sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Um Dia de Cão



UM DIA DE CÃO (Dog Day Afternoon, 1975, 125 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Sidney Lumet
Roteiro: Frank Pierson
Elenco: Al Pacino, Chris Sarandon, John Cazale, Penelope Allen, Sully Boyar, Beulah Garrick, Carol Kane, Sandra Kazan, Marcia Jean Kurtz, Amy Levitt, Gary Springer, James Broderick, Charles Durning.

Baseado em uma história real, “Um Dia de Cão” (1975), de Sidney Lumet, retrata um mal sucedido assalto a um banco do Brooklin em Nova York. Na trama, três bandidos entram armados em uma agência já no final do expediente; logo que o assalto é anunciado, um deles desiste de participar do crime e foge, os que ficam são Sonny (Al Pacino) e Sal (John Cazale). O plano deles era pegar o dinheiro do cofre e sair em menos de 15 minutos, no entanto, uma sucessão de erros começa quando eles descobrem que o numerário da agência já tinha sido recolhido naquele dia e que o que sobrava lá era uma quantia irrisória, os impede de sair. Quando decidem fugir já é tarde demais, a polícia, que tinha sido avisada por um comerciante local, já tinha montado um verdadeiro cerco em volta da entrada do banco. Policiais já apontavam suas armas de todos os ângulos possíveis e a cada instante uma nova viatura chegava ao local.

No momento do assalto estavam no banco, o gerente, um guarda e as funcionárias do caixa, em nenhum momento eles tentaram reagir e suas tentativas de disparar o alarme foram percebidas e impedidas por Sonny, que conhecia todo o sistema de segurança da agência por já ter trabalhado em um banco. Acreditando ter o controle da situação, Sonny convence Sal de que eles podem fazer exigências em troca da libertação dos reféns. Apesar de demonstrarem perícia em determinadas situações, ambos não passam de amadores e provavelmente aquele era o primeiro banco que tentavam assaltar. A inexperiência os faz cometer erros primários e tira deles o controle da situação dentro da agência.

Do lado de fora uma aglomeração se forma em volta do cordão de segurança montado pela polícia, e na primeira vez que Sonny sai da agência para negociar com o chefe dos militares algo inesperado acontece, ele se torna uma espécie de celebridade instantânea para a população que acompanhava os fatos. Ao perceber isso, ele tenta usar o apoio popular a seu favor, ele acredita que os policiais não partirão para ações mais enérgicas na vista de jornalistas e civis curiosos. No entanto, a tensão cresce e junto com ela a sensação de urgência, os assaltantes querem sair ilesos da encrenca em que se meteram, os funcionários da agência querem se ver livres da situação ameaçadora e os policias querem por fim à ação o quanto antes.

Sidney Lumet dá um tom realista para o filme ao transportar boa parte da ação para as ruas, opção recorrente em sua filmografia, que seria uma nítida influencia do neorrealismo italiano. A verossimilhança do filme é reforçada pela excelente atuação de Al Pacino, que construiu seu personagem de acordo com os preceitos do método Stanislavsky, e pelo caráter documental conferido pelos movimentos de câmera e pelos enquadramentos. Ainda que de forma não proposital, o longa retrata alguns elementos característicos da época em que foi produzido, dentre eles a desconstrução de valores tradicionais, a libertação sexual (explicita na motivação do assalto) e a vilanização das instituições financeiras (situação comum em tempos de crise e desemprego).

A forma com que os personagens são trabalhados é bastante interessante. Sonny, o personagem central, evidentemente não é uma pessoa má e isso fica perceptível na preocupação e no cuidado que ele tem com os reféns e até mesmo no intento que o teria levado a cometer o crime. Mas ele também não é um herói e neste ponto vale ressaltar que os aplausos que lhe são dados pelos populares em frente ao banco apontam mais para a fragilidade da opinião pública, do que para alguma suposta virtude da qual ele seria detentor. Lumet faz questão de enfatizar alguns pontos da vida deste personagem, estes pontos teriam sido, se não os motivadores, os condicionantes da decisão dele de assaltar o banco. A desorientação dele diante da situação na qual se meteu mostra que ele está desempenhando um papel que não lhe pertence, ele não é um bandido, é apenas alguém inconsequente que se meteu em problemas, com os quais não soube lidar.
  
Sal é um personagem tão complexo quanto Sonny, seu jeito taciturno o torna mais assustador que o seu comparsa, ele já teve passagem pela polícia e sua decisão de fazer qualquer coisa para não voltar para a cadeia o torna potencialmente mais perigoso, no entanto seu perfil não é o de um assassino, ele também está no lugar errado na função errada, sua fragilidade fica evidente em diversas passagens, ele está em conflito com suas próprias convicções e consigo mesmo e isto vem á tona na sequência em que ele repreende uma funcionária do banco por ela aceitar um cigarro de uma de suas colegas de trabalho, contrariado ele recorre a preceitos religiosos contradizentes com sua conduta: “Acho que deveria cuidar de seu corpo... Seu corpo é templo do Senhor” e também na passagem em que ele afirma raivoso que não é gay, ao contrário do que dizem sobre ele na TV.

Sonny e Sal trazem em suas personalidades características que funcionam como metáforas da sociedade da época. O roteiro chama a nossa atenção para o fato de que ambos vivem situações que afetam a todos, como a crise econômica, o desemprego e a desestruturação da família e dos valores tradicionais, de certa forma isto explica o fato de eles serem retratados em determinados momentos como heróis, sem que de fato o sejam. Um Dia de Cão se tornaria devido à ousadia de sua trama uma das obras mais importantes do período em que foi produzido e Sidney Lumet, apesar de ter começado sua carreira de cineasta bem antes, como um dos principais expoentes da Nova Hollywood.

INDICAÇÕES (1 vitória):
1. Melhor Filme: Martin Bregman e Martin Elfand
2. Melhor Diretor: Sidney Lumet
3. Melhor Ator: Al Pacino
4. Melhor Ator Coadjuvante: Chris Sarandon
5. Melhor Roteiro Original: Frank Pierson -  venceu
6. Melhor Edição: Dede Allen

por José Bruno

5 comentários:

Kamila disse...

"Um Dia de Cão" é um clássico do cinema e um daqueles filmes que são atemporais. Acho que a trama tem ainda muita relevância nos dias de hoje e a importância do filme é tamanha que ele influenciou outras produções, como "Um dia de Fúria", com Michael Douglas.

Luís disse...

Um filme verdadeiramente impressionante. Sidney Lumet é, com certeza, um dos diretores mais pontuais no objetivo de apresentar uma boa obra - não apenas esse, mas os que vieram antes e os que vieram depois são também muito bons. Quanto a "Um Dia de Cão", não posso senão elogiá-lo o máximo possível, não apenas pelo trabalho do diretor, mas de todo o elenco. Um primor, uma preciosidade do cinema, fico realmente dividido entre ele e "Um Estranho no Ninho".

Enéas Filho disse...

Gosto muito desde filme, não só pela atuação do Al Pacino que despensa comentários, mas pela velocidade que se desenvolve a trama, é um filme que você mal consegue ficar sentado direito na cadeira.... Mandou bem Zé Bruno, e parabéns pelo blog, sempre dou um pulo por aqui, abraços.

Amy B. disse...

É um dos meus filmes favoritos,uma obra prima, na minha modesta opinião.
1975 foi um grande ano para o cinema. :)

Amy B. disse...

Ah sim, parabéns pelo texto, José Bruno, adorei ! :)