domingo, 27 de janeiro de 2013

Opiniões - Parte 2




Alguns anos sempre me remetem à abertura que a Academia tinha aos filmes cômicos, inclusive indicando-os na categoria Melhor Filme. Isso usualmente acontecia na década de 1980, quando a produção de comédias, devido à sua boa qualidade, fazia com que elas não ficassem muito abaixo dos dramas. Assim, títulos aparentemente mais descontraídos e bem-humorados – “Feitiço da Lua” (1987) e “Uma Secretária de Futuro” (1988), por exemplo – chegam à categoria principal, arrebatando a crítica e o público com suas narrativas.

Comecei falando dos filmes cômicos justamente porque a 61ª edição do Oscar, que ocorreu no ano de 1989, apresentou inúmeros títulos bons que eram do gênero comédia. Particularmente, um deles foi um dos meus quais queridos na infância e ainda hoje mantêm o viço e jovialidade da época em que eu, criança ainda, o via: “Quero Ser Grande” (1988). O título não chegou à indicação máxima, mas para uma obra cômica e despretensiosa dirigida por uma mulher, as duas nominações conquistadas são por si só uma vitória. Não só grandes dramas produzem cenas icônicas – “Quero Ser Grande” nos apresenta uma que desde seu lançamento ficou marcada em nossa memória: aquela na qual Tom Hanks e Robert Logia tocam com os pés o teclado no chão. Diferentemente desse filme dirigido por Penny Marshal, outros títulos cômicos não envelheceram bem. “Sorte no Amor”, penso, não deve ter sido um grande filme nem em 1988, quando estreou; vê-lo hoje, no entanto, não afeta tanto a qualidade, deve ser o mesmo filme de antes, com altos e baixos.

“Uma Secretária de Futuro” (1988), de Mike Nichols, têm ainda seu charme, mas creio ter sido muito diferente vê-lo à época do seu lançamento. Nem por isso, no entanto, o filme se tornou chato. Mesmo “envelhecido”, o filme é assombrosamente melhor que muita comédia atual. Melanie Griffith e Sigourney Weaver justamente nominadas assim como Mike Nichols na categoria Melhor Diretor, talvez a única falha tenha sido a nominação de Joan Cusack, que roubou a indicação de inúmeros outros nomes, como Christine Lahti por “O Peso de um Passado” (1988), Barbara Hershey por “A Última Tentação de Cristo” (1988) ou até mesmo a apenas satisfatória Mercedes Ruhel por “De Caso com a Máfia” (1988). Aliás, aproveitando que o assunto é Joan Cusack, vale comentar que suas duas únicas indicações parecem injustificadas – tanto essa em 1989 quanto a que receberia, também por uma comédia, em 1998 pelo filme “Será Que Ele É?” (1997).

O que há de elogiável nessa edição com certeza é a categoria Melhor Atriz. Das cinco indicadas, apenas Melanie Griffith está boa – todas as outras estão ótimas! Meryl Streep, indicada por “Um Grito no Escuro” (1988), tem a seu favor uma interpretação segura, apesar de o filme, bastante chato, não lhe permitir impulsionar mais carisma ao espectador. Jodie Foster, co-protagonista de “Acusados” (1988), entrega um momento profundo em cena, com bons momentos e, apesar de minha preferida ser Glenn Close por “Ligações Perigosas” (1988), não vejo nenhum demérito na vitória de Foster. Fechando a categoria, tem Sigourney Weaver num filme cujo roteiro mostra o trabalho de Dian Fossey em vez de mostrar a pessoa Dian Fossey – nem por isso Weaver perde o rumo; sua interpretação é fantástica, às vezes introspectiva, às vezes, ferina. Ano equiparável a esse, nessa categoria, somente aquele apresentado em 1996, quando as nominadas estavam todas impecáveis em seus desempenhos e, fosse possível, não hesitaria em conceder a todas o prêmio. Se a categoria das atrizes principais era a mais forte, a correspondente masculina era decerto a menos interessante, contando com um ator em desempenho que não quer dizer nada – Edward James Olmos por “O Preço do Desafio” –, um ator apenas satisfatório que é, aliás, coadjuvante – Max von Sydow por “Pelle, o Conquistador” (1987) – e um ator caricato – curiosamente, o vencedor Dustin Hoffman por “Rain Man” (1988). Curiosamente, John Malkovich foi deixado de fora da lista de nominados, o que é uma ofensa.

Algo curioso em relação a esse ano: não concordo com nenhum vencedor. Considero “Rain Man” bastante cartilhado e pouco emocional, apesar do tema que se propõe a discutir (a aproximação de dois irmãos praticamente desconhecido um do outro apesar das dificuldades naturais existentes) – e por isso acho que todas as categorias vencidas por esse filme são categorias que premiaram o vencedor errado; considero todos os outros filmes, de um modo geral, interessantes. River Phoenix poderia ter sido indicado e até vencido na categoria principal, já que é o protagonista do filme pelo qual foi nominado, mas, uma vez indicado na categoria Melhor Ator Coadjuvante, eu lhe concederia o prêmio em vez de dá-lo a Kevin Kline, mesmo que o segundo estivesse muito expressivo e competente em “Um Peixe Chamado Wanda” (1988). Quanto às categorias Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, não hesitaria em consagrar a dupla de “Ligações Perigosas”, Glenn Close e Michelle Pfeiffer. Aliás, já na sua 5ª indicação, não havia melhor momento para premiar Close, atriz cuja estreia no cinema se deu em 1982 e em apenas seis anos a atriz já havia conquistado o respeito do público, que a viu incendiada em “Atração Fatal” (1987), e da crítica, que viu em “Ligações Perigosas” o ápice de sua carreira. Roger Erbert inclusive disse que a atriz e Malkovich interpretaram seus personagens com perfeição e duvido que haja quem possa discordar disso.


O melhor diretor da noite era Stephen Frears, não nominado. O melhor ator da noite era John Malkovich, não nominado também. E o melhor filme era justamente “Ligações Perigosas”, dirigido pelo primeiro e estrelado pelo segundo. “O Turista Acidental” (1988), chatíssimo, poderia ter sido substituído por algum outro título mais interessante, como, por exemplo, “Duro de Matar” (1988), cujo enredo e desenvolvimento é muito mais interessante que a obra que rendeu a Geena Davis, apenas satisfatória, uma estatueta. Para mim, o melhor filme era “Ligações Perigosas”; o melhor diretor (considerando os nominados), Alan Parker; o melhor ator, Gene Hackman; a melhor atriz, Glenn Close; o melhor ator coadjuvante, River Phoenix; a melhor atriz coadjuvante, Michelle Pfeiffer; quanto aos roteiros: o original, “Quero Ser Grande”, e o adaptado, “Ligações Perigosas”. Como veem, 1989 para mim foi o ano em que a trama de traições e desejos deveria ter se sagrado como a obra máxima. Fosse outro filme que não “Rain Man” a vencer nas categorias que venceu, eu entenderia; sendo ele, porém, não vejo isso senão como roubo.

por Luís Adriano de Lima

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