Não se pode discutir o ano de 2010 sem que também
apresentemos outro ano marcante na história da AMPAS (Academy of Motion Picture Arts and Sciences). O ano era 1945 quando
a Academia optou por reduzir o número de indicados na categoria principal de 10
– às vezes 12 – para apenas 5 títulos. Se, por um lado, tal escolha implicasse
garantir que só os “melhores” concorressem ao prêmio máximo, por outro lado
fazia com que bons filmes – às vezes, tão bons quanto os indicados – ficassem
de fora, justamente por não haver espaço. Somado a essa questão organizacional,
havia um fator político extremamente relevante, que acabou abandonado a partir
de 1945: filmes indicados na categoria principal atraíam mais atenção do público,
o que resultava em maiores audiências, conseqüentemente, em maior bilheteria.
Assim, em 2010, a Academia retornou aos moldes antigos e assumiu parte de sua
função: fomentar a indústria cinematográfica, que, por sua vez, alimenta a
conta bancária da AMPAS, criando, desse modo, um processo de retroalimentação.
Considerando a então nova estrutura das indicações, que agora comporta dez
títulos na categoria principal, pode-se facilmente dizer que as produtoras e os
cinéfilos ficaram mais contentes, já que agora havia a possibilidade de títulos
como “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008), ignorado pela Academia apesar de
sua excelente qualidade, e “Um Sonho Possível” (2009), de extremo apelo
popular, figurar entre os nominados a Melhor Filme.
A 82ª edição do Oscar é bastante relembrada pelos
cinéfilos, não apenas pela volta das dez películas concorrendo ao prêmio
máximo, mas, sobretudo, pela “batalha” que se estabeleceu entre dois títulos
cujos opostos se evidenciavam a todo tempo: de um lado, “Avatar” (2009), uma
produção de investimento maciço – cerca de U$ 237mi – dirigida pelo homem
responsável pela até então maior bilheteria do cinema, “Titanic” (1997), e com
roteiro de estrutura fabular que se enfoca num mundo fantasioso; do outro lado,
“Guerra ao Terror” (2008), filme cujo orçamento é de apenas U$ 15mi, dirigido por uma mulher cuja carreira se construiu
sobre filmes de ação e que, naquela cerimônia, apresentou um filme de roteiro
alicerçado sobre os resultados devastadores das atividades bélicas. Um homem vs. uma mulher, um filme de grande
orçamento vs. um filme de pouco
investimento financeiro, a fantasia vs.
a realidade – na disputa, Kathryn Bigelow saiu vencedora, tornou-se a primeira
mulher na história da Academia a levar o prêmio de Melhor Diretor e fez com que
seu filme alcançasse um patamar inesperado, ainda que, até hoje, seja o Melhor
Filme com menor bilheteria.
A vitória de Bigelow naquela cerimônia não fez com que ela
fosse a única mulher polêmica da noite. Sandra Bullock, em sua primeira
indicação, venceu o Oscar na categoria Melhor Atriz e alavancou uma série de
críticas contra a escolha da Academia. Como Bullock, todos os outros vencedores
nas categorias de atuação conquistaram sua primeira estatueta, apesar de algum
deles, como Jeff Bridges, serem já veteranos em indicações. Outras categorias
também apresentaram questionamentos válidos: Melhor Roteiro Original, por
exemplo, sagrou “Guerra ao Terror”, quando muito se torcia pela vitória de
“Bastardos Inglórios” (2009), filme de Quentin Tarantino – o qual, aliás,
retornou às indicações desde 1995, quando concorreu por “Pulp Fiction – Tempo
de Violência” (1994). Com o desenrolar da entrega dos prêmios, fato que
aconteceu na noite de 07 de março de 2010, uma pergunta ficou no ar: será que The Hurt Locker era assim tão bom e o
resultado de sua grandeza, ainda que sendo um filme pequeno, eram todos os
prêmios conquistados ou será que todos os prêmios tentavam adornar uma fita
satisfatória, mas longe da qualidade de alguns concorrentes, como o próprio
“Avatar”, o drama social “Preciosa – Uma História de Esperança” (2009), ou,
ainda, o humor agridoce de “Bastardos Inglórios”?
Em setembro, assim como no mês passado, Renan Prado estará
conosco como nosso convidado especial, nos ajudando a comentar sobre essa
edição que lançou uma série de perguntas pertinentes quanto aos conceitos de
cinematografia – “Avatar”, afinal, poderia concorrer na categoria Melhor
Fotografia? –, quanto aos conceitos de valorização de intérpretes – Sandra
Bullock, vinda de filmes softs,
estrelando um feel good movie, era
mesmo a melhor concorrente? –, além de proporcionar uma gama bastante variada
de análises sociais e ontológicas, como se pode ver nos filmes “Amor sem
Escalas” (2009) e “Educação” (2009), que debatem sobre as relações amorosas
problemáticas, ou em “Distrito 9” (2009) e “Preciosa – Uma História de
Esperança”, obras que nos apresentam à devastação do ser no convívio com o outro,
e ainda “Um Sonho Possível” (2009) e “Up – Altas Aventuras” (2009), nos falando
sobre como a diferença, qualquer que seja ela, pode não afetar os laços de
carinho. Desse modo, analisando os 19 filmes indicados nas oito categorias
principais (filme, direção, atuações e roteiros) e sabendo dos novos moldes
estabelecidos, apresentaremos ao final do mês as nossas opiniões acerca do ano
de 2010, ano no qual a maior bilheteria que já concorreu ao Oscar perdeu para a
menor bilheteria.
por Luís Adriano de Lima
2 comentários:
Parece um ano mais interessante que o de 1999.
Muitos implicam com a Sandra Bullock, mas eu gosto dela e tenho simpatia pela atriz. Claro que este papel em "Um Sonho Possível", na minha opinião, seja um tanto estranho e exagerado. De qualquer forma ela brilha nos papéis que lhe são destinados, ao menos faz grande esforço com seu estilo travesso.
Hoje eu enxergo o Oscar apenas como uma baita mídia cinematográfica e já estou cansado de discutir as "injustiças" com inúmeros filmes....
Abs.
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