domingo, 7 de abril de 2013

As Aventuras de Pi



AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi, 2012, 127 min)
Produção: Estados Unidos | Taiwan
Direção: Ang Lee
Roteiro: David Magee, baseado no romance homônimo (2001) de Yann Martel
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Ayush Tando, Gautam Belur,  Adil Hussain, Tabu, Vibish Sivakumar, Rafe Spall.

Pi era um jovem indiano em busca de um sentido para a sua existência. A história dele poderia perfeitamente começar com um “era uma vez...”, pois ao entrarmos no cinema para assistir a “As Aventuras de Pi” (2012) estamos embarcando no território das fábulas. O próprio Pi, já adulto (Irrfan Khan), conta sua história a um escritor (Rafe Spall). Desde criança, Pi – abreviatura de “Piscine”, um nome que lhe rendeu muitos problemas na infância – busca nas religiões uma explicação, de forma até engraçada (ele acreditava em várias ao mesmo tempo). Sua busca contrasta com a visão pragmática do seu pai, para quem “religião é treva”. Mas sua mãe, uma pessoa espiritualizada, o encoraja. O pai de Pi administra um zoológico, mas circunstâncias os forçam a vender os animais e transferi-los para outro país. No trajeto, o barco onde eles viajam naufraga em meio a uma tempestade, e o Pi adolescente (Suraj Sharma) se vê à deriva no oceano num bote salva-vidas na companhia do mais temido animal do zoológico, o tigre de Bengala batizado curiosamente de “Richard Parker”. O filme é baseado no livro de sucesso de Yann Martel.

Ang Lee é o cineasta dos personagens em conflito com o meio onde vivem, como visto nas suas obras mais famosas, os excelentes “O Tigre e o Dragão” (2000) e “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005). Aqui não é diferente.  Desta vez, ele conta uma história claramente alegórica, na verdade uma parábola, sobre alguém que descobre dentro de si a força para se encontrar no mundo. E o diretor o faz abraçando ao máximo a característica fantasiosa da sua história, transformando “As Aventuras de Pi” num verdadeiro espetáculo visual. Os efeitos especiais e visuais necessários à história são absolutamente perfeitos. Os animais feitos em computação gráfica interagem de maneira completamente realista com o cenário e o protagonista humano. Richard Parker é feito em computação e um tigre real aparece apenas nas cenas em que o animal é visto nadando. E o 3D do filme é o melhor uso dessa ferramenta por um cineasta desde “A Invenção de Hugo Cabret” (2011) de Martin Scorsese. Nessa história de tons fantasiosos, o uso do 3D é não apenas justificado, mas torna-se um item a mais para adicionar esplendor na concepção visual deste universo fantástico.

Mas é poderosa alegoria sobre crenças que fica com o espectador ao final do filme. A jornada de Pi é uma parábola na qual se pode acreditar ou não. Embora para ele represente a crença em Deus, pode também representar a crença no poder da fantasia, na capacidade dela de nos explicar conceitos abstratos e complicados de forma simples. E a fantasia muitas vezes é usada para dar sentido às nossas experiências – esta parece ser a verdadeira lição de “As Aventuras de Pi”. Você não precisa necessariamente chegar à mesma conclusão que o narrador, mas ele realmente conta essa história muito bem. A história é o mais importante em “As Aventuras de Pi”, e é um conto universal. Afinal, também estamos presos dentro de nossos próprios barcos, enfrentando nossos tigres particulares.

INDICAÇÕES (4 vitórias):
1. Melhor Filme: Ang Lee, David Womark e Gil Netter
2. Melhor Diretor: Ang Lee – venceu
3. Melhor Roteiro Adaptado: David Magee
4. Melhor Fotografia: Claudio Miranda – venceu
5. Melhor Direção de Arte: Anna Pinnock e David Gropman
6. Melhor Edição: Tim Squyres
7. Melhor Edição de Som: Eugene Gearty e Philip Stockton
8. Melhor Mixagem de Som: Doug Hemphill, Drew Kunin e Ron Barlett
9. Melhores Efeitos Visuais: Bill Westenhofer, Donald Elliot, Erik De Boer e Guillaume Rocheron – venceu
10. Melhor Trilha Sonora: Michael Danna – venceu
11. Melhor Canção Original: Pi’s Lullaby, de Bombay Jayarish e Michael Danna

por Ivanildo Pereira

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