Momento polêmico da noite: Marin Scorsese e Robert De Niro premiam Elia Kazan, diretor que, apesar da qualidade dos seus filmes, causou muita polêmica ao delatar seus colegas de indústria ao Comitê de Causas Não-Americanas, resultando na destruição parcial ou total de muitos profissionais. Vale ressaltar que Kazan, à época dos acontecimentos (década de 1950), afirmou ter apenas revelado nomes que já eram de conhecimento público.
A 71º Edição dos Academy
Awards foi mais uma consagração do
cinema norte-americano, mas, desta vez, com uma pitada da internacionalização
que também salpicava a economia e a política no final dos anos 90.
Se por um lado temos “Shakespeare Apaixonado” (1998) – que
inclusive premiou Gwyneth Paltrow, uma americana por interpretar uma britânica –
levando as maiores honrarias para casa e ao seu lado "O Resgate do Soldado
Ryan" (1998) tomando para si a segunda leva de premiações – que incluíram
mais prêmios técnicos, fazendo jus a esse caráter tecnicista de Spielberg –, do
lado oposto temos a presença latina de Itália e Brasil na premiação. "A
Vida é Bela" (1997) e "Central do Brasil" (1998) levaram
indicações não somente na categoria específica de Melhor Filme em Língua
Estrangeira, mas também mostraram ao mundo pontos especiais que figuravam
nesses longas. Enquanto o filme brasileiro deu a Fernanda Montenegro a primeira
e única indicação do país verde-amarelo em categorias de atuação, o filme de
Roberto Benigni também concorreu nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor
e Melhor Roteiro Original, só citando as mais importantes. Não tão distante
assim temos a australiana Cate Blanchett mostrando todo o seu potencial
artístico no ótimo "Elizabeth" (1998) na qual interpretava a rainha
Elizabeth I.
Saindo dessa polarização entre o cinema norte-americano e
o não-hollywoodiano, podemos dizer que o cinema hollywoodiano em 1999 também
foi foco da retratação de guerras e conflitos. Nesse sentido podemos citar,
além de "O Resgate de Soldado Ryan", a volta de Terrence Malick com o
seu bom "Além da Linha Vermelha" (1998). Talvez forçando um pouco a
idéia de guerra, "A Outra História Americana" (1998) e “A Vida
é Bela” nos mostra como um conflito que acabou há tanto tempo ainda pode nos
chocar pela dureza dos ideais pregados durante o nazismo.
Por fim, mesmo tentando enxergar a premiação com diversas
lentes, a que mais nos salta os olhos – e que mais comumente é discutida – é o
merecimento de “Shakespeare Apaixonado” nos Oscar de 1999. Entendo que, na
situação mundial da época em que os conflitos que se solidificariam
na Guerra do Iraque estavam começando e com os problemas de níveis globais,
tudo que a Academia queria pregar era o amor, puro e simples. Talvez a
estratégia não tenha dado certo, e pode ser que, como resultado, tenhamos
ficado com uma das maiores marmeladas da história do Oscar.
por Renan do Prado Alves
Um comentário:
O prêmio para Elia Kazan foi merecido pela carreira, mas a sua participação ao entregar nomes de colegas que seriam comunistas foi no mínimo falta de caráter
Abraço
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