terça-feira, 28 de agosto de 2012

Opinião 4


Palco do Dorothy Chandler Pavilion, teatro no qual aconteceu a entrega dos prêmios em 1999.

A edição do Oscar de 1999 trouxe algumas surpresas, principalmente pelas vitórias de “Shakespeare Apaixonado” (1998), tanto em Melhor Filme quanto em Melhor Atriz (Gwyneth Paltrow) e também pela consagração do ator/diretor italiano Roberto Benigni (venceu Melhor Ator) e seu “A Vida É Bela” (1997), que também levou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Apesar de o diretor americano Steven Spielberg ter sido agraciado com o prêmio de Melhor Diretor por “O Resgate do Soldado Ryan” (1998), a sua superprodução de guerra foi uma das injustiçadas da noite. A meu ver, o filme de Spielberg era superior a todos os indicados, até mesmo o superestimado “Além da Linha Vermelha” (1998), de Terrence Malick.

O diretor Terrence Malick, então vivendo um longo hiato artístico, respirava ainda os ares da New Hollywood e fez um filme aos moldes dos anos 70, mesclando existencialismo com natureza em meio a um cenário de guerra. Para uns, uma obra-prima, para outros, um filme ultrapretensioso, mas é precioso evidenciar que Malick é dono de um estilo bem próprio e não seria estranho se arrebatasse a estatueta de Melhor Diretor, entregue a Spielberg. Aliás, o trabalho de Spielberg na direção de “O Resgate do Soldado Ryan” é primoroso, principalmente pela abertura situada no fatídico dia D. Até então, nunca um filme de guerra foi tão visceral (literalmente).

 Norman Jewison, um dos homenageados da noite, tendo recebido o Prêmio Memorial Irving G. Thalberg. O diretor foi responsável pelos famosos filmes "No Calor da Noite" (1967), "Um Violinista no Telhado" (1971) e "Feitiço da Lua" (1987). Apesar de nominado 7 vezes, nunca ganhou um Oscar.

Entre os vencedores, ainda destacam-se pela qualidade o trabalho do diretor e roteirista Bill Condon, que justamente levou a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado por “Deuses e Monstros” (1998). A produção ficcional inspirada no diretor do ciclo clássico do filmes de terror da Universal Studios, James Whale, é um pérola narrativa, mesclando o imaginário com o real e nos brindando com uma atuação marcante e também indicada ao Oscar do ator inglês Ian McKellen. Essa é uma das injustiças mais gritantes dessa temporada, apesar de carismática, nunca a atuação de Benigni superará a de McKellen, provavelmente em seu melhor momento aqui. No entanto, se pensarmos bem, a vitória de Benigni condiz com o perfil da academia em gratificar personagens edificantes.

Em um ano em que as produções com temáticas de guerra estavam em alta, ainda tivemos algumas realizações de época em voga, principalmente o vencedor “Shakespeare Apaixonado” e o drama “Elizabeth” (1998), focado na vida da Rainha Elizabeth I, e que rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Judi Dench, em uma atuação de no máximo 7 minutos (talvez a menor para um oscarizado). O nosso cinema também foi lembrado com louvor, sendo nomeado a Melhor Filme Estrangeiro por “Central do Brasil” (1998) de Walter Salles e Melhor Atriz para a veterana Fernanda Montenegro. Entre os estudiosos nacionais do Oscar, existe certo consenso de que Montenegro detinha a melhor atuação entre as indicadas, apesar de particularmente acreditar que a britânica Emily Watson era a mais consistente com a sua Jackie du Pré no biodrama musical “Hilary e Jackie” (1998).

A edição de 1999 pode não ter sido uma das mais significativas para a história do Oscar, mas mesmo assim trouxe filmes significativos para o imaginário da 7ª Arte. Até hoje suas principais realizações são saudadas pelo público e assim como afirmaram o talento de experientes nomes (Spielberg, Malick) também abriu as portas para novos talentos, como Gwyneth Paltrow, que desde então mostrou uma grande evolução em seus trabalhos, apesar de nunca ter ganhado novamente o Oscar. Também jogou uma bem-vinda luz sobre o combalido cinema nacional do final do século 20 e somente por isso, posso dizer que foi uma temporada de significantes valias.

por Celo Silva

2 comentários:

Luís disse...

Eu sou um dos que consideram o filme de Malick bastante pretensioso, fico inclusive indignado com sua indicação na categoria principal, mas nada me ofende mais do que a indicação do filme italiano. Concordo bastante com seu último paragráfo, sobretudo quanto à abertura de portas para novos talentos, como era o caso de Gwyneth, que, aliás, em 1998, começava a consolidar sua carreira.

Hugo disse...

Deuses e Monstros é um filme que deixei para assistir depois e acabei esquecendo.

Considero a início de "O Resgate do Soldado do Ryan" um dos mais fantásticos da história do cinema.

Abraço