quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Barry Lyndon



BARRY LYNDON (Barry Lyndon, 1975, 184 min)
Produção: Reino Unido / Estados Unidos
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick
Elenco: Ryan O’Neal, Marisa Berenson, Patrick Magee, Hardy Krüger, Steven Berkoff, Murray Melvin, André Morell, Gay Hamilton, Marie Kean, Diane Körner, Frank Middlemass, Leonard Rossiter, Leon Vitalli.

Adaptado do romance picaresco de William M. Thackeray, “Barry Lyndon” (1975), inexplicavelmente, talvez seja uns dos trabalhos de ponta menos incensados do diretor Stanley Kubrick. No entanto, no meu ponto de vista, figuraria fácil em um Top 5 do diretor. Se Kubrick tem uma filmografia invejável, com algumas maravilhas cinematográficas de encher os olhos, o que dizer da Academia ter esnobado essa impressionante realização desse mestre do cinema? Aliás, o Oscar desdenhou de Kubrick desde sempre, nunca lhe agraciando com uma bendita estatueta, mas enfim, são famosas as injustiças cometidas nessa premiação que é vista como a mais importante da temporada anual do cinema. Calma, antes das pedras dos fãs de “Um Estranho no Ninho” (1975) voarem em direção à minha janela, é importante ressaltar que considero o filme de Milos Forman uma pequena obra-prima, mas obra-prima por obra-prima, “Barry Lyndon” é uma assumidade em todos os quesitos, principalmente contextualizada em uma premiação que em tese, procura julgar o melhor filme.

“Barry Lyndon” exala qualidades, sejam de ordem técnicas, com uma fotografia vistosa, trabalhada com muito esmero por John Alcott. Sabe-se que Alcott e Kubrick esperavam o momento certo do dia, chamado de “hora mágica”, quando a nebulosidade é perfeita para captarem as cenas com a luz natural e nos interiores usavam da luz de velas, concebendo assim uma atmosfera única, de uma estética impressionante de tão bela. Costuma-se acusar Stanley Kubrick de ser um realizador frio, distanciado, estático, considerações que acredito ter sua valia, mas sinceramente, não consigo me lembrar de algum realizador que tenha extraído sentimentos sinceros e sensações francas da inércia de seus personagens. Quando a câmera de Kubrick enfoca os rostos deprimidos daquelas pessoas, é como a melancolia se fizesse refletir, causando uma sensação incomoda, de deslocamento e estranhamento, como se o próprio filme é que está assistindo a nossa vida. Claro que essa é uma impressão pessoal, mas é daquelas indagações que somente os grandes filmes conseguem proporcionar.

Desde as primeiras frases proferidas pelo interlocutor da história, Michael Hordern, escancara-se a forma narrativa que Kubrick procura trazer para seu filme: a de um livro em movimento. As cenas que partem da inércia dos personagens, como gravuras de livros, a narração sábia, explicando ao espectador os mínimos detalhes e os diálogos que somente faltam um travessão no inicio para confirmarem seu tom literário. No entanto, essa experiência que poderia ser altamente monótona, até pela obra ter três horas de duração, torna-se um exercício genial e um prazeroso deleite cinéfilo. Envolvente, agradável, “Barry Lyndon” é dessas realizações que causam imersão, nos fazendo viver com afinco cada seqüência, torcendo pelo melhor, mas esperando o pior, passa longe de ser previsível, marca pela contundência minimalista de um roteiro adaptado genialmente escrito por um Kubrick totalmente ciente do que é preciso para que o filme funcione como ele idealizou.

A trama, pontuada pela já citada narração paternal, literalmente conta com detalhes a história de Redmond Barry (Ryan O´Neal), um jovem irlandês forçado a abandonar sua cidade natal depois de um duelo em nome de sua honra com um covarde oficial do exercito britânico (Leonard Rossiter). Vagando sem rumo, ele é assaltado por um cortês e famoso criminoso e desprovido do que era seu único dinheiro, sente-se obrigado a se juntar ao exercito inglês e assim lutar na guerra de sete anos. Em uma cena curiosamente cômica, afinal, não falta humor em “Barry Lyndon”, o rapaz rouba as roupas e documentos de um oficial e sai pela Europa fugindo da guerra. Não demorar até que um oficial Prussiano, o Capitão Potzdorf (Hardy Krüger), descubra que Barry é um desertor e o obrigue a retornar ao fronte de batalha, dessa vez, ao lado do exército prussiano. Com o fim da guerra, tendo conquistado o respeito do Capitão, lhe é incumbida à missão de espionar o Chevalier de Balibari (Patrick Magee), mas se identificado com a vigarice do homem, Barry se alia a ele e os dois passam a habitar e dar golpes nas jogatinas das cortes européias.

O parágrafo anterior situa a história na primeira parte de duas da obra, o segundo e derradeiro fragmento, mostra a vida de Barry quando ele conhece a nababesca Lady Lyndon (a bela Marisa Berenson). Almejando ascender socialmente e se tornar um nobre, Barry usa de suas artimanhas adquiridas com a experiência na parceria com o Chevalier e não tem dificuldades para seduzir a almejada senhora, mesmo até tendo que passar por cima do atual e respeitado, porém caquético, marido de Lady Lyndon, sir Charles Lyndon (Frank Middlemass). Entregue e interessado em uma vida aristocrata, vivendo de cortejar monarcas em troca de um sonhado titulo de nobre, dando imponentes festas no castelo de sua esposa para ostentar, o único momento que Barry consegue ser ele mesmo é quando está com seu pequeno filho, rebento da união com a Lady. Entre os muitos desafetos que angaria em sua trajetória, o principal e mais sedento por vingança acaba por ser seu enteado, Lorde Bullington (Leon Vitali). As muitas desavenças são pontuais e cruciais para o insólito e inesquecível desfecho dessa quintessência da sétima arte, mas não antes de Barry passar pelo momento mais trágico de sua vida.

“Barry Lyndon” foi nomeado em sete categorias na 48ª edição do Oscar (1976), tendo se sagrado nas quatro de ordem técnicas: direção de arte, fotografia, figurino e trilha sonora. Nas categorias principais a qual concorreu: filme, diretor e roteiro adaptado, acabou sendo derrotado por “Um Estranho no Ninho”, de Milos Forman, e como já disse no início, um dos melhores filmes daquela temporada. Tirando as afirmações ufanistas de minha parte no primeiro parágrafo, acredito sinceramente que ambos os filmes eram merecedores dos prêmios principais. Assim como Forman, o trabalho de Kubrick é primorosamente genial. Na verdade, a premiação de 1976 é um achado, diferente de muitas outras, houve uma seleção em que as realizações que concorreram a Melhor Filme, de fato, eram as melhores e mais marcantes obras daquele ano.

INDICAÇÕES (4 vitórias):
1. Melhor Filme: Stanley Kubrick
2. Melhor Diretor: Stanley Kubrick
3. Melhor Roteiro Adaptado: Stanley Kubrick
4. Melhor Fotografia: John Alcott – venceu
5. Melhor Direção de Arte: Ken Adam, Roy Walker e Vermon Dixon – venceu
6. Melhor Figurino: Ulla-Britt Söderlund e Milena Canonero – venceu
7. Melhor Trilha Sonora Original ou Adaptada: Leonard Rosenman – venceu

por Celo Silva

2 comentários:

Rodrigo Mendes disse...

Ao menos ganhou Melhor Figurino. fotografia (não tinha como perder), direção de arte belíssima, Ken Adam é um gênio e Trilha Musical, ainda assim, é um dos mais subestimados do Kubrick que nunca fez um filme ruim na minha avaliação. Um dos poucos!

Abs.

Kamila disse...

Adoro filmes de época, mas ainda não assisti "Barry Lyndon". E todas as opiniões que eu leio sobre esse filme nunca me animam a querer conferí-lo. Até eu ter lido a sua! Você me fez ter vontade mesmo de conferir o filme. :)