quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Último dos Valentões



O ÚLTIMO DOS VALENTÕES (Farewell, My Lovely, 1975, 95 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Dick Richards
Roteiro: David Zelag Goodman
Elenco: Robert Mitchum, Sylvia Miles, Sylvester Stallone, Charlotte Rampling, John Ireland, Anthony Zerbe, Harry Dean Stanton.

Enquanto o formato e a narrativa de grande parte dos filmes rodados nos anos 70 apontavam para frente, para o novo, “O Último dos Valentões” (1975) apontava é para o passado e não é para menos, uma vez que ele, sendo a terceira filmagem da obra “Adeus, Minha Adorada” (1940), do lendário escritor e roteirista Raymond Chandler, se vale da mesma fórmula que fora usada em The Falcon Takes Over (1942) e “Até a Vista, Querida” (1944), as duas primeiras adaptações. O que vemos nele é apenas uma remontagem do noir clássico, com direito a todos os elementos característicos do gênero, que vão da presença de um protagonista ambíguo e de uma femme fatale (neste caso, várias), à ambientação em um mundo urbano de corrupção e violência, passando, é lógico, pelo aparato técnico, que se vale, como de praxe, da narração em off e de uma fotografia que dá o devido destaque para a aparência sombrio dos ambientes.

No centro da trama está o detetive particular Philip Marlowe (Robert Mitchum), personagem recorrente da obra de Chandler, ele, no início da história, é abordado por Moose Malloy (Jack O'Halloran), um homem que passara sete anos na cadeia e que agora, já em liberdade, queria reencontrar sua amada Velda, uma prostituta a quem ele pedira em casamento antes de ser preso. Marlowe acaba aceitando o trabalho, e a investigação sobre o paradeiro da mulher, que o faz mergulhar no submundo de Los Angeles, acaba por despertar o interesse e a suspeita da polícia, afinal com freqüência ele é encontrado na cena dos mais misteriosos crimes e o destino lhe coloca sempre ao lado dos corpos encontrados pelos policiais.

A busca incansável realizada por Marlowe bate de frente com os interesses de muita gente perigosa, o que nos leva a crer que há algum mistério envolto no desaparecimento de Velda. Em sua procura o detetive acaba se esbarrando com diversos personagens saídos dos becos e quartos escuros da cidade, ele sabe que em nenhum deles ele pode confiar. A ameaça que paira constantemente no ar acentua o suspense do filme, que aumenta à medida que a investigação avança e se torna assim mais arriscada...

“O Último dos Valentões” funciona a meu ver mais como uma homenagem a um gênero e a uma época do que como uma obra dotada de individualidade e de qualidades próprias, afinal nada do que vemos nele é novo. Por mais que ele seja bem realizado, o que não se pode negar, ele não transcende sua própria condição de mera refilmagem. Nele, a narração em off não chega a ser um problema, mas também não funciona como deveria, em diversas passagens ela apenas descreve, provavelmente com trechos da obra literária, aquilo que vemos na tela e isso a torna redundante e desnecessária. A trilha sonora do filme é boa, gosto da forma com que ela foi usada, ora para reforçar o suspense, ora para salientar emoções e sensações do personagem central, mas nela também não há nenhuma novidade, apenas a sonoridade que já se tornou característica do gênero.

No tocante às atuações o filme não deixa a desejar, apesar de não nos apresentar nada de tão extraordinário (a meu ver a indicação de Sylvia Miles ao Oscar de Atriz Coadjuvante foi um pequeno exagero) e o desempenho Robert Mitchum, que é apenas bom, acaba sendo o principal destaque, ele empresta ao personagem um olhar melancólico e um jeito taciturno, que contrasta com a sagacidade e o sarcasmo das observações que ele faz na narração, forjando assim a ambigüidade que o caracteriza. Ainda referente a este aspecto, uma curiosidade é a ponta feita pelo Sylvester Stallone, que interpreta um capanga em uma das sequências do filme.

Os melhores aspectos do filme são, a meu ver, a fotografia e a direção de arte, juntas elas ajudam a compor os belos quadros que vemos durante toda a duração do filme. O visual do longa constitui ainda um diferencial em relação aos noir do período clássico, nele a fotografia em preto e branco, sempre associada ao gênero, é substituída por um colorido onde predominam o preto, os tons pastéis e nos momentos de tensão a saturação da cor vermelha. Já a direção de arte confere ao filme uma estonteante beleza estética, o cuidado com ela pode ser notado pela seleção e disposição dos objetos cênicos, que fazem referência ao glamour um tanto decadente do período no qual o filme se passa.

“O Último dos Valentões” merece ser visto e relembrado, porém sem tanto entusiasmo, é um filme bom, mas que não alcança o mesmo nível de qualidade de outras produções cujos roteiros foram adaptados da obra de Raymond Chandler, ou escritos por ele, nos anos 40, como “À Beira do Abismo” (1946), “Pacto de Sangue” (1944) e “Pacto Sinistro” (1951), estes sim verdadeiros clássicos.

INDICAÇÃO:
- Melhor Atriz Coadjuvante: Sylvia Miles

por José Bruno

Um comentário:

Ivanildo Pereira disse...

Sou louco pra ver a segunda versão. Tive um professor que adorava e me falava muito bem. E sou também grande fã do Robert Mitchum...