INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of Southern Wild, 2012, 93 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Benh Zeitlin
Roteiro: Benh Zeitlin e
Lucy Alibar, baseado na peça Juicy and
Delicious (2000), de Alibar.
Elenco: Quvenzhané
Wallis, Dwight Henry, Levy Easterly, Lowell Landes, Pamela Harper, Gina
Montana.
Se existe uma
coisa que os filmes indicados ao Oscar 2013 realmente não conseguiram foi
unanimidade, e aqui eu quero dizer, claro, que nem algo próximo a isso foi
visto. Pudemos ver, por exemplo, “Os Miseráveis” (2012) agradar muita gente e,
ao mesmo tempo, ser regurgitado por outra grande parcela dos espectadores.
Prova disso é que o mesmo aconteceu com “Lincoln” (2012), “As Aventuras de Pi”
(2012), “Argo” (2012) (talvez o mais próximo do caloroso abraço do público), “O
Lado Bom da Vida” (2012), “A Hora Mais Escura” (2012) e o próprio “Indomável Sonhadora” (2012) - acho que
“Amor” (2012) é o único que não entra nessas estatísticas um tanto
improvisadas.
“Indomável Sonhadora” mergulha num universo de magia e instintos humanos, tornando-se severamente contemplativo, daí, talvez, venha a sua condição de não agradar a todos: o filme em nenhum momento é auto-explicativo, pelo contrário, exige do público comprometimento e um coração sensível pronto para navegar na precária zona de mangue de Nova Orleans, onde se passa a história da roteirista Lucy Alibar e do diretor Benh Zeitlin.
A fita se passa num lugar denominado "A Banheira", uma ilha no meio de uma barragem, que após a passagem do furacão Katrina fica totalmente inundada e praticamente inabitável. Nesse lugar, cresce de forma instintiva a pequena Hushpuppy (Quvenzhané Wallis). Embora a menina viva com o pai (Dwight Henry), este não se mostra um perfeito educador, delegando a filha mais força e garra do que uma criança na idade dela deveria ter. O ponto alto e central do filme fica mesmo na relação de interdependência entre a menina e o pai, que arrasado numa doença silenciosa, desconstrói a imagem do pai protetor visando o crescimento do instinto de sobrevivência da filha.
Zeitlin responde de forma muito bela em seu primeiro longa. A fotografia iluminada preenche o mundo fantástico de Hushpuppy, a trilha sonora é carinhosamente trabalhada na emoção das personagens, sem contar a linda câmera que se movimenta como se lutasse contra um naufrágio, buscando sempre na presença de sua protagonista o suspiro seguinte.
A grande beleza de “Indomável Sonhadora” revela-se na construção conquistadora do mundo de Hushpuppy. A mente que briga animais fantásticos, que fogem de algum dos extremos do planeta para encontrar a menina ali naquele cenário desolador, também é a mente guerreira de uma comunidade toda, que às margens da sociedade vai alongando o tempo de vida naquela região perigosa. Hushpuppy é o símbolo de um ideal comum àquelas famílias: ser do lugar que te pertence. A concretização da figura da menina com símbolo se dá principalmente pela força eloquente do pai, que sem a figura da mãe desaparecida, vai injetando em Hushpuppy os mais diferentes instintos animais, provocando um agigantamento impressionante da menina, que tem também na narração o seu principal veículo de convencimento do público. Basicamente, quem vê na garotinha a chance de controlar esses instintos de sobrevivência, dá com os burros n'água. Hushpuppy é blindada, uma fusão de inocência e força bruta.
Quvenzhané Wallis, indicada ao Oscar de Melhor Atriz, é uma real força da natureza. A pequena garota de sotaque sulista destacado, gera no espectador momentos de puro desarme, onde as limitações de cada um passam a ser ultrapassadas e a revelação de uma nova pessoa pode acontecer. Wallis preenche a tela com a natureza de sua imagem e interpretação, reserva para sua personagem cada espaço vazio, cada sensação desconfortável, cada nova esperança de dias melhores. Um brinde e muita saúde a Quvenzhané Wallis.
INDICAÇÕES:
1. Melhor Filme:
Dan Janvey, Josh Penn e Michael Gottwald
2. Melhor
Diretor: Benh Zeitlin
3. Melhor Atriz:
Quvenzhané Wallis
4. Melhor
Roteiro Adaptado: Benh Zeitlin e Lucy Alibar
por Gustavo Pavan
2 comentários:
Eu não gostei tanto do filme. Quer dizer, enquanto via, eu até estava gostando, mas estava pior que montnha russa: gostava, depois já via algum defeito... Sei lá. Nem sei dizer ao certo. É bom, mas não me conquistou...
O diretor Benh Zeitlin prova, neste filme, que é um diretor promissor, especialmente por causa de umas cenas, particularmente, bem inspiradas. No mais, o que mais me agradou em "Indomável Sonhadora" foi o seu caráter de fábula. Além disso, as atuações do pai e de Hushpuppy estão excelentes.
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