sábado, 6 de abril de 2013

Melhor Ator Coadjuvante | Melhor Atriz Coadjuvante



INDICADOS:
- Alan Arkin por “Argo” (2012)
- Christoph Waltz por “Django Livre” (2012)
- Philip Seymour Hoffman por “O Mestre” (2012)
- Robert De Niro por “O Lado Bom da Vida” (2012)
- Tommy Lee Jones por “Lincoln” (2012)

A categoria Melhor Ator Coadjuvante curiosamente traz duas novidades na sua composição: todos os atores já haviam concorrido anteriormente e, coincidência maior, todos eles já haviam ganhado pelo menos um prêmio anteriormente. Os números dessa categoria são interessantes de se analisar: 62,5 é a média de idade, fazendo com que essa seja a categoria mais “velha” dentre as 4 de atuação; as indicações anteriores dos nominados em 2013 somam 16, logo é a maior soma dentre as categorias; diferentemente das categorias de atuação principal (seja masculina ou feminina), há apenas um ator que não é dos Estados Unidos. Um dentista caçador de tesouros, um diretor debochado, o fundador da Cientologia, um pai supersticioso e um político abolicionista constituem os personagens pelos quais os atores foram nominados. A tabela abaixo mostra um pouco de suas trajetórias no Oscar:

Indicado
Idade
País
Indicações pré-2013
Vitórias pré-2013
Lead
Supporting
Alan Arkin
78
USA
2
1
1
Christoph Waltz
56
AUT
0
1
1
Philip S. Hoffman
45
USA
1
2
1
Robert De Niro
69
USA
5
1
2
Tommy Lee Jones
66
USA
1
2
1

Comecemos justamente pelo vencedor: o austríaco Christoph Waltz, ator que conquistou Hollywood com “Bastados Inglórios” em 2009 e venceu seu primeiro prêmio em 2010, pelo filme recém-citado, também de autoria de Quentin Tarantino. A vitória de Waltz, único não-americano da lista, significou duas coisas muito peculiares: o ator se tornou o quarto intérprete a vencer dois prêmios por filmes digiridos pelo mesmo diretor (depois de Walter Brennan, em 1937 e 1941, Dianne Wiest em 1987 e 1995, e Jack Nicholson em 1984 e 1998); e o ator também se tornou o sétimo intérprete a conquistar dois prêmios em duas indicações, significando que ele foi mais de uma vez à cerimônia como indicado e nunca soube o que é perder. Vale ressaltar que, sendo o sétimo a conseguir tal proeza, o ator atualmente é um de seis atores a ter sido nominado duas vezes e ter vencido em ambas, ainda que dessa vez, apesar de nominado como coadjuvante, o ator é na verdade protagonista da trama.

Philip Seymour Hoffman está há bastante tempo em atividade como ator. De 1991, data de sua estreia, até hoje, o ator participou de cerca de 60 títulos, desde filmes como protagonista ou como coadjuvante até participações em séries de TV. A Academia, porém, somente o percebeu em meados da década passada, quando o nominou e o premiou pelo seu trabalho como lead em “Capote”  (2005), de Bennet Miller. O ator de 45 anos – o mais novo dentre os indicados -  recebeu mais duas nominações (ambas como Melhor Ator Coadjuvante): em 2008, pelo filme “Jogos do Poder” (2007) e em 2009 pelo filme “Dúvida” (2008), no qual esteve com Amy Adams, sua parceria em “O Mestre” (2012), obra pela qual foi nominado esse ano.

Afastado há 21 anos das listas de indicação, Robert De Niro é, dentre os intérpretes masculinos nominados nas duas categorias de atuação, o que estava num maior hiato desde sua última indicação. Já com dois prêmios, é sabido que a Academia tem apreço pelo trabalho do ator, que já trouxe personagens marcantes para o cinema. Pat Solitano Sr., de “O Lado Bom da Vida” (2012), foi a oportunidade de De Niro ser visto com olhos mais positivos novamente. Rever as indicações do ator nos faz voltar à década de 70, quando ele começou a ser nominado: na categoria de coadjuvante, antes de 2013, só fora nominado uma vez, sua primeira, que se deu pelo filme “O Poderoso Chefão – Parte II” (1974), interpretando justamente Vito Corleone, personagem que, devido à primeira parte, já havia rendido o prêmio a outro ator, no caso Marlon Brando; depois só foi indicado como Melhor Ator: “Taxi Driver” (1976), sua primeira parceria nominada com Martin Scorsese; “O Franco-atirador” (1978), de Michael Cimino; então “Touro Indomável” (1980), outra vez com Scorsese, pelo qual venceu; depois por “Tempo de Despertar”, de Penny Marshall; e, finalizando suas indicações, por “Cabo do Medo” (1991), terceira atuação nominada por um filme de Scorsese.

Se De Niro é o que estava há mais tempo sem ser nominado, Alan Arkin é o que foi indicado pela primeira vez há mais tempo e também o mais velho, dentre todos os intérpretes – masculinos e femininos. “Argo” (2012) e a piada argofuck-yourself trouxeram imenso buzz, resultando na nominação do ator veterano, cuja primeira vez no Oscar data de 1967, quando foi indicado como Melhor Ator por “Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando!” (1966), comédia de guerra de Norman Jewison; na mesma categoria, foi indicado pela segunda vez em 1969 pelo filme dramático “Por Que Tem de Ser Assim?” (1968). Experimentou um hiato de 38 anos entre sua segunda e terceira nominação, que veio em 2007 junto com o prêmio pelo filme “Pequena Miss Sunshine” (2006) como ator coadjuvante.

Por fim, o último nominado é Tommy Lee Jones, outro ator veterano que, assim como Hoffman e Arkin, chega em 2013 à sua 4ª nominação. O ator de aparência rabugenta – muitos dos seus filmes fazem questão de frisar isso: “MIB” (1997) e “Um Divã para Dois” (2012), por exemplo – já havia sido indicado duas vezes como Melhor Ator Coadjuvante pelas obras “JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar” (1991), de Oliver Stone, e “O Fugitivo” (1993), pelo qual venceu; na categoria Melhor Ator, concorreu em 2008 pelo filme “No Vale das Sombras” (2007).

Talvez seja essa a categoria que mais apresentou possibilidade de vitória para atores, já que em cada grande premiação um deles venceu: Jones venceu o SAG Awards; Waltz, o BAFTA e o Globo de Ouro; Hoffman, o Critic’s Choice Awards – mesmo os que ainda não haviam vencido – Arkin e De Niro – poderiam chegar ao Oscar e surpreender com uma vitória, o primeiro devido ao grande apelo que “Argo” vinha conquistando e o segundo devido à relação de amor que há entre os votantes e ele.

 INDICADAS:
- Amy Adams por “O Mestre” (2012)
- Anne Hathaway por “Os Miseráveis” (2012)
- Helen Hunt por “As Sessões” (2012)
- Jacki Weaver por “O Lado Bom da Vida”  (2012)
- Sally Field por “Lincoln” (2012)

Em comum com a categoria masculina correspondente, todas as nominadas já haviam concorrido antes, seja nessa categoria ou na principal; de todas, porém, apenas duas delas – Field e Hunt – já haviam ganhado o prêmio. As atrizes somam 8 indicações anteriores e 3 prêmios e a média de idade é 49,6 anos, uma média alta, principalmente considerando que a Academia usualmente apresenta nomes de atrizes jovens cujo breakthough se deu pelo filme por que foram nominadas. Uma terapeuta sexual, a esposa de um famoso presidente, uma esposa manipudora, uma mulher prostituída na França do século XIX e uma mãe afável são as personagens interpretadas pelas atrizes.

Indicada
Idade
País
Indicações pré-2013
Vitórias pré-2013
Lead
Supporting
Amy Adams
38
USA
0
3
0
Anne Hathaway
30
USA
1
0
0
Helen Hunt
49
USA
1
0
1
Jacki Weaver
65
AUS
0
1
0
Sally Field
66
USA
2
0
2

Comentando sobre Christoph Waltz, o vencedor da categoria masculina correspondente, citei que ele, apesar de ser o sétimo ator a conquistar a estatueta em ambas as vezes nas quais concorreu, é atualmente um de seis atores a ser nominado duas vezes e vencer duas vezes. Essa disparidade nos números do ator (já que foi o sétimo, deveria ser um de sete intérpretes) se deve justamente à presença de Sally Field na lista de indicações das atrizes coadjuvantes. 

A atriz concorreu em 1980 e 1985 ao Oscar, ambas as vezes na categoria Melhor Atriz, tendo vencido tanto pelo seu desempenho em “Norma Rae” (1979) como pelo seu desempenho em “Um Lugar no Coração” (1984), o que a colocou no seleto grupo de atores ao qual Waltz se juntou esse ano. No entanto, em 2013, com sua terceira indicação, que veio pela interpretação de Mary Todd Lincoln, esposa do presidente Lincoln, Field saiu do grupo, já que a sua terceira indicação não resultou em vitória, tirando-a, portanto, do grupo do que tiveram 100% de aproveitamento em mais de uma indicação. Apesar do seu sucesso no cinema em décadas passadas – a atriz participou, além dos filmes já citados, de “Flores de Aços” (1989), “Uma Babá Quase Perfeita” (1993) e “Forrest Gump – O Contador de Histórias” (1994) –, Sally Field se dedicou durante a última década à TV, participando como convidada da série “Plantão Médico” (2000-2006) e como atriz regular de “Brothers and Sisters” (2006-2011), pelo qual conquistou nominações e prêmios. Apesar de não ser a escolha primeira de Spielberg para a personagem, Field, que lhe pediu uma audição, conquistou a simpatia do diretor e também uma nominação.

A indicação de Jacki Weaver talvez seja a mais polêmica dentre as indicadas, sobretudo porque a atriz tem pouco tempo em cena no filme pelo qual concorreu – “O Lado Bom da Vida” (2012) – e, diferetemente dos outros atores em cena, também não tem muitas chances de desenvolver sua personagem. A atriz completa a façanha honrável de pelo menos uma indicação por categoria de atuação, algo que não acontecia há 21 anos. A única estrangeira aos Estados Unidos da lista já havia sido nominada em 2011 na mesma categoria pela obra “Reino Animal” (2010). A atriz australiana não tinha grande destaque na mídia até a época de sua primeira nominação, tendo participado, devido à sua preferência pelo teatro, esparsamente em títulos televisivos e em filmes de seu país.

Uma das mais jovens indicadas é, curiosamente, a mais veterana da categoria: Amy Adams. A atriz nascida na Itália de pais estadunidenses (eles serviam o país à época do nascimento de Adams) surgiu no cinema em filmes de pouca visibilidade, seja para o público, seja para a crítica. Foi “Segundas Intenções 2” (2000), lançado diretamente em vídeo, que a colocou efetivamente no foco, apesar da má recepção do filme pelos críticos. Foi “Retratos de Família” (2005), um filme independente e bem diminuto, que fez a Academia olhar para Adams e indicá-la a primeira vez. Eficiente na função de coadjuvante, a atriz recebeu outra indicação por “Dúvida” (2008) e, mais uma vez, por “O Vencedor” (2010), não tendo vencido nenhuma ainda. Chega, então, em 2013 à sua quarta nominação pela interpretação como a esposa calculista de Lancaster Dodd, o fundador da Cientologia. Rumores dizem que seu prêmio virá pela sua performance como Janis Joplin na cinebiografia da cantora; outros rumores dizem que ela será a nova Thelma Ritter.

Em relação à sua função real na história, Helen Hunt está para essa categoria assim como Waltz estava para a dele – ela é notadamente protagonista da história, cujo foco se divide entre o personagem de John Hawkes e o seu. Hunt, apesar de já ter inclusive ganhado um Oscar como atriz principal por “Melhor É Impossível” (1997) e ter participado de outros filmes conhecidos, dentre eles “Twister” (1996) e “Do Que as Mulheres Gostam” (2000), é mais conhecida pela sua participação na série cômida “Louco por Você” (1992-1999), que lhe rendeu 6 indicações ao Globo de Ouro de Atriz Cômica. A atriz está um pouco afastada do cinema: para se ter uma ideia, desde 2000, ela participou de apenas 10 títulos.

A vencedora da categoria chegou lá sabendo que venceria: Anne Hathaway, pelo seu desempenho como Fantine, uma moça que foi à prostituição como forma de sustentar a filha, vinha ganhando todos os prêmios nos quais concorria, fazendo com que sua vitória no Oscar fosse esperada – de certo modo, seria surpreendente se fosse outra concorrente a levar o prêmio. Hathaway, a mais nova das nominadas, começou sua carreira como contratada da Disney no filme “O Diário da Princesa” (2001), passou pela série “Caia na Real” (1999-2002), voltou para a Disney em “O Diário da Princesa 2” (2004) e se desvencilhou totalmente da imagem juvenil a partir de meados da década passada, tendo estrelado “Garotas sem Rumo” e “O Segredo de Brokeback Mountain”, ambos de 2005. Ganhou visibilidade maior em momentos cômicos pelos filmes “O Diabo Veste Prada” (2006) e “Agente 86” (2007) e chegou ao Oscar na categoria principal em 2009 pelo seu desempenho na obra “O Casamento de Rachel” (2008), interpretando uma viciada em reabilitação. Demonstrou nesse mesmo ano que tinha habilidades impressionar ao cantar e pôde fazê-lo no filme pelo qual concorreu e venceu em 2013, “Os Miseráveis”.

por Luís Adriano de Lima

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