O ÚLTIMO DOS
VALENTÕES (Farewell, My Lovely, 1975,
95 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Dick Richards
Roteiro: David Zelag Goodman
Elenco: Robert Mitchum, Sylvia
Miles, Sylvester Stallone, Charlotte Rampling, John Ireland, Anthony Zerbe,
Harry Dean Stanton.
Enquanto o formato e a narrativa de grande parte dos
filmes rodados nos anos 70 apontavam para frente, para o novo, “O Último dos Valentões” (1975)
apontava é para o passado e não é para menos, uma vez que ele, sendo a terceira
filmagem da obra “Adeus, Minha Adorada” (1940), do lendário escritor e
roteirista Raymond Chandler, se vale da mesma fórmula que fora usada em The Falcon Takes Over (1942) e “Até a
Vista, Querida” (1944), as duas primeiras adaptações. O que vemos nele é apenas
uma remontagem do noir clássico, com
direito a todos os elementos característicos do gênero, que vão da presença de
um protagonista ambíguo e de uma femme
fatale (neste caso, várias), à ambientação em um mundo urbano de corrupção
e violência, passando, é lógico, pelo aparato técnico, que se vale, como de
praxe, da narração em off e de uma
fotografia que dá o devido destaque para a aparência sombrio dos ambientes.
No centro da trama está o detetive particular Philip
Marlowe (Robert Mitchum), personagem recorrente da obra de Chandler, ele, no
início da história, é abordado por Moose Malloy (Jack O'Halloran), um homem que
passara sete anos na cadeia e que agora, já em liberdade, queria reencontrar
sua amada Velda, uma prostituta a quem ele pedira em casamento antes de ser preso.
Marlowe acaba aceitando o trabalho, e a investigação sobre o paradeiro da
mulher, que o faz mergulhar no submundo de Los Angeles, acaba por despertar o
interesse e a suspeita da polícia, afinal com freqüência ele é encontrado na
cena dos mais misteriosos crimes e o destino lhe coloca sempre ao lado dos
corpos encontrados pelos policiais.
A busca incansável realizada por Marlowe bate de frente
com os interesses de muita gente perigosa, o que nos leva a crer que há algum
mistério envolto no desaparecimento de Velda. Em sua procura o detetive acaba
se esbarrando com diversos personagens saídos dos becos e quartos escuros da
cidade, ele sabe que em nenhum deles ele pode confiar. A ameaça que paira
constantemente no ar acentua o suspense do filme, que aumenta à medida que a
investigação avança e se torna assim mais arriscada...
“O Último dos Valentões” funciona a meu ver mais como uma
homenagem a um gênero e a uma época do que como uma obra dotada de
individualidade e de qualidades próprias, afinal nada do que vemos nele é novo.
Por mais que ele seja bem realizado, o que não se pode negar, ele não
transcende sua própria condição de mera refilmagem. Nele, a narração em off não chega a ser um problema, mas
também não funciona como deveria, em diversas passagens ela apenas descreve,
provavelmente com trechos da obra literária, aquilo que vemos na tela e isso a
torna redundante e desnecessária. A trilha sonora do filme é boa, gosto da
forma com que ela foi usada, ora para reforçar o suspense, ora para salientar
emoções e sensações do personagem central, mas nela também não há nenhuma
novidade, apenas a sonoridade que já se tornou característica do gênero.
No tocante às atuações o filme não deixa a desejar, apesar
de não nos apresentar nada de tão extraordinário (a meu ver a indicação de
Sylvia Miles ao Oscar de Atriz Coadjuvante foi um pequeno exagero) e o
desempenho Robert Mitchum, que é apenas bom, acaba sendo o principal destaque,
ele empresta ao personagem um olhar melancólico e um jeito taciturno, que contrasta
com a sagacidade e o sarcasmo das observações que ele faz na narração, forjando
assim a ambigüidade que o caracteriza. Ainda referente a este aspecto, uma
curiosidade é a ponta feita pelo Sylvester Stallone, que interpreta um capanga
em uma das sequências do filme.
Os melhores aspectos do filme são, a meu ver, a fotografia
e a direção de arte, juntas elas ajudam a compor os belos quadros que vemos
durante toda a duração do filme. O visual do longa constitui ainda um
diferencial em relação aos noir do
período clássico, nele a fotografia em preto e branco, sempre associada ao
gênero, é substituída por um colorido onde predominam o preto, os tons pastéis
e nos momentos de tensão a saturação da cor vermelha. Já a direção de arte
confere ao filme uma estonteante beleza estética, o cuidado com ela pode ser
notado pela seleção e disposição dos objetos cênicos, que fazem referência ao
glamour um tanto decadente do período no qual o filme se passa.
“O Último dos Valentões” merece ser visto e relembrado,
porém sem tanto entusiasmo, é um filme bom, mas que não alcança o mesmo nível
de qualidade de outras produções cujos roteiros foram adaptados da obra de
Raymond Chandler, ou escritos por ele, nos anos 40, como “À Beira do Abismo”
(1946), “Pacto de Sangue” (1944) e “Pacto Sinistro” (1951), estes sim
verdadeiros clássicos.
INDICAÇÃO:
- Melhor Atriz Coadjuvante: Sylvia Miles
por José Bruno
Um comentário:
Sou louco pra ver a segunda versão. Tive um professor que adorava e me falava muito bem. E sou também grande fã do Robert Mitchum...
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