INDICADOS:
- “Amarcord”: Federico Felini e Tonino Guerra
- “Um Dia de Cão”: Frank Pierson
- “Lembranças da Minha Infância”: Ted Allan
-
“Shampoo”: Robert Towne e Warren Beatty
- Toute une Vie: Claude Lelouch e Pierre
Uytterhoeven
Até então, eu nunca tinha sequer
ouvido falar em Toute une Vie, obra escrito por Claude Lelouch (que também o dirigiu)
e Pierre Uytterhoeven, o que é um absurdo, uma vez que se trata de um filme
maravilhoso, um verdadeiro clássico na minha opinião. Seu
roteiro é repleto de referências ao próprio cinema e a fatos históricos que
marcaram o século XX e tais citações compõem o pano de fundo para um romance
contado de uma forma, no mínimo, não convencional. O curioso é que o
fato de serem poucos indicados acabou permitindo que obras de texto mediano,
como “Shampoo” (1975) e “Lembranças de Minha Infância” (1975) fossem
selecionadas. Além destes, concorreram também “Amarcord” (1973), de Fellini, e “Um
Dia de Cão” (1975), escrito por Frank Pierson. Este último possui um roteiro
impecável, todavia sua indicação é no mínimo polêmica, uma vez que artigos dos
jornalistas P. F. Kluge e Thomas Moore serviram de base para o texto. De acordo
com os critérios atuais da Academia, para ser indicado nesta categoria o
roteiro do filme não pode ter sido baseado em nenhum material publicado antes
de seu lançamento.
“Amarcord” é inquestionavelmente uma obra-prima, que
deveria ter recebido também uma indicação ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro,
sua seleção para a categoria de Roteiro Original é justa, seu texto, apesar de
simples, traz consigo uma poesia tão bela quanto à das imagens oníricas que se
sucedem durante sua exibição. Eu, por não concordar com a indicação de “Um Dia
de Cão” nesta categoria, defendo que Fellini e Tonino Guerra deveriam ter
levado o prêmio. “Shampoo”, escrito por Robert Towne e Warren Beatty, tem
ótimos diálogos e provavelmente sua trama chamou a atenção na época em que ele
foi lançado, porém o tempo lhe tirou boa parte de sua força e hoje ele nos soa
datado. Ainda que sua indicação tenha sido justa na época, o tempo se
encarregou de mostrar que seu roteiro não tinha de fato a qualidade e a força
necessária para sobreviver ao passar dos anos. “Lembranças de Minha Infância” é
o tipo de filme que parece ter sido indicado tão somente pela comoção que ele é
capaz de causar, uma vez que seu roteiro, bastante convencional, não tem nada
que justifique a seleção.
INDICADOS:
- “Barry Lyndon”: Stanley Kubrik
- “Uma Dupla Desajustada”: Neil Simon
- “Um Estranho no Ninho”: Lawrence Hauben e Bo Goldman
- “O Homem que Queria Ser Rei”: John Huston e Gladys Hill
- “Perfume de Mulher”: Ruggero Maccari e Dino Risi
Nesta categoria, os dois principais destaques são “Um
Estranho no Ninho” (1975), que levou o prêmio, e “Barry Lyndon” (1975). Ambos
possuem textos fortes, multidimensionais, que dão a devida profundidade aos
personagens. Eu não considero injusta a vitória do texto escrito por Bo Goldman
e Lawrence Hauben, mas também não consideraria injusta a entrega do prêmio ao
roteiro de Stanley Kubrick. “Perfume de Mulher” (1974) me surpreende por estar
dentre os indicados, não que ele não mereça, mas não é tão comum a Academia
selecionar mais de uma obra estrangeira em uma mesma edição (ainda que em
categorias diferentes, com exceção do prêmio específico), principalmente tendo
produções americanas que notadamente mereciam estar dentre os indicados, como
por exemplo, “O Dia do Gafanhoto” (1975). O roteiro do filme italiano escrito
por Ruggero Maccari e Dino Risi transita da acidez à singeleza e consegue dar
uma dimensão interessante para o drama do personagem central e ainda torná-lo
cativante, apesar de arrogante e ambíguo.
“O Homem que Queria Ser Rei” (1975) também foi muito bem
escrito, não questiono sua indicação em si, mas seu nível de qualidade está bem
distante das duas obras que eram as favoritas ao prêmio. O interessante de seu
texto é a ironia com que ele aborda a aventura dos personagens centrais, destilando
em diversas passagens um sarcasmo, quase sutil, acerca da imposição de uma
determinada visão étnica e cultural a um povo tido como atrasado. “Uma Dupla
Desajustada” (1975) tem um roteiro ágil e divertido e suas referências ao
teatro de vaudeville o tornam ainda
mais rico, é um bom texto, mas também pequeno dos de “Um Estranho no Ninho” e “Barry
Lyndon”.
por José Bruno
Um comentário:
"Shampoo" realmente é um filme assustador, não sei como pode ser indicado, ainda mais nessa categoria, principalmente se pensarmos que a Academia o comparou a "Um Dia de Cão" ao indicá-los.
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