ESCRAVOS
DO DESEJO (Of Human Bondage, 1934, 83
min)
Direção: John Cromwell
Roteiro: Lester Cohen,
baseado no romance de W. Somerset Maugham
Indicação: Melhor Atriz (write-in nomination)
Nominadas
em 1935:
Bette Davis: “Escravos do Desejo” || Claudette Colbert: “Aconteceu
Naquela Noite” || Grace Moore: “Uma Noite de Amor” || Norma Shearer: “A Família
Berrett”.
O título original do filme não esconde o
assunto sobre o qual a obra falará: da
servidão humana. Traduzido com alguma eficiência, ainda que o título
nacional não represente muito bem a situação dos personagens, “Escravos do
Desejo” (1934) tem dois personagens muito interessantes que representam a
discussão a que o filme se propõe. De um lado, temos Philip (Leslie Howard), um
estudante de medicina com deficiência nos pés que é sempre alvo de deboche,
mesmo que indiretamente. Do outro lado, temos Mildred (Bette Davis), uma
garçonete sem nenhum requinte, que tem consciência do fascínio que causa nos
homens, inclusive em Philip, cujo desdém é apenas uma tentativa inicial de
fingir distanciamento.
Bette Davis era uma artista contratada da
Warner Bros, mas estava, naquele momento, emprestada ao estúdio
Radio-Keith-Orpheum (RKO). Foi sob a tutela desse estúdio, por esse filme, que
Davis se tornou uma grande estrela. Segundo a própria atriz, aquela personagem
havia sido feita para ela e ninguém havia de discordar daquilo – menos a
Academia, que não a indicou formalmente, deixando-a de fora da lista de
nominadas que incluíam Grace Moore, Norma Shearer e Claudette Colbert, que nem
sequer acreditava ser possível vencer, justamente por causa do grande sucesso
que Bette Davis havia conquistado naquele ano.
Mildred Rogers, personagem de Davis, parece
realmente ter sido feita pra ela. Difícil é saber se a personagem moldou bem a
personalidade debochada de atriz ou se a atriz moldou a personagem – Rogers e
Davis, afinal, têm muito em comum. A garçonete olha de cima, seu olhar
esquadrinhando o ambiente, procurando oportunidades, sendo verdadeira em cada
palavra. O personagem Philip inclusive chega a lhe pedir que não diga “eu não
me importo” com aquela frequência nem com aquele tom que ele sabe ser
verdadeiro – nada é mais genuíno do que aquilo: Mildred não se importa, apenas.
Precisa de alguém que lhe sustente, alguém que lhe dê aquilo que ela quer. Para
Mildred, esse alguém era qualquer alguém, mas em especial Philip, um homem que
ela sabia que estaria sempre ali para lhe servir, eis a servidão humana. Para Dette Davis, esse alguém de quem ela
precisava era a mídia, a crítica, o público, o reconhecimento de seu talento
natural para desprezar, coisa que Davis fez bem não apenas nesse filme como
também em outros e, ainda, na vida.
Oficialmente, a primeira nominação de Bette
Davis se trata de uma indicação write-in,
algo surpreendente – a Academia, temendo a pressão dos atores que não viram o
nome de Davis entre as finalistas e não ficaram contentes com o desprezo,
decidiu “abrir” as indicações: todos podiam votar naqueles que eles quisessem,
bastava escrever o nome na cédula. E assim, a personagem Mildred Rogers,
maravilhosamente interpretada por Bette Davis, rendeu à atriz a sua primeira
indicação, ainda que a Academia começasse a contar oficialmente as nominações
da atriz a partir do ano seguinte, quando competiria – e venceria – por
“Perigosa” (1935).
por
Luís Adriano de Lima
Um comentário:
Não conhecia esse filme e não sabia da história por trás da primeira indicação ao Oscar conquistada pela Bette Davis. Que curioso! Imagina se decidem fazer isso todo ano, quando muita gente toma as dores daqueles que foram esquecidos pela Academia...
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