sábado, 11 de agosto de 2012

Além da Linha Vermelha


ALÉM DA LINHA VERMELHA (The Thin Rede Line, 1998, 170 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Jim Cazievel, Sean Penn, Elias Koteas, George Clooney, Nick Nolte, Jared Leto, Adrien Brody, John Cusack, John Travolta, Bem Chaplin, John C. Reilley, Woody Harrelson, Nick Stahl.

Confesso que Terrence Malick definitivamente não é um dos meus diretores favoritos. Compreendo a sua estética, acho interessante essa ousadia de misturar descrição objetiva com impressões, que são notadamente subjetivas, e gosto do modo como o diretor demonstra precisão nas suas cenas. Mas nada disso faz com que suas obras sejam verdadeiraente interessantes nem faz com quem meu apego por elas cresça – nem essa fita nem “A Árvore da Vida” (2011), filme mais recente do diretor, despertaram a minha simpatia. The Thin Red Line vem de um trecho de uma poesia e, apropriadamente, faz jus a um filme construído todo poeticamente, apesar de seu tema de estética um pouco sombria. A segunda guerra mundial é o cenário dessa obra e os personagens são soldados que vão invadir a ilha de Guadalcanal, que fica nas Ilhas Salomão, no Pacífico, a nordeste da Austrália. O confronto com os japoneses é esperado e os soldados se deparam com uma situação bastante crítica, que é o preparo dos japoneses e os ataques deles, muito bem planejado.

Talvez o elemento mais interessante dessa obra seja a natureza. O próprio prólogo dessa narrativa já se alicerça numa pergunta interessante, que perdurará por toda a obra objetiva ou subjetivamente: por que a natureza rivaliza consigo mesma? E não tarda para que compreendamos que a natureza a que o personagem se refere diverge nas funções – uma é ela própria, a natureza verde, a grama, os prados, as colinas, as plantas e animais e também a simplicidade de quem aproveita esse ambiente; a outra é a natureza humana, sempre em conflito por motivos torpes, tolhendo direitos alheios sem piedade. Se um personagem, no começo, cultua a natureza e o ambiente, outro, mais a frente, numa crítica à guerra, diz que no fim ela é somente por propriedades e condecorações sem propósito. Acredito que uma das cenas mais marcantes seja uma na qual há um confronto intenso entre os lados inimigos e, em meio ao conflito humano, uma ave rompe sua casca e nasce, num esforço incomensurável para fixar-se. Verifica-se aqui o desajuste também mostrado na poesia que dá título a esse filme – enquanto um lado toma forma e luta pela vida, outro se despedaça em tiros de rifle e canhão.


Esse filme de Malick tardou a sair e causou uma série de problemas, a começar pelo diretor e os produtores, que eventualmente foram banidos de freqüentar os sets devido às constantes desavenças, que já tinham, aliás, um histórico bem polpudo, desde que Robert Michael Geisler e John Roberdeau deram uma entrevista comentando sobe o filme e quebrando sigilo que havia sido garantido por contrato algum tempo antes. Pode-se dizer que o filme também tardou a sair para o próprio Malick, que teve um período de 20 anos sem dirigir, sendo “Dias de Paraíso” (1978) a sua última obra até 1998. E pode-se dizer também que o elenco de “Além da Linha Vermelha” contém nomes que chamam bastante a atenção: Sean Penn, Nick Nolte, George Clooney, John Travolta, Jared Leto, Adrien Brody, John Cusack e tantos outros cujas participações acabaram eliminadas no corte final, que transformou um filme de quase seis horas em uma obra de quase três.

Se a poesia contida no filme é um ponto a favor, penso que exista outro que seja problemático para o desenrolar da história, somente estendendo-a sem lhe conferir qualquer qualidade a mais.  O recurso polifônico é interessante e há exemplos nos quais ele funciona muito bem, como, por exemplo, em “Pulp Fiction – Tempos de Violência” (1994), no qual a história de quatro personagens nos é contada através de suas próprias perspectivas. Se na obra de Tarantino o recurso funciona bem, aqui ele soa inapropriado – são vários personagens e suas impressões acerca daquele acontecimento, sem exatamente ter uma história que lhes dê base. Ficamos com a sensação de que se trata apenas de uma miscelânea de pessoas pensando e a desorganização dessa junção resulta numa obra que soa esquizofrênica, ainda que salvaguardada certa poesia que lhe confere beleza.


Malick sabe trabalhar com as cores e a fotografia do seu filme é provavelmente um dos trabalhos técnicos que mais chamem a atenção. Difícil não se encantar pela natureza como ela é retratada e é difícil não se surpreender com algumas tomadas que somente intensificam a naturalidade do ambiente, mas é igualmente difícil agüentar três horas de imagens bonitas – e só. Dentre tantos atores e tantos personagens a ser explorados, não tem como haver pleno desenvolvimento de nenhum e, no máximo, um ou outro ator tem algum destaque. Nick Nolte, nas delimitações do seu personagem, constrói uma atuação elogiável e o mesmo se pode dizer de Sean Penn, que domina bem os poucos momentos em que aparecem. Todos os outros atores (seus nomes, na verdade; mal os vemos em cena) são apenas vaidade, uma necessidade à toa que os produtores e o diretor – que também assina o roteiro – tiveram.

O filme se apresenta pretensioso desde suas cenas iniciais. Malick tenta nos cativar forçosamente desde o início e o resultado é, a meu ver, uma obra que oscila bastante entre o satisfatório e o suportável, chegando alguns momentos a atingir o nível de intragável. A obra não flui livre e é brecada o tempo todo pela mudança da narrativa, que deixa de nos fazer entender um pouco mais um personagem para apresentar outro cuja importância não sabemos precisar. Honestamente, não enxergo esse filme como a grande obra que muitos vêem – vejo-o, aliás, como um filme bastante mediano cuja força artística se perde na sua pretensão pedante de ser uma obra-prima.

INDICAÇÕES:
1. Melhor Filme: Robert Michael Geisler, John Roberdeau e Grant Hill
2. Melhor Diretor: Terrence Malick
3. Melhor Roteiro Adaptado: Terrence Malick
4. Melhor Fotografia: John Toll
5. Melhor Edição: Billy Weber, Leslie Jones e Saar Klein
6. Melhor Trilha Sonora Original (Drama): Hans Zimmer
7. Melhor Som: Andy Nelson, Anna Behlmer e Paul Brincat

por Luís Adriano de Lima

7 comentários:

! Marcelo Cândido ! disse...

Será que o elenco todo aparece nesse filme?

Ivanildo Pereira disse...

Eu adoro Malick, portanto discordo, mas não posso deixar de admirar seu texto. Muito bom. Uma opinião bem fundamentada deve sempre ser respeitada.

J. BRUNO disse...

Ao contrário de ti, eu tenho uma apreço enorme pela obra de Malick e acho que este filme merecia ter ganho em cada uma das categorias em que foi indicado.

http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2011/06/alem-da-linha-vermelha.html

Equipe Cinema Detalhado disse...

Tb sou fã de Malick, acho todas suas obras bem poéticas e relevantes, mas Além da Linha Vermelha não é meu filme favorito do diretor.

Hugo disse...

A várias narrativas, o excesso de personagens e lentidão da trama são pontos que não agradam ao público comum, porém se casam perfeitamente com a bela fotografia, uma das mais bonitas da história do cinema e angústia dos personagens na espera pela batalha.

Na minha opinião é um grande filme.

Mudando de assunto, acompanho cinema desde os anos oitenta e ainda considero o filme anterior de Malick como "Cinzas no Paraíso", título que foi utilizando nos cinemas e depois na tv. Não lembro se chegou a ser lançado em vhs.

Abraço

Unknown disse...

Diferente de vc, gosto do filme, mas acho concordo em algumas partes. Também não é o meu Malick favorito. A fotografia e o som do filme são primorosos.

Guilherme Abreu disse...

Noss, me desculpe, mas este filme é pura arte, um contexto de abertura para emoções infinitas, o oposto de qualquer esquizofrenia, creio que não está ao seu alcance...