RAIN MAIN (Rain Man, 1988, 133 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Ronald Bass e Barry Morrow
Elenco: Dustin Hoffman, Tom
Cruise, Valeria Golino, Gerald R. Molen, Jack Murdock, Michael D. Roberts,
Ralph Seymour, Lucinda Jenney, Bonnie Hunt.
Até mesmo antes das estatuetas que conquistou na edição do
Oscar de 1989 (entre elas, Melhor Filme), “Rain
Man” (1988), dirigido pelo americano Barry Levinson, costuma ser mais
lembrado por ser uma das primeiras obras midiáticas a tocar na temática do
autismo. Curiosamente, esse é um assunto que continua em voga no século XXI.
Certo que a doença não era uma novidade no fim dos anos oitenta, mas como tema
pouco comentado por mídia, a população também era deveras leiga no assunto.
Essa sensação de ignorância fica evidente em uma particular cena, quando uma
enfermeira de uma cidade pequena, pergunta ao personagem de Tom Cruise, o yuppie Charlie Babbitt, se seu irmão
Raymond Babbitt (Dustin Hoffman) era um artista, confundindo os termos autist e artist.
Apesar de Dustin Hoffman ter sido agraciado com o prêmio
de Melhor Ator pela interpretação do já citado Raymond Babbitt, “Rain Man” não
deixou de ser alvo de duras críticas. As principais partiam de estudiosos e
familiares de pessoas com autismo, que consideravam o personagem de Hoffman
apenas caricato, com pouca profundidade. Entretanto, polêmicas à parte, deve-se
ressaltar que em sua temporada (1988), “Rain Man” de fato foi uma das
realizações de maior destaque. Em uma revisão atual, o filme não parece ter
envelhecido tão mal como outros do mesmo ano. A química em cena de Cruise e
Hoffman continua cativante e aliada ao roteiro simples, mas eficiente, da dupla
Ronald Bass e Barry Morrow, ainda se visiona fácil à mesma emoção singela de
outrora.
Na trama, Charlie Babbitt, sujeito ganancioso, meio
inescrupuloso, recebe a notícia da morte de seu pai, a quem não vê um bom tempo.
Ao lado de sua namorada Susanna (Valeria Golino), Charlie decide ir ao enterro.
Na leitura da herança, o rapaz tem a surpresa de descobrir que seu velho lhe
deixou apenas um carro antigo (o criador da desavença entre ambos) e uma muda
de umas roseiras premiadas. A suntuosa residência, assim como os três milhões
de dólares em conta, iria para um fundo privado, com um beneficiário misterioso.
Claro que Charlie não se detém até descobrir quem era esse sujeito que tinha
lhe arrancado a sua legitima, que achava ser sua por direito. Após alguma
investigação, descobre que o responsável pela conta é o Dr. Bruner (Gerald R.
Molen), diretor de um lar para pessoas especiais.
Como por acaso ou destino (o filme brinca com isso),
Charlie encontra o verdadeiro beneficiário do montante: o autista Raymond, que
para seu espanto, também é seu irmão. Um irmão bem mais velho, que seu pai fez
questão de esconder a existência. Esse mistério torna-se um dos alicerces da
trama e o motivo será mostrado posteriormente em uma cena bem especial. De olho
na grana, Charlie arruma uma maneira de roubar Raymond da instituição e levá-lo
em uma jornada até Los Angeles, onde pretende arrumar um advogado para dar um
jeito de “beliscar” uma parte daquele dinheiro. No entanto, a maneira
programada como Raymond leva a vida, conseqüência de sua doença, impõe à viagem
diversos percalços, como assistir seus programas de TV prediletos no horário
certo, comidas específicas, sempre com palitinhos, e a opção por nunca entrar
em um avião.
Essa última característica de Raymond obriga a dupla de
irmãos a encarar uma longa viagem de carro, trazendo assim para “Rain Man” uma
pegada de road-movie. Particularmente, também me remeteu a filmes americanos dos
anos 70, principalmente aos do movimento conhecido como New Hollywood. Guardadas
as devidas proporções em pretensões e temáticas, o trabalho de Barry Levinson,
tal como os setentistas, traz cenas de um EUA interiorano, aquele que não
costuma ser mostrado na TV, o das famílias simples e locais bucólicos. Um
exemplo disso é a seqüência onde Charlie pede em uma casa para eles entrarem e
assistirem a um dos programas prediletos do irmão ou mesmo ainda nas constantes
paradas em hotéis e restaurantes de beira de estrada. Em um deles, o rapaz
descobre o dom bem particular do seu irmão: a imensa capacidade de contar e
memorizar.
Empreiteiro por natureza, Charlie vê nesse dom a
oportunidade de levantar um dinheiro nos cassinos e assim saldar as dívidas que
deteve com a importação de alguns carros. Esse momento do filme, além de ser o
mais divertido, serve para dar o tom dos sentimentos que começam a aflorar em
Charlie por seu irmão. Digo isso, porque a trama faz questão de deixar claro
que Raymond lida de forma diferente com as emoções e uma das problemáticas,
principalmente a do desfecho, foca em se o homem, como doente, seria capaz de
ter sentimentos pelo irmão. Nesse sentido, é importante salientar a atuação de
Dustin Hoffman. Mesmo sendo caricata, como foi francamente acusado, o ator
constrói um personagem sincero para as pretensões do filme e rico em carisma,
ainda que mantenha um olhar distante na maioria das cenas, emociona naturalmente.
Além dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Ator, “Rain Man”
ainda saiu com as estatuetas de Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original.
Pessoalmente, apesar de gostar da obra concebida por Barry Levinson, não é o
meu filme favorito entre os indicados. A título de curiosidade, meus preferidos
eram “Ligações Perigosas” (1988) e “Mississipi em Chamas” (1988). Entretanto,
vejo mais qualidades do que defeitos em “Rain Man”, onde se destaca também a
atuação de Tom Cruise, encarnando com eficiência o típico yuppie americano dos anos oitenta. Bem verdade, Cruise é o verdadeiro
protagonista e o prêmio de Melhor Ator para Hoffman é daquelas típicas manobras
de bastidores do Oscar. Por fim, credito a vitória de “Rain Man” às temáticas
caras e atuais para época, propondo discussão e trazendo um retrato controverso
do estilo de vida americano, além das boas atuações, é claro.
INDICAÇÕES (4
vitórias):
1. Melhor Filme: Mark Johnson – venceu
2. Melhor Diretor: Barry Levinson – venceu
3. Melhor Ator: Dustin Hoffman – venceu
4. Melhor Roteiro Original: Ronald Bass e Barry Morrow – venceu
5. Melhor Fotografia: John Seale
6. Melhor Direção de Arte: Ida Random e Linda DeScenna
7. Melhor Edição: Stu Linder
8. Melhor Trilha Sonora: Hans Zimmer
por Celo Silva
2 comentários:
O que é uma atuação caricata? Pq, ao meu ver, esse não é o caso. O ator fez um belíssimo e árduo trabalho de composição do personagem.
Acabei de assistir e me emocionei.Acho até que eles quiseram abranger um autismo mais complexo,afinal o portador ja é muito adulto e talvez(talvez pq eu não conheço profundamente está doenca)com o tempo fique mais difícil conviver.
Mas eu me emocionei demais.
Bjs
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