quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Abertura: 71ª edição - 1999



Na abertura da 71ª edição do Oscar, Whoopi Goldberg, a mestre-de-cerimônias, se apresentou fantasiada de Elizabeth I (1), brincando com os convidados, dizendo que toda aquela cerimônia era uma homenagem a ela, já que dois títulos de grande destaque da noite retratavam o período conhecido como elisabetano. Mas Whoopi poderia também ter se vestido de soldado – ou ainda de nazista –, já que os três outros títulos nominados na categoria principal falavam sobre guerra, mais especificamente a Segunda Guerra Mundial. Assim, a noite de 21 de março de 1999 foi marcada pelas narrativas sobre a nobreza inglesa em “Elizabeth” e “Shakespeare Apaixonado”, pelos retratos da guerra em “Além da Linha Vermelha” e “O Resgate do Soldado Ryan”; e, fechando a lista dos indicados, a tragicomédia “A Vida é Bela”, que se trata, aliás, de um dos poucos títulos produzidos fora dos Estados Unidos a figurar na lista de Melhor Filme e de Melhor Filme Estrangeiro.

Curioso pensar que essa cerimônia foi marcada pela vitória de “Shakespeare Apaixonado”, notadamente um dos preferidos da temporada. O filme registra algumas peculiaridades, como ter sido um dos poucos a consagrar tanto a atriz principal quanto a atriz secundária e ter sido, até a data de hoje, a última comédia-romance a conquistar a estatueta de Melhor Filme – e isto se trata mesmo de algo relevante, já que o gênero definitivamente não é um dos mais apreciados pela Academia. Mais do que isso, “Shakespeare Apaixonado” causou polêmica com suas vitórias, porque tanto cinéfilos quanto críticos o julgavam sobrevalorizado, debate esse que se intensificou sobremaneira, principalmente pelo fato de que os outros títulos indicados foram recebidos com maior entusiasmo.

Pode-se dizer que também foi um ano interessante para o cinema “estrangeiro”, isto é, para as produções não-estadunidenses.  “A Vida é Bela”, produção italiana, concorreu na categoria principal, o que é bastante incomum. “Central do Brasil” criou um marco para o cinema brasileiro, já que não apenas foi indicado como Melhor Filme Estrangeiro – o que já havia acontecido três vezes –, mas colocou uma intérprete brasileira na lista das indicadas em atuação, fato singular até hoje. E se o Oscar resolveu prestigiar um pouco mais o cinema de outros países, também criou bastante polêmica ao valorizar o seu próprio: o Oscar Honorário concedido a Elia Kazan, grande realizador norte-americano de participação duvidosa no Comitê de Causas Anti-Americanas (2), dividiu opiniões e fez com que os convidados da noite se distinguissem entre os que se levantaram para aplaudi-lo e os que se mantiveram sentados, recusando-se a prestigiar o homem considerado traidor.

A análise que faremos dessa cerimônia inclui deliberações acerca da qualidade do título vencedor do prêmio principal e dos outros indicados à categoria Melhor Filme. Além disso, tentaremos responder perguntas básicas: será que a sutileza da personagem de Gwyneth Paltrow ajudou-a a vencer a contundência das outras concorrentes? E a atuação cômica de Roberto Benigni – segundo ator a vencer um Oscar ao atuar em sua língua numa produção estrangeira (3) – era melhor que o drama apresentado pelos outros atores? Judi Dench fez história (4): apenas 8 minutos em cena e recebeu um Oscar – é assim tão boa a sua atuação? Essas são algumas questões que tentaremos responder ao final do mês, quando apresentarmos os nossos pareceres acerca da 71ª edição dos Academy Awards.

por Luís Adriano de Lima


[1] A atriz se auto-intitulou a “Rainha Africana”, piada em relação ao filme “Uma Aventura na África” (1951), cujo título original é The African Queen e cuja história se passa na Primeira Guerra Mundial.
[2] Elia Kazan, quando pressionado pelo governo americano, testemunhou no House of Um-American Activities Comittee em 1952 indicando nomes de colegas da indústria cinematográfica que poderiam estar associados a atividades comunistas. Os testemunhos de Kazan se fundamentaram em nomes já conhecidos do governo, mas, apesar disso, atribuem-se a ele algumas carreiras destruídas.
[3] A primeira interpretação em língua estrangeira em um filme não-estadunidense foi a da também italiana Sophia Loren, em 1962, por “Duas Mulheres” (1960).
[4] Trata-se da segunda menor interpretação premiada. A primeira foi a de Beatrice Straight, em “Rede de Intrigas” (1976), no qual aparece por quase seis minutos.

4 comentários:

Alan Raspante disse...

O Oscar para Benigni é tão, mas tão risível que chega a dar desgosto...

Hugo disse...

Parabéns pelo novo blog.

Já estou linkando seu endereço no meu blog.

Abraço

J. BRUNO disse...

Uau, já vejo que este novo blog promete, sei disso só de ver o time de feras que o compõe.

A edição de 99 é na minha opinião uma das mais injustas e polêmicas da história do Oscar. Assisti à esta cerimônia recentemente (não tinha assistido à ela toda na época) e estou certo de que la renderá excelentes análises...

Parabéns à equipe pela nova página! Arrebentem meus caros amigos!!!

Já linkarei agora esta página à minha!

Serginho Tavares disse...

ó céus! você me mata mudando de blog como quem muda de roupa
enfim, vamos ver quantos dias este dura
hahahahahaha
dizer o que mais? adoro tudo o que você escreve, seu lindo!

beijos
e tira essa droga de verificação de palavras!