Na abertura da 71ª edição do Oscar, Whoopi Goldberg, a
mestre-de-cerimônias, se apresentou fantasiada de Elizabeth I (1),
brincando com os convidados, dizendo que toda aquela cerimônia era uma
homenagem a ela, já que dois títulos de grande destaque da noite retratavam o
período conhecido como elisabetano.
Mas Whoopi poderia também ter se vestido de soldado – ou ainda de nazista –, já
que os três outros títulos nominados na categoria principal falavam sobre
guerra, mais especificamente a Segunda Guerra Mundial. Assim, a noite de 21 de
março de 1999 foi marcada pelas narrativas sobre a nobreza inglesa em
“Elizabeth” e “Shakespeare Apaixonado”, pelos retratos da guerra em “Além da
Linha Vermelha” e “O Resgate do Soldado Ryan”; e, fechando a lista dos indicados,
a tragicomédia “A Vida é Bela”, que se trata, aliás, de um dos poucos títulos
produzidos fora dos Estados Unidos a figurar na lista de Melhor Filme e de
Melhor Filme Estrangeiro.
Curioso pensar que essa cerimônia foi marcada pela vitória
de “Shakespeare Apaixonado”, notadamente um dos preferidos da temporada. O
filme registra algumas peculiaridades, como ter sido um dos poucos a consagrar
tanto a atriz principal quanto a atriz secundária e ter sido, até a data de
hoje, a última comédia-romance a conquistar a estatueta de Melhor Filme – e
isto se trata mesmo de algo relevante, já que o gênero definitivamente não é um
dos mais apreciados pela Academia. Mais do que isso, “Shakespeare Apaixonado”
causou polêmica com suas vitórias, porque tanto cinéfilos quanto críticos o
julgavam sobrevalorizado, debate esse que se intensificou sobremaneira,
principalmente pelo fato de que os outros títulos indicados foram recebidos com
maior entusiasmo.
Pode-se dizer que também foi um ano interessante para o
cinema “estrangeiro”, isto é, para as produções não-estadunidenses. “A Vida é Bela”, produção italiana, concorreu
na categoria principal, o que é bastante incomum. “Central do Brasil” criou um
marco para o cinema brasileiro, já que não apenas foi indicado como Melhor
Filme Estrangeiro – o que já havia acontecido três vezes –, mas colocou uma
intérprete brasileira na lista das indicadas em atuação, fato singular até
hoje. E se o Oscar resolveu prestigiar um pouco mais o cinema de outros países,
também criou bastante polêmica ao valorizar o seu próprio: o Oscar Honorário
concedido a Elia Kazan, grande realizador norte-americano de participação
duvidosa no Comitê de Causas Anti-Americanas (2),
dividiu opiniões e fez com que os convidados da noite se distinguissem entre os
que se levantaram para aplaudi-lo e os que se mantiveram sentados, recusando-se
a prestigiar o homem considerado traidor.
A análise que faremos dessa cerimônia inclui deliberações
acerca da qualidade do título vencedor do prêmio principal e dos outros indicados
à categoria Melhor Filme. Além disso, tentaremos responder perguntas básicas:
será que a sutileza da personagem de Gwyneth Paltrow ajudou-a a vencer a
contundência das outras concorrentes? E a atuação cômica de Roberto Benigni –
segundo ator a vencer um Oscar ao atuar em sua língua numa produção estrangeira (3)
– era melhor que o drama apresentado pelos outros atores? Judi Dench fez
história (4):
apenas 8 minutos em cena e recebeu um Oscar – é assim tão boa a sua atuação?
Essas são algumas questões que tentaremos responder ao final do mês, quando
apresentarmos os nossos pareceres acerca da 71ª edição dos Academy Awards.
por Luís Adriano de Lima
[1] A atriz se auto-intitulou a
“Rainha Africana”, piada em relação ao filme “Uma Aventura na África” (1951),
cujo título original é The African Queen
e cuja história se passa na Primeira Guerra Mundial.
[2] Elia Kazan, quando pressionado
pelo governo americano, testemunhou no House
of Um-American Activities Comittee em 1952 indicando nomes de colegas da
indústria cinematográfica que poderiam estar associados a atividades
comunistas. Os testemunhos de Kazan se fundamentaram em nomes já conhecidos do
governo, mas, apesar disso, atribuem-se a ele algumas carreiras destruídas.
[3] A primeira interpretação em língua
estrangeira em um filme não-estadunidense foi a da também italiana Sophia
Loren, em 1962, por “Duas Mulheres” (1960).
[4] Trata-se da segunda menor
interpretação premiada. A primeira foi a de Beatrice Straight, em “Rede de
Intrigas” (1976), no qual aparece por quase seis minutos.
4 comentários:
O Oscar para Benigni é tão, mas tão risível que chega a dar desgosto...
Parabéns pelo novo blog.
Já estou linkando seu endereço no meu blog.
Abraço
Uau, já vejo que este novo blog promete, sei disso só de ver o time de feras que o compõe.
A edição de 99 é na minha opinião uma das mais injustas e polêmicas da história do Oscar. Assisti à esta cerimônia recentemente (não tinha assistido à ela toda na época) e estou certo de que la renderá excelentes análises...
Parabéns à equipe pela nova página! Arrebentem meus caros amigos!!!
Já linkarei agora esta página à minha!
ó céus! você me mata mudando de blog como quem muda de roupa
enfim, vamos ver quantos dias este dura
hahahahahaha
dizer o que mais? adoro tudo o que você escreve, seu lindo!
beijos
e tira essa droga de verificação de palavras!
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