ALÉM DA LINHA
VERMELHA (The Thin Rede Line, 1998,
170 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Jim Cazievel, Sean Penn, Elias
Koteas, George Clooney, Nick Nolte, Jared Leto, Adrien Brody, John Cusack, John
Travolta, Bem Chaplin, John C. Reilley, Woody Harrelson, Nick Stahl.
Confesso que Terrence Malick definitivamente não é um dos
meus diretores favoritos. Compreendo a sua estética, acho interessante essa
ousadia de misturar descrição objetiva com impressões, que são notadamente
subjetivas, e gosto do modo como o diretor demonstra precisão nas suas cenas.
Mas nada disso faz com que suas obras sejam verdadeiraente interessantes nem faz com quem meu
apego por elas cresça – nem essa fita nem “A Árvore da Vida” (2011), filme mais
recente do diretor, despertaram a minha simpatia. The Thin Red Line vem de um trecho de uma poesia e,
apropriadamente, faz jus a um filme construído todo poeticamente, apesar de seu
tema de estética um pouco sombria. A segunda guerra mundial é o cenário dessa
obra e os personagens são soldados que vão invadir a ilha de Guadalcanal, que
fica nas Ilhas Salomão, no Pacífico, a nordeste da Austrália. O confronto com
os japoneses é esperado e os soldados se deparam com uma situação bastante
crítica, que é o preparo dos japoneses e os ataques deles, muito bem planejado.
Talvez o elemento mais interessante dessa obra seja a
natureza. O próprio prólogo dessa narrativa já se alicerça numa pergunta
interessante, que perdurará por toda a obra objetiva ou subjetivamente: por que a natureza rivaliza consigo mesma?
E não tarda para que compreendamos que a natureza a que o personagem se refere
diverge nas funções – uma é ela própria, a natureza verde, a grama, os prados,
as colinas, as plantas e animais e também a simplicidade de quem aproveita esse
ambiente; a outra é a natureza humana, sempre em conflito por motivos torpes,
tolhendo direitos alheios sem piedade. Se um personagem, no começo, cultua a
natureza e o ambiente, outro, mais a frente, numa crítica à guerra, diz que no
fim ela é somente por propriedades e condecorações sem propósito. Acredito que
uma das cenas mais marcantes seja uma na qual há um confronto intenso entre os
lados inimigos e, em meio ao conflito humano, uma ave rompe sua casca e nasce,
num esforço incomensurável para fixar-se. Verifica-se aqui o desajuste também
mostrado na poesia que dá título a esse filme – enquanto um lado toma forma e
luta pela vida, outro se despedaça em tiros de rifle e canhão.
Esse filme de Malick tardou a sair e causou uma série de
problemas, a começar pelo diretor e os produtores, que eventualmente foram
banidos de freqüentar os sets devido às constantes desavenças, que já tinham,
aliás, um histórico bem polpudo, desde que Robert Michael Geisler e John
Roberdeau deram uma entrevista comentando sobe o filme e quebrando sigilo que
havia sido garantido por contrato algum tempo antes. Pode-se dizer que o filme
também tardou a sair para o próprio Malick, que teve um período de 20 anos sem
dirigir, sendo “Dias de Paraíso” (1978) a sua última obra até 1998. E pode-se
dizer também que o elenco de “Além da Linha Vermelha” contém nomes que chamam
bastante a atenção: Sean Penn, Nick Nolte, George Clooney, John Travolta, Jared
Leto, Adrien Brody, John Cusack e tantos outros cujas participações acabaram
eliminadas no corte final, que transformou um filme de quase seis horas em uma
obra de quase três.
Se a poesia contida no filme é um ponto a favor, penso que
exista outro que seja problemático para o desenrolar da história, somente
estendendo-a sem lhe conferir qualquer qualidade a mais. O recurso polifônico é interessante e há
exemplos nos quais ele funciona muito bem, como, por exemplo, em “Pulp Fiction
– Tempos de Violência” (1994), no qual a história de quatro personagens nos é
contada através de suas próprias perspectivas. Se na obra de Tarantino o
recurso funciona bem, aqui ele soa inapropriado – são vários personagens e suas
impressões acerca daquele acontecimento, sem exatamente ter uma história que
lhes dê base. Ficamos com a sensação de que se trata apenas de uma miscelânea
de pessoas pensando e a desorganização dessa junção resulta numa obra que soa
esquizofrênica, ainda que salvaguardada certa poesia que lhe confere beleza.
Malick sabe trabalhar com as cores e a fotografia do seu
filme é provavelmente um dos trabalhos técnicos que mais chamem a atenção.
Difícil não se encantar pela natureza como ela é retratada e é difícil não se
surpreender com algumas tomadas que somente intensificam a naturalidade do
ambiente, mas é igualmente difícil agüentar três horas de imagens bonitas – e
só. Dentre tantos atores e tantos personagens a ser explorados, não tem como
haver pleno desenvolvimento de nenhum e, no máximo, um ou outro ator tem algum
destaque. Nick Nolte, nas delimitações do seu personagem, constrói uma atuação
elogiável e o mesmo se pode dizer de Sean Penn, que domina bem os poucos
momentos em que aparecem. Todos os outros atores (seus nomes, na verdade; mal
os vemos em cena) são apenas vaidade, uma necessidade à toa que os produtores e
o diretor – que também assina o roteiro – tiveram.
O filme se apresenta pretensioso desde suas cenas
iniciais. Malick tenta nos cativar forçosamente desde o início e o resultado é,
a meu ver, uma obra que oscila bastante entre o satisfatório e o suportável,
chegando alguns momentos a atingir o nível de intragável. A obra não flui livre
e é brecada o tempo todo pela mudança da narrativa, que deixa de nos fazer
entender um pouco mais um personagem para apresentar outro cuja importância não
sabemos precisar. Honestamente, não enxergo esse filme como a grande obra que
muitos vêem – vejo-o, aliás, como um filme bastante mediano cuja força
artística se perde na sua pretensão pedante de ser uma obra-prima.
INDICAÇÕES:
1. Melhor
Filme: Robert Michael Geisler, John Roberdeau e Grant Hill
2. Melhor
Diretor: Terrence Malick
3. Melhor
Roteiro Adaptado: Terrence Malick
4. Melhor
Fotografia: John Toll
5. Melhor
Edição: Billy Weber, Leslie Jones e Saar Klein
6. Melhor
Trilha Sonora Original (Drama): Hans Zimmer
7. Melhor Som: Andy Nelson, Anna Behlmer e Paul
Brincat
por Luís Adriano de Lima
7 comentários:
Será que o elenco todo aparece nesse filme?
Eu adoro Malick, portanto discordo, mas não posso deixar de admirar seu texto. Muito bom. Uma opinião bem fundamentada deve sempre ser respeitada.
Ao contrário de ti, eu tenho uma apreço enorme pela obra de Malick e acho que este filme merecia ter ganho em cada uma das categorias em que foi indicado.
http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2011/06/alem-da-linha-vermelha.html
Tb sou fã de Malick, acho todas suas obras bem poéticas e relevantes, mas Além da Linha Vermelha não é meu filme favorito do diretor.
A várias narrativas, o excesso de personagens e lentidão da trama são pontos que não agradam ao público comum, porém se casam perfeitamente com a bela fotografia, uma das mais bonitas da história do cinema e angústia dos personagens na espera pela batalha.
Na minha opinião é um grande filme.
Mudando de assunto, acompanho cinema desde os anos oitenta e ainda considero o filme anterior de Malick como "Cinzas no Paraíso", título que foi utilizando nos cinemas e depois na tv. Não lembro se chegou a ser lançado em vhs.
Abraço
Diferente de vc, gosto do filme, mas acho concordo em algumas partes. Também não é o meu Malick favorito. A fotografia e o som do filme são primorosos.
Noss, me desculpe, mas este filme é pura arte, um contexto de abertura para emoções infinitas, o oposto de qualquer esquizofrenia, creio que não está ao seu alcance...
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