sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Melhor Filme / Melhor Diretor




INDICADOS:
- “Ligações Perigosas” (1988), de Stephen Frears
- “Mississipi em Chamas” (1988), de Alan Parker
- “Rain Main” (1988), de Barry Levinson
- “Uma Secretária de Futuro” (1988), de Mike Nichols
- “O Turista Acidental” (1988), de Lawrence Kasdam

Os concorrentes à estatueta de Melhor Filme naquele ano foram: “Mississippi em Chamas”, “Ligações Perigosas”, “O Turista Acidental”, “Uma Secretária de Futuro” e “Rain Man” – este último sagrou-se vencedor. Foi um daqueles anos nos quais a Academia surpreendeu com algumas escolhas meio inexplicáveis. “Uma Secretária de Futuro” é simpático, mas uma indicação a Melhor Filme? Sem contar que não envelheceu muito bem... A mesma pergunta pode ser feita a “Mississippi em Chamas”, um suspense bem realizado, mas com alguns problemas claros de roteiro. E “O Turista Acidental” confirmou a boa fase de Lawrence Kasdan (que não voltou a se repetir) e, embora seja superior aos dois já citados, também não apresentava cacife suficiente para levar o prêmio.

Dentre estes cinco filmes, o melhor dos candidatos realmente era “Ligações Perigosas”, um filme envolvente e poderoso que estuda a muito próxima relação entre sexo e crueldade. Contudo, “Ligações” é malvado demais para o gosto da Academia e teve que contentar-se com prêmios merecidos pela direção de arte, figurino e um mais importante, o de roteiro adaptado. O vencedor acabou sendo “Rain Man”, um drama bem realizado pelo diretor Barry Levinson e conduzido pelos dois atores principais, um sólido e bom desempenho de Tom Cruise e a atuação inesquecível e marcante de Dustin Hoffman. Apesar dessas qualidades, “Rain Man” não traz nada de novo ou profundamente impressionante – é um road-movie, contando a história de duas pessoas que se aproximam. Nada do que já não tenhamos visto, na verdade.

Não se pode dizer que a vitória de “Rain Man” foi despropositada (afinal, é um ótimo filme). Porém, havia algumas pedras preciosas entre os indicados a categorias menores que poderiam perfeitamente assumir o lugar de algumas dessas escolhas questionáveis da Academia, como “Bird” (1988) de Clint Eastwood (indicado apenas por Melhor Som) ou o maravilhoso “A Insustentável Leveza do Ser” (de 1988, indicado por Melhor Fotografia e Melhor Roteiro Adaptado). Ora, até o thriller de ação “Duro de Matar” (de 1988, indicado nas categorias de Melhor Som e Melhores Efeitos Visuais) ou a fantasia de Tim Burton “Os Fantasmas se Divertem” (de 1988, indicado por Melhor Maquiagem) demonstraram maior poder de permanência na história do cinema do que alguns dos concorrentes a Melhor Filme daquele ano.


INDICADOS:
- Alan Parker por “Mississipi em Chamas” (1988)
- Barry Levinson por “Rain Man” (1988)
- Charles Crichton por “Um Peixe Chamado Wanda” (1988)
- Martin Scorsese por “A Última Tentação de Cristo” (1988)
- Mike Nichols por “Uma Secretária de Futuro” (1988)

Na disputa de Melhor Diretor daquele ano, Barry Levinson, Mike Nichols e Alan Parker comandaram candidatos a Melhor Filme (respectivamente, “Rain Man”, “Uma Secretária de Futuro” e “Mississippi em Chamas”). Lawrence Kasdan de “O Turista Acidental” e Stephen Frears de “Ligações Perigosas” foram preteridos. As outras duas vagas foram ocupadas por Martin Scorsese por “A Última Tentação de Cristo” e Charles Crichton por “Um Peixe Chamado Wanda”.

Crichton era um veterano diretor de cinema e da TV britânica que foi especificamente convidado pelo ator John Cleese para dirigir “Wanda”. Seu ótimo trabalho, especialmente na condução do inspirado e engraçadíssimo elenco, lhe rendeu a única indicação ao Oscar da sua carreira. Ele também é o único já falecido dos cinco indicados.

Alan Parker, também britânico, na época estava consolidando uma carreira de sucesso em Hollywood. Comandou “O Expresso da Meia-Noite” (1978), “Fama” (1979) e “Pink Floyd: The Wall” (1982), todos bem sucedidos. Antes de “Mississippi em Chamas”, Parker havia realizado o suspense “Coração Satânico” (1987), no qual também voltava suas atenções para o sul dos Estados Unidos. O diretor conduz bem o suspense em “Mississippi” e reconstitui com precisão um lugar e um momento sombrios da história americana. Foi sua segunda indicação e a última vez que disputou a estatueta.

Mike Nichols é um grande diretor, mas aparentemente apenas quando quer, pois sua carreira é cheia de altos e baixos. Teve em “Uma Secretária de Futuro” sua terceira indicação, e a exemplo de Crichton, ela se deve principalmente ao seu trabalho com o elenco. O filme é divertido, embora em alguns aspectos não tenha envelhecido bem e hoje em dia fique para trás em comparação com outras obras da carreira do diretor.

Barry Levinson já havia disputado o Oscar na categoria de roteiro, pelos filmes “Justiça para Todos” (1979) e “Quando os Jovens se Tornam Adultos” (1982). Seu trabalho em “Rain Man” marcou a primeira vez em que concorreu como Melhor Diretor. Em “Rain Man”, Levinson manteve um tom sóbrio e mesmo assim conseguiu emocionar o público com a história de um rapaz egoísta que estabelece uma ligação com seu irmão autista. É um filme bastante sólido e nunca apelativo, e com grandes performances de Tom Cruise e Dustin Hoffman. Foi esse ponto de vista sério, distanciado e ao mesmo tempo humano que Levinson trouxe à história, e lhe rendeu o prêmio. O Oscar alavancou sua carreira e ele concorreu novamente outras vezes. Sua carreira prossegue, embora ultimamente com trabalhos de menor repercussão.

E embora atualmente Martin Scorsese seja reconhecido como um dos maiores diretores do cinema, na época ainda não havia conquistado tanto respeito assim. Fazer “A Última Tentação de Cristo” era um dos seus sonhos, um trabalho que ele fez não por dinheiro, mas, sobretudo, pelo desejo de contar essa história, tão pessoal e importante para ele. O filme lhe rendeu polêmica e até ameaças de morte, mas também sua segunda indicação ao Oscar de Melhor Diretor. O trabalho de Scorsese demonstra a sua paixão por filmes e a sua confiança no cinema como meio artístico. Afinal, de todos os indicados a Melhor Diretor naquele ano, apenas ele correu risco de vida pelo filme que lançou. Tal entusiasmo deveria ser reconhecido – se alguém merecia o prêmio, era ele – mas a Academia precisaria de uma dose de ousadia para isso, e sabemos que ousar não é o forte dela.

por Ivanildo Pereira

2 comentários:

Kamila disse...

Alan Parker é meu vencedor absoluto! Se não fosse ele, seria Stephen Frears, mas entendo a vitória de Barry Levinson... "Rain Man" é um filme que tem certo charme.

Serginho Tavares disse...

nenhum dos dois, nem o diretor nem o filme, mereciam estes prêmios. haja visto que ambos são completamente esquecidos ao passo que Ligações Perigosas ficou pra sempre!