sábado, 1 de setembro de 2012

Abertura - 82ª edição: 2010




Não se pode discutir o ano de 2010 sem que também apresentemos outro ano marcante na história da AMPAS (Academy of Motion Picture Arts and Sciences). O ano era 1945 quando a Academia optou por reduzir o número de indicados na categoria principal de 10 – às vezes 12 – para apenas 5 títulos. Se, por um lado, tal escolha implicasse garantir que só os “melhores” concorressem ao prêmio máximo, por outro lado fazia com que bons filmes – às vezes, tão bons quanto os indicados – ficassem de fora, justamente por não haver espaço. Somado a essa questão organizacional, havia um fator político extremamente relevante, que acabou abandonado a partir de 1945: filmes indicados na categoria principal atraíam mais atenção do público, o que resultava em maiores audiências, conseqüentemente, em maior bilheteria. Assim, em 2010, a Academia retornou aos moldes antigos e assumiu parte de sua função: fomentar a indústria cinematográfica, que, por sua vez, alimenta a conta bancária da AMPAS, criando, desse modo, um processo de retroalimentação. Considerando a então nova estrutura das indicações, que agora comporta dez títulos na categoria principal, pode-se facilmente dizer que as produtoras e os cinéfilos ficaram mais contentes, já que agora havia a possibilidade de títulos como “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008), ignorado pela Academia apesar de sua excelente qualidade, e “Um Sonho Possível” (2009), de extremo apelo popular, figurar entre os nominados a Melhor Filme.

A 82ª edição do Oscar é bastante relembrada pelos cinéfilos, não apenas pela volta das dez películas concorrendo ao prêmio máximo, mas, sobretudo, pela “batalha” que se estabeleceu entre dois títulos cujos opostos se evidenciavam a todo tempo: de um lado, “Avatar” (2009), uma produção de investimento maciço – cerca de U$ 237mi – dirigida pelo homem responsável pela até então maior bilheteria do cinema, “Titanic” (1997), e com roteiro de estrutura fabular que se enfoca num mundo fantasioso; do outro lado, “Guerra ao Terror” (2008), filme cujo orçamento é de apenas U$ 15mi, dirigido por uma mulher cuja carreira se construiu sobre filmes de ação e que, naquela cerimônia, apresentou um filme de roteiro alicerçado sobre os resultados devastadores das atividades bélicas. Um homem vs. uma mulher, um filme de grande orçamento vs. um filme de pouco investimento financeiro, a fantasia vs. a realidade – na disputa, Kathryn Bigelow saiu vencedora, tornou-se a primeira mulher na história da Academia a levar o prêmio de Melhor Diretor e fez com que seu filme alcançasse um patamar inesperado, ainda que, até hoje, seja o Melhor Filme com menor bilheteria.

A vitória de Bigelow naquela cerimônia não fez com que ela fosse a única mulher polêmica da noite. Sandra Bullock, em sua primeira indicação, venceu o Oscar na categoria Melhor Atriz e alavancou uma série de críticas contra a escolha da Academia. Como Bullock, todos os outros vencedores nas categorias de atuação conquistaram sua primeira estatueta, apesar de algum deles, como Jeff Bridges, serem já veteranos em indicações. Outras categorias também apresentaram questionamentos válidos: Melhor Roteiro Original, por exemplo, sagrou “Guerra ao Terror”, quando muito se torcia pela vitória de “Bastardos Inglórios” (2009), filme de Quentin Tarantino – o qual, aliás, retornou às indicações desde 1995, quando concorreu por “Pulp Fiction – Tempo de Violência” (1994). Com o desenrolar da entrega dos prêmios, fato que aconteceu na noite de 07 de março de 2010, uma pergunta ficou no ar: será que The Hurt Locker era assim tão bom e o resultado de sua grandeza, ainda que sendo um filme pequeno, eram todos os prêmios conquistados ou será que todos os prêmios tentavam adornar uma fita satisfatória, mas longe da qualidade de alguns concorrentes, como o próprio “Avatar”, o drama social “Preciosa – Uma História de Esperança” (2009), ou, ainda, o humor agridoce de “Bastardos Inglórios”?

Em setembro, assim como no mês passado, Renan Prado estará conosco como nosso convidado especial, nos ajudando a comentar sobre essa edição que lançou uma série de perguntas pertinentes quanto aos conceitos de cinematografia – “Avatar”, afinal, poderia concorrer na categoria Melhor Fotografia? –, quanto aos conceitos de valorização de intérpretes – Sandra Bullock, vinda de filmes softs, estrelando um feel good movie, era mesmo a melhor concorrente? –, além de proporcionar uma gama bastante variada de análises sociais e ontológicas, como se pode ver nos filmes “Amor sem Escalas” (2009) e “Educação” (2009), que debatem sobre as relações amorosas problemáticas, ou em “Distrito 9” (2009) e “Preciosa – Uma História de Esperança”, obras que nos apresentam à devastação do ser no convívio com o outro, e ainda “Um Sonho Possível” (2009) e “Up – Altas Aventuras” (2009), nos falando sobre como a diferença, qualquer que seja ela, pode não afetar os laços de carinho. Desse modo, analisando os 19 filmes indicados nas oito categorias principais (filme, direção, atuações e roteiros) e sabendo dos novos moldes estabelecidos, apresentaremos ao final do mês as nossas opiniões acerca do ano de 2010, ano no qual a maior bilheteria que já concorreu ao Oscar perdeu para a menor bilheteria.

por Luís Adriano de Lima

2 comentários:

Nathália disse...

Parece um ano mais interessante que o de 1999.

Rodrigo Mendes disse...

Muitos implicam com a Sandra Bullock, mas eu gosto dela e tenho simpatia pela atriz. Claro que este papel em "Um Sonho Possível", na minha opinião, seja um tanto estranho e exagerado. De qualquer forma ela brilha nos papéis que lhe são destinados, ao menos faz grande esforço com seu estilo travesso.

Hoje eu enxergo o Oscar apenas como uma baita mídia cinematográfica e já estou cansado de discutir as "injustiças" com inúmeros filmes....

Abs.