quarta-feira, 31 de outubro de 2012

48ª edição (1976) - Lista completa dos indicados



Confiram todos os nominados da 48ª edição dos Academy Awards:

  1. Amarcord, de Federico Fellini. Texto de José Bruno da Silva.

  1. Angel and the Big Joe, de Bert Salzman.
·       Melhor Curta-Metragem – venceu

  1. Arthur and Lillie, de Jon Else.
·         Melhor Documentário Curto

  1. Atas de Marusia, de Miguel Littin.
·         Melhor Filme em Língua Estrangeira: México

  1. Barry Lyndon, de Stanley Kubrick. Texto de Celo Silva.

  1. Birds Do It, Bees Do It, de Nicholas Noxon e Irwin Rosten.
·         Melhor Trilha Sonora Original (Drama)

  1. The California Reich, Keith Critchlow e Walter F. Parkes
·         Melhor Documentário

  1. Conquest of Light, de Louis Marcus.
·         Melhor Curta-metragem

  1. Dawn Flight, de Larry Lansburgh e Brian Lansburgh.
·         Melhor Curta-metragem

  1. A Day in the Life of Bonnie Consolo, de Barry J. Spinello.
·         Melhor Curta-metragem

  1. Dersu Uzala, de Akira Kurosawa.
·         Melhor Filme em Língua Estrangeira: União Soviética – venceu

  1. Um Dia de Cão, de Sidney Lumet. Texto de José Bruno da Silva.

  1. O Dia do Gafanhoto, de John Schlesinger. Texto de José Bruno da Silva.

  1. O Dirigível Hindenburg, de Robert Wise.
·         Melhor Direção de Arte
·         Melhor Fotografia
·         Melhor Som

  1. Doubletalk, de Alan Beattie.
·         Melhor Curta-metragem

  1. Uma Dupla Desajustada, de Herbert Ross. Texto de Luís Adriano de Lima.

  1. The End of the Game, Robert Lehman.
·         Melhor Documentário Curto – venceu

  1. Um Estranho no Ninho, de Milos Forman. Texto de Luís Adriano de Lima.

  1. Fighting for Our Lives, de Glen Pearcy.
·         Melhor Documentário

  1. A Flauta Mágica, de Ingmar Bergman.
·         Melhor Figurino

  1. Funny Lady, de Herbert Ross.
·         Melhor Fotografia
·         Melhor Figurino
·         Melhor Som
·         Melhor Trilha Sonora Original/Adaptada
·         Melhor Canção Original: How Lucky Can You Get

  1. Give ‘em Hell, Harry, de Steve Blinder. Texto de Ivanildo Pereira.

  1. Great (Isambard Kingdom Brunel), de Bob Godfrey
·         Melhor Curta-metragem Animado – venceu

  1. Hedda, de Trevor Nunn. Texto de Alan Raspante.

  1. Hester Street, de Joan Micklin Silver. Texto de Luís Adriano de Lima.

  1. A História de Adèle H, de François Truffaut. Texto de Luís Adriano de Lima.

  1. Um Homem na Caixa de Vidro, de Arthur Hiller. Texto de Luís Adriano de Lima.

  1. O Homem que Queria Ser Rei, de John Huston. Texto de Ivanildo Pereira.

  1. A Incrível Máquina Humana, de Irwin Rosten e Ed Spiegel.
·         Melhor Documentário

  1. Uma Janela para o Céu, de Larry Peerce.
·         Melhor Canção Original: Richard’s Window

  1. Kick Me, de Robert Swarthe.
·         Melhor Curta-metragem Animado

  1. Lembranças de Minha Infância, de Jan Kadár. Texto de Ivanildo Pereira.

  1. Mahogany, de Berry Gordy e Tony Richardson.
·         Melhor Canção Original: Theme from Mahogany

  1. The Man Who Skied Down the Everest, de Bruce Nyznik e Lawrence Schiller.
·         Melhor Documentário – venceu

  1. Millions of Years Ahead of Man, de Manfred Baier.
·         Melhor Documentário Curto

  1. Monsieur Pointu, de André Leduc e Bernard Longpré.
·         Melhor Curta-metragem Animado

  1. Nashville, de Robert Altman. Texto de Alan Raspante.

  1. The Other Half of the Sky: A China Memoir, de Shirley MacLaine.
·         Melhor Documentário

  1. Once Is Not Enough, de Guy Green. Texto de Luís Adriano de Lima.

  1. Perfume de Mulher, de Dino Risi. Texto de Alan Raspante.

  1. Probes in Space, de George Casey.
·         Melhor Documentário Curto

  1. O Risco de uma Decisão, de Richard Brooks.
·         Melhor Trilha Sonora Original (Drama)
·         Melhor Som

  1. Sandakan Hachibanshokan bohkyo, de Kei Kumai.
·         Melhor Filme em Língua Estrangeira: Japão

  1. Shampoo, de Hal Ashby. Texto de Celo Silva.

  1. Sisyphus, de Marcel Jankovics.
·         Melhor Curta-metragem Animado

  1. Tommy, de Ken Russell. Texto de Ivanildo Pereira.

  1. Toute une Vie, de Claude Lelouch. Texto de Celo Silva.

  1. Três Dias do Condor, de Sidney Pollack.
·         Melhor Edição

  1. Tubarão, de Steven Spielberg. Texto de Ivanildo Pereira.

  1. O Último dos Valentões, de Dick Richard. Texto de José Bruno da Silva.

  1. O Vento e o Leão, de John Millius.
·         Melhor Trilha Sonora Original (Drama)
·         Melhor Som

  1. A Vingança de Milady, de Richard Lester.
·         Melhor Figurino

  1. Whiffs, de Ted Post.
·         Melhor Canção Original: Now That We’re In Love

  1. Whistiling Smith, de Marrin Canell e Michael J. F. Scott
·         Melhor Documentário Curto

  1. Zieman Obiecana, de Andrzej Wajda.
·         Melhor Filme em Língua Estrangeira: Polônia

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Opiniões - Parte 4



Jack Nicholson, vencedor na categoria de Melhor Ator por "Um Estranho no Ninho".

1976: O ANO DA MARGINALIDADE

Sempre que analiso uma cerimônia, tento encontrar razões sociológicas que determinem as escolhas feitas pela Academia. Quando se avalia algum tipo de arte, é necessário compreender que, por trás dela, há todo um pensamento social que a constrói; desse modo, não há por que ignorar as pessoas na equação que leva ao resultado final objeto desse meu texto, isto é, os vencedores do Oscar. Um filme pode ser definitivamente uma grande obra de arte, mas é necessário observar o diálogo que se estabelece entre ele e o seu público a fim de avaliar o quão bem sucedido o produto é. E pode-se dizer, grosso modo, que todos os filmes indicados em 1976 conseguem uma boa conversa com os espectadores.

Como disse em meu texto sobre “Um Estranho no Ninho” (1975), penso que o filme seja muito mais temático do que figurativo. Apesar do seu bom desenvolvimento e das interpretações eficientes – Nicholson estava, aliás, num dos melhores momentos de sua carreira –, o filme significa muito mais enquanto mensagem sócio-ideológica do que enquanto arte. Vejo-o como a grande oportunidade de os Estados Unidos criticarem o seu próprio comportamento, e isso aconteceu quando, metonimicamente, o país (produtores do filme) produziu uma obra que discorresse sobre o seu próprio sistema. A vitória nas cinco principais categorias é, a meu ver, uma excelente campanha publicitária que se fez em torno do filme e que acabou por lançá-lo a um nível artístico no qual não está.

Melhor Ator e Melhor Atriz: Nicholson e Fletcher.
Isso, porém, não significa que a obra não seja boa, pois é, verdadeiramente, uma das produções que realmente merecem ser vistas. São problemas exteriores ao filme que me tornam incrédulo quanto à sua vitória em tantas categorias: venceu “Barry Lyndon” (1975) como Melhor Filme; venceu Kubrick (pelo filme recém-citado) e Sidney Lumet (por “Um Dia de Cão”, 1975) na categoria Melhor Diretor; venceu Isabelle Adjani, uma true leading actress, como Melhor Atriz; e, mais uma vez, “Barry Lyndon” como Melhor Roteiro Adaptado. Se me deixa descontentado a vitória de Louise Fletcher como Melhor Atriz, não apenas porque sua função no filme é a de coadjuvante, mas também porque o seu desempenho, mesmo se indicada na categoria que julgo apropriada, não me soa válido de premiação, ainda que, reforço, eu o considere bastante eficiente. O que Adjani realiza em cena é estupendo e magnífico, não se pode acompanhar a sua Adèle H. (de “A História de Adèle H.”, 1975) sem se entregar totalmente à maravilhosa composição da jovem atriz francesa. Como disse: penso que o excelente trabalho de marketing para o filme de Milos Forman funcionou; é a única justificativa que encontro.

Oscar Honorário a Mary Pickford.
Para se analisar a influência dos Estados Unidos, é necessário que compreendamos dois comportamentos sociais que acontecem paralelamente: aquele conservador e aquele subversivo. Não é difícil saber qual é o pensamento predominante, principalmente quando pensamos num país cujas atuais circunstâncias advêm de anos de investimentos nas áreas militar e bélica, na ciência e tecnologia, na formação de cultura e na disseminação do seu padrão comportamental. No entanto, paralelamente à maioria, estão aqueles grupos que propõem uma nova ordem. Nas décadas de 1960 e 1970 (esse último mais importante, que é quando se insere a edição que debatemos aqui), houve pelo menos dois grandes movimentos de “revolta”: na sociedade, verificaram-se a contracultura, que já havia começado no anos 50, quando, aliás, teve o seu auge, e o movimento hippie, muito forte na década de 60 e inquestionavelmente nascido dos idéias contraculturais; no cinema, viu-se o surgimento da Nova Hollywood, que era justamente o grupo de diretores que tomaram as rédeas dos seus próprios filmes, criaram obras pessoais e bastantes particulares e ainda se focaram na crítica social, no conflito do indivíduo, numa estética da “irresolução”. Esses três movimentos bastante marcantes, cada um tendo sua ênfase em uma década, potencialmente podem ter sido responsáveis pelas escolhas da Academia no ano de 1976.

Elizabeth Taylor em 1976.













Escrevendo isso, parece que eu tento justificar a vitória de “Um Estranho no Ninho” nos cinco principais prêmios, sendo, portanto, aquele que porta uma distinção bastante rara dentre os filmes que foram vitoriosos no Oscar. Não é essa minha intenção, porém. Quero apenas apresentar o fato de que 1976 ficou marcado justamente pela apresentação dos personagens marginais, do experiencialismo, daquilo que fugia à tradicionalidade e ao tradicionalismo. Basta ver as figuras que foram representadas pelos filmes indicados naquela edição: Randle McMurphy, do filme vencedor, um verdadeiro desajustado na sociedade, que não lhe permite viver conforme sua moral; também Sonny, de “Um Dia de Cão”, que se envolveu num assalto a um banco em nome do seu amor por outro homem; nessa lista ainda vemos Raymond Barry, protagonista de “Barry Lyndon”, nominado a Melhor Filme, que é notadamente um arrivista social numa escalada lenta e sem muitos escrúpulos pelo poder; falamos ainda de Arthur Goldman, um judeu nazista em “Um Homem na Caixa de Vidro” (1975); também falamos das seguintes mulheres: Gitl, uma judia que veio para os Estados Unidos sem conseguir se habitar aos costumes do país, Adèle Hugo, filha de um dos maiores escritores franceses que cedeu ao amor e à loucura, e Nora Walker, uma mulher numa ininterrupta e cômica tentativa de trazer seu filho do mundo obscuro da esquizofrenia – elas são vistas respectivamente em Hester Street (1975), “A História de Adèle H.” e “Tommy”. Falando em “Tommy”, aliás, não se lhe pode ignorar as características psicodélicas e exageradas presentes ao longo de toda a trama e que diferem o filme de todos os outros que concorreram naquela edição. Adicionando mais nomes à lista acima, vimos “O Dia do Gafanhoto” (1975) – um maravilhoso filme, aliás –, dominado por personagens em desajuste, desde uma garota que sonha em ser atriz e, não conseguindo, vive de figuração e de conquistas, até um homem totalmente passivo que aceita todas as demandas da moça sem qualquer tipo de reação; vê-se ainda a super-sexualizada Linda Riggs em “Apenas uma Vez Não Basta” (1975), a alcoólatra derrotista Jessie em “O Último dos Valentões” (1975) e os adúlteros Felícia e Lester, de “Shampoo” (1975). Dos vários personagens que citei acima, 10 deles renderam a seus atores vagas dentre as 20 indicações destinadas às categorias de atuação.

Insisto: 1976 é o ano em que a Academia deu espaço àquilo que fica à margem da sociedade, que vive numa periferia social, que muitas vezes nem sequer consegue existir bem enquanto ser humano. Hollywood cedeu àquilo que, não obstante não lhe fosse novo, lhe era, penso, bastante incomum, sobretudo porque valorizar o marginal significa, numa proporção tão grande quanto a do Oscar, abrir mão do que é tradicional e conservador. E isso soa bastante estranho, ainda mais quando pensamos que, hoje, mais de trinta anos depois dessa cerimônia, a Academia continua bastante duvidosa nas suas escolhas e decisões. Mas, como disseram meus colegas de blog, essa cerimônia se trata de uma que traz consigo bons títulos e que verdadeiramente consegue remeter a algo positivo, a algo válido que merece ser conhecido.

por Luís Adriano de Lima

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Opiniões - Parte 3



Milos Forman recebendo o Oscar de Melhor Diretor das mãos de Willian Wyler, um dos maiores diretores de Hollywood. Acompanhando-o no anúncio do vencedor, Diane Keaton.

Talvez a 48ª Edição da Oscar, de todas, tenha sido uma das que mais continha indicados interessantes. Não é qualquer temporada que pode dispor de filmes de realizadores como Stanley Kubrick, Milos Forman, Robert Altman, Sidney Lumet e Federico Fellini. Nomes lendários, sinônimos de cinema de qualidade, que disputaram o prêmio de melhor diretor, mas se olharmos para categorias periféricas, como a de roteiro original, ainda vamos nos deparar com mais profissionais extremamente talentosos, entre eles o diretor francês Claude Lelouch e o roteirista newhollywoodiano Robert Towne.

Embora dentre tantas nomeações justas, que realmente primavam pelos melhores, uma das situações que causaram controvérsia e marcaram os bastidores do ano de 1976, foi a não-indicação de um jovem Steven Spielberg para a categoria de Melhor Diretor. Afinal, o seu “Tubarão” (1975) é uma produção que revolucionou a maneira de se fazer cinema e por um bom tempo foi à maior bilheteria de um filme de verão. No entanto, mesmo com o estrondoso sucesso de bilheteria, a Academia preferiu indicar o filme de Spielberg apenas para Melhor Filme, ignorando seus esforços hercúleos para trazer essa obra às telonas e assim prestigiou diretores (como os já citados no primeiro parágrafo) mais estabelecidos para um dos prêmios mais cobiçados da noite.

Apesar de ser um entusiasta declarado de “Barry Lyndon” (1975) de Kubrick, sinceramente acredito que “Um Estranho no Ninho” (1975) tenha tido uma vitória justa e respeitável, afinal, não somente desbancou seus fortes concorrentes a Melhor Filme, como também levou as outras quatro categorias principais (Ator, Atriz, Diretor, Roteiro Adaptado), um feito jamais comparado. Vejo o filme de Milos Forman como mais representativo, criando uma identificação maior com sua época e ainda que a AMPAS seja conhecida pelo seu conservadorismo, o forte senso anti-autoritarismo em um contexto de rebeldia, mas cheio de sensibilidade, imposto pelo roteiro de Lawrence Hauben e Bo Goldman tenha emocionado os votantes.

A obra-prima “Barry Lyndon” acabou levando, com justiça, a maioria dos prêmios técnicos, confirmando assim sua estética perfeita e única, talvez um filme nunca tenha sido, de fato, trabalhado com tanto esmero. As estatuetas de ordem técnica que o filme de Kubrick não levou, “Tubarão” arrebatou, como a de Melhor Edição, para o trabalho milimétrico de Verna Fields, alguns até afirmam que ela salvou o filme de Spielberg. Nas categorias de atuação, Jack Nicholson apenas confirmou seu excelente trabalho, sagrando-se o vencedor, onde concorria com nomes importantes como Walther Matthau e Al Pacino e Louise Fletcher, surpreendendo até, fez todos se renderem a sua enfermeira odiosa de “Um Estranho no Ninho”. 

Por fim, acredito que a 48ª edição do Oscar é tão lendária quanto seus concorrentes, afinal, será difícil vermos outra temporada com tantos nomes talentosos envolvidos. Tivemos cinema italiano, diretores com pleno domínio de sua arte, atores em estado de graça e ainda um dos últimos sopros da New Hollywood, com o pouco lembrado “Shampoo” (1975), de Warren Beatty. Sem dúvidas, uma premiação que deu gosto de ser analisada.

por Celo Silva

domingo, 28 de outubro de 2012

Opiniões - Parte 2



Verna Fields, depois de uma indicação em 1974 por "Loucuras de Verão" (1973), recebe a estatueta pelo seu trabalho na edição do filme "Tubarão" (1975). À época, atribuiu-se o sucesso do filme, sobretudo, a ela e a John Williams, responsável pela composição da trilha sonora.

Em 1976, “Um Estranho no Ninho” (1975) fez história no Oscar ao se tornar um dos raríssimos vencedores dos cinco principais prêmios – Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro (no caso, Melhor Roteiro Adaptado). Tal consagração é absolutamente merecida, pois o filme provou ter qualidades atemporais e ainda hoje permanece como um dos mais emblemáticos a explorar o tema “liberdade individual vs. conformismo”. É uma história que não envelhece, continua engraçado e comovente, e é uma das grandes realizações do cinema americano em todos os tempos.

O feito de “Um Estranho no Ninho” é ainda mais impressionante quando se observa a concorrência daquele ano. “Nashville” (1975), “Tubarão” (1975), “Um Dia de Cão” (1975) e “Barry Lyndon” (1975) são trabalhos de diretores que se tornaram verdadeiras lendas do cinema, e qualquer um poderia ter levado o prêmio de Melhor Filme sem problemas. Esta foi realmente uma época especial no cinema americano, quando obras tão autorais e ousadas quanto estas – bem como outras indicadas em categorias importantes – eram a regra e não exceção, e ainda conseguiam atrair o interesse do público.

Além dos cinco principais, vários dos demais indicados, como “O Dia do Gafanhoto” (1975), “Shampoo” (1975), “Amarcord” (1973) e “Tommy” (1975) são tão diferentes que simplesmente não poderiam ser feitos mais hoje. São produtos de cineastas muito especiais, cuja criatividade não era tolhida pelos estúdios – pelo contrário, era estimulada. E temas polêmicos estavam presentes em vários dos filmes na disputa naquele ano: a homossexualidade, importante componente em “Um Dia de Cão” (1975); o nazismo visto por um novo ponto de vista em “O Homem na Caixa de Vidro” (1975); a liberação sexual feminina discutida em “Shampoo”; o colonialismo e a exploração dos povos subdesenvolvidos em “O Homem que Queria Ser Rei” (1975)... Analisando-se essas obras, percebe-se que o cinema já discutiu mais frequentemente temas relevantes para a sociedade (bem mais que hoje, pelo menos).

E o fato da maioria desses filmes ter sobrevivido ao tempo e continuarem bons prova a força da produção cinematográfica e da premiação do Oscar naquele ano. Sempre ouvimos da Academia a conversa de que eles divulgam a excelência cinematográfica e premiam os melhores filmes do mundo. Em 1976, eles realmente fizeram jus ao seu discurso, como poucas vezes desde então.

por Ivanildo Pereira

sábado, 27 de outubro de 2012

Opiniões - Parte 1



John Williams recebe o prêmio de Melhor Trilha Sonora Original pela sua composição para o filme "Tubarão" (1975). Trata-se da 11ª indicação do compositor, sendo a sua segunda vitória, já que havia ganhado em 1972 pelo filme "Um Violinista no Telhado" (1971). Curiosamente, trata-se também da primeira vitória que o compositor conquistou por uma parceria com Steven Spielberg: seria premiado ainda por "E.T. - O Extraterrestre" (1982) e "A Lista de Schindler" (1993), respectivamente em 1983 e 1994.

A edição do Oscar de 1976 foi, com certeza, uma das mais felizes premiações. Afinal, mesmo que tenha as suas falhas (digo no quesito indicações mesmo), foi a edição que mais tentou prestigiar os melhores filmes do ano, mesmo que no final tenha havido uma massiva de "Um Estranho no Ninho" (1975) ao ganhar os principais prêmios da noite. Sem firulas, a Academia nomeou os melhores da noite e até tentou fazer justiça. Afinal, um filme como "Tubarão" (1975), nos tempos atuais, seria um filme reconhecido pela Academia? Obviamente que não, afinal, estamos em uma época na qual é exigida uma superioridade extrema. Depois de um certo tempo, a Academia tentou formar o seu clube, já que atualmente não é muito difícil saber quem serão os indicados nos próximos anos (quanto maior o prestígio de um cineasta, maiores são as chances de ele ter o seu filme indicado nas categorias principais). E isso, querendo ou não, é uma generalização. Pois, hoje em dia, diversos fatores contribuem para uma indicação. Posso estar errado, mas tenho a impressão de que o Oscar de 1976 ainda passa uma situação inversa à tudo isso.

Se você parar para pensar, irá perceber que os filmes indicados em 1976 possuem uma ligação importante entre si: todos os filmes, de uma forma ou de outra, são um verdadeiro progresso dentro do cinema. Todos os filmes buscam um diferencial para si. Seja a história de um homem "insano" (como o caso de "Um Estranho no Ninho"), ou seja, na história na qual um Tubarão é o grande protagonista. Seja blockbuster ou um filme mais sutil, os indicados são filmes diferentes e que conseguiram firmar no imaginário do público. Isso é algo que merece destaque, já que é não vem sendo uma situação recorrente atualmente. Pois mesmo que a Academia ainda mantenha o prestígio de outrora, é também sabido que cada vez mais vem sendo difícil manter este status. O mundo anda moderno e individualista demais para prestar atenção em novos clássicos ou premiações impactantes (talvez seja por isso que cada vez mais a cerimônia se torne um entretenimento e não uma premiação simples para premiar os melhores filmes do ano).

Lee Grant: a Melhor Atriz Coadjuvante da noite.
A noite teve as suas surpresas. Como já foi fito, "Um Estranho no Ninho" levou a melhor nas categorias principais, mas também era de se esperar, já que a obra de Milos Forman se tornou, com o tempo, uma obra atemporal. Ao lado de "Tubarão", acabou se tornando um clássico com o tempo. O filme realmente foi o melhor da noite (ganhou em Melhor Filme), teve a melhor direção da noite (ganhou de Melhor Diretor, afinal, Forman está em sua melhor forma!) e ainda ganhou em Melhor Ator e Melhor Atriz. Jack Nicholson realmente foi merecedor já que está imbatível em cena e, mesmo que Louise Fletcher seja mais uma coadjuvante do que atriz principal, também foi merecedora, já que tem uma boa atuação. No demais, "Tubarão" e "Barry Lyndon" (1975) acabaram levando os prêmios técnicos da noite. A cerimônia, claro, ainda fechou a noite com filmes duvidosos e esquecidos pelo tempo como "Shampoo" (1975), que levou de Melhor Atriz Coadjuvante, e "Hedda" (1975), que conseguiu uma indicação à Melhor Atriz. Isso apenas prova que, desde sempre, a Academia comete falhas. Se bem que, isso não é algo ruim, pois a Academia precisa aprender que falhas também fazem parte do show. Não é uma edição histórica, mas não chega a ser esquecível.

por Alan Raspante

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Categorias: Melhor Diretor e Melhor Filme



INDICADOS:
- Federico Fellini, por "Amarcord"
- Milos Forman, por "Um Estranho no Ninho"
- Robert Altman, por "Nashville"
- Sidney Lumet, por "Um Dia de Cão"
- Stanley Kubrick, por "Barry Lyndon" 

O ano de 1976 apresentou trabalhos de bons diretores na sua lista de indicados nas várias categorias dos Academy Awards. Tanto filmes de realizadores americanos quanto filmes de realizadores estrangeiros estiveram presentes nas diversas categorias, como, só pra citar, “A História de Adèle H.” (1975), de François Truffaut, e “Amarcord” (1973), de Federico Fellini. A categoria de Melhor Diretor – objeto de análise nesse texto – conteve 5 diretores de três nacionalidades diferentes e premiou Milos Forman, responsável pelo filme “Um Estranho no Ninho” (1975), que, não apenas era estrangeiro – nascido na então Tchecoslováquia, atual República Tcheca –, como era também o único candidato nominado pela primeira vez.

Quase houve uma correspondência na lista dos indicados em Melhor Diretor e Melhor Filme. Salvo Steven Spielberg, todos os outros diretores cujos títulos foram indicados na categoria principal também receberam indicações como Melhor Diretor. Assim, a lista foi composta por Sidney Lumet, Robert Altman, Milos Forman e Stanley Kubrick, respectivamente responsáveis pelas obras “Um Dia de Cão”, “Nashville”, “Um Estranho no Ninho” e “Barry Lyndon”, todos de 1975, e, no lugar de Spielberg, diretor de “Tubarão” (1975), entrou Federico Fellini, por “Amarcord”. A tabela apresenta um panorama do histórico de indicações dos nominados considerando todas as vezes que eles foram nominados, as vezes que foram nominados como Melhor Diretor e a quantidade de prêmios recebidos (independentemente da categoria) antes de 1976 e, por fim, o total de indicações e de prêmios ao longo de suas carreiras, considerando apenas as situações competitivas.

Nominado
Pré-1976
Carreira
Indicações
Diretor
Vitórias
Indicações
Vitórias
Federico Fellini
9
3
0
12
0
Milos Forman
0
0
0
3
2
Robert Altman
1
1
0
7
0
Sidney Lumet
1
1
0
5
0
Stanley Kubrick
9
3
1¹
13
1

Começando então pelo diretor italiano, ele já havia sido indicado 9 vezes, sendo a primeira em 1947 pelo roteiro do filme “Roma, Cidade Aberta” (1945) e a última vez (em relação a esse ano discutido) em 1971, quando concorreu como Melhor Diretor por “Satyricon de Fellini” (1969). Como notaram, os filmes não-americanos, apesar de lançados num determinado ano, podem não chegar nesse mesmo ano nos Estados Unidos, fazendo com que só possam se tornar elegíveis para o ano seguinte ao seu lançamento no país. Justamente por isso que “Roma, Cidade Aberta” e “Satyricon de Fellini”, lançados na Itália em 1945 e 1969 e nos Estados Unidos em 1946 e 1970, somente concorreram em 1947 e 1971, respectivamente. Quanto a “Amarcord”², a coisa foi um pouco mais curiosa, pois o filme demorou mais de um ano para chegar ao outro continente. Lançado em 1973, chegou aos Estados Unidos em 1975, portanto sua indicação aconteceu três anos depois do lançamento original do filme, o que é algo incomum, embora não singular. Na 48ª edição do Oscar, Fellini conquistou duas indicações, tanto como Melhor Diretor quanto como roteirista na categoria Melhor Roteiro Original. Cronologicamente, foram as suas indicações décima e décima primeira, havendo ainda a última da sua carreira no ano seguinte, quando concorreria por “Casanova de Fellini” (1976).

Stanley Kubrick também era outro veterano em indicações. Havia sido nominado 9 vezes: em 1965, como roteirista, diretor e produtor de “Dr. Fantástico” (1964); em 1969, como roteirista, diretor e responsável pelos efeitos especiais de “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968); e em 1972, novamente como roteirista, diretor e produtor de “Laranja Mecânica” (1971). Mais uma vez, Kubrick recebe outras três nominações pela produção, direção e roteiro de “Barry Lyndon”, o épico de 3 horas que relata a vida do personagem-título. Tanto Sidney Lumet quanto Robert Altman haviam sido indicados apenas uma vez anteriormente, respectivamente em 1958 e em 1971 pelos filmes “12 Homens e Uma Sentença” (1957) e “M.A.S.H.” (1970). Os dois têm um percurso parecido na história do Oscar, pois são diretores que produziram títulos muito elogiados, mas que nunca receberam prêmios competitivos. Os dois, aliás – Lumet em 2005, Altman em 2006 –, receberam um Oscar Honorário pelas suas carreiras que, numa paráfrase do discurso da Academia, repetidas vezes reinventaram a arte e inspiraram tanto o público quanto outros realizadores.

Fechando a lista de indicados, o vencedor: Milos Forman. É, só pra constar, o único dos indicados que ainda está vivo, hoje com 80 anos. Também é o único cujo histórico de vida inclui pais mortos pelo regime nazista e uma situação de quase apatridarismo devido às confusões acontecidas durante a Primavera de Praga, evento político de extrema tensão na Tchecoslováquia, momento no qual Formam se encontrava em Paris. A vitória por “Um Estranho no Ninho” foi a primeira; na década seguinte, em 1985, veio a segunda vitória, por “Amadeus” (1984); na década de 1990, a última indicação, desta vez sem prêmio, por “O Povo contra Larry Flint” (1996). Considerando os contratempos pelos quais já passou e tudo o que produziu, apesar das dificuldades, Forman talvez seja um bom exemplo do filme que ele mesmo dirigiu: ele é, de certo modo, um homem contra o sistema, assim como o protagonista interpretado por Jack Nicholson no grande vencedor da 48ª edição.


¹ Kubrick venceu em 1969 na categoria Melhores Efeitos Visuais por “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.
² “Amarcord” venceu o prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 1975.
INDICADOS:
- "Barry Lyndon", de Stanley Kubrick
- "Um Dia de Cão", de Sidney Lumet
- "Um Estranho no Ninho", de Milos Forman
- "Nashville", de Robert Altman
- "Tubarão", de Steven Spielberg

Os filmes indicados na categoria de Melhor Filme abordam diversos temas, desde um épico de três horas retratando uma figura heróica do século XVIII até um dos primeiros filmes classificados como blockbuster. Apesar da variedade, o que verdadeiramente torna marcante a categoria é a vitória de “Um Estranho no Ninho” (1975), filme produzido por Michael Douglas e Saul Zaentz, dirigido por Milos Forman, adaptado por Lawrence Hauben e Bo Goldman, estrelado por Jack Nicholson e Louise Fletcher e, num acontecimento quase inédito, vencedor dos cinco prêmios mais cobiçados da premiação: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado.

O filme vencedor na categoria – no original, One Flew Over The Cuckoo’s Nest, título que alude a uma música infantil – advém de um livro de Ken Kesey cujos direitos autorais foram adquiridos por Kirk Douglas muito tempo antes de Michael Douglas, seu filho, finalmente levar a produção à concretude. Jack Nicholson e Louise Fletcher interpretam os personagens centrais da obra, mas, antes deles, nomes como o de Marlon Brando e Anne Bancroft haviam sido considerados para os papéis de Randle McMurphy e Enfermeira Ratched (quase uma brincadeira com hated). Indicado em 9 categorias, era o filme com o maior número de nominações e era também o único título da categoria principal a ser dirigido por um diretor estrangeiro (i.e., nascido fora dos Estados Unidos), o que parece acentuar a ironia de um filme cuja história aborda um homem que notadamente não se adapta ao sistema e luta contra ele. As vitórias do filme são ainda mais impressionantes porque apenas um único filme havia, 41 anos antes, conquistado tais prêmios e, vale comentar, apenas um filme depois desse – 16 anos depois – conseguiu os chamados major awards.

“Barry Lyndon” (1975) retrata o aventureiro Barry Lyndon, que experimenta desde um duelo com o pretendente da mulher que ele ama até o serviço militar, tanto em auxílio ao exército britânico como em auxílio ao exército prussiano. O épico se estende por três horas, tendo conquistado 7 indicações, das quais 4 resultaram em prêmios – por ironia, as 3 categorias que falharam em conquistar prêmios são justamente aquelas pelas quais Stanley Kubrik concorreu (como diretor, produtor e roteirista). Depois de quase vinte anos desde que um filme seu concorreu na categoria principal, Sidney Lumet apresenta outro trabalho interessante: “Um Dia de Cão” (1975). Dos filmes indicados, é o único a relatar um acontecimento real, acontecido quatro anos antes da cerimônia, quando dois rapazes, Sonny e Sal, invadiram um banco e executaram um assalto que deveria durar quinze minutos, mas, por um infeliz contratempo, durou 14 horas, resultando na morte de Sal e na prisão de Sonny, que não tratou mal nenhum dos reféns, tomou medidas preventivas para assegurar o bem-estar deles e, no fim, alegou ter cometido o crime para conseguir dinheiro para a cirurgia de mudança de sexo do ex-namorado transexual.

Os dois últimos filmes são “Nashville” e “Tubarão”, ambos de 1975. Enquanto o primeiro é uma paródia bem humorada apresentada ao longo de duas horas e meia sobre a relação interpessoal de vários personagens conectados à carreira musical na cidade de Nashville, capital de Tennessee, o segundo foi o grande hit do verão de 75, tendo sido um dos filmes com maior bilheteria do ano, além de ter sido extremamente elogiado pela sua trilha sonora, que ficou imortalizada, e pela sua edição, que foi um dos aspectos que mais atribuíram suspense à trama. “Nashville”, dirigido por Robert Altman, possui cerca de 24 personagens centrais, dos quais duas atrizes se destacaram a ponto de receberem indicações, integrando as 5 nominações que a produção recebeu. Quanto a “Tubarão”, pode-se dizer que foi o que melhor teve aproveitamento na relação nominações/vitórias: das 4 indicações em que concorreu a obra, venceu 3 prêmios. Curiosamente, é o único dos filmes que não rendeu indicação ao seu respectivo diretor, que, na categoria de Melhor Diretor, foi substituído por Federico Fellini, responsável por “Amarcord”, lançado na Itália em 1973, mas exibido nos Estados Unidos apenas em 1975.

Filme
Diretor
Indicações
Vitórias
Barry Lyndon
Stanley Kubrick
7
4
Um Dia de Cão
Sidney Lumet
6
1
Um Estranho no Ninho
Milos Forman
9
5
Nashville
Robert Altman
1
Tubarão
Steven Spielberg ²
4
3
¹ Duas indicações de “Nashville” aconteceram na mesma categoria – Melhor Atriz Coadjuvante – fazendo com que o filme tivesse 5 indicações em 4 categorias diferentes.
² Steven Spielberg é o único diretor que ficou fora da categoria Melhor Diretor.

A tabela acima mostra a relação de indicações e vitórias dos filmes e permite que comparemos as obras indicadas. Pode-se dizer, não apenas com base na tabela acima, mas com base em análises de outras cerimônias, que os filmes indicados em 1976 conseguiram se dividir bem nas categorias e nas premiações. Basta ver que não há filme que destoe consideravelmente dos outros no número de indicações, nem há filme indicado na categoria principal que não tenha recebido prêmios. Como efeito de comparação, cito dois anos interessantes: 1995 e 1999. No primeiro, tanto “Forrest Gump – O Contador de História” quanto “Quatro Casamentos e um Funeral” foram nominados como Melhor Filme, mas este recebeu – pasmem – apenas 2 indicações¹ enquanto aquele recebeu 13, tendo recebido também o prêmio máximo. Já no ano de 1999, “A Vida É Bela” (1997) e “Além da Linha Vermelha” receberam 7 indicações, que resultaram em 3 vitórias para o primeiro filme e nenhuma vitória para o segundo. Os dois exemplos explicitam as diferenças que não aconteceram no ano de 1976 em relação aos títulos que integraram a categoria de Melhor Filme. Todas as fitas, em pelo menos uma categoria, receberam reconhecimento por um dos seus aspectos e todas, à época dos seus lançamentos, foram bastante elogiadas, tanto pelo público quanto pela crítica, sendo essa, pois, uma edição que contém os mais variados gêneros – comédia, thriller, épico e dois dramas – e os mais aclamados títulos de diretores considerados, ou então ou mais tarde, como grandes nomes do cinema.

por Luís Adriano de Lima


¹ Ao longo dos 66 anos nos quais a lista de Melhor Filme era composta por 5 títulos, era muito incomum que uma obra recebesse apenas duas indicações, sendo uma delas Melhor Filme (o pressuposto era que os indicados na categoria principal obtivessem também indicações em outras categorias, justificando, assim, a denominação como “melhor filme”. Em aproximadamente seis décadas e meia – de 1944 a 2009 –, isso aconteceu apenas duas vezes, com os filmes “Momento de Decisão” (1951) e “Quatro Casamentos e um Funeral” (1994).