O RESGATE DO SOLDADO
RYAN (Saving Private Ryan, 1998, 169
min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Robert Rodat
Elenco: Tom Hanks, Matt Damon, Tom
Sizemore, Edward Burns, Berry Pepper, Adam Goldberg, Vin Diesel, Giovanni Ribisi,
Jemery Davies, Ted Danson, Paul Giamatti, Dennis Farina.
Com onze nomeações na edição do Oscar de 1999, pode-se
dizer que “O Resgate do Soldado Ryan”
(1998) era o grande e verdadeiro favorito da noite, o filme a ser batido.
Esse humilde espectador que vos escreve, até hoje, não engole a sua derrota na
categoria de melhor filme para o superestimado “Shakeaspeare Apaixonado” (1998).
Vamos lá, apesar da premiação da academia ser a mais esperada do ano para quem
acompanha cinema, não é de hoje que ela comete suas injustiças. A obra do
diretor Steven Spielberg, de longe, é a que mais merecia a estatueta de Melhor
Filme. Como não adianta “chorar o leite derramado”, vamos aos fatos que fazem
de “O Resgate do Soldado Ryan” uma das mais relevantes realizações do gênero
“filme de guerra” e também da extensa filmografia de Spielberg.
Curioso que nessa mesma edição do Oscar, dos cinco
concorrentes, três foram filmes com temáticas envolvendo a segunda guerra
mundial (além do filme em questão, tivemos “A Vida é Bela” (1997) e “Além da
Linha Vermelha” (1998)). Mais curioso ainda, que por anos (ou décadas?),
produções desse tipo ficaram relegadas a obras com um viés mais de ação do que
dramático. Por exemplo, durante boa parte da década de 80 e começo dos 90,
pipocaram filmes como “Rambo” (1985), “Bradock – O Super Comando” (1984) e afins. Realizações de relativo sucesso, mas
que passavam longe de ser um retrato fiel de um front de batalha. Talvez o
maior mérito e mais reconhecido de “O Resgate do Soldado Ryan” seja colocar o
espectador, de fato, dentro da guerra. Não é a toa que muitas vezes Spielberg
usa uma câmera em primeira pessoa, como se fossemos um dos soldados do
batalhão. Exemplo mais claro, é o desembarque do prólogo que se situa na praia
de Omaha, na França, no fatídico Dia D. A sensação de aflição nos faz quase
desviar de um dos vômitos daqueles angustiados soldados.
O diretor nos lança naquela sangrenta batalha e faz isso
de maneira não menos que contundente. Sabemos que estamos diante de luz e som,
mas é difícil não sentir a boca secar ou os batimentos cardíacos acelerarem.
Como disse, é luz e som (usados com maestria), mas Spielberg os transforma em
uma gama imensa de sentimentos e sensações. Claro que os jovens soldados que
desembarcaram e morreram naquela praia não tiveram tempo para sentir nada. A
saraivada de balas era violenta ao ponto de arrancar lhes a vida sem muito
esforço. No entanto, o público sente na pele (como nunca sentiu, até então) a
tragédia pessoal de cada um. Momentos tristes e marcantes e também violentos
não faltam. Como um soldado que procura seu braço em meio a explosões ou mesmo
o nosso protagonista, o capitão John H. Miller (Tom Hanks, indicado a Melhor Ator)
que ao tentar salvar um de seus comandados, demora a perceber que carrega um
tronco sem vida. Não deixa de ser uma ousadia do diretor de abrir o seu filme
com um clímax enérgico, o que poderia ser um erro, principalmente porque a obra
não mantém o mesmo ritmo, até retomá-lo no não menos intenso epilogo. Logo
percebemos que isso não se torna um problema, principalmente pela historia ser
desenvolvida de forma coerente e respeitosa.
Assim que a tomada de Omaha é concretizada, em um bem
executado movimento de travelling, a
câmera nos mostra um soldado morto ainda na beira do mar, o sobrenome dele:
Ryan. Não demora até que chegue ao alto comando a noticia de que uma família
americana (aos moldes tradicionais e interioranos) perdeu três filhos em
combate. No caso, a trágica perda é mostrada de forma sentimental, apesar de
contida, através da visita de oficiais a casa da desafortunada mãe. Não é
preciso que alguma palavra seja proferida, a vista empoeirada, de longe, do carro
dos mensageiros da morte é suficiente para marcar o fato. Três irmãos da
família Ryan pereceram nos campos de batalha, mas
um deles, aparentemente, ainda encontra-se vivo, perdido
em algum lugar atrás das linhas inimigas. O mesmo alto comando ordena imediatamente
uma missão para resgatar o rapaz e devolve-lo com vida a sua sofrida mãe. O
trabalho é incumbido ao Capitão Miller. A ordem: juntar um pequeno grupo de
bons soldados e adentrar em território de “guerra viva”, infestado de soldados
alemães.
Loucura? Sim, mas mesmo sendo uma situação fictícia, não
seria estranha uma ação desse tipo. Veja bem, a maior intenção de “O Resgate do
Soldado Ryan” é prestar homenagem aos que perderam suas vidas nos campos de
batalha, mas apesar de um enfoque em um heroísmo exacerbado, existe uma
crítica, ainda que singela. Principalmente por esses homens serem tratados
apenas como números. Daí é onde eu volto para reafirmar que não seria estranha
uma missão desmedida como essa: para não ficar com a imagem denegrida, o governo
ordena essa incursão suicida para salvar esse jovem Ryan (Matt Damon). Valeria
arriscar a vida de outros bons homens em troca da vida de Ryan? Sim, porque os
“escalados” para a missão, em comparação ao resgatado, não trariam um bom
simbolismo, heróico e motivacional. Sabe-se que o governo americano não mede
esforços para criar símbolos de sua grandeza e que elucide seu povo a apoiar
seus atos. O filme “A Conquista da Honra” (2006), de Clint Eastwood, trabalha
essa semântica de forma mais contundente, mas é indiscutível que aqui, habite
um subtexto e essa mensagem fica mais clara quando o Capitão Miller diz para
Ryan: “Faça ter valido a pena”.
Em uma manobra incoerente, a academia tirou o prêmio de Melhor
Filme de “O Resgate do Soldado Ryan”, mas, como para se justificar, deu a
estatueta de Melhor Diretor para Spielberg. No meu ponto de vista, o vencedor “Shakeaspeare
Apaixonado” deveria ter um lobista muito bom. Pelo menos, essa justiça foi
feita, porque o trabalho de Spielberg é impecável. Alternando uma câmera mais
pessoal, com tomadas panorâmicas, o diretor traz uma direção caprichadíssima.
Não existem cenas descartáveis no filme, cada seqüência tem uma ligação coesa,
como uma em que o grupo entra em discussão se deve ou não levar uma menina
francesa junto com eles. A cena está ali apenas para mostrar a loucura a que os
civis eram infringidos e também, como na guerra, uma simples desatenção pode
custar a sua vida. O filme é cheio de momentos sentimentalistas, apesar de
novamente reafirmar que a maioria deles é contido, como se a guerra
embrutecesse de uma maneira em que não haveria espaço para pieguices. No
entanto, a emoção flui naturalmente e não se espante se uma lágrima escorrer.
Afinal, segundo um dos personagens: “A guerra traz a tona o pior e o melhor do
ser humano”.
INDICAÇÕES (5 vitórias):
1. Melhor Filme: Steven Spielberg, Ian Bryce, Mark Gordon
e Gary Levinsohn.
2. Melhor Diretor: Steven Spielberg – venceu
3. Melhor Ator: Tom Hanks
4. Melhor Roteiro Original: Robert Rodat
5. Melhor Fotografia: Janusz Kaminski – venceu
6. Melhor Direção de Arte: Thomas E. Sanders e Lisa Dean
7. Melhor Edição: Michael Kahn – venceu
8. Melhor Maquiagem: Lois Burwell, Conor O’Sullivan e Daniel
C. Striepeke
9. Melhor Edição de Som: Gary Rydstrom e Richard Hymns – venceu
10. Melhor Trilha Sonora Original (Drama): John Williams
11. Melhor
Som: Gary Rydstrom, Gary Summers, Andy Nelson e Ron Judkins – venceu
por Celo Silva
5 comentários:
Um filme verdadeiramente maravilhoso. Demorou muito para que eu o visse, mas depois que eu o vi fiquei impressionado com a maestria com a qual Spielberg lida com a câmera - cada cena é um deleite e, ousadia pouca!, o diretor opta por uma abertura majestosa para então ir gradualmente entrando no psicológico do personagens.
Ainda que eu goste bastante de Shakespeare Apaixonado, eu não entendo como puderam se seduzir por aquele filme e esquecer-se desse, que é verdadeiramente o mais potente de 1999.
O lobista é realmente muito bom. Conhecido como Harvey Weinstein, dono da Miramax, produtora de "Shakespeare Apaixonado". É o nome mais importante das vitórais recentes do Oscar e, por sinal, resultando em grandes injustiças. A inclusão de "Chocolate" na lista dos cinco melhores é a mais gritante delas. Bem como a exclusaõ de "O cavaleiro das sombras" para acrescentar "O leitor".
Eu gosto de "O Resgate do Soldado Ryan", mas ele não é nem de longe um dos meus filmes de guerra fovoritos, diferente de "Além da Linha Vermelha", que está no meu top 5 do gênero e que é, na minha opinião, quem deveria ter levado o Oscar de Melhor Filme naquele ano...
Texto incrível! Adoro esse filme que de tal forma me marcou que recordo sempre a tensão que senti na sala de cinema com a primeira cena, na batalha. Parabéns amigo! Quanto ao prêmio da academia, não me ressenti de "resgate..." não ter faturado, realmente não é a primeira, nem das maiores injustiças da Academia, não diminuindo o valor do filme, em absoluto!
Grande Abraço
:-)
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