sábado, 27 de abril de 2013

O Lado Bom da Vida



O LADO BOM DA VIDA (Silver Linings Playbook, 2012, 122 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: David O. Russell
Roteiro: David O. Russell, baseado no romance homônimo (2008) de Matthew Quick
Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver, Julia Stiles, Chris Tucker, Anupam Kher, John Ortiz, Shea Wingham, Brea Bee.

Não é todo dia que conseguimos encontrar um projeto com tanta gente bacana envolvida.  Um diretor promissor, que caminha a passos largos para um futuro Oscar, um galã divertidíssimo, uma menina em estado de graça e dois veteranos de peso se juntam na maravilha que "O Lado Bom da Vida" (2012) tinha tudo para ser. De fato, o filme de David O. Russel tem um pé atolado na mesmice, mas o quarteto de atores é tão genuinamente bom, que a outra perna da obra se cobre de jóias brilhantes. Contudo, se o resultado final basicamente se traduz como um filme de atores, algumas das indicações ao Oscar parecem exageradas, enfiadas goela abaixo.

Indicado a incríveis 8 categorias do Oscar, “O Lado Bom da Vida” foi conquistando tímidos corações ao redor da Terra, dialogando tête-à-tête com cada um dos seus espectadores, que fascinados pela beleza e força dos atores, juntaram-se a um imenso conglomerado de fervorosos fãs do filme e da atriz Jennifer Lawrence, uma das protagonistas da obra.
 
O. Russel é um diretor realmente muito profundo, coerente com seus personagens e roteiro, sem contar que produz monstruosas personificações com um simples tatibitate no pé do ouvido de seus atores. E “O Vencedor” (2010), a maior prova de seu talento, David O. Russel levou uma legião de mentes duvidosas ao chão dirigindo Christian Bale, Amy Adams e Melissa Leo. Aqui não é diferente,
O. Russel tira o sangue do quarteto nessa edificante história sobre amor, loucura e confiança. Embora pareça que a carreira do diretor transite em círculos (e o próprio texto siga essa tendência), seu maior legado tem sido a direção de atores, absolutamente inquestionável.

A trama, que também tem roteiro escrito pelo diretor, segue os passos de Pat Solitano (Bradley Cooper, novo sexy symbol de Hollywood e em louvável apresentação), professor bipolar que, após flagrar a esposa com o amante e quase matá-lo, é internado numa clínica de recuperação. O personagem de Cooper revela-se um sujeito realmente adoentado pela própria condição mental, que ressurge em crises homéricas na hora dos questionamentos de mérito tão superficial ou simplesmente a partir de uma lembrança profundamente perturbadora. O problema de Pat é não reparar que o que lhe causa malefícios é justamente o que ele persegue.

Após voltar para casa dos pais, interpretados por Jacki Weaver e Robert De Niro (como há muito tempo não víamos, enchendo a cena), Pat conhece a depressiva Tiffany (Lawrence), que logo de cara se joga nas costas do sujeito. Tiffany perdeu o marido ainda muito jovem, mora no fundo da casa dos pais e se relaciona com todo tipo de homem, na esperança de se preencher finalmente. Quando as duas figuras trocam o primeiro olhar percebemos diferentes reações. Enquanto Pat vê apenas mais uma garota problemática, que pode dificultar sua reaproximação com a esposa, Tiffany se lança numa jornada de interesse próprio para redescobrir seu mundo. Isso, de fato, parece cair por terra no primeiro segundo, principalmente depois que Pat vê na garota uma potencial intermediadora entre ele e a ex-esposa e Tiffany vê seu parceiro num concurso de dança.

Se, por um lado o diretor desvenda seus personagens com o auxílio de um texto resplandecente, reproduzindo fantásticos diálogos entre seus personagens, do outro, O. Russel começa a levar todo seu trabalho pra um caminho de fácil percepção, onde surpresas são esquecidas e o caminho do "já vi isso antes" vai se tornando cada vez mais certo. Não há o que dizer da evolução das personas do texto, Pat e Tiffany são apaixonantes, mesmo na simpática insanidade que exala dos poros de Lawrence e Cooper, ou, até mesmo, quando vemos a relação de interesse se transformar num pulmão cheio de ar ao fim de anos enclausurados em suas respectivas mentes doentias. Encontrar a si mesmo e concretizar seu eu no mundo é a máxima de “O Lado Bom da Vida”, que vai juntando dança, futebol americano, pais com transtornos obesessivos, amigos com olhares de desconfiança e muita gente maluca num produto só. Recuperar a confiança em si mesmo e redescobrir esse lado bom da vida, mesmo que o resto do mundo desabe, será o desafio aceito por Pat e Tiffany.

Não é de hoje que eu digo que Jennifer Lawrence já é a nossa nova Meryl Streep, principalmente pela conciliação de grandes projetos envolvendo muito dinheiro com a suprema habilidade de estar extremamente envolvente em filmes menos visados. Depois do assombro em “Inverno da Alma” (2010), Lawrence conseguiu sua segunda indicação ao Oscar com sua prolixa Tiffany, dessa vez saindo vitoriosa do Kodak Theatre. Se Emmanuelle Riva era a grande atuação do ano, quem me explica esse Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence? Harvey Weinsten? Marmelada? Injustiça? Mesmo que tenha sido um prêmio infeliz, “O Lado Bom da Vida” explica minuciosamente qual é o encanto que Jennifer Lawrence emana.

INDICAÇÕES (1 vitória):
1. Melhor Filme: Bruce Cohen, Donna Gigliotti e Jonathan Gordon
2. Melhor Diretor: David O. Russell
3. Melhor Ator: Bradley Cooper
4. Melhor Atriz: Jennifer Lawrence – venceu
5. Melhor Ator Coadjuvante: Robert De Niro
6. Melhor Atriz Coadjuvante: Jacki Weaver
7. Melhor Roteiro Adaptado: David O. Russel
8. Melhor Edição: Crispin Struthers e Jay Cassidy


por Gustavo Pavan

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Lincoln



LINCOLN (Lincoln, 2012, 150 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner, baseado parcialmente na biografia Team of Rivals: The Political Genius Abraham Lincoln (2005), de Doris Kearns Goodwin.
Elenco: Daniel Day-Lewis, Tommy Lee Jones, Sally Field, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, Hal Holbrook, John Hawkes, Jackie Earle Haley, Bruce McGill, Tim Blake Nelson, Joseph Cross, Jared Harris, Lee Pace.

“Lincoln” (2012) de Steven Spielberg não é, a rigor, uma cinebiografia daquele que é considerado o maior de todos os presidentes americanos. O filme na verdade se concentra nos últimos meses do seu mandato em 1865, e a guerra civil já devastava o país há quatro anos. A guerra começou entre os Estados do Sul, agrário e escravocrata, e os do Norte, industrializado e desenvolvido. Quando o filme começa, o Norte (que representa a União) está próximo de ganhar a guerra sobre os estados revoltosos, e o presidente (interpretado por Daniel Day-Lewis) esforça-se para aprovar no congresso a 13ª emenda, para acabar com a escravidão de uma vez por todas. O problema é que poucos, além de Lincoln, queriam a emenda. Dentro do seu partido, o republicano, havia divisões; o partido rival, o democrata, era fervorosamente antiabolicionista. Lincoln precisava de mais 20 votos para fazer passar a emenda que mudaria a história do país, e para isso não hesitou em cooptar apoios, conceder empregos por baixo do pano e fazer alianças – ou seja, praticando a boa e velha “politicagem” tão conhecida em nosso país (e claro, sem se envolver diretamente).

Fazer “Lincoln” era um projeto antigo de Spielberg. O resultado final é o de um filme geralmente sóbrio para os padrões spielberguianos. Todos os aspectos da produção seguiram esse paradigma da sobriedade: a fotografia de tons frios; a trilha discreta de John Williams; os movimentos de câmera esparsos e pouco frequentes. Spielberg preferiu se concentrar no roteiro e filmá-lo de forma elegante e tranquila – o roteiro do filme, baseado em livros sobre Lincoln, foi escrito pelo renomado dramaturgo Tony Kushner, autor também do melhor filme do diretor na década passada, o ainda pouco reconhecido “Munique” (2005).

E a sua condução do elenco é exemplar. Ao longo do filme vemos um inacreditável grupo de atores, todos ótimos: Hal Holbrook, David Strathairn, John Hawkes, Jared Harris, James Spader, Joseph Gordon-Levitt, Sally Field e Tommy Lee Jones. Mas, por melhores que estejam os coadjuvantes, acima de todos paira a interpretação de Daniel Day-Lewis. É impressionante como, em todos os filmes dos quais participou, o ator sempre apareceu como uma pessoa completamente diferente, e em “Lincoln” vemos outro monumental trabalho de caracterização. Ele é tranquilo, enérgico quando precisa ser e até encontra o humor do personagem, transmitido nos “causos” frequentes que o presidente conta. Cada fala, cada inflexão, todos os movimentos e sua postura revelam a personalidade do personagem. “Lincoln” de Spielberg não deixa de “endeusar” o presidente, mas seus atos falam por si. Trata-se de um homem que viu um futuro melhor para o seu país, uma oportunidade para a sua sociedade evoluir e deixar para trás a mácula da escravidão. Ele teve essa visão e a perseguiu ferrenhamente, sem concessões.

INDICAÇÕES (2 vitórias):
1. Melhor Filme: Kathleen Kennedy e Steven Spielberg
2. Melhor Diretor: Steven Spielberg
3. Melhor Ator: Daniel Day-Lewis – venceu
4. Melhor Ator Coadjuvante: Tommy Lee Jones
5. Melhor Atriz Coadjuvante: Sally Field
6. Melhor Roteiro Adaptado: Tony Kushner
7. Melhor Fotografia: Januzs Kaminski
8. Melhor Direção de Arte: Jim Erickson e Rick Carter – venceu
9. Melhor Figurino: Joanna Johnston
10. Melhor Edição: Michal Kahn
11. Melhor Edição de Som: Andy Nelson, Gary Rydstrom e Ron Judkins
12. Melhor Trilha Sonora: John Williams


por Ivanildo Pereira

terça-feira, 23 de abril de 2013

As Sessões



As Sessões (The Sessions, 2012, 95 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Ben Lewin
Roteiro: Ben Lewin (com base no artigo escrito por Mark O’Brien)
Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Adam Arkin, Rhea Perlman, Robin Weigert, Rusty Schwimmer

Texto publicado originalmente no site Cinéfila por Natureza em 21 de fevereiro de 2013.

Baseado em uma história real, “As Sessões” (2012), filme escrito e dirigido por Ben Lewin, tem como personagem principal Mark O’Brien, que contraiu poliomielite aos seis anos e, em decorrência disso, perdeu os movimentos de seu corpo do pescoço para baixo e ficou dependente de uma máquina que ele chamava de “pulmões de aço” (que funcionavam como um pulmão artificial). Mark O’Brien também era um poeta e jornalista e a trama do filme, que foi baseada em um artigo de autoria do próprio O’Brien, segue uma de suas experiências mais pessoais, em que ele passou por um importante rito de passagem em sua vida.

No final da década de 80, quando Mark O’Brien (John Hawkes) tinha 39 anos, ele foi convidado por uma revista para escrever um artigo sobre os deficientes físicos e a sexualidade. Apesar de ter conversado com vários amigos também deficientes físicos sobre suas experiências nesta área, O’Brien pouco se sentia à vontade para falar sobre o assunto, pois ele mesmo nunca havia tido uma experiência sexual. Após se consultar com uma terapeuta sexual, Mark decide seguir o conselho dela e contrata Cheryl Cohen-Greene (Helen Hunt, em atuação indicada ao Oscar 2013 de Melhor Atriz Coadjuvante), uma espécie de conselheira sexual, alguém que orienta os pacientes com deficiência física a encontrarem a sua própria sexualidade, a se sentirem mais à vontade com a sua condição e poderem viver uma vida considerada normal, nesta área.

O título “As Sessões” se refere justamente aos encontros realizados entre Mark e Cheryl com o objetivo de cuidar do corpo dele, visando a plena satisfação sexual. Tendo em vista o tema principal do filme e o fato de que o roteiro se baseia na experiência que o próprio Mark O’Brien compartilhou com seus leitores, “As Sessões” poderia ser um longa em que existe uma exposição muito grande por parte não só das personagens, como também por parte dos atores que as interpretam. Entretanto, um fato louvável a se notar em relação ao trabalho de Ben Lewin na direção do filme é que ele trata a sexualidade de uma forma muito natural, sensível, bonita e respeitosa. Isso também é resultado direto da forma como Cheryl se comporta diante de seu paciente.

Por mais estranho que isso possa parecer, “As Sessões” é uma história de amor, mas principalmente é o relato do encontro de um homem (Mark O’Brien) consigo mesmo. Ao entrar em contato com seu lado mais íntimo, Mark vence seus próprios medos e os seus próprios sentimentos de culpa. Neste sentido, talvez, até mesmo, mais importante do que o encontro dele com Cheryl, é fundamental a presença do Padre Brendan (William H. Macy) na vida de Mark. É ele que dá o melhor conselho que o protagonista de “As Sessões” poderia ouvir: seja romântico. Ao fazer isso, ao não pensar demais sobre as coisas, Mark, não só dá uma chance a si mesmo, como também dá uma oportunidade para que toda uma nova porta se abra em sua vida.

INDICAÇÃO:
- Melhor Atriz Coadjuvante: Helen Hunt

por Kamila Azevedo

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Melhor Ator | Melhor Atriz



INDICADOS:
- Bradley Cooper por “O Lado Bom da Vida” (2012)
- Daniel Day-Lewis por “Lincoln” (2012)
- Denzel Washington por “O Voo” (2012)
- Hugh Jackman por “Os Miseráveis” (2012)
- Joaquin Phoenix por “O Mestre” (2012)

Assim como na categoria Melhor Atriz, apenas dois dos cinco indicados chegaram ao Oscar pela primeira vez. Pode-se dizer que essa categoria definitivamente foi marcada pela presença de atores maduros profissionalmente cujas carreiras estão consolidadas. Talvez o mais interessante seja observar a variedade presente na categoria no que tange às características dos personagens interpretados pelos atores nominados: um ex-professor de História tentando se reabilitar socialmente a fim de reconquistar sua esposa, encontrando, porém, um contraponto numa mulher tão complicada quanto ele (Cooper); um homem perseguido durante a Revolução Francesa que eventualmente enriquece (Jackman); um seguidor fiel e problemático do fundador da Cientologia (Phoenix); um piloto de avião cuja capacidade é posta em prova mesmo depois de ele ter salvado um avião de um desastre iminente (Washington); e, por fim, um dos mais conhecidos e importantes presidentes dos Estados Unidos (Day-Lewis). Ademais, essa é a categoria de atuação que apresenta o maior número de não-americanos nominados, sendo 46,4 anos a média de idade dos atores.

Comecemos por Bradley Cooper, que aos 37 anos é o mais jovem na categoria. A trajetória do ator se divide praticamente em trabalhos para a TV e para o cinema, dos quais podemos destacar a série televisiva “Alias – Codinome: Perigo” (2001-2006), da qual ele participou ao longo das seis temporadas e na qual o ator interpretou Will Tippin, melhor amigo de Sidney Bristow, personagem de Jennifer Garner. Além disso, destacando seus filmes mais conhecidos, pode-se citar “Idas e Vindas do Amor” (2010) e “Se Beber, Não Case!” (2009) e sua continuação, “Se Beber, Não Case! Parte II” (2011), títulos que definitivamente colocaram Bradley Cooper no gosto do público. Associado então aos filmes cômicos, coube ao ator a vaga para dar vida a Pat Solitano Jr., protagonista da tragicomédia romântica “O Lado Bom da Vida” (2012), que acabou por lhe render sua primeira nominação ao Oscar.

O outro estreante da noite, Hugh Jackman, já tinha conquistado fãs muito antes – tendo iniciado com participações em séries de TV em meados da década de 90, o ator começou o novo milênio fazendo-se notório como Wolwerine na adaptação dos quadrinhos “X-Men: O Filme” (2000), que rendeu duas continuações (2003, 2006), um spin-off (2009), um reboot (2011) e um filme a ser lançado em 2013. Além disso, o ator já havia interpretado Van Helsing em 2004, já havia trabalhado sob a direção de Darren Aronofsky em “A Fonte da Vida” (2006), de Christopher Nolan em “O Grande Truque” (2006) e Baz Luhrmann em “Austrália” (2009). Mas é bobagem pensar que o ator tinha prestígio apenas entre o público do cinema, afinal sua carreira também se estende às peças teatrais musicais, área na qual já foi até premiado com o Tony – troféu máximo do teatro –, e também às apresentações como host, tendo sido responsável três vezes por comandar a premiação do Tony (por uma delas, venceu o Emmy pelo seu trabalho) e, em 2009, ficou sob seu encargo a tarefa de comandar o Oscar, o que lhe rendeu muito elogios. Iniciante em indicações – que se deu ao interpretar Jean Valjean em “Os Miseráveis”, adaptação do romance de Victor Hugo –, o ator não era de modo algum iniciante em reconhecimento, seja por público ou crítica.


Indicado
Idade
País
Indicações pré-2013
Vitórias pré-2013
Lead
Supporting
Bradley Cooper
37
USA
0
0
0
Daniel Day-Lewis¹
55
ENG
5
0
2
D. Washington²
58
USA
3
2
2
Hugh Jackman
44
AUS
0
0
0
Joaquin Phoenix
38
PRC
1
1
0
¹ Daniel Day-Lewis era um de 9 atores que ganharam dois Oscars de Melhor Ator.
² Denzel Washington é um de 6 atores que ganharam em ambas as categorias masculinas de atuação.

Joaquin Phoenix surge com uma interpretação que definitivamente fez com que os cinéfilos se encantassem. Já nominados duas vezes anteriormente – a primeira como Melhor Ator Coadjuvante por “Gladiador” (2000) e a segunda como Melhor Ator por “Johnny e June” (2005) –, a parceria em “O Mestre” (2012) com Paul Thomas Anderson, outro querido dos cinéfilos, rendeu-lhe sua terceira nominação. Curiosamente, Daniel Day-Lewis, contra quem Phoenix competiu não apenas no Oscar, mas também em outras grandes premiações, disse numa oportunidade que a melhor interpretação masculina do ano pertencia a Phoenix. A Academia não concordou e coube ao ator, pois, apenas a indicação pelo seu trabalho como Freddie Quell, um homem que eventualmente conhece Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffman) e “A Causa”, tornando-se seguidor tanto do homem quanto de sua religião.

Os dois últimos nominados estão noutro patamar. Cooper e Jackman jamais haviam sido nominados e Phoenix já concorrera, sem, porém, vencer. Esses dois últimos se diferem justamente por já ter vencido – e, curiosamente, duas vezes. São também os mais velhos dentre os nominados nessa categoria. Além disso, com a indicação de um (Washington) e com a vitória do outro (Day-Lewis), ambos fizeram história no Oscar. 

Denzel Washington dispensa apresentações já que o ator é bastante popular no cinema, já tendo apresentado títulos que são sucessos de bilheteria e de crítica. Sua história no Oscar começa em 1988, quando foi indicado pela primeira vez na categoria de coadjuvante por “Um Grito de Liberdade” (1987), categoria na qual concorreria novamente em 1990, desta vez vencendo, por “Tempo de Glória” (1989). Suas indicações seguintes viriam todas na categoria principal pelos filmes “Malcolm X” (1992), “Hurricane: O Furacão” (1999) e “Dia de Treinamento” (2001) – vencendo novamente na última vez. Com 5 indicações até então, ele era – juntamente com Jack Lemmon, Kevin Spacey, Jack Nicholson, Gene Hackman e Robert De Niro – um dos pouco atores a ter vencido em ambas as categorias. Com sua indicação em 2013, somando 6 nominações, ele se tornou o ator afro-americano que mais competiu em categorias de atuação, saindo do empate no qual estava com Morgan Freeman (indicado em 1988, 1990, 1995, 2005 e 2010).

Daniel Day-Lewis não deve ser um nome tão popular quanto o de Washington. Apesar de a crítica e os cinéfilos apreciarem bastante o trabalho de Day-Lewis, o ator não é exatamente muito popular, sobretudo por ser bastante seleto na sua escolha. Uma amostra disso é a quantidade de filmes que faz. Considerando da década de 2000 em diante, o ator participou de apenas 5 títulos, tendo sido nominado por três deles. Venceu por “Meu Pé Esquerdo” (1989), na primeira vez em que concorreu; concorreu mais tarde outras duas vezes, por “Em Nome do Pai” (1993) e “Gangues de Nova York” (2002); na quarta oportunidade, venceu outra vez, por “Sangue Negro” (2007). E, tornando-se singular na história do Oscar, por seu desempenho como Abraham Lincoln no filme “Lincoln” (2012), tornou-se o primeiro e hoje único ator a ter três prêmios na categoria principal de atuação masculina.

 INDICADAS:
- Emmanuelle Riva por “Amor” (2012)
- Jennifer Lawrence por “O Lado Bom da Vida” (2012)
- Jessica Chastain por “A Hora Mais Escura” (2012)
- Naomi Watts por “O Impossível” (2012)
- Quvenzhané Wallis por “Indomável Sonhadora” (2012)

A categoria Melhor Atriz tinha duas atrizes novatas e três veteranas. Em relação às novatas – Wallis e Riva –, elas configuram momentos históricos na categoria: tratam-se, respectivamente, da atriz mais jovem e da atriz mais velha já indicadas; são também a mais nova e a mais velha dentre os 20 indicados. Em relação às atrizes veteranas, todas trazem no seu histórico apenas uma indicação anterior, sendo, portanto, relativamente “novas” no Oscar. Com faixa etária média de 39,2 anos, é também a categoria mais “jovem” das quatro de atuação. Nenhuma das atrizes indicadas venceu o prêmio anteriormente, sendo, pois, o prêmio inédito a qualquer uma que vencesse. As personagens são diversas: uma jovem viúva que perdeu o emprego por manter relações com todos e que eventualmente encontra um rapaz tão desequilibrado quanto ela (Lawrence); uma agente da CIA que dedicou os últimos onze anos de sua vida a procurar o Osama Bin Laden (Chastain); uma senhora afetada por uma doença que gradualmente vai morrendo (Riva); uma garota cuja realidade para ser assombrada pela necessidade de abandonar o local onde mora (Wallis); e uma mãe cujas férias são terrivelmente afetadas pelo tsunami que arrasou a costa tailandesa em 2004 (Watts). Ainda acerca da categoria como um todo, pode-se dizer que parte da surpresa ficou por conta da não-nominação de Marion Cotillard (por “Ferrugem e Osso”, 2012), que vinha sendo indicada em todos os prêmios relevantes como Globo de Ouro, SAG e BAFTA.

Indicada
Idade
País
Indicações pré-2013
Vitórias pré-2013
Lead
Supporting
Emmanuelle Riva
86
FRA
0
0
0
J. Lawrence
22
USA
1
0
0
Jessica Chastain
35
USA
0
1
0
Naomi Watts
44
ENG
1
0
0
Q. Wallis
9
USA
0
0
0

Curiosamente, duas das indicadas têm duas características em comum: a perda do protagonismo conforme a obra pela qual foram nominadas se desenvolve e isso se deve justamente às situações nas quais as suas personagens estão inseridas, e também o fato de não serem norte-americanas. 

Emmanuelle Riva é uma octogenária, musicista aposentada, cuja saúde fica abalada depois de um derrame; gradualmente, a mulher fica entravada na cama enquanto seu marido precisa lidar com a difícil situação na qual se encontra. Dado o roteiro, como se vê, a partir de um momento, a personagem de Riva esmaece, cabendo o foco ao seu marido. A atriz francesa jamais havia sido nominada, apesar do seu longevo trabalho como intérprete – para se ter noção, a atriz está ativa há mais de cinqüenta anos, sendo alguns dos seus filmes mais conhecidos “Hiroshima, Meu Amor” (1959), Léon Morin, prêtre (1961), La Passion de Bernadette (1989) e “A Liberdade É Azul” (1993). Aos 85 anos, fez história ao seu tornar a atriz mais velha já indicada na categoria Melhor Atriz, superando os 80 anos que Jessica Tandy tinha à época de sua nominação e vitória por “Conduzindo Miss Daisy” (1989).

A segunda atriz em situação semelhante à de Riva é Naomi Watts, que havia sido indicada anteriormente na mesma categoria em 2004 pelo seu desempenho em “21 Gramas” (2003). Como Maria Bennett, a atriz dá vida a uma personagem que presencia os tsunamis de 2004 e que é literalmente arrastada, ferida, cortada. Com tanta dor no primeiro terço do filme – momento em que o foco narrativo está nela –, a personagem some um pouco depois de modo que a câmera foque o resto de sua família. Além desse detalhe em relação à sua personagem, Watts é, como Riva, a estrangeira da categoria. Se Riva é uma atriz que precisa de apresentações para o público geral, Watts as dispensa, afinal, todos conhecem seus trabalhos, em especial os títulos “Cidade dos Sonhos” (2001), o remake “O Chamado” (2002), a comédia de David O. Russel “Huckabees – A Vida É uma Comédia” (2004) e a obra ultraviolenta de Michael Haneke “Violência Gratuita” (2007). Como curiosidade, vale apontar que Watts já trabalhou com dois diretores cujos trabalhos em 2012 renderam indicações a duas de suas concorrentes (Lawrence e Riva).

Quvenzhané Wallis foi a grande surpresa na lista. Especialmente pelo fato de que ela tem apenas 9 anos, tornando-se a atriz mais jovem a ser indicada, posto antes ocupado por Keisha Castle-Hughes, nominada em 2004 (competiu com Naomi Watts) por “Encantadora de Baleias” (2003). Não é apenas a mais jovem, mas é também uma das poucas intérpretes afro-americanas nominadas na categoria (apenas a décima em 85 anos de premiação). A indicação de Wallis, no entanto, é muito mais ousada, já que esse filme se trata, na verdade, do primeiro trabalho como atriz da garota. Mas a coisa vai além: apesar de o filme ter sido liberado em 2012, ele foi rodado em 2009 – Wallis completou 6 anos durante as filmagens. Retomando: a atriz foi nominada aos 9 anos, tornando-se a mais jovem da história, por uma obra realizada quando ela tinha 6 anos!

As duas últimas são aquelas em quem recaíam as expectativas. Empataram no Globo de Ouro quando recebeu cada uma o prêmio na respectiva categoria – uma como Melhor Atriz em Drama e a outra como Melhor Atriz em Comédia e/ou Musical. 

Jennifer Lawrence teve sempre um advento engraçado para acompanhar suas vistorias: o vestido rasgado no Globo de Ouro e o tropeço desafortunado no Oscar. Ela, que em 2010 se tornou a segunda atriz mais jovem nominada (sendo Castle-Hughes, à época, a primeira) devido à sua indicação por “Inverno da Alma” (2009), acabou se tornando em 2013 a segunda atriz mais jovem a receber o prêmio, ficando apenas atrás de Marlee Matlin por “Filhos do Silêncio” (1986). Seus filmes mais famosos, além daquele pelo qual foi anteriormente nominada, são “X-Men: Primeira Classe” (2011) e “Jogos Vorazes” (2012), sendo que a carreira jovem da atriz é bastante marcada por filmes independentes.

A última nominada é aquela cujo nome o público do cinema não conhecia em 2009, mas que se fez notar em 2010, ano em que participou de 3 filmes, e obrigou todos a verem-na em 2011, estando no elenco de 6 títulos lançados comercialmente. Jessica Chastain vem recebendo boas críticas e conquistando admiradores e isso talvez se deva ao ritmo veloz com que trabalha. “No Limite da Mentira” (2010), “O Abrigo” (2011) e “A Árvore da Vida” (2011) são possivelmente seus trabalhos mais chamativos, mas foi por “História Cruzadas” (2011) que a atriz recebeu sua primeira nominação, que ocorreu na categoria de coadjuvante. Pelo seu trabalho com Kathryn Bigelow, agora aficionada pela Inteligência americana e suas histórias marcantes, Chastain recebeu sua segunda indicação por “A Hora Mais Escura” (2012) interpretando uma mulher cuja vida foi dedicada a uma busca que, em dado momento, parecia não mostrar frutos. Apesar de não ter vencido o Oscar, um dos melhores discursos já realizados numa cerimônia, nesse caso o Globo de Ouro, é seu.

por Luís Adriano de Lima