BARRY LYNDON (Barry
Lyndon, 1975, 184 min)
Produção: Reino Unido / Estados Unidos
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick
Elenco: Ryan O’Neal, Marisa
Berenson, Patrick Magee, Hardy Krüger, Steven Berkoff, Murray Melvin, André
Morell, Gay Hamilton, Marie Kean, Diane Körner, Frank Middlemass, Leonard
Rossiter, Leon Vitalli.
Adaptado do romance picaresco de William M. Thackeray, “Barry Lyndon” (1975),
inexplicavelmente, talvez seja uns dos trabalhos de ponta menos incensados do
diretor Stanley Kubrick. No entanto, no meu ponto de vista, figuraria fácil em
um Top 5 do diretor. Se Kubrick tem uma filmografia invejável, com algumas
maravilhas cinematográficas de encher os olhos, o que dizer da Academia ter
esnobado essa impressionante realização desse mestre do cinema? Aliás, o Oscar
desdenhou de Kubrick desde sempre, nunca lhe agraciando com uma bendita
estatueta, mas enfim, são famosas as injustiças cometidas nessa premiação que é
vista como a mais importante da temporada anual do cinema. Calma, antes das
pedras dos fãs de “Um Estranho no Ninho” (1975) voarem em direção à minha
janela, é importante ressaltar que considero o filme de Milos Forman uma
pequena obra-prima, mas obra-prima por obra-prima, “Barry Lyndon” é uma
assumidade em todos os quesitos, principalmente contextualizada em uma
premiação que em tese, procura julgar o melhor filme.
“Barry Lyndon” exala qualidades, sejam de ordem técnicas,
com uma fotografia vistosa, trabalhada com muito esmero por John Alcott.
Sabe-se que Alcott e Kubrick esperavam o momento certo do dia, chamado de “hora
mágica”, quando a nebulosidade é perfeita para captarem as cenas com a luz
natural e nos interiores usavam da luz de velas, concebendo assim uma atmosfera
única, de uma estética impressionante de tão bela. Costuma-se acusar Stanley
Kubrick de ser um realizador frio, distanciado, estático, considerações que
acredito ter sua valia, mas sinceramente, não consigo me lembrar de algum
realizador que tenha extraído sentimentos sinceros e sensações francas da inércia
de seus personagens. Quando a câmera de Kubrick enfoca os rostos deprimidos
daquelas pessoas, é como a melancolia se fizesse refletir, causando uma
sensação incomoda, de deslocamento e estranhamento, como se o próprio filme é
que está assistindo a nossa vida. Claro que essa é uma impressão pessoal, mas é
daquelas indagações que somente os grandes filmes conseguem proporcionar.
Desde as primeiras frases proferidas pelo interlocutor da
história, Michael Hordern, escancara-se a forma narrativa que Kubrick procura
trazer para seu filme: a de um livro em movimento. As cenas que partem da
inércia dos personagens, como gravuras de livros, a narração sábia, explicando
ao espectador os mínimos detalhes e os diálogos que somente faltam um travessão
no inicio para confirmarem seu tom literário. No entanto, essa experiência que
poderia ser altamente monótona, até pela obra ter três horas de duração,
torna-se um exercício genial e um prazeroso deleite cinéfilo. Envolvente,
agradável, “Barry Lyndon” é dessas realizações que causam imersão, nos fazendo
viver com afinco cada seqüência, torcendo pelo melhor, mas esperando o pior,
passa longe de ser previsível, marca pela contundência minimalista de um
roteiro adaptado genialmente escrito por um Kubrick totalmente ciente do que é
preciso para que o filme funcione como ele idealizou.
A trama, pontuada pela já citada narração paternal,
literalmente conta com detalhes a história de Redmond Barry (Ryan O´Neal), um
jovem irlandês forçado a abandonar sua cidade natal depois de um duelo em nome
de sua honra com um covarde oficial do exercito britânico (Leonard Rossiter).
Vagando sem rumo, ele é assaltado por um cortês e famoso criminoso e desprovido
do que era seu único dinheiro, sente-se obrigado a se juntar ao exercito inglês
e assim lutar na guerra de sete anos. Em uma cena curiosamente cômica, afinal,
não falta humor em “Barry Lyndon”, o rapaz rouba as roupas e documentos de um
oficial e sai pela Europa fugindo da guerra. Não demorar até que um oficial
Prussiano, o Capitão Potzdorf (Hardy Krüger), descubra que Barry é um desertor
e o obrigue a retornar ao fronte de batalha, dessa vez, ao lado do exército
prussiano. Com o fim da guerra, tendo conquistado o respeito do Capitão, lhe é
incumbida à missão de espionar o Chevalier de Balibari (Patrick Magee), mas se
identificado com a vigarice do homem, Barry se alia a ele e os dois passam a
habitar e dar golpes nas jogatinas das cortes européias.
O parágrafo anterior situa a história na primeira parte de
duas da obra, o segundo e derradeiro fragmento, mostra a vida de Barry quando
ele conhece a nababesca Lady Lyndon (a bela Marisa Berenson). Almejando
ascender socialmente e se tornar um nobre, Barry usa de suas artimanhas
adquiridas com a experiência na parceria com o Chevalier e não tem dificuldades
para seduzir a almejada senhora, mesmo até tendo que passar por cima do atual e
respeitado, porém caquético, marido de Lady Lyndon, sir Charles Lyndon (Frank Middlemass). Entregue e interessado em
uma vida aristocrata, vivendo de cortejar monarcas em troca de um sonhado
titulo de nobre, dando imponentes festas no castelo de sua esposa para
ostentar, o único momento que Barry consegue ser ele mesmo é quando está com
seu pequeno filho, rebento da união com a Lady. Entre os muitos desafetos que
angaria em sua trajetória, o principal e mais sedento por vingança acaba por
ser seu enteado, Lorde Bullington (Leon Vitali). As muitas desavenças são
pontuais e cruciais para o insólito e inesquecível desfecho dessa quintessência
da sétima arte, mas não antes de Barry passar pelo momento mais trágico de sua
vida.
“Barry Lyndon” foi nomeado em sete categorias na 48ª
edição do Oscar (1976), tendo se sagrado nas quatro de ordem técnicas: direção
de arte, fotografia, figurino e trilha sonora. Nas categorias principais a qual
concorreu: filme, diretor e roteiro adaptado, acabou sendo derrotado por “Um
Estranho no Ninho”, de Milos Forman, e como já disse no início, um dos melhores
filmes daquela temporada. Tirando as afirmações ufanistas de minha parte no
primeiro parágrafo, acredito sinceramente que ambos os filmes eram merecedores
dos prêmios principais. Assim como Forman, o trabalho de Kubrick é
primorosamente genial. Na verdade, a premiação de 1976 é um achado, diferente
de muitas outras, houve uma seleção em que as realizações que concorreram a
Melhor Filme, de fato, eram as melhores e mais marcantes obras daquele ano.
INDICAÇÕES (4
vitórias):
1. Melhor Filme: Stanley Kubrick
2. Melhor Diretor: Stanley Kubrick
3. Melhor Roteiro Adaptado: Stanley Kubrick
4. Melhor Fotografia: John Alcott – venceu
5. Melhor Direção de Arte: Ken Adam, Roy Walker e Vermon
Dixon – venceu
6. Melhor Figurino: Ulla-Britt Söderlund e Milena Canonero
– venceu
7. Melhor Trilha Sonora Original ou Adaptada: Leonard
Rosenman – venceu
por Celo Silva
2 comentários:
Ao menos ganhou Melhor Figurino. fotografia (não tinha como perder), direção de arte belíssima, Ken Adam é um gênio e Trilha Musical, ainda assim, é um dos mais subestimados do Kubrick que nunca fez um filme ruim na minha avaliação. Um dos poucos!
Abs.
Adoro filmes de época, mas ainda não assisti "Barry Lyndon". E todas as opiniões que eu leio sobre esse filme nunca me animam a querer conferí-lo. Até eu ter lido a sua! Você me fez ter vontade mesmo de conferir o filme. :)
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