Christoph Waltz recebendo seu merecido Oscar. |
A 82ª cerimônia de entregas do Oscar ficou marcada pela
volta de dez filmes a concorrer ao prêmio principal de melhor filme. No
entanto, essa característica de trazer mais opções para a categoria principal
só confirmou o que todos já sabiam: 2009 foi um ano de muitas realizações
medianas e poucas realmente boas. Dos dez nomeados a Melhor Filme, afirmo que
apenas um era uma verdadeira obra-prima, “Bastardos Inglórios” (2009), de
Quentin Tarantino. Conduzido no melhor estilo cinema clássico dos anos 50, o
filme mescla com eficiência o cinema esteta de Tarantino, que busca trabalhar
várias linguagens de cinema, aliando-se a trilhas sonoras impecáveis, destaque
aqui o exímio trabalho do maestro Ennio Morricone. Embora “Bastardos Inglórios”
ainda detenha características referenciais a filmes caros ao diretor, a
realização tem vida própria e evolui sem que necessite de um pré-conhecimento
para apreciar a obra com mais eficácia. Sem dúvida, um Tarantino amadurecido.
Nomeado em oito categorias, “Bastardos Inglórios” recebeu
apenas um prêmio, Melhor Ator Coadjuvante, com todas as honrarias, diga-se de
passagem, pelo trabalho soberbo de Christoph Waltz na composição do “caçador de
judeus”, o coronel nazista, Hans Landa. Embora, em meu ponto de vista, o filme
de Tarantino seja o melhor da temporada, acabou sendo ofuscado pela pesada
campanha de marketing advinda de “Avatar” (2009), o filme que mudaria os rumos
do cinema segundo seu idealizador, o cineasta James Cameron. Sinceramente, até
hoje fico pensando qual foi essa revolução proposta por um pretensioso Cameron,
vejo “Avatar” com uma aventura divertidinha e só. Se não sou um fã exacerbado
de “Guerra ao Terror” (2008), o vencedor da noite, dirigido pela ex-esposa de
Cameron, Kathryn Bigelow, fico feliz por um filme mais franco e emocional ter
se sagrado vencedor em detrimento a um blockbuster
caça-níquel. Os outros indicados não passavam de meros coadjuvantes escolhidos
a dedo para agradar e representar todos os públicos.
Nas categorias de atuações principais, o agraciado como
Melhor Ator foi Jeff Bridges por “Coração Louco” (2009), uma escolha acertada
até, embora acredite que Colin Firth por “Direito de Amar” (2009) merecesse
mais, pois realmente vemos um interprete imerso em seu personagem. A meu ver, a
categoria de Melhor Atriz apresentava candidatas apenas medianas e talvez a
melhor atuação seja a da novata Carey Mulligan, embora também não emocione como
deveria. No entanto, em uma escolha deveras convencional, sagrou-se vencedora Sandra
Bullock como a perua que salva a vida de um delinqüente em potencial no
sofrível “Um Sonho Possível” (2009). Como curiosidade, vale lembra que Bullock
é um dos poucos artistas que conseguiu a façanha de conquistar na mesma
temporada o prêmio de Melhor e Pior Atriz, a moça foi lembrada com honras por
sua desmiolada interpretação em “Maluca Paixão” (2009). Curiosamente, acho essa
comédia muita mais divertida e sincera do que “Um Sonho Possível”, mas vai
saber? Talvez o problema seja comigo mesmo.
Como já comentei acima, o prêmio para Waltz como Melhor
Ator Coadjuvante foi mais do que merecido, enquanto a categoria de Melhor Atriz
Coadjuvante carregava mais uma quina de atrizes em atuações medianas. Tanto que
a vencedora acabou sendo Mo´Nique com seu papel hiper-realista no drama de mau
gosto, que vejo como um dos piores filmes daquela temporada, chamado “Preciosa
– Uma História de Esperança” (2009). Em uma das principais categorias, Kathryn
Bigelow, inexplicavelmente, bateu Quentin Tarantino, mostrando como o Oscar é
“inovador” ao agraciar pela primeira vez, depois de mais de oitenta anos de
premiação, com a estatueta uma mulher. Será mesmo que a direção de Bigelow é
mais eficiente e talentosa do que a de Tarantino em seu trabalho supra-sumo?
Embora discorde do vencedor, essa é uma categoria que nem me aborrece tanto se
compararmos com o prêmio de roteiro adaptado ser dado a Preciosa (?). Uma
escolha ininteligível, podendo ser vista ainda como tentativa da Academia de
causar espanto, já que claramente “Amor Sem Escalas” (2009), “Educação” (2009)
e até mesmo o idiossincrático In The Loop
(2009) são escolhas muito mais interessantes. Essa academia...
O caro leitor que está lendo esse texto deve
estar pensando: “Nossa, como o Celo está rabugento”, mas como essa postagem tem
por intenção expor as idéias e considerações pessoais sobre a cerimônia do
Oscar em voga, analisada durante o mês todo (aqui, a de 2010), acho mais do que
importante uma análise inflamada e franca. Sinceramente, a temporada de 2009
não me estimula em nada. Uma
cerimônia cheia de equívocos, gritantes até, um simples exemplo disso é um
filme totalmente digital como “Avatar” sair vitorioso em uma categoria de
Melhor Fotografia sobre obras (“Bastardos Inglórios”, “A Fita Branca” (2009) e “Guerra
ao Terror”) que trabalharam o processo meticulosamente, usando de um
profissional in loco, enquanto o
filme de Cameron nem fotógrafo tinha e sua concepção visual foi feita
totalmente por designers de computação. Enquanto isso, filmes como o excelente “O
Mensageiro” (2009) de Oren Moverman foram desprezados. Até mesmo na categoria
de Melhor Filme Estrangeiro, a escolha foi curiosa, porque, apesar de “O
Segredo dos seus Olhos” (2009) ser um ótimo filme, ele flerta muito mais com o
cinema ianque do que com a contextualização artística autoral da categoria, o
mais indicado e melhor filme, sem dúvidas, era “A Fita Branca” do alemão
Michael Haneke. Enfim, a 82ª cerimônia de entregas do Oscar, com muitos erros e
poucos acertos, de fato, é dessas para se apagar da memória.
Por Celo Silva
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