quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Bette Davis: "Escravos do Desejo" (1934)



ESCRAVOS DO DESEJO (Of Human Bondage, 1934, 83 min)
Direção: John Cromwell
Roteiro: Lester Cohen, baseado no romance de W. Somerset Maugham
Indicação: Melhor Atriz (write-in nomination)


Nominadas em 1935: Bette Davis: “Escravos do Desejo” || Claudette Colbert: “Aconteceu Naquela Noite” || Grace Moore: “Uma Noite de Amor” || Norma Shearer: “A Família Berrett”.

O título original do filme não esconde o assunto sobre o qual a obra falará: da servidão humana. Traduzido com alguma eficiência, ainda que o título nacional não represente muito bem a situação dos personagens, “Escravos do Desejo” (1934) tem dois personagens muito interessantes que representam a discussão a que o filme se propõe. De um lado, temos Philip (Leslie Howard), um estudante de medicina com deficiência nos pés que é sempre alvo de deboche, mesmo que indiretamente. Do outro lado, temos Mildred (Bette Davis), uma garçonete sem nenhum requinte, que tem consciência do fascínio que causa nos homens, inclusive em Philip, cujo desdém é apenas uma tentativa inicial de fingir distanciamento.

Bette Davis era uma artista contratada da Warner Bros, mas estava, naquele momento, emprestada ao estúdio Radio-Keith-Orpheum (RKO). Foi sob a tutela desse estúdio, por esse filme, que Davis se tornou uma grande estrela. Segundo a própria atriz, aquela personagem havia sido feita para ela e ninguém havia de discordar daquilo – menos a Academia, que não a indicou formalmente, deixando-a de fora da lista de nominadas que incluíam Grace Moore, Norma Shearer e Claudette Colbert, que nem sequer acreditava ser possível vencer, justamente por causa do grande sucesso que Bette Davis havia conquistado naquele ano.

Mildred Rogers, personagem de Davis, parece realmente ter sido feita pra ela. Difícil é saber se a personagem moldou bem a personalidade debochada de atriz ou se a atriz moldou a personagem – Rogers e Davis, afinal, têm muito em comum. A garçonete olha de cima, seu olhar esquadrinhando o ambiente, procurando oportunidades, sendo verdadeira em cada palavra. O personagem Philip inclusive chega a lhe pedir que não diga “eu não me importo” com aquela frequência nem com aquele tom que ele sabe ser verdadeiro – nada é mais genuíno do que aquilo: Mildred não se importa, apenas. Precisa de alguém que lhe sustente, alguém que lhe dê aquilo que ela quer. Para Mildred, esse alguém era qualquer alguém, mas em especial Philip, um homem que ela sabia que estaria sempre ali para lhe servir, eis a servidão humana. Para Dette Davis, esse alguém de quem ela precisava era a mídia, a crítica, o público, o reconhecimento de seu talento natural para desprezar, coisa que Davis fez bem não apenas nesse filme como também em outros e, ainda, na vida.

Oficialmente, a primeira nominação de Bette Davis se trata de uma indicação write-in, algo surpreendente – a Academia, temendo a pressão dos atores que não viram o nome de Davis entre as finalistas e não ficaram contentes com o desprezo, decidiu “abrir” as indicações: todos podiam votar naqueles que eles quisessem, bastava escrever o nome na cédula. E assim, a personagem Mildred Rogers, maravilhosamente interpretada por Bette Davis, rendeu à atriz a sua primeira indicação, ainda que a Academia começasse a contar oficialmente as nominações da atriz a partir do ano seguinte, quando competiria – e venceria – por “Perigosa” (1935).

por Luís Adriano de Lima

Um comentário:

Kamila disse...

Não conhecia esse filme e não sabia da história por trás da primeira indicação ao Oscar conquistada pela Bette Davis. Que curioso! Imagina se decidem fazer isso todo ano, quando muita gente toma as dores daqueles que foram esquecidos pela Academia...