Homenagem às atrizes indicadas na categoria Melhor Atriz. Cada colega de elenco dirige ao público um pouco de sua experiência trabalhando com a nominada. Oprah Winfrey, no discurso mais emocional, fala sobre Gabourey Sidibe, que, em suas próprias palavras, "na segunda-feira, faltou da universidade para fazer uma audição para um filme chamado 'Preciosa'; na terça, se encontrou com o diretor; na quarta, recebeu uma ligação dizendo que havia conseguido o papel; e hoje [naquela noite], estava nominada na mesma categoria que Meryl Streep". Potencialmente o momento mais comovente da cerimônia.
OSCAR 2010: DE SER CONVENIENTE AO FAZER HISTÓRICO
Pensar no ano de 2010 automaticamente me remete a certas
conveniências e, ao mesmo, me remete a uma ausência de nomes verdadeiramente
fortes nas categorias principais. Mesmo que a 82ª edição marque uma série de
novidades, nem mesmo o ar de renovação – e os marcos históricos estabelecidos,
em algumas categorias – pôde alavancar a cerimônia e torná-la verdadeiramente interessante.
Vejo 2010 como um ano muito positivo para angariar votos tendo como base
bilheterias adquiridas pelos filmes e personagens bem desenvolvidos que, vezes
ou outras, confundiram-se com boas interpretações.
Primeiro, não me oponho à lista estendida na categoria
principal, no entanto, não vejo por que fixar o número fixo de dez títulos, o
que faria com que um ou dois filmes bons fossem acrescidos aos títulos
principais, mas, ao mesmo tempo, faria com que outros filmes consideravelmente
menores e sem personalidade também integrassem à lista. Desse modo, penso que a
categoria de Melhor Filme poderia ter se limitado a filmes: “Guerra ao Terror”
(2008), “Bastardos Inglórios”, “Educação”, “Preciosa – Uma História de
Esperança”, “Amor sem Escalas”, “Up – Altas Aventuras” e, ainda que com
bastantes ressalvas, “Avatar”, todos eles de 2009. Justamente por isso gostei
da decisão tomada em 2011 de, a partir de então, indicar de 5 a 10 filmes,
ainda que, como se viu, nem mesmo isso impediu de que filmes medianos chegassem
à categoria principal.
Segundo, não me oponho às vitórias de Sandra Bullock como
Melhor Atriz nem de Kathryn Bigelow como Melhor Diretor, mesmo que minhas
preferências fossem, respectivamente, Carey Mulligan e Quentin Tarantino.
Bullock é, a meu ver, a atriz que concorria, simultaneamente, trazendo consigo
o fator mais positivo e o mais negativo para sua vitória. A seu favor havia o fato
de que ela sozinha havia arrecadado uma quantia absurda de bilheteria, não
apenas por “Um Sonho Possível”, mas também por “A Proposta” e “Maluca Paixão”,
todos do ano anterior à sua vitória no Oscar. Isso significa que os votantes
estavam o tempo todo em contato com o nome dela devido aos vários filmes que
ela estrelou. Contra ela, havia o fato de que o seu filme, um feel good movie consideravelmente
insosso, atrapalhava bastante o seu desempenho, sobretudo porque se fica com a
sensação de que ela fez pouco ou nada ao longo das duas horas de exibição.
Dentre as atrizes, aliás, era a única que contava somente com sua própria
performance para alavancar a simpatia do espectador: Helen Mirren e Meryl
Streep detêm nomes fortes o suficiente que as precedem, e Gabourey Sidibe e
Carey Mulligan estrelavam filmes cujos enredos e personagens são extremamente
interessantes. Assim, considerando o real merecimento de cada concorrente, não
vejo por que tantas críticas a Bullock, cujo trabalho em “Um Sonho Possível” é,
não obstante o histórico de filmes light
e cômicos, muito satisfatório.
Agora, quanto à categoria Melhor Diretor, Tarantino era o
meu preferido, apesar de eu achar que “Bastardos Inglórios” seja o filme que
menos se pareça com uma obra do diretor. Ainda assim, penso que o trabalho dele
– e o resultado final, isto é, o próprio filme – é o melhor. Contudo, era um
bom momento para fazer história e conceder o prêmio a uma mulher, que
definitivamente não deixou a desejar no filme que dirigiu, mas cuja vitória, a
meu ver, se deu especialmente pelo caráter inédito. O único problema quanto à
direção de Bigelow é que parece que só o furor de poder indicá-la e, talvez,
premiá-la fez com que o filme acabasse angariando muita simpatia, o que
resultou nas 9 indicações e 6 prêmios, sendo que pelos menos dois deles –
Melhor Roteiro Original e Melhor Filme – deveriam ter ido para outros
competidores, que, por coincidência, se trata do mesmo filme: “Bastardos
Inglórios”.
Julianne Moore e Marion Cotillard: as duas grandes injustiçadas de 2010.
Se, na categoria masculina de atuação coadjuvante, Christoph
Waltz fez por merecer seu prêmio – ainda que ele só concorresse de verdade com
Woody Harrelson, por “O Mensageiro” –, a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante
foi infelizmente marcada pela vitória de uma personagem: Mary, de “Preciosa –
Uma História de Esperança”. Mo’Nique lida bem com a personagem, mas
definitivamente a atriz não tem qualquer mérito na composição de uma figura tão
assombrosamente plana que poderia ter sido facilmente apresentada por qualquer
atriz com o mínimo de competência. Impressionados com a personagem, premiaram a
atriz, mesmo que houvesse ali outras quatro atrizes com trabalhos interpretativos
mais interessantes. Ao dizer isso, me limito às indicações, porque, na verdade,
se fosse mais abrangente, diria que quem merecia mesmo o prêmio era quem ficou
fora da lista final de indicadas: Marion Cotillard, por “Nine”. Fabulosa no seu
desempenho, ela sozinha, em pouco mais de 17 minutos, expressa tudo aquilo que
o filme de Rob Marshall não consegue. Outra que deveria estar aqui, mas que,
como de hábito, foi ignorada pela Academia, aumentando a lista de injustiças
com ela, é Julianne Moore, magnífica em “Direito de Amar”. Tanto ela quanto
Cotillard detêm interpretações coadjuvantes que facilmente entrariam para a
minha lista de melhores da década. Em vez de pelo menos concorrerem, viram o
prêmio ser entregue à personagem mais unidimensional da edição.
Essa edição, aliás, é provavelmente uma das mais fracas da
década, com muitos títulos pouco significativos que, como “Guerra ao Terror”, “Preciosa
– Uma História de Esperança” e “Um Sonho Possível”, nem sequer foram
eternizados na história do cinema com a vitória do Oscar. Muitas das indicações
se devem à importância histórica de alguns cinebiografados, como é o caso de
Helen Mirren, Christopher Plummer, Meryl Streep, Matt Damon, Morgan Freeman;
outros tantos nominados estavam ali mais pelo momentos de suas carreiras do que
pelo desempenho no filme em questão, como é o caso de Sandra Bullock, Penélope
Cruz, George Clooney; há ainda um terceiro grupo, daqueles cuja indicação se
deu, sobretudo, pela campanha feita sobre o filme, como Jeremy Renner, Gabourey
Sidibe e Mo’Nique. Poucos realmente mereceram suas indicações, poucos filmes
pareciam trazer alguma discussão realmente nova, apesar de alguns bons temas,
como o desapego em “Amor sem Escalas”, o apreço pelo risco em “Guerra ao
Terror”, a disfunção familiar em “Preciosa – Uma História de Esperança”, entre
outros. Ainda assim, bons temas não equivalem a boas utilizações deles e, no
final, essa cerimônia, apesar de alguns méritos e conveniências, não me parece
uma das mais interessantes.
por Luís Adriano de Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário