sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Melhor Atriz: Década 2000 - Opinião (Parte 3)




A última década não foi um marco, ao menos, não foi um marco para o cinema. Está certo que essa afirmação não pode ser entendida de um modo geral, pois fatos importantes ocorreram (como sagas e filmes, claro, extremamente importantes e interessantes), mas, ainda sim, não teve a mesma força de outros tempos. Pode soar estranho, mas é uma sensação válida, ainda mais quando se é analisado mais a fundo as vencedoras do Oscar de Melhor Atriz da última década. Personagens e estórias se repetem, como se a premiação do Oscar estivesse presa a um tipo de círculo vicioso, ou melhor: a Academia já tinha a sua estratégia, a sua receita para o sucesso.

Assim como foi dito no post de abertura deste especial as atrizes vencedoras da última década tem muito em comum. Por exemplo: temos uma porcentagem gritante de atrizes que interpretaram figuras já conhecidas (Nicole Kidman, Charlize Theron, Sandra Bullock, Marion Cotillard, Julia Roberts, Helen Mirren e Reese Witherspoon) e apenas duas atuações oriundas de personagens fictícias (Kate Winslet e Halle Berry). Um ponto interessante, já que a Academia parece considerar mais uma atuação "baseada em fatos reais" do que em uma composição mais verídica, já que, querendo ou não, compor um personagem que já "existiu" acaba facilitando bastante. Porém, isso acaba sendo uma discussão um tanto vaga já que a cada ano parece brotar mais e mais biografias baseadas em tantas coisas que acaba sendo difícil o que de fato é original ou não, porém, isso acaba sendo uma boa reflexão para o atual estado em que o cinema de um modo geral se encontra, mas isso nem é segredo de estado.

O que acaba sendo um ponto em comum é o fato das atuações fortes e avassaladoras. Está certo que há um pequeno de grupo de atuações nada mais do que agradáveis, que desde sempre foram contestadas (Sandra Bullock e Reese Witherspoon não iriam gostar disso!), porém, percebe-se que a Academia gosta de um bom drama em cena. Aliás, praticamente não há uma única atriz - na última década - que tenha ganhado a estatueta por um personagem cômico ou algo parecido. Tiveram ganhadoras que ganharam de forma debochada por atuações descabidas, como o caso de Sandra Bullock, mas não ocorreu exatamente o contrário. Creio que Academia tenha entrado em uma zona de conforto e parece não haver muito esforço para sair dela. Tivemos atuações esplêndidas, mas em diversos casos, não foram as melhores atuações do ano. Claro que é difícil agradar a todo mundo, mas seria mais fácil se realmente houvesse justiça ao simplesmente eleger a melhor atuação do ano. Obviamente que isso não vai mudar já que é uma opinião pessoal (talvez você não encontre erros, por exemplo, na atuação de Bullock), mas seria realmente formidável se isso acontecesse.


 
Sandra Bullock, Halle Berry, Nicole Kidman, Hilary Swank e Reese Whiterspoon também têm outra coisa em comum: as escolhas cinematográficas. Já notaram que após ganhar o Oscar todas, ao menos às citadas agora, fizeram escolhas absurdas? De alguma não tiveram um bom momento no cinema. Halle Berry até agora consegue ser mais prejudicada já que praticamente não conseguiu se reerguer do baque causado pela sua mulher-gato; Reese Whiterspoon já cansou dos dramas e Sandra Bullock anda preocupada demais em fazer as escolhas certas. Nicole Kidman até alcançou a glória novamente, mas não por completo, pois sempre acaba fazendo uma ou outra escolha equivocada. Qual a conclusão disso? A Academia podia parar de premiar celebridades e começar a premiar atrizes. Quer dizer, por mais que eu goste de Reese e sua atuação em "Johnny e June" (2005), nunca vou esquecer que ela ganhou da competente atuação de Felicity Huffman em "Transamérica" (2005). Entendem? Essa também não é uma situação generalizada, mas acaba sendo um ponto discutível. Enfim, a Academia não vai mudar e nossas opiniões também não. Sempre haverá discordâncias. A última década pode não ter sido perfeita, mas também, qual foi? Talvez nenhuma.

por Alan Raspante

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Melhor Atriz: Década 2000 - Opinião (Parte 2)



Frequentemente ouvimos falar que o cinema e o tempo são cruéis com as atrizes. Elas tendem a ter carreiras mais curtas que os homens e envelhecem mais em frente às telas. O Oscar, como o prêmio máximo da indústria cinematográfica mundial, ao longo dos anos teve a função de eternizar estrelas e seus desempenhos. Nesta década, os desempenhos consagrados representaram, em alguns casos, os ápices das carreiras destas grandes atrizes. E para pelo menos uma das vencedoras, representou a coroação de uma trajetória longa e bem sucedida.

A veterana Helen Mirren já tinha uma carreira longa e estabelecida na TV e no cinema quando interpretou Elizabeth II em “A Rainha” – um desempenho esplendoroso que significou a proverbial “cereja no bolo” no seu trabalho como atriz. As demais vencedoras foram premiadas enquanto ainda jovens. E também é possível dizer que nos casos de Julia Roberts e Nicole Kidman, ambas venceram enquanto estavam no auge de suas carreiras. Afinal, elas eram as maiores estrelas do mundo quando ganharam seus respectivos Oscars. Halle Berry, Reese Witherspoon, Sandra Bullock, Kate Winslet e Charlize Theron também já eram veteranas quando foram premiadas.

Uma tendência se nota: essas mulheres lindas, para desaparecerem mais facilmente dentro de seus papéis, tiveram de se “enfeiar”. Foi o caso nos desempenhos de Charlize Theron, Nicole Kidman e Halle Berry. Na nossa sociedade que valoriza a beleza física e coloca as estrelas de cinema num pedestal, esse processo de “desglamourização” das atrizes muitas vezes é vista com ironia. Porém nem todos prestam atenção nas qualidades desses três desempenhos. São realmente grandes trabalhos nos quais as atrizes, cientes dos papéis que têm em mãos, se mostram dispostas a deixar a vaidade em segundo plano para mergulhar em seus personagens.

Pelo menos dois desses desempenhos são frequentemente questionados: o de Julia Roberts (muitos argumentam que sua vitória foi injusta frente ao desempenho de Ellen Burstyn em “Réquiem para um Sonho”, de 2000), e o de Sandra Bullock por “Um Sonho Possível” (2009). No caso de Julia, não considero sua vitória como despropositada, ela realmente está ótima em “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000)” e sua presença é a alma do filme, que certamente fracassaria com uma atriz menos carismática no papel. Já no caso de Sandra, sua vitória é questionada devido ao fato da atriz ser frequentemente vista em comédias leves e bobinhas. Na época de “Um Sonho Possível”, porém, Sandra Bullock era a atriz que mais atraía público ao cinema nos Estados Unidos, e isso sem dúvida conta para a Academia. O filme como um todo é bastante questionável, mas é inegável o seu sucesso e este se deve em grande parte à presença de Sandra. Ela também não teve concorrentes de peso em um ano fraco, o que também ajuda a explicar a sua vitória.

Os mais magníficos desempenhos desta década pertencem à Marion Cotillard, Hilary Swank (a única que já havia vencido anteriormente) e de Kate Winslet, além do de Helen Mirren, é claro. As atuações de Winslet e Cotillard superam as limitações dos filmes das quais participam e os elevam a obras dignas de atenção. E a de Swank comprovou que esta fantástica atriz se beneficia dos papéis fortes e altamente dramáticos, e que aparentemente projetos leves não são o melhor uso do seu talento.

Como a maioria dessas atrizes ganhou o Oscar ainda relativamente cedo em suas carreiras, é possível que consigam repetir a dose. Contudo, à medida que envelhecem, os bons papéis para as atrizes ficam cada vez mais raros. Estas felizardas, contudo, já tem seu lugar assegurado na história do cinema.

por Ivanildo Pereira

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Melhor Atriz: Década 2000 - Opinião (Parte 1)



A interiorização como elemento catártico

Analisar toda uma década de uma categoria (nesse casso, Melhor Atriz) requer a compreensão de inúmeros fatores que levaram as atrizes a sagrarem-se vencedoras. Precisamos compreender o que sucedeu em cada ano no qual cada atriz foi vencedora e, ainda, precisamos compreender diacronicamente todo o histórico da década. Quanto à diacronia, precisa-se estudar uma recorrência naquela década: 2000 se caracterizou pelos votantes mais tendenciosos às interpretações de personagens verídicas – não é à toa que das 10 vencedoras 7 conquistaram seus prêmios interpretando pessoas reais. Se compararmos essa década com as décadas anteriores, veremos que o foco das vitórias é outro: na categoria feminina principal de atuação, a década de 70 ficou marcada pela quantidade de personagens fictícias advindas de romances literários; já a década de 80, se dividiu entre as personagens fictícias da literatura e das peças de teatro; a década de 90, por sua vez, ficou dividida entre as personagens fictícias advindas da literatura e as fictícias criadas diretamente para os filmes. A década de 2000, porém, é, sobretudo, lembrada pelos registros de pessoas verídicas em eventos intercambiáveis entre realidade e ficção (como é o caso, por exemplo, de Nicole Kidman vivendo Virginia Woolf em “As Horas”, de 2002).


Sintetizo as vitórias dividindo as atrizes em grupos de modo a expressar melhor meu entendimento acerca dos prêmios que lhes foram concedidos. Acredito que o agrupamento mais cabível seja a separação em três grandes grupos, havendo algumas atrizes que podem estar em mais de um. São eles: 1) atrizes que venceram não apenas pelas suas interpretações pelos filmes nos quais foram indicadas: Roberts, Kidman e Bullock; 2) atrizes cujas atuações representam aquilo que houve de melhor em suas carreiras e também entre as indicadas: Berry, Theron, Swank; 3) atrizes favorecidas pelo fato de interpretarem personagens verídicas de grande importância política (Mirren) ou cultural (Witherspoon). Julia Roberts e Nicole Kidman, a meu ver, também podem ser incluídas no segundo item, porque suas interpretações como Erin Brockovich e Virginia Woolf respectivamente representam também as melhores interpretações de suas carreiras, ainda que suas vitórias estejam mais associadas à importância dessas atrizes no circuito crítico e comercial do começo da década – Roberts era a atriz mais bem paga, denominada a “Queridinha da América”, e Kidman vinha já emplacando vários filmes de sucesso desde o início da década. Já Hilary Swank, apesar de eu a ter colocado no item segundo, não penso que “Menina de Ouro” (2004) seja seu melhor momento, justamente porque a atriz concebeu outra magnífica performance cinco anos antes, quando viveu Brandon Teena em “Meninos Não Choram” (1999); na ausência de outro grupo e a fim de enxugar melhor, coube a ela lugar naquele item.

Faltam duas atrizes na contabilização acima: a francesa Marion Cotillard e a inglesa Kate Winslet. A vitória da primeira se deu com alguma surpresa, sobretudo porque os prêmios vinham sendo divididos entre ela e Julia Christie, atriz inglesa que concorria por “Longe Dela” (2007). Assim, mesmo que fosse aquele o melhor momento da atriz no cinema até então, não parecia seguro o seu prêmio, como ainda hoje não são claras as razões pelas quais ela venceu e não Christie, apesar de inegavelmente Cotillard estar muito sólida em “Piaf – Um Hino ao Amor” (2007), de Oliver Dahan. Agora, quanto a Winslet, sua vitória pode ser colocada também no item primeiro, afinal, naquele mesmo ano, ela havia coestrelado “Foi Apenas um Sonho” (2008) ao lado de Leonardo DiCaprio, sendo, nesse filme, verdadeiramente atriz principal, já que em “O Leitor” (2008) sua função é de coadjuvante. Sua vitória em 2009, porém, requer uma análise mais extensa e minuciosa, pra isso precisamos retornar às cinco indicações anteriores da atriz, que perdeu suas duas primeiras indicações injustamente e esteve maravilhosa em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004) e “Pecados Íntimos” (2006) – assim, a vitória em 2009 me soa mais como recompensa do que realmente mérito, ainda que sua interpretação como Hannah Schmidt seja mesmo muito bem trabalhada.

Se a década de 2000 foi bastante sensata com alguma de suas escolhas – Nicole Kidman e Charlize Theron, por exemplo –, ela conseguiu nos surpreender com verdadeiros exemplos de mau gosto, como é caso da vitória de Reese Witherspoon e Helen Mirren, que conseguiram apresentar interpretações apenas satisfatórias. No caso de Witherspoon, aliás, me surpreende a sua vitória, não apenas porque ela nem sequer é protagonista da obra pela qual concorreu, mas também concorria com Felicity Huffman, que detinha uma das melhores interpretações da década, aliás, de toda a história das indicações do Oscar! Quanto a Mirren, não acho sua interpretação nem válida de indicação, mas, já que foi indicada, houvessem pelo menos premiado uma atriz numa interpretação mais pungente e mais intensa, como Judi Dench, Kate Winslet (ótima oportunidade, aliás, para premiá-la) ou mesmo Meryl Steep, que nem sequer era lead, embora tivesse sido nominada como tal.

E fico feliz que as minhas considerações como um todo tenham sido apontadas no ranking realizado. As minhas favoritas ocuparam no ranking final justamente a posição em que as coloquei no meu ranking pessoal e as minhas menos favoritas – Witherspoon, Mirren e Bullock – também ocuparam o fim da lista no resultado final do nosso ranking. Alteraria, porém, a ordem de Berry e de Bullock, substituindo a primeira com Helen Mirren e colocando Sandra à frente da “Rainha”, justamente porque acho que ela tem mais méritos na relação que se estabelece entre seu desempenho, suas concorrentes e sua vitória. Quanto a essa década, aliás, penso que Witherspoon e Mirren sejam os meus únicos verdadeiros desafetos – gosto, pois, de todas as interpretações das outras atrizes nos filmes pelos quais venceram.

Acho que há algo de notável nessa década e isso também aparece no nosso ranking final. Penso que a década se marcou pelo registro ontológico de personagens muito pungentes, independentemente do seu grau de abertura para o mundo exterior – não é à toa que o TOP 3 tenha sido ocupado por Aileen Wuornos (Theron), Virginia Woolf (Kidman) e Schmidt (Winslet), justamente as personagens cujas histórias mais apresentam um discurso sobre a natureza do ser humano. Se Wuornos é mais extrovertida (no sentido de expansiva, reativa) e Woolf e Schmidt mais voltadas para si mesmas, isto é, mais interiorizadas, isso apenas mostra o quanto se pode discutir sobre a natureza humana nas diversas personalidades existentes – as três trazem consigo todos os sentimentos passíveis numa pessoa: angústia, medo, orgulho, alegria, desejo. Charlize entregou-se de tal modo à sua personagem que cada momento seu em cena é também um momento em que o espectador se sente inebriado pelas emoções da personagens – gosto particularmente de uma cena, quando Aileen ajeita os cabelos, infla o corpo, muda sutilmente a expressão, tudo isso a fim de causar em Selby a impressão de que ela está sendo protegida. Tudo isso está associado à psicologia da personagem, que é maravilhosamente trabalhada.

A meu ver, nosso ranking registrou eficientemente as interpretações dessa década – aliás, gosto bastante das atrizes premiadas, até mesmo de Sandra Bullock, cuja credibilidade é sempre posta à prova, e de Helen Mirren e Reese Witherspoon, de cujas premiações discordo, mas de cujas carreiras gosto bastante. E pensar nessa década sempre faz com que eu seja remetido àquele maravilhoso desabafo de Virginia Woolf na estação de trem e àqueles momentos iniciais de Aileen tentando se embelezar a fim de conquistar Selby. Para mim, trata-se de uma década que registrou bons momentos – alguns esquecíveis, claro, mas outros irrepreensíveis!

por Luís Adriano de Lima

sábado, 24 de novembro de 2012

Ranking: Melhor Atriz da Década de 2000

Imagem: Joice Prado.

O ranking acima foi constuído a partir das votações de: Alan Raspante, Celo Silva, Ivanildo Pereira, Luís Adriano de Lima e Renan Prado.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sandra Bullock: "Um Sonho Possível"



SANDRA BULLOCK (26/07/1964 – Virginia, Estados Unidos)
Primeiro filme: Hangmen (1987)
Principais trabalhos: “Velocidade Máxima” (1994), “Enquanto Você Dormia...” (1995), “Da Magia à Sedução” (1998), “Miss Simpatia” (2000), “Crash – No Limite” (2004), “A Proposta” (2009), “Um Sonho Possível” (2009)
Indicações ao Oscar: 2010 – Melhor Atriz: Um Sonho Possível – venceu

Aos 45 anos, depois de mais de 20 anos de carreira, venceu seu primeiro grande prêmio – o Oscar de Melhor Atriz – pelo seu trabalho em “Um Sonho Possível” (2009), filme também produzido por ela que arrecadou mais de U$300 mi de bilheteria ao redor do mundo. Estigmatizada por ser uma atriz, sobretudo, de filmes cômicos, a vitória de Sandra Bullock em 2010 gerou bastante repercussão e ainda hoje há bastante repreensões quanto à decisão da Academia de tê-la premiado. Bullock, porém, já estava há bastante tempo no gosto do público e, desde 1994, quando estrelou “Velocidade Máxima” ao lado de Keanu Reeves, a atriz vem angariando votos de confiança e de simpatia. Sua trajetória no cinema, apesar de ela ter se dedicado preferencialmente à comédia, abraça vários gêneros, como ação, no filme já citado; thriller, em “A Rede” (1995); crime, em “Tempo de Matar” (1996); suspense, em “Cálculo Mortal” (2002); romance, em “A Casa do Lago” (2006), marcando seu reencontro com Reeves; mistério em “Premonições” (2007); e, também, dramas, como é o caso de “Crash” (2004), vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2006, e “Um Sonho Possível”, cinebiografia de Michael Oher e Leigh Anne Tuohy.

Quanto ao filme intitulado originalmente The Blind Side, precisamos desde o começo admitir que se trata de um retrato de Leigh Anne Tuohy, personagem de Sandra Bullock, a verdadeira cinebiografada. Apesar de haver o pano de fundo do futebol americano e de haver a figura de Michael Oher, figura fundamental para o desenvolvimento dessa trama, o verdadeiro foco do filme é Bullock e o seu carisma como atriz. É verdade que o filme não ajuda muito a interpretação de Bullock nem o roteiro faz questão de transformar sua personagem em uma mulher muito pungente – ela sabe expor suas idéias, sabe se posicionar inflexivelmente, mas isso está muito mais associado à sua personalidade do que às suas ações, então, com certo ar de acontecimento inevitável, tem-se a impressão de que a atriz faz pouco ao longo das mais de duas horas de projeção do filme. Numa situação bastante delicada, Bullock opta pelo certo, no qual fazer menos acaba sendo muito eficiente – assim, sem grandes explosões, sem grandes momentos dramáticos e sem cenas de extremo arrebatamento catártico, Bullock consegue construir sua personagem e sua interpretação na linearidade que o filme lhe oferece. As atrizes contra quem competiu tinham decerto maiores recursos para alavancar suas interpretações, tornando-se, assim, mais fáceis de acompanhar e também de se identificar. Nesse quesito, Bullock ficou prejudicada, mas nem por isso deixou de receber seu prêmio. Duas cenas particularmente marcantes no longa-metragem são aquelas nas quais Leigh Anne sai à procura da mãe de Michael a fim de informá-la de que pretende se tornar guardiã legal do menino e, mais tarde, depois que o rapaz desapareceu, ela sai à procura dele, enfrentando inclusive alguns traficantes do gueto onde o garoto morava antes de ser adotado por ela. Embora o filme como um todo não seja pungente, decerto essa interpretação é uma das mais sinceras de Bullock.

por Luís Adriano de Lima

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Kate Winslet: "O Leitor"



KATE WINSLET (05/10/1975 – Berkshire, Inglaterra)
Primeiro filme: “Almas Gêmeas” (1994).
Principais trabalhos: “Titanic” (1997), “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), “Em Busca da Terra do Nunca” (2004), “O Leitor” (2008), “Contágio” (2011).
Indicações ao Oscar: 1996 – Melhor Atriz Coadjuvante: Razão e Sensibilizade || 1998 – Melhor Atriz: Titanic || 2002 – Melhor Atriz Coadjuvante: Íris || 2005 – Melhor Atriz: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças || 2007 – Melhor Atriz: Pecados Íntimos || 2009 – Melhor Atriz: O Leitor – venceu ||

Kate Winslet sempre se mostrou ser uma atriz em potencial. Um diamante que nem precisava ser lapidado (mesmo que tenha melhorado cada vez mais com o passar do tempo). Esta é uma conclusão bem óbvia já que, em seu primeiro papel de destaque, Kate já havia demonstrado que tinha uma bela carreira pela frente. Em "Almas Gêmeas" (1994), filme de Peter Jackson, Kate interpreta uma adolescente que se descobre apaixonada pela sua melhor amiga. Sendo tratada como uma doente (por ter a doença do "homossexualismo") a garota acaba enlouquecendo com a sua situação e com a sede de ser feliz que acaba culminando em um final não muito feliz. Ou seja: "Almas Gêmeas", por si só, já era um filme bem difícil. Algo que, Kate, basicamente tirou de letra já que a sua atuação é muito madura para uma atriz iniciante.

Eis que, veio "Titanic" (1997) e a popularização para Kate Winslet: todo mundo sabia quem era Kate e, todo mundo estava apaixonado por Kate. Acontece que, ninguém conhecia a Kate "atriz", a mulher que já havia interpretado bons papéis, antes mesmo de "Titanic". Após isso, Kate se viu obrigada a fazer filmes que mostrassem o contrário de "Titanic": que ela era muito mais que um rostinho bonito, pois, apesar de ter uma boa atuação, não era nada comparado com os seus outros trabalhos. Vieram indicações ao Oscar pelos filmes "Íris" (2001), "Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças" (2004) e "Pecados Íntimos" (2006), só não vinha, de fato, a estatueta dourada nas mãos da atriz. Eis que, em 2009, Kate ganhou a sua tão merecida e aguardada estatueta. Foi o filme "O Leitor" (2008) que realizou este feito.

"O Leitor" é um filme singular que retrata a vida de Hanna: a típica personagem sofredora que qualquer atriz se mataria para fazer. E olha que até teve uma "novela" envolvendo a personagem principal, pois, Kate era a primeira escolha, mas acabou negando por falta de tempo. Sendo que Nicole Kidman assumiu, mas desistiu por conta de sua gravidez na época. Juliette Binoche chegou a ser cotada, mas a personagem acabou ficando nas mãos de Kate Winslet mesmo, que a esta altura do campeonato já tinha tempo para gravar o filme. A atuação da atriz dispensa comentários já que Kate Winslet é praticamente a alma do filme. Sua atuação é perspicaz, emociona e ainda consegue não ser piegas e, mesmo que tenha alguns furos (principalmente no terceiro ato), Kate acaba sobressaindo. Kate Winslet demorou um pouco para ter o seu reconhecimento, mas, ao menos, ganhou por um bom filme: por uma boa atuação. Mais que merecido, claro.

por Alan Raspante

domingo, 18 de novembro de 2012

Marion Cotillard: "Piaf - Um Hino ao Amor"



MARION COTILLARD (30/09/1975 – Paris, França)
Primeiro filme: L’histoire du Garçon qui Voulait qu’on L’Embrasse (1994)
Principais trabalhos: “Amor ou Conseqüência” (2003), “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003), “Piaf – Um Hino ao Amor” (2007), “Inimigos Públicos” (2009), “A Origem” (2010), “Meia-Noite em Paris” (2011), “Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012).
Indicações ao Oscar: 2008 – Melhor Atriz: Piaf – Um Hino ao Amor - venceu


“Piaf – Um Hino ao Amor” (2007), de Olivier Dahan, é uma dramatização bem produzida e emocionante da vida da famosa cantora francesa Edith Piaf (1915-1963). Piaf teve uma infância pobre, ficou doente e foi abandonada pelo pai. Cresceu e passou a juventude sobrevivendo e perambulando, até que teve a voz descoberta por um empresário da música. Seu canto a transformou numa das mais reconhecidas artistas do século XX, mas mesmo assim as tragédias não a abandonaram: perdeu seu grande amor num desastre aéreo, viciou-se em drogas e bebidas e perdeu sua única filha, ainda criança.

A história de Piaf é material clássico para um filme. Para vivê-la, Dahan escolheu a atriz Marion Cotillard, na época com uma carreira modesta na França e pouco conhecida internacionalmente. Marion e Piaf não poderiam ser mais diferentes, porém o desempenho magistral da atriz consegue trazer de volta a cantora. A interpretação dela abrange vários períodos cronológicos – ela interpreta Edith jovem, adulta e já idosa – e sempre de forma impecável. A tristeza da cantora, seu jeito irascível e ocasionalmente alegre, e os momentos mais difíceis de sua vida são representados por Cotillard com perfeição e assombro. Ela “encolhe” em frente às câmeras, encurvando sua postura e modificando sua aparência – Marion é bem mais alta e bonita que a verdadeira Piaf, mas isso é contornado pela fisicalidade da intérprete e truques de maquiagem.  Em algumas cenas altera sua voz e dubla com perfeição as canções do filme. Em suma, a atriz bela e simpática desaparece dentro da personagem, e vemos apenas o retrato sensível da pessoa real.

O filme não é perfeito. As idas e vindas na cronologia às vezes mais atrapalham que ajudam a narrativa, e pelo menos um item importante (a história entre Piaf e Louis Leplée, vivido por Gérard Depardieu) fica mal resolvido. Porém Marion Cotillard e seu desempenho compensam, e muito, por essas pequenas falhas. Ela é espetacular e absolutamente merecedora do Oscar – e tornou-se a segunda atriz na história do prêmio vencedora por um papel em língua estrangeira. A primeira foi Sophia Loren por “Duas Mulheres” em 1962.

por Ivanildo Pereira

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Helen Mirren: "A Rainha"



HELEN MIRREN (26/07/1945 – Londres, Inglaterra)
Primeiro filme: Press for Time (1966, não-creditada) | Herostratus (1967)
Principais filmes: “Calígula” (1979), “2010 – O Ano em que Faremos Contato” (1984), “As Loucuras do Rei George” (1994), “Tentação Fatal” (1999), “A Rainha” (2006), “A Lenda do Tesouro Perdido: O Livro dos Segredos” (2007)
Indicações ao Oscar:  1995 – Melhor Atriz Coadjuvante: As Loucuras do Rei George ||  2002 – Melhor Atriz Coadjuvante: Assassinato em Gosford Park ||  2007 – Melhor Atriz: A Rainha – venceu || 2010 – Melhor Atriz: A Última Estação

O cinema em geral (e logo as principais premiações da temporada, incluindo o Oscar também) tem um conhecido apreço por figuras políticas da história mundial, sejam eles presidentes, deputados, primeiros-ministros, monarcas medievais e modernos, como no caso, aqui, de a Rainha Elizabeth II do incensado filme “A Rainha” (2006), dirigido pelo britânico Stephen Frears. Se, então, o filme for uma realização concebida com competência, certo que terá suas indicações garantidas na cerimônia do Oscar. “A Rainha” foi lembrada para seis categorias, incluindo Melhor Filme, mas o destaque mesmo ficou por conta da atuação da atriz britânica Helen Mirren, que imersa em sua personagem, arrebatou a estatueta de Melhor Atriz. Creio que entre as indicadas, de fato, deve-se reconhecer que era a atuação mais eloqüente, apesar de contida na caracterização.

No entanto, se Helen Mirren entrega uma interpretação marcante, lembrada até hoje, o filme de Stephen Frears é burocrático, por vezes idiossincrático e respeitoso demais, por fim, não consegue a mesma proeza de se tornar uma obra para a posteridade. A curta trama (90 minutos de duração) traz um recorte de um caso envolvendo a família Real britânica e Lady Di, então casada com o Príncipe Charles. Apesar de a temática envolver Diana, ela não é foco da narrativa e nem chega a aparecer. A história, baseada no roteiro de Peter Morgan, mostra os bastidores do acontecimento que ganhou as páginas dos principais diários ingleses e traz uma Elizabeth II com o peso nos ombros de ter que manter uma instituição milenar intacta. Afetada pela situação, ela aparece humanizada e sensível a contextualização dos fatos, mas decidida a tomar sempre a decisão final em prol de sua família, mesmo quando a linha resolutiva do evento em questão aponta para outra direção.

Claro que “A Rainha”, como filme, tem suas aspirações interessantes, como mostrar a família real como uma instituição preguiçosa e acomodada. Todavia, o trato distanciado impede que o filme empolgue, soando, às vezes, até como um documentário da BBC. Embora acredite que “A Rainha” seja uma obra que exija um pouco de paciência do espectador, principalmente o não-britânico, deve-se reconhecer, com louvor, a atuação de Helen Mirren. A atriz desconstrói com competência sua personagem, passando a sensação de que existe uma pessoa de sentimentos sinceros, porém reprimidos, por baixo daquela aparente frieza. E a sua Elizabeth II fala muito por olhares e gestos, por isso afirmei, no inicio do texto, a contenção da personagem e que agora explicito nas sutilezas de suas ações, muitas vezes estudadas milimetricamente, para que não soem exageradas. Afinal, como a família real britânica é lembrada por sua pompa e circunstância, também é conhecida pela maneira política de avaliar seus problemas e Helen Mirren traz com propriedade essas características. 

por Celo Silva

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Reese Witherspoon: "Johnny e June"



REESE WITHERSPOON (22/03/1976 – Louisiana, Estados Unidos)
Primeiro filme: “No Mundo da Lua” (1991)
Principais trabalhos: “Freeway – Sem Saída” (1996), “Segundas Intenções” (1999), “Legalmente Loira” (2001), “Johnny e June” (2005), “Água para Elefantes” (2011).
Indicações ao Oscar: 2006 – Melhor Atriz: Johnny e June - venceu

Reese Witherspoon pode não ser uma grande atriz, mas sempre procurou fazer boas escolhas cinematográficas. Pode ser que não atualmente, já que a atriz pegou gosto por comédias românticas, mas houve um tempo em que Reese realmente se preocupava com as suas escolhas. Ou melhor: o tempo foi no início de sua carreira. "Eleição" (1999) e "Segundas Intenções" (1999) são filmes que comprovam muito bem essa ideia, pois, apesar de serem blockbusters (mesmo que "Eleição" tenha uma pegada mais indie), são filmes que conseguem conquistar o público e a crítica ao mesmo tempo, pois são divertidos e mostram uma Reese mais "desafiadora" em cena; porém, vieram as comédias românticas na vida da atriz. Mas, em 2005 foi lançado "Johnny e June", filme de James Mangold que trazia como foco a vida do cantor Johnny Cash e conseqüentemente a sua tempestuosa relação com aquele que viria a ser o seu grande amor: June Carter (interpretada, claro, por Reese Witherspoon).

"Johnny e June" é um filme atípico: você percebe que não há maiores pretensões, mas sabe que está vendo um bom filme e que possui chances de ser um clássico em um futuro não muito próximo, pois praticamente tudo contribuiu para isso. O roteiro é bem desenvolvido e consegue dosar muito bem a vida de Johnny Cash, já que acompanhamos todos os estágios de sua vida e de sua carreira. Sem contar que o filme possui uma sensibilidade muito grande, mas isso já é mérito das boas atuações que o filme possui, principalmente a boa composição de Joaquin Phoenix. Porém, o que acaba sendo a carta na manga do filme é a atuação de Reese Witherspoon.

Veja bem: Reese realmente nunca fui uma grande atriz e por mais que houvesse esperanças em suas produções, era esperado que ela apenas estourasse comercialmente, como mais uma "queridinha dos Estados Unidos", algo que acabou ocorrendo, porém, ninguém esperava que a atriz, um dia, embarcasse em um filme como este, no qual, claro, a atuação tinha que ser maior que a beleza. A composição feita pela atriz pode não ser majestosa, mas é simples e singela como tinha que ser. A atriz largou algumas firulas, cantou ao vivo e se entregou para interpretar June Carter. Mesmo que tenha contestações (afinal, Felicity Huffman, que também concorria à Melhor Atriz no mesmo ano,  estava esplêndida em "Transamérica", de 2005) é, sem sombras de dúvida, a melhor atuação da carreira da atriz. Ao primeiro olhar pode parecer que Reese tenha ganhado mais pela sua carreira "duvidosa" do que pela atuação em si, mas não consigo pensar em atriz melhor para June Carter. Uma boa e agradável surpresa. A própria June (que escolheu Reese pessoalmente) acertou em cheio.

por Alan Raspante

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Hilary Swank: "Menina de Ouro"



HILARY SWANK (30/07/1974 – Nebraska, Estados Unidos)
Primeiro filme: “Buffy – A Caça Vampiros” (1992)
Principais trabalhos: “Meninos Não Choram” (1999), “Insônia” (2002), “Menina de Ouro” (2004), “P.S. Eu Te Amo” (2007), “A Condenação” (2010).
Indicações ao Oscar: 2000 – Melhor Atriz: Meninos Não Choram – venceu || 2005 – Melhor Atriz: Menina de Ouro – venceu

Hilary Swank já tinha recebido um Oscar em 2000, pelo seu desempenho espetacular no drama “Meninos Não Choram” (1999). Sua interpretação de Brandon Teena, uma jovem que se passava por rapaz e realmente se sentia como homem, e cuja trajetória teve um fim trágico (o filme era baseado em fatos reais), foi dilacerante e impossível de ser ignorada pela Academia. Nos anos após sua vitória, contudo, a atriz se envolveu em alguns projetos medianos que não avançaram sua carreira. Mas ela surpreendeu com outro desempenho forte no drama de Clint Eastwood “Menina de Ouro” (2004), e foi premiada novamente em 2005.

Em “Menina de Ouro” ela vive Maggie Fitzgerald, uma aspirante a lutadora de boxe com o improvável sonho de ganhar o título mundial feminino. Ela trabalha como garçonete, já está velha para o esporte e ninguém quer treiná-la. Mas aos poucos ela vence a resistência do treinador durão Frankie Dunn, personagem de Eastwood. Aos poucos, essas duas pessoas tão sozinhas e necessitadas de conexão estabelecem uma relação praticamente de pai e filha, levada às últimas conseqüências na segunda metade do filme.

Hillary Swank dá vida a uma figura absolutamente real, alguém com quem possamos nos relacionar e comover – com certeza vimos, ou veremos, em nossas vidas, algumas Maggies no caminho. Sua força de vontade e a precisão do seu desempenho físico (ela treinou boxe para o filme e convence em cada cena) chamam a atenção e são captadas perfeitamente por Eastwood, na sua maneira habitualmente calma e contida. Mas o filme emociona e afeta bem mais que a maioria dos dramas do diretor (é um dos seus melhores trabalhos) graças à química entre ele e Hilary. O desempenho dela amolece o exterior de pedra dele, e o público não duvida disso em momento algum. Mais um merecido Oscar para esta fascinante atriz, que se dá melhor quanto mais forte for seu personagem.

por Ivanildo Pereira

sábado, 10 de novembro de 2012

Charlize Theron: "Monster - Desejo Assassino"



CHARLIZE THERON (07/08/1975 – Gauteng, África do Sul)
Primeiro filme: “Colheita Maldita 3” (1995, não-creditada)| Contato de Risco (1996)
Principais trabalhos: “Advogado do Diabo” (1997), “Doce Novembro” (2001) “Uma Saída de Mestre” (2003), “Monster – Desejo Assassino” (2003), “Terra Fria” (2005), “Hancock” (2008), “Jovens Adultos” (2011).
Indicações ao Oscar: 2004 – Melhor Atriz: Monster – Desejo Assassino – venceu || 2006 – Melhor Atriz: Terra Fria

Charlize Theron parecia já ter um destino traçado no início de sua carreira, afinal, é de conhecimento geral que dentro do cinema ou se é bonita demais ou talentosa demais. Não que isso seja uma regra exclusiva, até mesmo porque sabemos que existem (e existiram) atores e atrizes bonitos e talentosos. Acontece que Charlize possui uma beleza que chama a atenção, ou seja, poderia ser facilmente endeusada ou facilmente tachada como sexy symbol. Está certo que a atriz, de imediato, não quis mudar este pensamento, porém Charlize enxergou que precisava ir além para alcançar o status que almejava. Ela precisava mostrar que era mais que um rosto (e um corpo) bonito.

A atriz se envolveu em projetos interessantes e que foram sucesso de bilheteria ("Doce Novembro", "O Advogado do Diabo" e "The Wonders – O Sonho Não Acabou”, de 1996), porém, em nenhum deles a atriz possui um papel que realmente exigisse de si. Porém, este status acabou mudando quando a atriz decidiu protagonizar o filme "Monster - Desejo Assassino", filme difícil e que, claro, exigiria muito e em todos os sentidos. Sendo uma história conhecida pelos EUA, creio que tenha havido uma enorme curiosidade por parte de todos, afinal, era de conhecimento que a verdadeira assassina não tinha ares de modelo, ou melhor dizendo: Charlize era exatamente o oposto do perfil da personagem. Desafio aceito, Charlize entrou de cabeça para viver a protagonista.

Aileen sofreu abuso sexual na infância e na adolescência acabou virando garota de programa, porém, Aileen na verdade é lésbica e acaba se apaixonando perdidamente por Selby (vivida por Christina Ricci). Entre umas e outras, Aileen acaba se tornando uma serial killer. O caso é conhecido por ser uma das primeiras assassinas em série nos EUA. Portanto era de se esperar que em algum momento, Aileen ganharia as telas do cinema, já que a sua vida realmente daria um bom filme. Praticamente idêntica, Charlize engordou sofríveis 13 kg; utilizou uma prótese dentária e escureceu os dentes; adotou algumas manchas na pele; raspou as sobrancelhas e se livrou do seu jeito feminino. Charlize sofreu uma mudança drástica em cena.

Claro que esta singela mudança acaba virando notícias e ganhando olhares curiosos, mas o fato é que Charlize simplesmente não só mudou os seus maneirismos como também atuou de forma intensa e até mesmo insana. A caracterização contribuiu, mas a atriz, neste filme, mostrou um amadurecimento considerável e o seu talento praticamente desabrochou. Não foi simplesmente pelo aspecto visual, mas, Charlize, viveu a personagem em cena. Deste modo, o seu Oscar foi bem justificável, a meu ver. Isso sem contar que a atriz vem demonstrando um amadurecimento gradativo desde então.

por Alan Raspante

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nicole Kidman: "As Horas"



NICOLE KIDMAN (20/06/1967 – Honolulu, Estados Unidos)
Primeiro filme: Bush Christmas (1983)
Principais trabalhos: “Dias de Trovão” (1990), “Um Sonho sem Limites” (1995), “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (2001), “As Horas” (2002).
Indicações ao Oscar: 2002 – Melhor Atriz: Moulin Rouge – Amor em Vermelho || 2003 – Melhor Atriz: As Horas – venceu || 2011 – Melhor Atriz: Reencontrando a Felicidade

A australiana Nicole Kidman, desde os seus primeiros trabalhos, sempre foi um nome promissor. Muitas vezes angariada pelo casamento com o astro Tom Cruise, de quem se separou em 2000, a atriz parece viver à sombra do sucesso do marido, apesar de já ter muitas vezes se destacado em suas interpretações e, inclusive, sido reconhecida por isso, como é o caso do filme “Um Sonho sem Limites” (1995), que lhe rendeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia/Musical em 1996. No entanto, foi a partir de 2000 – coincidentemente depois do seu divórcio – que a atriz ruiva se tornou notória e, mais do que isso, conquistou o grande público devido ao apelo bastante popular dos filmes que estrelou. Somente na primeira metade da década passada, Kidman esteve recorrente nos grandes filmes: sejam eles aclamados pela crítica, pelo público ou, ainda, pelos dois – podemos citar: “Os Outros” (2001), suspense que se aparenta com “O Sexto Sentido” (1999), mas, apesar das semelhanças, guarda sua expressão própria; “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (2001), considerado como a reinvenção do gênero musical; “As Horas” (2002), drama aclamadíssimo de Stephen Daldry, que conta também com Meryl Streep e Julianne Moore; “Dogville” (2003), incursão da atriz na equipe do excêntrico e perturbador Lars Von Trier; “Reencanação” (2004), filme polêmico que trata questões bastante delicadas sobre a dialética vida-morte. A partir de 2005, uma série de más escolhas fez com que Kidman ficasse associada a filmes de gosto duvidoso e perdesse parte de sua credibilidade. Nosso foco, porém, é justamente o ano de 2002, quando a atriz participou da fita que lhe valeria seu único Oscar como Best Actress in a Leading Role.

Sua participação no filme de Stephen Daldry dura apenas 28 minutos – curioso notar que ela fica menos tempo em cena do que Julianne Moore (33 minutos), indicada na categoria de atriz coadjuvante. Contudo, apesar do pouco tempo, a atriz arrebatou os votantes com sua composição de uma Virginia Woolf bastante perturbada, cheia de questionamentos sobre o que vale mais entre viver numa prisão disfarçada ou morrer, mesmo que isso signifique matar-se. Como ela mesma diz num determinado momento, “é preciso que alguém morra para que os outros valorizem a vida” – e, ironicamente, como se sabe tanto pela História quanto pelo filme, a própria Virginia Woolf acabou se suicidando. Para compor uma personagem tão introspectiva e ensimesmada, voltada mais para os seus pensamentos, aflições e perturbações do que para o mundo ao seu redor, Nicole se afunila mais em olhares do que em gestos e seus olhos dizem mais que qualquer movimento seu ao longo de toda a trama. Sua interpretação se concentra nas suas expressões e no seu tom de voz, sendo eles toda a essência da transformação da atriz Nicole Kidman na personagem Virginia Woolf. Num primeiro momento, aliás, é bastante difícil enxergar uma na outra e isso não se deve apenas ao trabalho de maquiagem, bastante eficiente – se deve realmente ao envolvimento de uma atriz expansiva como Kidman numa personagem tão interiorizada quanto Woolf. Começo esse parágrafo citando justamente o tempo em cena da atriz a fim de fazer o seguinte contraste: apesar de efetivamente não aparecer no filme nem por ¼ de tempo de sua duração, a expressão de inquietude que refrange a personagem dura o tempo todo em nossa mente, mesmo quando estão as outras atrizes em cena. “As Horas” marcou a primeira vitória de Kidman, sendo que ela também havia sido nominada no ano anterior pelo musical comandado por Baz Luhrmann e seria ainda nominada em 2011 pelo trabalho “Reencontrando a Felicidade” (2010), de John Cameron Mitchell.

por Luís Adriano de Lima

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Halle Berry: "A Última Ceia"



HALLE BERRY (14/08/1966 – Ohio, Estados Unidos)
Primeiro filme: “Investimento Arriscado” (1991)
Principais trabalhos: “Os Flinstones – O Filme” (1994), “Politicamente Incorreto (1998), “X-Men” (2000), “A Última Ceia” (2001), “Frankie & Alice” (2010)
Indicações ao Oscar: 2002 – Melhor Atriz: A Última Ceia - venceu

O primeiro ano do século XXI para o cinema americano, especialmente na premiação do Oscar, 74ª edição, ficou marcado por algumas polêmicas extra-oficiais, que, particularmente, considero injustas. Digo isso (evidente que haverá discordâncias) porque muitos afirmaram que a AMPAS favoreceu as premiações de Denzel Washignton e Halle Barry para combinar com o prêmio honorário que seria dado a Sidney Poitier e assim, construírem uma espécie de cerimônia temática em homenagem a intérpretes afro-americanos, até então, nunca contemplados com o prêmio principal de atuação da cerimônia mais importante para o cinema ianque.

Polêmica e teoria da conspiração à parte, o que também não deixa de criar as caras lendas de bastidores que desde sempre povoaram o imaginário americano, assim como acredito que a vitória de Denzel Washington na categoria de Melhor Ator tenha sido justíssima, faço coro igualmente para a premiação de Halle Berry, por “A Última Ceia” (2001), como a Melhor Atriz da temporada. Talvez uma igualmente inspirada Nicole Kidman, por “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (2001) fosse uma concorrente também merecedora e em que todos apostavam. No entanto, definitivamente, a composição comovente e realística de Halle Berry para uma mãe que sofre as maiores agruras da vida (morte de marido e filho), e ainda assim acredita na volta por cima, de fato foi a melhor atuação entre as protagonistas femininas indicadas e também o supra-sumo de uma carreira com mais baixos do que altos.

Mesmo muitos citando o brilhante elenco coadjuvante (trabalhando em uníssono e que contava com o saudoso Heath Ledger, Billy Bob Thornton e Peter Boyle) como uma escada fantástica para o trabalho da protagonista, Halle Barry não deixa de ter seus momentos de competência particular, como na emocionante seqüência em que volta do funeral de seu filho ou mesmo na visceral cena em que se entrega de corpo e alma para o personagem de Bob Thornton. A atriz imprime veracidade absurda, impressionando pela imersão em sua personagem e, para mim, sua vitória não foi nenhuma surpresa, pelo contrário, foi esperada.

por Celo Silva

domingo, 4 de novembro de 2012

Julia Roberts: "Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento"



JULIA ROBERTS (28/10/1967 – Geórgia, Estados Unidos)
Primeiro filme: Firehouse (1987, não-creditada) | Satisfaction (1988)
Principais trabalhos: “Uma Linda Mulher” (1990), “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” (2000), “Closer – Perto Demais” (2004).
Indicações ao Oscar: 1990 – Melhor Atriz Coadjuvante: Flores de Aço || 1991 – Melhor Atriz: Uma Linda Mulher || 2001 – Melhor Atriz: Erin  Brockovich – Uma Mulher de Talento - venceu

O diretor Steven Soderbergh estava em alta no final dos anos 90 e, sempre imprevisível, resolveu dirigir um drama baseado na luta real de Erin Brockovich. No começo da década, Erin e sua pequena firma de advocacia encararam uma grande corporação que havia envenenado o suprimento de água numa pequena cidade, causando várias mortes e problemas de saúde. Foi um dos maiores processos da história recente americana contra uma corporação multibilionária, uma história que praticamente implorava para ser filmada. Soderbergh escolheu Julia Roberts, na época a maior estrela de cinema do mundo, para o papel de Erin, e a escolha mostrou-se acertada.

Erin era uma mulher sem classe, desbocada e ainda por cima mãe solteira na época em que os eventos reais ocorreram. Nunca foi advogada, mas sua determinação chamou a atenção da firma na qual trabalhava, e graças ao seu esforço investigativo o processo foi levado à sua conclusão. Para viver Erin, Julia Roberts se despe de qualquer glamour e demonstra um verdadeiro talento como atriz. Seu figurino chamativo, seu penteado e os palavrões que de vez em quando a personagem deixa escapar são instrumentos usados ao máximo por Julia, e sua atuação rapidamente desarma o espectador. Logo esquecemos estar vendo a mega-star, e passamos a prestar atenção apenas na sua personagem. A Erin Brockovich do filme é bem humorada (quase sempre), forte e decidida, verossímil a todo o momento.

Soderbergh também soube usar o carisma natural de Julia. Para o papel, ele realmente precisava de alguém capaz de conquistar as pessoas, e a experiência foi tão boa que eles acabaram trabalhando juntos novamente em outros filmes. O sorriso (e às vezes o decote) de Julia realmente ilumina a tela, mas acima disso vemos em “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” (2000) um inteligente e preciso desempenho de uma atriz muitas vezes subestimada. Muitos argumentam que o desempenho da concorrente Ellen Burstyn em “Réquiem para um Sonho” (2000) é mais ousado, difícil e o legítimo merecedor do prêmio, porém Julia Roberts tem neste filme o melhor momento de sua carreira e é a peça mais importante do filme. Por isso, sua vitória não parece descabida em momento algum.

por Ivanildo Pereira

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Melhor Atriz: Década de 2000



 

Uma mulher procurando um meio de sustentar os filhos esbarra num caso de envenenamento por cromo-6 e, enfrentando uma das maiores empresas dos Estados Unidos, ganha uma ação judicial no valor de U$333 milhões, o maior valor já pago como indenização. A segunda mulher é uma afro-americana que viu seu marido ser eletrocutado, seu filho obeso ser atropelado e morto e encontrou por acaso afeto nos braços surpresos do homem que executou seu marido. A terceira é conhecidíssima: grande escritora modernista cujo equilíbrio mental nunca se fez constante – o resultado foi seu suicídio em 1941. A quarta - tão real quanto a anterior – recebeu o célebre, porém negativo, título de “a primeira serial killer dos Estados Unidos”. A próxima da lista só queria arrumar um bom treinador que a tornasse uma boa lutadora e, ao conseguir isso, não apenas se tornou uma boxista notória como encontrou as ligações afetivas que sua família jamais lhe pôde oferecer. O sexto exemplo, também muito conhecida, é uma cantora country que se envolveu com outro cantor, resultando num dos casais mais icônicos da música norte-americana. A sétima mulher é uma rainha inglesa lidando com um episódio traumático do seu reinado. A oitava é um ídolo da música francesa. A nona decidiu que o cárcere seria menos embaraçoso do que assumir ser analfabeta e, por fim, a décima é uma americana cristã que, adotando um rapaz sem lar, eventualmente o tornou um grande astro do futebol americano. Essas mulheres são Erin Brockovich, Leticia Musgrove, Virginia Woolf, Aileen Wuornos, Margaret Fitzgerald, June Carter, Elizabeth II, Edith Piaf, Hannah Schmidt e Leigh Anne Tuohy, respectivamente.


A lista acima resume as dez personagens que renderam as estatuetas do Oscar às atrizes que foram premiadas em cada ano da primeira década do novo milênio e são, potencialmente, as atuações mais reconhecidas dessas atrizes. Só para conhecê-las, seguem os nomes na ordem de vitória e na ordem correspondente ao resumo de suas personagens: Julia Roberts, Halle Berry, Nicole Kidman, Charlize Theron, Hilary Swank, Reese Witherspoon, Helen Mirren, Marion Cotillard, Kate Winslet e Sandra Bullock. Quanto à categoria feminina de interpretação principal, isto é, a categoria de nome recente Best Performance by an Actress in a Leading Role, podemos afirmar duas coisas: 1) que a década de 2000 se marcou pelas personagens verídicas: das dez premiações, sete foram direcionadas a atrizes que viveram pessoas históricas – apenas em 2002, 2005 e 2009 que as personagens eram fictícias; 2) que a década passada foi marcada pela vitória de jovens atrizes que, salvo em 2005, jamais haviam sido premiadas anteriormente, independentemente de terem sido ou não indicadas. Vale ainda comentar foi uma década proeminente para as first-timers – as atrizes que jamais foram indicadas somam cinco, enquanto as outras cinco atrizes premiadas já haviam recebido nominações pelo menos uma vez ou, até, já tinham inclusive vencido o prêmio, como é o caso de Hilary Swank. Das atrizes estreantes que receberam o Oscar na sua primeira indicação, apenas uma – Theron – foi nominada outra vez e, acredito, nenhuma das vencedoras, mesmo as menos famosas do grande público, eram nomes verdadeiramente desconhecidos do grande público. Vamos, então, conhecer um pouco da trajetória de cada uma dessas atrizes.

 
Julia Roberts venceu em 2001 e já contava com duas indicações anteriores, sendo que a sua segunda indicação, considerada o seu grande breakthrough no cinema, é justamente por uma de suas personagens mais queridas: Vivian, de “Uma Linda Mulher” (1990)l. Indicada em 1990 por “Flores de Aço” (1989) e em 1991 pelo seu trabalho no filme em parceria com Richard Gere, Julia Roberts veio amadurecendo seu trabalho até ser reconhecida em 2001 como a atriz mais bem paga do cinema: dos U$55 mi gastos na produção de “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” (2000), U$20 mi foram para o bolso de Roberts, que acabou também levando o Oscar, não sem levantar polêmica quanto ao seu merecimento, já que cinéfilos se dividem entre sua interpretação e aquela concebida por Ellen Burstyn em “Réquiem para um Sonho” (2000). O ano seguinte, 2002, foi marcado pela vitória de Halle Berry, em sua primeira indicação, pela obra “A Última Ceia” (2001), e seu prêmio, independentemente da qualidade do filme ou da interpretação da atriz, eternizou-a: fez dela a primeira atriz negra a ser premiada na categoria principal de atuação feminina. Seu discurso de agradecimento é decerto um dos mais emocionados e sinceros, prestando uma homenagem singela não apenas às atrizes negras que a precederam na história do Oscar, mas também àquelas cujas vidas estão ligadas à história do cinema. Se, em 2002, Nicole Kidman foi nominada por “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” (2001) e assistiu a Halle Berry subir vitoriosa no palco, em 2003 foi a sua vez de ser aplaudida. Kidman foi premiada por sua interpretação como Virginia Woolf no filme “As Horas”, de Stephen Daldry; trata-se, aliás, de um marco nessa década: é a atriz que esteve menos tempo em cena – ela aparece apenas 28 minutos. Dessa lista de vencedoras, ela é a única atriz australiana já premiada e também a única que conseguiu nessa década ser nominada em dois anos consecutivos – e, só para constar, seria ainda nominada em 2011.


A estonteante sul-africana Charlize Theron se submeteu a uma maquiagem pesada que, diferentemente do nariz protético de Nicole Kidman em “As Horas”, realmente transformou-a numa figura bastante diferente. Aileen Wuornos, sua personagem em “Monster – Desejo Assassino” (2003), era uma mulher sem charme e sem modos pomposos, o que a tornava quase vulgar num desleixo despercebido. Theron, à época, tinha alguns filmes conhecidos, como “Advogado do Diabo” (1997) e “Jogo Duro” (2001), mas não era a grande estrela que se tornou depois de sua vitória, acontecida em 2004. Foi ainda nominada em 2006 nessa mesma categoria pelo filme “Terra Fria” (2005). A primeira metade da década se encerrou com a vitória de uma atriz que já havia previamente recebido um Oscar: Hilary Swank. Ela, aliás, jamais soube como é ser indicada sem vencer, uma vez que arrebatou os votantes tanto em 2000, quando competiu por “Meninos Não Choram” (1999), quanto em 2005, tendo competido por “Menina de Ouro” (2004). “A atriz dos papéis masculinizados”, como é conhecida, em referência às suas personagens mais famosas, Brandon Teena (um transgênero) e Margaret Fitzgerald (uma boxista), curiosamente venceu duas vezes Annette Bening, que competiu nos mesmos anos que Swank por “Beleza Americana” (1999) e “Adorável Júlia” (2004).


Depois de Roberts, Kidman e Theron, premiadas pelos retratos de personagens verídicas, foi a vez de Reese Witherspoon em 2006 conquistar seu espaço no Oscar e vencer como June Carter, esposa de Johnny Cash, no filme “Johnny e June” (2005). A loira era já conhecida do grande público, sobretudo por causa das comédias românticas de grande apelo cômico que vinham já há bastante tempo entretendo o espectador pouco exigente. Depois de Witherspoon, seguindo a linha das pessoas reais, venceu Helen Mirren, que interpretou ninguém menos que a Rainha Elizabeth II, que, segundo ela mesma, não assistiu ao filme – não, porém, por temer ver o trabalho de Mirren, premiada em 2007, mas por ser o episódio representado no filme um dos mais difíceis de sua vida. Mirren pode não ser uma atriz extremamente popular, mas já havia sido indicada duas vezes como coadjuvante – em 1995 e em 2002, respectivamente por “As Loucuras do Rei George” (1994) e “Assassinato em Gosford Park” (2001) – e seria ainda indicada mais uma como protagonista – em 2010, por “A Última Estação” (2009), ano em que Bullock venceu. Seu trajeto até o Oscar parecia garantido – só em Cannes a atriz foi ovacionada por cinco minutos, tendo os membros do júri ficado estarrecidos com seu desempenho. Em 2008, mais uma vez uma figura histórica: Edith Piaf, que foi personificada por Marion Cotillard em “Piaf – Um Hino ao Amor” (2007). A atriz francesa tornou-se a terceira intérprete premiada por uma atuação primordialmente em língua estrangeira ao inglês num filme cujo país produtor não é anglófono – o que, devemos observar, é um grande feito. Apesar de ter participado de filmes mais populares, como é o caso de “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003), Cotillard só se popularizou mesmo depois de sua premiação, quando os cinéfilos em sua maior parte voltaram seus olhos para o trabalho da atriz.


Por fim, chegamos às duas últimas atrizes que venceram na década de 2000: Kate Winslet, em 2009, e Sandra Bullock, em 2010. A atriz inglesa estava já há muitos anos vendo o prêmio ir parar nas mãos de outra atriz – concorrera em 1996, 1998, 2002, 2005 e 2007, respectivamente por “Razão e Sensibilidade” (1995), “Titanic” (1997), “Íris” (2001), “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004) e “Pecados Íntimos” (2006). Em 2009, enfim, apesar da natureza coadjuvante de sua personagem, foi indicada como Melhor Atriz e venceu a estatueta. Em seu discurso de agradecimento, atrapalhada e estupefata, revelou que sempre sonhou com aquilo e que, durante os banhos, fingia que o pote de xampu era o prêmio; naquele momento, porém, já não era mais uma brincadeira e o que estava na sua mão não era mais um pote de xampu – era finalmente o prêmio. Já Sandra Bullock, penso, seja a mais polêmica: sua vitória implicou uma série de desaprovações e críticas, não apenas pela composição simples da atriz, como também pelas atrizes que foram derrotadas por ela, como é o caso de Meryl Streep, competindo por “Julie & Julia” (2009) e Helen Mirren, pelo filme já citado. Contextualmente e em analogia, Bullock estava num momento parecido com o de Julia Roberts à época de sua vitória – ambas as atrizes vinham fomentando indubitável e consideravelmente a indústria cinematográfica e seus nomes significavam não apenas boa bilheteria como boas avaliações pelos críticos de cinema. Os cinéfilos, porém, não concordam e, passados dois anos, a vitória de Bullock é bastante repreendida.

Ao longo dessa década, como se notou pelo texto acima, nenhuma atriz venceu mais de uma vez, diferentemente do que aconteceu, por exemplo, na categoria masculina equivalente, na qual Sean Penn venceu em 2004 e em 2009. No entanto, curiosamente, o mesmo diretor conduziu duas atrizes a seus prêmios: tanto Nicole Kidman quanto Kate Winslet participaram de filmes de Stephen Daldry, que, aliás, jamais dirigiu um filme sem que houvesse pelo menos um intérprete nominado em categoria de atuação. E também, como se pressupõe, a vitória de atrizes americanas é predominante nessa década, correspondendo a 50% dos casos – Kidman, Theron, Mirren, Cotillard e Winslet são as estrangeiras, sendo, respectivamente, australiana, sul-africana, inglesa, francesa e, de novo, inglesa. A idade média de vitória é 36 anos, sendo Charlize Theron, com 28 anos, a atriz mais jovem premiada nessa década e Helen Mirren, aos 61 anos, a mais velha. Talvez a vitória mais oportuna tenha sido a Reese Witherspoon, que venceu o prêmio duas semanas antes de celebrar seus 30 anos de idade.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa: ao longo do mês de novembro a equipe do E o Oscar foi para... apresentará cada uma dessas atrizes e discutirá seus trabalhos, realizando no final do mês, como de costume, um parecer geral sobre a relevância dessa categoria para a história do Oscar e do cinema numa abordagem sincrônica e possivelmente comparativa.

por Luís Adriano de Lima