussen.
Bruto, grosseiro, por vezes irracional, mas também dotado
de singeleza, sinceridade e poesia, assim é “Pelle, O Conquistador” (1987), co-produção Dinamarca/Suécia,
capitaneada pelo cineasta dinamarquês Bille August. Vencedora do prêmio
principal no Festival de Cannes (1988) e Globo de Ouro (1988), Pelle Erobreren (título original) também
arrebatou a Academia e saiu consagrada com a estatueta de Melhor Filme
Estrangeiro no Oscar de 1989. No entanto, se naquele final de década de 80, o
filme chocou ao mostrar a realidade do cotidiano do trabalho semi-escravo nos
países escandinavos do século XIX, hoje em dia, com produções mais realistas em
voga, a obra de August pode parecer menos impressionante. Embora alguns também
acusem de ser um filme que “envelheceu mal”, acredito que as características
negativas citadas não são suficientes para diminuir esse louvável trabalho.
A trama acompanha os passos do trabalhador Lasse Karlson
(Max Von Sydow) e seu filho, o jovem Pelle (Pelle Hvnegaard). Egressos da
Suécia, eles desembarcam na Dinamarca em busca de uma vida melhor, mas acabam
se deparando com uma realidade muito pior do que tinham. A idade elevada de
Lasse faz com que os melhores trabalhos fujam de suas mãos e assim, pai e
filho, acabam parando em uma brutal fazenda de gado. Responsáveis pela
alimentação do rebanho bovino, são obrigados a morar em meio aos animais, numa
situação desprovida de qualquer higiene. Aqui, é importante ressaltar o
trabalho de direção de arte, imprescindível para nos fazer acreditar na
desumanidade da história. Digo isso, porque a caracterização é crua, com todo o
filme realizado in loco. Então, temos
locações asquerosas, com atores imundos misturados a excrementos de animais e
constantes moscas que não se detêm a figurar na maioria das cenas.
A narrativa vai nos levar pelo cotidiano pesado de Lasse e
Pelle, traçando também aspectos da vida rural daquela sociedade. Ainda que o
talentoso ator sueco Max Von Sydow tenha sido indicado para categoria de Melhor
Ator no Oscar, o verdadeiro protagonista da trama é o pequeno Pelle, tanto que
a história surge pelos seus olhos. A sensação é que a indicação de Sydow, mesmo
em um bom momento, é dessas artimanhas sempre presentes nessa que é considerada
a premiação mais importante da temporada do Cinema. Considerações extra-filme a
parte, “Pelle, O Conquistador”
também tem outros personagens importantes, como o casal dono da fazenda, Senhor
e Senhora Kongstrup (respectivamente, Axel Strobye e Astrid Villaume), o
violento capataz interpretado por Erik Paaske e, por fim, um dos trabalhadores
e sopro de rebeldia contra aquele sistema escravocrata, o desafiador Erik
(Bjorn Granath).
Além de tratar das utopias do protagonista e
co-protagonista, sempre sonhando com uma vida mais digna, o filme não deixa de
lidar com outras temáticas importantes, trazendo assim um tom épico para a
obra. Uma delas é o viés do relacionamento pai/filho mostrado por diversos
ângulos, seja primeiramente pela visão terna de Pelle e Lasse, posteriormente,
enfocando o desfecho do caso de um nobre que engravida uma jovem camponesa ou
ainda fazendo digressão sobre as conseqüências da ausência dela, como no caso
do casal Kongstrup. A outra temática importante, e deveras emocionante, é da
amizade, mostrada no relacionamento fraternal entre Pelle e um filho bastardo
do Senhor Kongstrup (olha o tema paternidade novamente), o deformado Rud
(Troels Asmussen) e a divisão da utopia de um futuro melhor com o já citado
Erik.
Para compor a sensação de crueza, desprovida de qualquer
beleza evidente, o diretor Bille August, acertadamente, opta por usar de sons
diegéticos aliados a uma fotografia rude da paisagem congelada dinamarquesa.
Assim, o filme apresenta pouca trilha sonora, salvo quando sugere ao espectador
os momentos em que deve se comover. Entretanto, essa opção de manipular os
sentimentos do público em algumas seqüências, torna-se o problema mais evidente
de “Pelle, O Conquistador”. O tom puramente sentimentalóide de algumas cenas,
curiosamente contrastando com outras tomadas em que à emoção surge
naturalmente, incomodam mais até do que o formato episódico que o filme assume
do seu meio para o fim. Enfim, ainda que a obra tenha suas imperfeições,
deve-se ressaltar a jornada de paixão e dor criada com dedicação por August, em
que, acima de tudo, o triunfo do espírito humano é o que mais importa.
INDICAÇÕES:
1. Melhor Filme em Língua Estrangeira: Dinamarca – venceu
2. Melhor Ator: Max Von Sydow
por Celo Silva
Um comentário:
Vi, este filme em DVD, é um desses filmes que guardamos, e que de vez em quando dá saldade, e vemos de novo.
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