OS MISERÁVEIS (Les
Miserábles, 2012, 158 min)
Produção: Estados Unidos
| Reino Unidos
Direção: Tom Hooper
Roteiro: Alain Boublil,
Claudel-Michel Schönberg, Herbert Kretzmer e William Nicholson, baseado na peça
musical homônima (1985) adaptada do romance homônimo (1862) de Victor Hugo.
Elenco: Hugh Jackman,
Anne Hathway, Helena Bonham Carter, Russell Crowe, Amanda Seyfried, Sacha Baron
Cohen, Eddie Redmayne, Samantha Barks.
Quando começaram
a ventilar as primeiras notícias de “Os Miseráveis”
(2012), dirigido pelo inglês Tom
Hooper, pensei com meus botões: mesmo sendo antipático ao trabalho do
diretor, acho difícil sair um filme ruim. Com o panorama da obra sendo
delineado, invés de ser uma adaptação direta do texto clássico do francês Victor Hugo (1802-1885), o roteiro
(escrito a oito mãos) seria adaptado da peça musical homônima concebida por Alain Boubil e Claude-Michel Schönberg. Novamente
voltei a matutar e cheguei à conclusão de que algo poderia dar errado no
processo. Entre dúvidas e certezas (como o elenco bem escolhido), “Os Miseráveis” não é mesmo um filme
ruim, mas também não dá para dizer que é ótimo. Transita de um meio termo para
bom, porque mesmo com todo o mise en scène chamativo e bem trabalhado,
infelizmente, o excesso de cantoria torna a narrativa cansativa, por vezes
desinteressante e consegue a proeza de até esvaziar momentos que deveriam ser
da mais pura singeleza e emoção.
O texto de Victor Hugo é um desses clássicos
unânimes da literatura e que com suas temáticas relevantes e universais foram
incansavelmente adaptados, seja para o cinema, teatro ou televisão. Aqui, ainda
que seja a adaptação de uma adaptação, a premissa inicial é a mesma, trazendo o
ex-detento Jean Valjean (Hugh Jackman)
como protagonista. Dividido na tradição da narrativa em três atos, Os Miseráveis
abre com Valjean sendo posto em condicional pela justiça. Nessa primeira
seqüência do filme sabemos que seu antagonista por toda a trama será o oficial
Javert (Russell Crowe), um
policial linha-dura que vê a justiça em tons pretos e brancos, para ele, meio
termo não existe. Esse ato inicial concentra seu foco na problemática de
Valjean se reintegrar a uma sociedade que não aceita ex-criminoso, levando
assim o personagem ao fundo do poço, a miséria emocional e material. O panorama
muda quando ele conhece um Bispo benevolente (Colm Wilkinson) que o abriga em sua casa.
Na manhã
seguinte, Valjean furta objetos de valor da casa do religioso, mas não tarda a
ser capturado pelas autoridades. Entretanto, para a surpresa dos policiais, o
Bispo afirma ter doado os pertences ao ex-criminoso e como forma de retribuição
pelo seu ato altruísta, exige de Valjean que aquela situação seja o ponto de
partida para uma nova vida. Nesse primeiro terço, ainda que todos os diálogos
sejam cantados, as canções são mais dinâmicas e comedidas. A narrativa então
não demora há saltar alguns anos e vemos o mesmo Valjean, agora usando uma nova
identidade, como um empresário bem sucedido e prefeito de uma pequena cidade.
Uma de suas empregadas é Fantine (Anne
Hathaway), que em um imbróglio mal resolvido no trabalho, acaba sendo
demitida pelo encarregado. Mãe de uma pequena menina que vive em uma outra
cidade, Fantine necessita do dinheiro para enviar para a filha sobreviver. A
falta de emprego coloca a moça em um declínio vertiginoso, onde vende cabelos e
dentes em troca de alguns trocados e passa a habitar o meretrício local.
Nessa segunda
etapa, Javert mantém sua perseguição a Jean Valjean, sendo até enviado para ser
o representante da lei na cidade onde o mesmo é prefeito. No entanto, com o
passar dos anos, Valjean assumiu uma fisionomia aristocrata e demora a levantar
suspeita por parte do oficial. Em paralelo, a jornada degradante de Fantine
culmina no melhor momento de “Os Miseráveis”, quando Anne Hathaway entoa com talento e
emoção a canção Dreamed a Dream. A seqüência comove naturalmente e
talvez por isso, mesmo Fantine não tendo muito tempo no filme, não seja
estranho à atriz ter sido indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Esse
segundo ato foca no encontro de Jean Valjean com Fantine, onde o homem a retira
da miséria onde estava e promete assumir a guarda de sua filha, a pequena
Cosette. Um dos destaques aqui também é o alivio cômico da dupla que é guardiã
de Cosette, interpretados por Sacha
Baron Cohen e Helena Boham
Carter, protagonizando um divertido número musical.
Até o final do
segundo ato de “Os Miseráveis”, a narrativa transcorre de forma agradável e
dinâmica. Notando-se que os dois terços iniciais ocupam menos de uma hora das
duas horas e vinte sete minutos do longa-metragem, a sensação de estranhamento
se faz presente. Afinal, por que correr com situações interessantes do inicio
da história? Com o inicio do pretensioso terceiro ato, logo se encontra a
resposta. Aqui, Hooper procura
retratar o romance da agora jovem Cosette (Amanda Seyfried) e Marius (Eddie Redmayne), um jovem idealista, e ao mesmo tempo também
discorrer sobre o prólogo da Revolução Republicana de um ponto de vista
poético. Lógico que a trama degringola. Acreditando na capacidade emblemática
das canções, Tom Hooper guarda
a terceira parte do filme para conjugar excessivas canções de teor dramático.
Resultado: números musicais interessantes, como o passado nas barricadas
criadas pela resistência francesa, tem sua condição tocante esvaziada pela
seqüência maçante de cantoria, sempre esticadas ao máximo.
Se o figurino e
a direção de arte de “Os Miseráveis” são competentes, não se pode dizer o mesmo da
fotografia. Ordinária, pouco se preocupa em engrandecer o filme. A câmera de Tom Hooper sempre trabalhando bem
próximo aos atores, ressalta até essa pegada teatral que o diretor procura
trazer para o filme. Em contrapartida as considerações negativas, a obra traz
algumas atuações inspiradas, destaque absoluto para Hugh Jackman. Bem à vontade no papel, até pela sua experiência
em musicais na juventude, Jackman
é a força motriz da obra e sem ele, era bem provável que o filme naufragasse
totalmente. Infelizmente, Russell
Crowe não tem atuação compatível ao seu adversário. Apesar de afinado, as
suas interpretações são sempre entediantes. A atriz Anne Hathaway tem o momento ápice do
filme, enquanto Amanda Seyfried
entrega uma atuação burocrática. Os atores Eddie Redmayne e Aaron
Tveit são coadjuvantes com bons momentos, até mais pela condição
revolucionária de seus personagens do que pela cantoria. Enfim, acredito que Os Miseráveis deve agradar na mesma
medida que irá desagradar, contudo, chegar ao seu final sempre será uma
extenuante maratona.
INDICAÇÕES (3 vitórias):
1. Melhor Filme:
Cameron Makintosh, Debra Hayward, Eric Fellner e Tim Bevan
2. Melhor Ator:
Hugh Jackman
3. Melhor Atriz
Coadjuvante: Anne Hathaway – venceu
4. Melhor
Direção de Arte: Anna Lynch-Robinson e Eve Stewart
5. Melhor
Figurino: Paco Delgado
6. Melhor
Maquiagem: Julie Dartnell e Lisa Westcott – venceu
7. Melhor
Mixagem de Som: Andy Nelson, Mark Peterson e Simon Hayes – venceu
8. Melhor Canção
Original: Suddenly, de Alain Boublil,
Claude-Michel Schönberg e Herbert Kretzmer.
por
Celo Silva
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