quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Segredos do Poder


SEGREDOS DO PODER (Primary Colors, 1998, 143 min)
Produção: Estados Unidos / Reino Unido / França / Alemanha / Japão
Direção: Mike Nichols
Roteiro: Elaine May
Elenco: John Travolta, Emma Thompson, Kathy Bates, Billy Bob Thornton, Adrian Lester, Maura Tierney, Larry Hagman, Diane Ladd, Rob Reiner.

Ainda colhendo os louros com a recente popularidade readquirida com Pulp Fiction, de 1994, o ator John Travolta apareceu em duas das produções indicadas às estatuetas do Oscar na edição de 1999. Nas duas obras citadas, o drama “A Qualquer Preço” (1998), e nesse, também dramático, mas de humor ácido, “Segredos do Poder” (1998), Travolta foi o protagonista, mas quem brilhou de verdade foram os seus coadjuvantes. No primeiro, Robert Duvall foi indicado com propriedade para Melhor Ator Coadjuvante. No filme aqui em questão, uma radiografia curiosa sobre os bastidores de uma corrida presidencial, ainda dirigido por um incensado Mike Nichols, quem teve o reconhecimento da academia com uma indicação para Melhor Atriz Coadjuvante foi à talentosa atriz Kathy Bates.

Em uma revisão atual, “Segredos do Poder” pode parecer um filme tedioso, datado, para não usarmos um termo mais pejorativo, como chato. No entanto, devemos lembrar que a realização de Nichols, baseada em um romance de um escritor fantasma então conhecido apenas como Joe Klein, fazia todo o sentido para a sua época. Afinal, o escândalo Mônica Lewinski era bem recente no cenário político americano e o filme foi vendido como uma espécie de biografia não-autorizada da campanha, do presidente em exercício, Bill Clinton. Resultado: polêmica pura. Como um espectador mais experiente (para não dizer velho), lembro bem de todo o hype em cima do filme e de como ele tornou-se objeto de discussão, mesmo entre rodas menos politizadas. Não é de hoje que algumas produções crescem quando chega à temporada de premiações. A sensação mais explicita que “Segredos do Poder” passava e ainda passa, é de um filme superestimado, primeiramente pelo momento e posteriormente pelos nomes envolvidos.

Talvez, Travolta não fosse o nome mais indicado para viver o candidato a presidente de apetite sexual voraz. O seu Jack Stanton (nome do personagem do ator, um governador interiorano fazendo campanha para presidência) é fanfarrão e caricato demais, fazendo o espectador se perguntar se o que esta vendo, realmente, se baseia em alguma realidade. Também é importante ressaltar que apesar do possivelmente representado Clinton ter tido seus escândalos sexuais, ele sempre foi bem visto pelo povo americano. E no filme, Jack Stanton não deixa de ser querido pelo povo e mídia, mesmo com tanta sujeira sua sendo “jogada no ventilador” constantemente. Se esses aspectos bufões podem incomodar, em um primeiro momento, logo o espectador percebe que ele predomina em todo o filme e talvez seja assim para aumentar ainda mais a antipatia pelos meandros da política. O jogo que Stanton e sua equipe faz não é nenhum um pouco edificante, causa asco e desestimula. Acredito que esse seja o grande mérito de “Segredos do Poder”: tentar abrir os olhos do público para a manipulação política, onde os pobres e crédulos eleitores, não passam de meras peças em um tabuleiro.

O trabalho da atriz Kathy Bates, se não é sensacional, ainda assim é primoroso. A sua Libby Holden, uma ativista homossexual que aparece para livrar Stanton de suas enrascadas, consegue cativar e não deixa de ser um sopro de retidão moral dentro de um ambiente tomado por hipocrisia e falsidade. “Segredos do Poder” também recebeu uma indicação para Melhor Roteiro Adaptado (Elaine May) e com um elenco grandioso, com atores de peso, como Emma Thompson, Billy Bob Thornton, Rob Reiner, Maura Tierney, o diretor dá-se o luxo de ousar e apostar (para a época) em um co-protagonista negro, o iniciante e ainda pouco conhecido Adrian Lester, que vive o assessor Henry Burton. O personagem, de caráter entusiasta e ingênuo, se assemelha muito com o vivido por Ryan Gosling, no recente e também indicado ao Oscar, “Tudo pelo Poder” (2011), de George Clooney. Se pensarmos bem, as duas produções guardam muitas semelhanças e nem precisamos ir muito mais além para chegarmos à conclusão de que a Academia tem um carisma (e grande) por filmes sobre os bastidores da política.

INDICAÇÕES:
1. Melhor Atriz Coadjuvante: Kahy Bates
2. Melhor Roteiro Adaptado: Elaine May

por Celo Silva

2 comentários:

Luís disse...

Uma obra verdadeiramente chatíssima, um primor do tédio.

J. BRUNO disse...

Eu vi ele, alguns anos depois de ser lançado e hoje eu lembro de poucos detalhes de sua trama...